Acusado pelo empresário Joesley Batista de ter feito contratos fictícios com a JBS e repassado parte do dinheiro ao ex-ministro José Eduardo Cardozo, o advogado Marco Aurélio Carvalho, 40, disse ao Estado que tem fartos comprovantes dos serviços prestados - já devidamente reunidos.
Segundo ele, o hoje ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi testemunha de pelo menos um grande caso: a intenção de Joesley comprar a Delta engenharia. Procurada, a assessoria do ministro não quis comentar a declaração.
O senhor foi acusado por Joesley Batista de fazer um contrato fictício com a JBS. O que tem a dizer?
Recebi com perplexidade, tristeza e indignação esta comprovadamente leviana informação. Prestei assessoria jurídica em casos estratégicos frente a interesses e demandas legítimas de uma empresa para quem sempre tive orgulho de advogar. Mas, pelo que o próprio áudio entregue acidentalmente revela, havia, uma tentativa de armadilha contra o ex-Ministro José Eduardo. Frustrada a tentativa, tentaram atingi-lo novamente com esta acusação que é, inclusive, desmentida pelos próprios depoentes na delação original. Desconheço os reais motivos, pois já mudaram tanto de versão sobre vários assuntos que vão caindo no descrédito.
Então o objetivo deles seria atingir o ex-ministro?
Pelo que apareceu no áudio, não tenho a menor dúvida que foi atingir o José Eduardo, que é um homem reconhecidamente íntegro. Ele não agiu, em momento algum, com conduta que não fosse irrepreensivelmente ética. Espero , apenas, que isto se esclareça. Quando fomos recentemente procurados, o Zé Eduardo já não era Ministro e não tinha, portanto, nenhum impedimento para advogar. Embora estejamos sob sigilo profissional, o que respeito e obedeço, posso afirmar, como eles próprios afirmaram, que não houve nada de irregular e nem ao menos questionável nas conversas que tivemos. Por fim, como se sabe, a contratação não prosperou.
Na época dos os serviços prestados a J&F de assessoria, o hoje ministro, Henrique Meirelles, era presidente do conselho de administração do grupo. Ele sabia da contratação e dos serviços?
O Grupo é muito grande e tem colaboradores muito qualificados. Impossível concentrar todas informações em uma única ou em algumas pessoas. No meu caso, entretanto, como tratei de assuntos estratégicos e relevantes para o Grupo, o Ministro Henrique sabia da contratação e acompanhou, inclusive, algumas reuniões. Tratei com ele temas relacionados, por exemplo, à então desejada compra da empresa Delta, entre outros.
Quando o senhor e José Eduardo Cardoso se tornaram sócios?
No início deste ano, em 16-01-2017, segundo registro averbado na própria Ordem dos Advogados, nos tornamos sócios em uma Sociedade diversa da que foi contratada no passado pelo grupo em questão. Um escritório que é muito respeitado e que tem 15 anos de história. Aliás, é bom que se diga que sou o único sócio da atual estrutura que integrava o escritório que prestou serviços para a Holding.
Os pagamentos foram repassados para o ex-ministro?
Para o meu então escritório, do qual o Zé jamais foi sócio...Por sinal, o último pagamento foi feito há quase dois anos antes de nos tornarmos sócios neste escritório. Segundo os próprios depoentes, nunca houve relação direta ou indireta destes pagamentos com qualquer demanda relacionada com o José Eduardo.
Que providências pretende tomar sobre o caso?
Constitui um grande advogado, o Fábio Tofic. Ele está estudando as medidas para o restabelecimento da verdade. Lamento profundamente pelo episódio, pois cheguei a conviver com os depoentes e privar de um convívio republicano e até mesmo agradável. Achei estranho realmente. Nunca , segundo eles próprios, me pediram absolutamente nada de ilícito ou inadequado. O diretor Jurídico, inclusive, sempre foi muito correto e muito sério comigo e com outros profissionais com quem convivi e convivo. Lamento profundamente, mas, como só "defende a honra quem tem", estou à disposição para qualquer esclarecimento.
Como a gravação acidental de Joesley afeta o instituto da delação premiaada?
Ao que parece, ela esta sendo "revisitada", após intensa "vulgarização"... Bom para o país. Que seja um instrumento realmente sério.... Que crie filtros para evitar constrangimentos a pessoas inocentes. Que não seja um instrumento perverso para destruição de reputações e honras. No meio de muitas verdades, é cruel ter que se defender de mentiras tão absurdas...