CPI da Covid expõe ligação de lobistas a Flávio e Renan Bolsonaro


Marconny Albernaz, que deveria prestar depoimento nesta quinta, ajudou filho '04' a abrir empresa; '01' foi procurado para indicar ao governo intermediário na venda de vacinas

Por Felipe Frazão e Julia Affonso

BRASÍLIA – Documentos da CPI da Covid no Senado mostram um cerco de lobistas aos filhos do presidente Jair Bolsonaro. Uma troca de conversa pelo WhatsApp em poder da comissão mostra que Jair Renan, o filho "04" do presidente, recorreu a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília. Um outro documento, ao qual o Estadão teve acesso, mostra outro lobista pedindo ajuda ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho "01", para conseguir uma agenda no Ministério da Saúde envolvendo compra de vacinas. 

As mensagens que envolvem Jair Renan foram apreendidas pelo Ministério Público Federal do Pará no celular do lobista Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria e repassadas à CPI. O conteúdo do aparelho cita também Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro e mãe de Jair Renana, e a advogada Karina Kufa, que defende Bolsonaro. As conversas do lobista com Jair Renan foram reveladas pelo jornal O Globo no dia 15 de agosto e confirmadas pelo Estadão

Flavio Bolsonaro e Jair Renan, filhos do presidente Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio|Estadão
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A troca de mensagens, de setembro do ano passado, revelam que Jair Renan recorreu a um lobista para abrir uma produtora de eventos em Brasília, em vez de procurar os caminhos oficiais. "Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos à sua disposição para te ajudar", escreve Faria ao filho do presidente, citando o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos. 

Jair Renan responde, e cita seu sócio na empresa, Allan Lucena. “Show irmão. Eu vou organizar com Allan a gente se encontrar e organizar tudo", escreveu. 

O filho do presidente volta a falar horas mais tarde. Ele escreve que é preciso registrar a marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e abrir um registro de microempreendedor individual (MEI). Faria, então, sugere a Jair Renan Bolsonaro uma reunião para "dizer o que está precisando". "Bora marcar na segunda", afirma. O filho do presidente responde com uma expressão usada pelo pai. "Talkey". As mensagens não deixam claro se o encontro ocorreu e qual foi a ajuda que Faria teria dado ao filho do presidente.

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Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, assumirá um programa de rádio em Brasília. Foto: Gabriela Biló/Estadão

As conversas apreendidas no celular do lobista constam de um relatório com milhares de páginas, entregue à CPI. Com Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro, Faria tratou de indicações em órgãos públicos. Segundo as mensagens, reveladas pelo O Globo, o lobista pediu que Ana Cristina atuasse junto a Jorge Oliveira, então ministro de Bolsonaro e atual ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), para que o defensor público Leonardo Cardoso fosse nomeado como chefe da Defensoria Pública da União (DPU). Cardoso acabou preterido. O escolhido para o cargo foi Daniel Macedo.

Faria é alvo da CPI sob suspeita de ter operado em nome da Precisa Medicamentos no Ministério da Saúde e, segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), seria "o senhor de todos os lobbies" na pasta. 

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A Precisa Medicamentos intermediou a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin junto ao Ministério da Saúde. O acordo de R$ 1,6 bilhão foi fechado em 25 de fevereiro e teve o cancelamento oficializado em 26 de agosto, após indícios de irregularidades.

O telefone de Marconny Faria foi apreendido em uma investigação do Ministério Público Federal, no Pará, no ano passado. Ao se depararem com mensagens que citavam a empresa Precisa Medicamentos, investigada pela CPI, a Procuradoria da República compartilhou o conteúdo com os senadores.

A investigação no Pará apura se Faria cobrou propina para influenciar a nomeação do diretor do Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Faria tinha depoimento marcado na CPI nesta quinta-feira, 2, mas não compareceu.

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A comissão já tinha revelado outra troca de mensagens no aparelho do lobistaque citava a advogada Karina Kufa. A CPI já aprovou requerimento para ouvi-la, mas ainda não marcou a data do depoimento.

Uma conversa entre o lobista e o empresário José Ricardo Santana, já ouvido pela CPI e amigo do ex-diretor de Logística do Senado Roberto Ferreira Dias, registrou um jantar na casa de Karina Kufa em 23 de maio do ano passado. Segundo a comissão, José Ricardo Santana escreveu ao lobista. "Marconny, foi um prazer te conhecer hoje na casa da Karina. Aliás, ela me passou seu telefone. Obrigado pelo bate-papo agradável. Se eu puder te ajudar em algo, conte comigo. Boa noite".

À CPI, Santana disse que conhece Karina Kufa e tem "esporadicamente alguns encontros sociais com ela". O empresário, no entanto, afirmou não lembrar quem o apresentou a Faria.

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José Ricardo Santana teria atuado para destravar a compra de milhares de kits de reagentes para exame de covid-19. A venda, que seria feita pela Precisa ao Ministério da Saúde, não foi adiante. 

Flávio Bolsonaro

A CPI também descobriu o cerco de um lobista ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Nesse caso, o objetivo era o de abrir as portas e os cofres do Ministério da Saúde.

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Em junho, uma funcionária do filho do presidente encaminhou à cúpula do ministério pedido de um suposto vendedor, que tentava garantir ao governo uma “negociação prioritária” e a “reserva” de lotes da Vaxxinity. Trata-se de uma nova vacina contra o coronavírus de origem privada, dos Estados Unidos, com pesquisas ainda em fase de desenvolvimento. 

O e-mail de Stelnio Rosi enviado a Flávio Bolsonaro e encaminhado pelo gabinete do senador ao Ministério da Saúde Foto: Estadão

O imunizante UB-612, da Vaxxinity, já foi negociado com o Paraguai, na quantia de 1 milhão de doses, e recebeu autorização de uso emergencial em Taiwan. Flávio estava numa viagem aos EUA para tratar da tecnologia 5G quando recebeu a mensagem em seu e-mail oficial do Senado. Em 9 de junho, o publicitário Stelvio Bruni Rosi se apresentou dizendo que teria encontrado o senador numa “festa” em Washington. Afirmou que ambos teriam conversado sobre a Vaxxinity, antes batizada como Covaxx.

Rosi pediu, então, que o senador aceitasse uma reunião com representantes da empresa na capital americana para falar sobre as vacinas contra covid-19. “Oportunidade para o governo obter a preferência para solicitar a reserva de lote de vacinas estabelecendo negociação prioritária com a Vaxxinity”, ofereceu o publicitário na mensagem.

No dia seguinte, 10 de junho, uma funcionária do gabinete de Flávio encaminhou o pedido ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz. Na mensagem, ela afirmou ter ordem do senador para repassar o assunto. “De ordem do senador Flávio Bolsonaro, retransmito a V. Sa. a mensagem (a) seguir, tendo em vista eventual interesse desse ministério em realizar contato e obter informações”, diz o texto, ao qual o Estadão teve acesso.

Flávio confirma ter encaminhado o pedido de Rosi ao ministério, mas nega ter se encontrado com qualquer representante da Vaxxinity. “O senador Flávio Bolsonaro não se reuniu com representantes da Vaxxinity nos Estados Unidos ou no Brasil e nem fez intermediação entre a fabricante e o Ministério da Saúde. Apenas recebeu e-mail de um advogado que representava a empresa e, como a compra de vacinas é de responsabilidade do ministério, respondeu que o advogado deveria procurar a pasta para obter informações”, diz a nota divulgada pela equipe do senador, numa referência a Rosi, que havia enviado e-mail para ele com endereço de um escritório de advocacia no Rio. “O parlamentar não fez nada além de encaminhar a mensagem para o foro correto.”

Não há registros públicos, nas agendas do Ministério da Saúde, de que tenha havido alguma reunião com a Vaxxinity após o e-mail encaminhado pelo filho do presidente. Em nota, a pasta disse que mantém diálogo com laboratórios que têm registro de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso da vacina no País. “No entanto, cabe esclarecer que o secretário executivo do Ministério, Rodrigo Cruz, não conhece ou esteve em reunião com Stelvio Rosi”, diz a pasta.

Um dos focos da CPI da Covid é saber se Flávio intermediou contatos de vendedores de vacina com o governo. As suspeitas surgiram após a revista Veja revelar, em junho, que o filho do presidente levou o empresário Francisco Maximiano, da Precisa Medicamentos – investigada por denúncia de fraude em contrato da vacina Coxavin –, a uma reunião no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A audiência foi registrada na agenda dopresidente do banco, Gustavo Montezano. Flávio negou relações comerciais ou financeiras com o empresário, conhecido como Max, mas admitiu ter “amigos em comum”.

Em nota, a defesa de Karina Kufa disse sua convocação na CPI é uma tentativa de “constranger” uma advogado. “Toda a menção que tem sidofeita a ela vem acompanhada da qualificação 'advogada do Presidente'. O requerimento de convocação da Dra Karina criminaliza o próprio exercício da advocacia”, disse. Procurado por meio de seu advogado, Jair Renan não se manifestou.

BRASÍLIA – Documentos da CPI da Covid no Senado mostram um cerco de lobistas aos filhos do presidente Jair Bolsonaro. Uma troca de conversa pelo WhatsApp em poder da comissão mostra que Jair Renan, o filho "04" do presidente, recorreu a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília. Um outro documento, ao qual o Estadão teve acesso, mostra outro lobista pedindo ajuda ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho "01", para conseguir uma agenda no Ministério da Saúde envolvendo compra de vacinas. 

As mensagens que envolvem Jair Renan foram apreendidas pelo Ministério Público Federal do Pará no celular do lobista Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria e repassadas à CPI. O conteúdo do aparelho cita também Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro e mãe de Jair Renana, e a advogada Karina Kufa, que defende Bolsonaro. As conversas do lobista com Jair Renan foram reveladas pelo jornal O Globo no dia 15 de agosto e confirmadas pelo Estadão

Flavio Bolsonaro e Jair Renan, filhos do presidente Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio|Estadão

A troca de mensagens, de setembro do ano passado, revelam que Jair Renan recorreu a um lobista para abrir uma produtora de eventos em Brasília, em vez de procurar os caminhos oficiais. "Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos à sua disposição para te ajudar", escreve Faria ao filho do presidente, citando o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos. 

Jair Renan responde, e cita seu sócio na empresa, Allan Lucena. “Show irmão. Eu vou organizar com Allan a gente se encontrar e organizar tudo", escreveu. 

O filho do presidente volta a falar horas mais tarde. Ele escreve que é preciso registrar a marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e abrir um registro de microempreendedor individual (MEI). Faria, então, sugere a Jair Renan Bolsonaro uma reunião para "dizer o que está precisando". "Bora marcar na segunda", afirma. O filho do presidente responde com uma expressão usada pelo pai. "Talkey". As mensagens não deixam claro se o encontro ocorreu e qual foi a ajuda que Faria teria dado ao filho do presidente.

Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, assumirá um programa de rádio em Brasília. Foto: Gabriela Biló/Estadão

As conversas apreendidas no celular do lobista constam de um relatório com milhares de páginas, entregue à CPI. Com Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro, Faria tratou de indicações em órgãos públicos. Segundo as mensagens, reveladas pelo O Globo, o lobista pediu que Ana Cristina atuasse junto a Jorge Oliveira, então ministro de Bolsonaro e atual ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), para que o defensor público Leonardo Cardoso fosse nomeado como chefe da Defensoria Pública da União (DPU). Cardoso acabou preterido. O escolhido para o cargo foi Daniel Macedo.

Faria é alvo da CPI sob suspeita de ter operado em nome da Precisa Medicamentos no Ministério da Saúde e, segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), seria "o senhor de todos os lobbies" na pasta. 

A Precisa Medicamentos intermediou a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin junto ao Ministério da Saúde. O acordo de R$ 1,6 bilhão foi fechado em 25 de fevereiro e teve o cancelamento oficializado em 26 de agosto, após indícios de irregularidades.

O telefone de Marconny Faria foi apreendido em uma investigação do Ministério Público Federal, no Pará, no ano passado. Ao se depararem com mensagens que citavam a empresa Precisa Medicamentos, investigada pela CPI, a Procuradoria da República compartilhou o conteúdo com os senadores.

A investigação no Pará apura se Faria cobrou propina para influenciar a nomeação do diretor do Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Faria tinha depoimento marcado na CPI nesta quinta-feira, 2, mas não compareceu.

A comissão já tinha revelado outra troca de mensagens no aparelho do lobistaque citava a advogada Karina Kufa. A CPI já aprovou requerimento para ouvi-la, mas ainda não marcou a data do depoimento.

Uma conversa entre o lobista e o empresário José Ricardo Santana, já ouvido pela CPI e amigo do ex-diretor de Logística do Senado Roberto Ferreira Dias, registrou um jantar na casa de Karina Kufa em 23 de maio do ano passado. Segundo a comissão, José Ricardo Santana escreveu ao lobista. "Marconny, foi um prazer te conhecer hoje na casa da Karina. Aliás, ela me passou seu telefone. Obrigado pelo bate-papo agradável. Se eu puder te ajudar em algo, conte comigo. Boa noite".

À CPI, Santana disse que conhece Karina Kufa e tem "esporadicamente alguns encontros sociais com ela". O empresário, no entanto, afirmou não lembrar quem o apresentou a Faria.

José Ricardo Santana teria atuado para destravar a compra de milhares de kits de reagentes para exame de covid-19. A venda, que seria feita pela Precisa ao Ministério da Saúde, não foi adiante. 

Flávio Bolsonaro

A CPI também descobriu o cerco de um lobista ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Nesse caso, o objetivo era o de abrir as portas e os cofres do Ministério da Saúde.

Em junho, uma funcionária do filho do presidente encaminhou à cúpula do ministério pedido de um suposto vendedor, que tentava garantir ao governo uma “negociação prioritária” e a “reserva” de lotes da Vaxxinity. Trata-se de uma nova vacina contra o coronavírus de origem privada, dos Estados Unidos, com pesquisas ainda em fase de desenvolvimento. 

O e-mail de Stelnio Rosi enviado a Flávio Bolsonaro e encaminhado pelo gabinete do senador ao Ministério da Saúde Foto: Estadão

O imunizante UB-612, da Vaxxinity, já foi negociado com o Paraguai, na quantia de 1 milhão de doses, e recebeu autorização de uso emergencial em Taiwan. Flávio estava numa viagem aos EUA para tratar da tecnologia 5G quando recebeu a mensagem em seu e-mail oficial do Senado. Em 9 de junho, o publicitário Stelvio Bruni Rosi se apresentou dizendo que teria encontrado o senador numa “festa” em Washington. Afirmou que ambos teriam conversado sobre a Vaxxinity, antes batizada como Covaxx.

Rosi pediu, então, que o senador aceitasse uma reunião com representantes da empresa na capital americana para falar sobre as vacinas contra covid-19. “Oportunidade para o governo obter a preferência para solicitar a reserva de lote de vacinas estabelecendo negociação prioritária com a Vaxxinity”, ofereceu o publicitário na mensagem.

No dia seguinte, 10 de junho, uma funcionária do gabinete de Flávio encaminhou o pedido ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz. Na mensagem, ela afirmou ter ordem do senador para repassar o assunto. “De ordem do senador Flávio Bolsonaro, retransmito a V. Sa. a mensagem (a) seguir, tendo em vista eventual interesse desse ministério em realizar contato e obter informações”, diz o texto, ao qual o Estadão teve acesso.

Flávio confirma ter encaminhado o pedido de Rosi ao ministério, mas nega ter se encontrado com qualquer representante da Vaxxinity. “O senador Flávio Bolsonaro não se reuniu com representantes da Vaxxinity nos Estados Unidos ou no Brasil e nem fez intermediação entre a fabricante e o Ministério da Saúde. Apenas recebeu e-mail de um advogado que representava a empresa e, como a compra de vacinas é de responsabilidade do ministério, respondeu que o advogado deveria procurar a pasta para obter informações”, diz a nota divulgada pela equipe do senador, numa referência a Rosi, que havia enviado e-mail para ele com endereço de um escritório de advocacia no Rio. “O parlamentar não fez nada além de encaminhar a mensagem para o foro correto.”

Não há registros públicos, nas agendas do Ministério da Saúde, de que tenha havido alguma reunião com a Vaxxinity após o e-mail encaminhado pelo filho do presidente. Em nota, a pasta disse que mantém diálogo com laboratórios que têm registro de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso da vacina no País. “No entanto, cabe esclarecer que o secretário executivo do Ministério, Rodrigo Cruz, não conhece ou esteve em reunião com Stelvio Rosi”, diz a pasta.

Um dos focos da CPI da Covid é saber se Flávio intermediou contatos de vendedores de vacina com o governo. As suspeitas surgiram após a revista Veja revelar, em junho, que o filho do presidente levou o empresário Francisco Maximiano, da Precisa Medicamentos – investigada por denúncia de fraude em contrato da vacina Coxavin –, a uma reunião no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A audiência foi registrada na agenda dopresidente do banco, Gustavo Montezano. Flávio negou relações comerciais ou financeiras com o empresário, conhecido como Max, mas admitiu ter “amigos em comum”.

Em nota, a defesa de Karina Kufa disse sua convocação na CPI é uma tentativa de “constranger” uma advogado. “Toda a menção que tem sidofeita a ela vem acompanhada da qualificação 'advogada do Presidente'. O requerimento de convocação da Dra Karina criminaliza o próprio exercício da advocacia”, disse. Procurado por meio de seu advogado, Jair Renan não se manifestou.

BRASÍLIA – Documentos da CPI da Covid no Senado mostram um cerco de lobistas aos filhos do presidente Jair Bolsonaro. Uma troca de conversa pelo WhatsApp em poder da comissão mostra que Jair Renan, o filho "04" do presidente, recorreu a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília. Um outro documento, ao qual o Estadão teve acesso, mostra outro lobista pedindo ajuda ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho "01", para conseguir uma agenda no Ministério da Saúde envolvendo compra de vacinas. 

As mensagens que envolvem Jair Renan foram apreendidas pelo Ministério Público Federal do Pará no celular do lobista Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria e repassadas à CPI. O conteúdo do aparelho cita também Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro e mãe de Jair Renana, e a advogada Karina Kufa, que defende Bolsonaro. As conversas do lobista com Jair Renan foram reveladas pelo jornal O Globo no dia 15 de agosto e confirmadas pelo Estadão

Flavio Bolsonaro e Jair Renan, filhos do presidente Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio|Estadão

A troca de mensagens, de setembro do ano passado, revelam que Jair Renan recorreu a um lobista para abrir uma produtora de eventos em Brasília, em vez de procurar os caminhos oficiais. "Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos à sua disposição para te ajudar", escreve Faria ao filho do presidente, citando o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos. 

Jair Renan responde, e cita seu sócio na empresa, Allan Lucena. “Show irmão. Eu vou organizar com Allan a gente se encontrar e organizar tudo", escreveu. 

O filho do presidente volta a falar horas mais tarde. Ele escreve que é preciso registrar a marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e abrir um registro de microempreendedor individual (MEI). Faria, então, sugere a Jair Renan Bolsonaro uma reunião para "dizer o que está precisando". "Bora marcar na segunda", afirma. O filho do presidente responde com uma expressão usada pelo pai. "Talkey". As mensagens não deixam claro se o encontro ocorreu e qual foi a ajuda que Faria teria dado ao filho do presidente.

Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, assumirá um programa de rádio em Brasília. Foto: Gabriela Biló/Estadão

As conversas apreendidas no celular do lobista constam de um relatório com milhares de páginas, entregue à CPI. Com Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro, Faria tratou de indicações em órgãos públicos. Segundo as mensagens, reveladas pelo O Globo, o lobista pediu que Ana Cristina atuasse junto a Jorge Oliveira, então ministro de Bolsonaro e atual ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), para que o defensor público Leonardo Cardoso fosse nomeado como chefe da Defensoria Pública da União (DPU). Cardoso acabou preterido. O escolhido para o cargo foi Daniel Macedo.

Faria é alvo da CPI sob suspeita de ter operado em nome da Precisa Medicamentos no Ministério da Saúde e, segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), seria "o senhor de todos os lobbies" na pasta. 

A Precisa Medicamentos intermediou a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin junto ao Ministério da Saúde. O acordo de R$ 1,6 bilhão foi fechado em 25 de fevereiro e teve o cancelamento oficializado em 26 de agosto, após indícios de irregularidades.

O telefone de Marconny Faria foi apreendido em uma investigação do Ministério Público Federal, no Pará, no ano passado. Ao se depararem com mensagens que citavam a empresa Precisa Medicamentos, investigada pela CPI, a Procuradoria da República compartilhou o conteúdo com os senadores.

A investigação no Pará apura se Faria cobrou propina para influenciar a nomeação do diretor do Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Faria tinha depoimento marcado na CPI nesta quinta-feira, 2, mas não compareceu.

A comissão já tinha revelado outra troca de mensagens no aparelho do lobistaque citava a advogada Karina Kufa. A CPI já aprovou requerimento para ouvi-la, mas ainda não marcou a data do depoimento.

Uma conversa entre o lobista e o empresário José Ricardo Santana, já ouvido pela CPI e amigo do ex-diretor de Logística do Senado Roberto Ferreira Dias, registrou um jantar na casa de Karina Kufa em 23 de maio do ano passado. Segundo a comissão, José Ricardo Santana escreveu ao lobista. "Marconny, foi um prazer te conhecer hoje na casa da Karina. Aliás, ela me passou seu telefone. Obrigado pelo bate-papo agradável. Se eu puder te ajudar em algo, conte comigo. Boa noite".

À CPI, Santana disse que conhece Karina Kufa e tem "esporadicamente alguns encontros sociais com ela". O empresário, no entanto, afirmou não lembrar quem o apresentou a Faria.

José Ricardo Santana teria atuado para destravar a compra de milhares de kits de reagentes para exame de covid-19. A venda, que seria feita pela Precisa ao Ministério da Saúde, não foi adiante. 

Flávio Bolsonaro

A CPI também descobriu o cerco de um lobista ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Nesse caso, o objetivo era o de abrir as portas e os cofres do Ministério da Saúde.

Em junho, uma funcionária do filho do presidente encaminhou à cúpula do ministério pedido de um suposto vendedor, que tentava garantir ao governo uma “negociação prioritária” e a “reserva” de lotes da Vaxxinity. Trata-se de uma nova vacina contra o coronavírus de origem privada, dos Estados Unidos, com pesquisas ainda em fase de desenvolvimento. 

O e-mail de Stelnio Rosi enviado a Flávio Bolsonaro e encaminhado pelo gabinete do senador ao Ministério da Saúde Foto: Estadão

O imunizante UB-612, da Vaxxinity, já foi negociado com o Paraguai, na quantia de 1 milhão de doses, e recebeu autorização de uso emergencial em Taiwan. Flávio estava numa viagem aos EUA para tratar da tecnologia 5G quando recebeu a mensagem em seu e-mail oficial do Senado. Em 9 de junho, o publicitário Stelvio Bruni Rosi se apresentou dizendo que teria encontrado o senador numa “festa” em Washington. Afirmou que ambos teriam conversado sobre a Vaxxinity, antes batizada como Covaxx.

Rosi pediu, então, que o senador aceitasse uma reunião com representantes da empresa na capital americana para falar sobre as vacinas contra covid-19. “Oportunidade para o governo obter a preferência para solicitar a reserva de lote de vacinas estabelecendo negociação prioritária com a Vaxxinity”, ofereceu o publicitário na mensagem.

No dia seguinte, 10 de junho, uma funcionária do gabinete de Flávio encaminhou o pedido ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz. Na mensagem, ela afirmou ter ordem do senador para repassar o assunto. “De ordem do senador Flávio Bolsonaro, retransmito a V. Sa. a mensagem (a) seguir, tendo em vista eventual interesse desse ministério em realizar contato e obter informações”, diz o texto, ao qual o Estadão teve acesso.

Flávio confirma ter encaminhado o pedido de Rosi ao ministério, mas nega ter se encontrado com qualquer representante da Vaxxinity. “O senador Flávio Bolsonaro não se reuniu com representantes da Vaxxinity nos Estados Unidos ou no Brasil e nem fez intermediação entre a fabricante e o Ministério da Saúde. Apenas recebeu e-mail de um advogado que representava a empresa e, como a compra de vacinas é de responsabilidade do ministério, respondeu que o advogado deveria procurar a pasta para obter informações”, diz a nota divulgada pela equipe do senador, numa referência a Rosi, que havia enviado e-mail para ele com endereço de um escritório de advocacia no Rio. “O parlamentar não fez nada além de encaminhar a mensagem para o foro correto.”

Não há registros públicos, nas agendas do Ministério da Saúde, de que tenha havido alguma reunião com a Vaxxinity após o e-mail encaminhado pelo filho do presidente. Em nota, a pasta disse que mantém diálogo com laboratórios que têm registro de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso da vacina no País. “No entanto, cabe esclarecer que o secretário executivo do Ministério, Rodrigo Cruz, não conhece ou esteve em reunião com Stelvio Rosi”, diz a pasta.

Um dos focos da CPI da Covid é saber se Flávio intermediou contatos de vendedores de vacina com o governo. As suspeitas surgiram após a revista Veja revelar, em junho, que o filho do presidente levou o empresário Francisco Maximiano, da Precisa Medicamentos – investigada por denúncia de fraude em contrato da vacina Coxavin –, a uma reunião no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A audiência foi registrada na agenda dopresidente do banco, Gustavo Montezano. Flávio negou relações comerciais ou financeiras com o empresário, conhecido como Max, mas admitiu ter “amigos em comum”.

Em nota, a defesa de Karina Kufa disse sua convocação na CPI é uma tentativa de “constranger” uma advogado. “Toda a menção que tem sidofeita a ela vem acompanhada da qualificação 'advogada do Presidente'. O requerimento de convocação da Dra Karina criminaliza o próprio exercício da advocacia”, disse. Procurado por meio de seu advogado, Jair Renan não se manifestou.

BRASÍLIA – Documentos da CPI da Covid no Senado mostram um cerco de lobistas aos filhos do presidente Jair Bolsonaro. Uma troca de conversa pelo WhatsApp em poder da comissão mostra que Jair Renan, o filho "04" do presidente, recorreu a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília. Um outro documento, ao qual o Estadão teve acesso, mostra outro lobista pedindo ajuda ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho "01", para conseguir uma agenda no Ministério da Saúde envolvendo compra de vacinas. 

As mensagens que envolvem Jair Renan foram apreendidas pelo Ministério Público Federal do Pará no celular do lobista Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria e repassadas à CPI. O conteúdo do aparelho cita também Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro e mãe de Jair Renana, e a advogada Karina Kufa, que defende Bolsonaro. As conversas do lobista com Jair Renan foram reveladas pelo jornal O Globo no dia 15 de agosto e confirmadas pelo Estadão

Flavio Bolsonaro e Jair Renan, filhos do presidente Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio|Estadão

A troca de mensagens, de setembro do ano passado, revelam que Jair Renan recorreu a um lobista para abrir uma produtora de eventos em Brasília, em vez de procurar os caminhos oficiais. "Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos à sua disposição para te ajudar", escreve Faria ao filho do presidente, citando o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos. 

Jair Renan responde, e cita seu sócio na empresa, Allan Lucena. “Show irmão. Eu vou organizar com Allan a gente se encontrar e organizar tudo", escreveu. 

O filho do presidente volta a falar horas mais tarde. Ele escreve que é preciso registrar a marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e abrir um registro de microempreendedor individual (MEI). Faria, então, sugere a Jair Renan Bolsonaro uma reunião para "dizer o que está precisando". "Bora marcar na segunda", afirma. O filho do presidente responde com uma expressão usada pelo pai. "Talkey". As mensagens não deixam claro se o encontro ocorreu e qual foi a ajuda que Faria teria dado ao filho do presidente.

Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, assumirá um programa de rádio em Brasília. Foto: Gabriela Biló/Estadão

As conversas apreendidas no celular do lobista constam de um relatório com milhares de páginas, entregue à CPI. Com Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro, Faria tratou de indicações em órgãos públicos. Segundo as mensagens, reveladas pelo O Globo, o lobista pediu que Ana Cristina atuasse junto a Jorge Oliveira, então ministro de Bolsonaro e atual ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), para que o defensor público Leonardo Cardoso fosse nomeado como chefe da Defensoria Pública da União (DPU). Cardoso acabou preterido. O escolhido para o cargo foi Daniel Macedo.

Faria é alvo da CPI sob suspeita de ter operado em nome da Precisa Medicamentos no Ministério da Saúde e, segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), seria "o senhor de todos os lobbies" na pasta. 

A Precisa Medicamentos intermediou a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin junto ao Ministério da Saúde. O acordo de R$ 1,6 bilhão foi fechado em 25 de fevereiro e teve o cancelamento oficializado em 26 de agosto, após indícios de irregularidades.

O telefone de Marconny Faria foi apreendido em uma investigação do Ministério Público Federal, no Pará, no ano passado. Ao se depararem com mensagens que citavam a empresa Precisa Medicamentos, investigada pela CPI, a Procuradoria da República compartilhou o conteúdo com os senadores.

A investigação no Pará apura se Faria cobrou propina para influenciar a nomeação do diretor do Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Faria tinha depoimento marcado na CPI nesta quinta-feira, 2, mas não compareceu.

A comissão já tinha revelado outra troca de mensagens no aparelho do lobistaque citava a advogada Karina Kufa. A CPI já aprovou requerimento para ouvi-la, mas ainda não marcou a data do depoimento.

Uma conversa entre o lobista e o empresário José Ricardo Santana, já ouvido pela CPI e amigo do ex-diretor de Logística do Senado Roberto Ferreira Dias, registrou um jantar na casa de Karina Kufa em 23 de maio do ano passado. Segundo a comissão, José Ricardo Santana escreveu ao lobista. "Marconny, foi um prazer te conhecer hoje na casa da Karina. Aliás, ela me passou seu telefone. Obrigado pelo bate-papo agradável. Se eu puder te ajudar em algo, conte comigo. Boa noite".

À CPI, Santana disse que conhece Karina Kufa e tem "esporadicamente alguns encontros sociais com ela". O empresário, no entanto, afirmou não lembrar quem o apresentou a Faria.

José Ricardo Santana teria atuado para destravar a compra de milhares de kits de reagentes para exame de covid-19. A venda, que seria feita pela Precisa ao Ministério da Saúde, não foi adiante. 

Flávio Bolsonaro

A CPI também descobriu o cerco de um lobista ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Nesse caso, o objetivo era o de abrir as portas e os cofres do Ministério da Saúde.

Em junho, uma funcionária do filho do presidente encaminhou à cúpula do ministério pedido de um suposto vendedor, que tentava garantir ao governo uma “negociação prioritária” e a “reserva” de lotes da Vaxxinity. Trata-se de uma nova vacina contra o coronavírus de origem privada, dos Estados Unidos, com pesquisas ainda em fase de desenvolvimento. 

O e-mail de Stelnio Rosi enviado a Flávio Bolsonaro e encaminhado pelo gabinete do senador ao Ministério da Saúde Foto: Estadão

O imunizante UB-612, da Vaxxinity, já foi negociado com o Paraguai, na quantia de 1 milhão de doses, e recebeu autorização de uso emergencial em Taiwan. Flávio estava numa viagem aos EUA para tratar da tecnologia 5G quando recebeu a mensagem em seu e-mail oficial do Senado. Em 9 de junho, o publicitário Stelvio Bruni Rosi se apresentou dizendo que teria encontrado o senador numa “festa” em Washington. Afirmou que ambos teriam conversado sobre a Vaxxinity, antes batizada como Covaxx.

Rosi pediu, então, que o senador aceitasse uma reunião com representantes da empresa na capital americana para falar sobre as vacinas contra covid-19. “Oportunidade para o governo obter a preferência para solicitar a reserva de lote de vacinas estabelecendo negociação prioritária com a Vaxxinity”, ofereceu o publicitário na mensagem.

No dia seguinte, 10 de junho, uma funcionária do gabinete de Flávio encaminhou o pedido ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz. Na mensagem, ela afirmou ter ordem do senador para repassar o assunto. “De ordem do senador Flávio Bolsonaro, retransmito a V. Sa. a mensagem (a) seguir, tendo em vista eventual interesse desse ministério em realizar contato e obter informações”, diz o texto, ao qual o Estadão teve acesso.

Flávio confirma ter encaminhado o pedido de Rosi ao ministério, mas nega ter se encontrado com qualquer representante da Vaxxinity. “O senador Flávio Bolsonaro não se reuniu com representantes da Vaxxinity nos Estados Unidos ou no Brasil e nem fez intermediação entre a fabricante e o Ministério da Saúde. Apenas recebeu e-mail de um advogado que representava a empresa e, como a compra de vacinas é de responsabilidade do ministério, respondeu que o advogado deveria procurar a pasta para obter informações”, diz a nota divulgada pela equipe do senador, numa referência a Rosi, que havia enviado e-mail para ele com endereço de um escritório de advocacia no Rio. “O parlamentar não fez nada além de encaminhar a mensagem para o foro correto.”

Não há registros públicos, nas agendas do Ministério da Saúde, de que tenha havido alguma reunião com a Vaxxinity após o e-mail encaminhado pelo filho do presidente. Em nota, a pasta disse que mantém diálogo com laboratórios que têm registro de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso da vacina no País. “No entanto, cabe esclarecer que o secretário executivo do Ministério, Rodrigo Cruz, não conhece ou esteve em reunião com Stelvio Rosi”, diz a pasta.

Um dos focos da CPI da Covid é saber se Flávio intermediou contatos de vendedores de vacina com o governo. As suspeitas surgiram após a revista Veja revelar, em junho, que o filho do presidente levou o empresário Francisco Maximiano, da Precisa Medicamentos – investigada por denúncia de fraude em contrato da vacina Coxavin –, a uma reunião no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A audiência foi registrada na agenda dopresidente do banco, Gustavo Montezano. Flávio negou relações comerciais ou financeiras com o empresário, conhecido como Max, mas admitiu ter “amigos em comum”.

Em nota, a defesa de Karina Kufa disse sua convocação na CPI é uma tentativa de “constranger” uma advogado. “Toda a menção que tem sidofeita a ela vem acompanhada da qualificação 'advogada do Presidente'. O requerimento de convocação da Dra Karina criminaliza o próprio exercício da advocacia”, disse. Procurado por meio de seu advogado, Jair Renan não se manifestou.

BRASÍLIA – Documentos da CPI da Covid no Senado mostram um cerco de lobistas aos filhos do presidente Jair Bolsonaro. Uma troca de conversa pelo WhatsApp em poder da comissão mostra que Jair Renan, o filho "04" do presidente, recorreu a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília. Um outro documento, ao qual o Estadão teve acesso, mostra outro lobista pedindo ajuda ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho "01", para conseguir uma agenda no Ministério da Saúde envolvendo compra de vacinas. 

As mensagens que envolvem Jair Renan foram apreendidas pelo Ministério Público Federal do Pará no celular do lobista Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria e repassadas à CPI. O conteúdo do aparelho cita também Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro e mãe de Jair Renana, e a advogada Karina Kufa, que defende Bolsonaro. As conversas do lobista com Jair Renan foram reveladas pelo jornal O Globo no dia 15 de agosto e confirmadas pelo Estadão

Flavio Bolsonaro e Jair Renan, filhos do presidente Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio|Estadão

A troca de mensagens, de setembro do ano passado, revelam que Jair Renan recorreu a um lobista para abrir uma produtora de eventos em Brasília, em vez de procurar os caminhos oficiais. "Bora resolver as questões dos seus contratos!! Se preocupe com isso. Como te falei, eu e o William estamos à sua disposição para te ajudar", escreve Faria ao filho do presidente, citando o advogado William de Araújo Falcomer dos Santos. 

Jair Renan responde, e cita seu sócio na empresa, Allan Lucena. “Show irmão. Eu vou organizar com Allan a gente se encontrar e organizar tudo", escreveu. 

O filho do presidente volta a falar horas mais tarde. Ele escreve que é preciso registrar a marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e abrir um registro de microempreendedor individual (MEI). Faria, então, sugere a Jair Renan Bolsonaro uma reunião para "dizer o que está precisando". "Bora marcar na segunda", afirma. O filho do presidente responde com uma expressão usada pelo pai. "Talkey". As mensagens não deixam claro se o encontro ocorreu e qual foi a ajuda que Faria teria dado ao filho do presidente.

Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, assumirá um programa de rádio em Brasília. Foto: Gabriela Biló/Estadão

As conversas apreendidas no celular do lobista constam de um relatório com milhares de páginas, entregue à CPI. Com Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do Bolsonaro, Faria tratou de indicações em órgãos públicos. Segundo as mensagens, reveladas pelo O Globo, o lobista pediu que Ana Cristina atuasse junto a Jorge Oliveira, então ministro de Bolsonaro e atual ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), para que o defensor público Leonardo Cardoso fosse nomeado como chefe da Defensoria Pública da União (DPU). Cardoso acabou preterido. O escolhido para o cargo foi Daniel Macedo.

Faria é alvo da CPI sob suspeita de ter operado em nome da Precisa Medicamentos no Ministério da Saúde e, segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), seria "o senhor de todos os lobbies" na pasta. 

A Precisa Medicamentos intermediou a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin junto ao Ministério da Saúde. O acordo de R$ 1,6 bilhão foi fechado em 25 de fevereiro e teve o cancelamento oficializado em 26 de agosto, após indícios de irregularidades.

O telefone de Marconny Faria foi apreendido em uma investigação do Ministério Público Federal, no Pará, no ano passado. Ao se depararem com mensagens que citavam a empresa Precisa Medicamentos, investigada pela CPI, a Procuradoria da República compartilhou o conteúdo com os senadores.

A investigação no Pará apura se Faria cobrou propina para influenciar a nomeação do diretor do Instituto Evandro Chagas, órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Faria tinha depoimento marcado na CPI nesta quinta-feira, 2, mas não compareceu.

A comissão já tinha revelado outra troca de mensagens no aparelho do lobistaque citava a advogada Karina Kufa. A CPI já aprovou requerimento para ouvi-la, mas ainda não marcou a data do depoimento.

Uma conversa entre o lobista e o empresário José Ricardo Santana, já ouvido pela CPI e amigo do ex-diretor de Logística do Senado Roberto Ferreira Dias, registrou um jantar na casa de Karina Kufa em 23 de maio do ano passado. Segundo a comissão, José Ricardo Santana escreveu ao lobista. "Marconny, foi um prazer te conhecer hoje na casa da Karina. Aliás, ela me passou seu telefone. Obrigado pelo bate-papo agradável. Se eu puder te ajudar em algo, conte comigo. Boa noite".

À CPI, Santana disse que conhece Karina Kufa e tem "esporadicamente alguns encontros sociais com ela". O empresário, no entanto, afirmou não lembrar quem o apresentou a Faria.

José Ricardo Santana teria atuado para destravar a compra de milhares de kits de reagentes para exame de covid-19. A venda, que seria feita pela Precisa ao Ministério da Saúde, não foi adiante. 

Flávio Bolsonaro

A CPI também descobriu o cerco de um lobista ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Nesse caso, o objetivo era o de abrir as portas e os cofres do Ministério da Saúde.

Em junho, uma funcionária do filho do presidente encaminhou à cúpula do ministério pedido de um suposto vendedor, que tentava garantir ao governo uma “negociação prioritária” e a “reserva” de lotes da Vaxxinity. Trata-se de uma nova vacina contra o coronavírus de origem privada, dos Estados Unidos, com pesquisas ainda em fase de desenvolvimento. 

O e-mail de Stelnio Rosi enviado a Flávio Bolsonaro e encaminhado pelo gabinete do senador ao Ministério da Saúde Foto: Estadão

O imunizante UB-612, da Vaxxinity, já foi negociado com o Paraguai, na quantia de 1 milhão de doses, e recebeu autorização de uso emergencial em Taiwan. Flávio estava numa viagem aos EUA para tratar da tecnologia 5G quando recebeu a mensagem em seu e-mail oficial do Senado. Em 9 de junho, o publicitário Stelvio Bruni Rosi se apresentou dizendo que teria encontrado o senador numa “festa” em Washington. Afirmou que ambos teriam conversado sobre a Vaxxinity, antes batizada como Covaxx.

Rosi pediu, então, que o senador aceitasse uma reunião com representantes da empresa na capital americana para falar sobre as vacinas contra covid-19. “Oportunidade para o governo obter a preferência para solicitar a reserva de lote de vacinas estabelecendo negociação prioritária com a Vaxxinity”, ofereceu o publicitário na mensagem.

No dia seguinte, 10 de junho, uma funcionária do gabinete de Flávio encaminhou o pedido ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz. Na mensagem, ela afirmou ter ordem do senador para repassar o assunto. “De ordem do senador Flávio Bolsonaro, retransmito a V. Sa. a mensagem (a) seguir, tendo em vista eventual interesse desse ministério em realizar contato e obter informações”, diz o texto, ao qual o Estadão teve acesso.

Flávio confirma ter encaminhado o pedido de Rosi ao ministério, mas nega ter se encontrado com qualquer representante da Vaxxinity. “O senador Flávio Bolsonaro não se reuniu com representantes da Vaxxinity nos Estados Unidos ou no Brasil e nem fez intermediação entre a fabricante e o Ministério da Saúde. Apenas recebeu e-mail de um advogado que representava a empresa e, como a compra de vacinas é de responsabilidade do ministério, respondeu que o advogado deveria procurar a pasta para obter informações”, diz a nota divulgada pela equipe do senador, numa referência a Rosi, que havia enviado e-mail para ele com endereço de um escritório de advocacia no Rio. “O parlamentar não fez nada além de encaminhar a mensagem para o foro correto.”

Não há registros públicos, nas agendas do Ministério da Saúde, de que tenha havido alguma reunião com a Vaxxinity após o e-mail encaminhado pelo filho do presidente. Em nota, a pasta disse que mantém diálogo com laboratórios que têm registro de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso da vacina no País. “No entanto, cabe esclarecer que o secretário executivo do Ministério, Rodrigo Cruz, não conhece ou esteve em reunião com Stelvio Rosi”, diz a pasta.

Um dos focos da CPI da Covid é saber se Flávio intermediou contatos de vendedores de vacina com o governo. As suspeitas surgiram após a revista Veja revelar, em junho, que o filho do presidente levou o empresário Francisco Maximiano, da Precisa Medicamentos – investigada por denúncia de fraude em contrato da vacina Coxavin –, a uma reunião no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A audiência foi registrada na agenda dopresidente do banco, Gustavo Montezano. Flávio negou relações comerciais ou financeiras com o empresário, conhecido como Max, mas admitiu ter “amigos em comum”.

Em nota, a defesa de Karina Kufa disse sua convocação na CPI é uma tentativa de “constranger” uma advogado. “Toda a menção que tem sidofeita a ela vem acompanhada da qualificação 'advogada do Presidente'. O requerimento de convocação da Dra Karina criminaliza o próprio exercício da advocacia”, disse. Procurado por meio de seu advogado, Jair Renan não se manifestou.

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