Escalado para ser o negociador do governo com os controladores de vôo, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, se reuniu nesta terça-feira, 3, com representantes da categoria para negar o acordo costurado por ele próprio na sexta-feira para pôr fim à greve que paralisou os aeroportos de todo o País. Após reunião com Bernardo, os controladores tiveram longas e tensas discussões sobre o rumo do movimento e decidiram não partir para um confronto, evitar qualquer tipo de radicalização e voltar a trabalhar normalmente suspendendo temporariamente as discussões internas por causa da segurança do tráfego aéreo. "A corda está muito esticada, a tensão é muito grande e ninguém vai ganhar com a radicalização, nem nós nem o governo e a população será a maior prejudicada neste momento", afirmou nesta terça-feira um desses controladores que preferiu ficar no anonimato para evitar represálias. No encontro, que começou tenso, Bernardo repassou mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi duro. "O governo não negocia com a faca no pescoço." O tom da reunião foi bastante diferente do da negociação de sexta-feira, na qual o governo se comprometeu, entre outras coisas, a não punir culpados. A nova estratégica do governo deu certo. Acuados, os controladores se viram obrigados a recuar "para não arrebentar a corda". Ao longo de quase uma hora, Bernardo deixou claro que o governo não ficaria refém dos controladores e exigiu mudança de postura deles para que o governo venha discutir e atender, ao menos, parte do pleito da categoria. Um dos principais desejos dos controladores, a desmilitarização do setor, que será feita por meio de Medida Provisória (MP), foi mencionada superficialmente pelo ministro. Bernardo avisou que ela segue adiante desde que os controladores continuem trabalhando dentro da normalidade, ou seja, evitando transtornos como o de sexta-feira à população. "Fica muito difícil negociar e discutir com constantes ameaças de retomada de movimento, de fazer greve novamente, e transformar a Páscoa em um inferno", disse o ministro. Recuo Ao fim do encontro, Bernardo seguiu para o Planalto onde conversaria com o presidente Lula. Os controladores deixaram o encontro com Bernardo pela garagem do ministério, evitando a imprensa. Mas já tinham assegurado ao ministro que não fariam greve durante o feriado da Páscoa. Só no fim da tarde, depois de avaliaram o posicionamento do governo, os controladores decidiram apaziguar os ânimos. Eles acham que o governo endureceu por pressão e que vai voltar a negociar depois. "Profissional tenso pode levar a um acidente e isso é muito preocupante", disse esse controlador, insistindo que vão abaixar o tom. Eles viram na mudança de discurso do governo um gesto para não manchar a imagem das Forças Armadas. "Mas temos certeza de que o governo vai voltar a discutir conosco", afirmou o mesmo controlador. Mudanças Antes mesmo de ter conhecimento do recuo dos controladores, Bernardo já tinha avaliado como positiva a reunião. Ele assegurou que o governo realmente pretende fazer mudanças no controle de tráfego aéreo. "Queremos ouvir todas as partes envolvidas, mas queremos fazer isso em clima de tranqüilidade, sem faca no pescoço", repetiu. Bernardo advertiu que uma negociação desse porte exige confiança mútua entre as partes. "O presidente Lula não se recusa a conversar com ninguém. Mas, de fato, não achamos possível fazer uma negociação complexa como essa com clima de desconfiança e ameaça." Ao comentar outra reivindicação dos controladores, a anistia, Bernardo afirmou que, em momento algum, ela foi discutida. "Ninguém mencionou esta palavra. Só vejo isso nos jornais." Indagado se, então, haverá punição disse apenas que o governo vai investir no diálogo. "Não vamos investir em clima de botar fogo no circo. Isso não vai ajudar nada."