CPI da Covid: provas ganham corpo e desmoralizam governo; leia análise


Das 11 vacinas vendidas no mundo, o Brasil apostou todas as fichas em apenas duas delas, decisão que revelou-se atroz

Por Mário Scheffer
Atualização:

Quantas mortes teriam sido evitadas se o governo federal tivesse comprado, por dez dólares a dose, milhões de vacinas da Pfizer disponíveis para entrega desde dezembro de 2020? É certo que milhares de óbitos preveníveis pela vacinação ocorreram enquanto ofertas comerciais da empresa eram desdenhadas.

O representante da farmacêutica, Carlos Murillo, confirmou, em termos inequívocos, as tratativas fracassadas com o Ministério da Saúde, o que tanto causa estupor, agora com o detalhamento levado à CPI

O gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, em depoimento à CPI da Covid Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
continua após a publicidade

Das 11 vacinas vendidas no mundo, o Brasil apostou todas as fichas em apenas duas delas, decisão que revelou-se atroz. Conforme contrato recente e extemporâneo, entre o governo e Pfizer, a vacina que o país ajudou a testar passou de rejeitada a possível candidata a campeã de doses em 2021. As entregas anunciadas pelo depoente na CPI são mais um revelador da negligência anterior.

Nesse episódio, a oposição deve cimentar a tese na CPI que converge para a desmoralização do governo. É compreensível, sob o risco de dispersão que favoreceria governistas de tão poucos argumentos, que senadores não tenham olhado para a Pfizer em si. Em alguns países é ela, a empresa, que vem sendo criticada por suas estratégias comerciais calculistas. Com foco em inovação e produtos caros, a Pfizer prioriza vender seu imunizante aos países ricos e tem engajamento mínimo no consórcio de vacinas da OMS. Radical contra a quebra de patentes, não menciona transferir tecnologia para produção local, não prevê outsourcing (terceirizar produção, por exemplo com a Índia, para ampliar a oferta no mundo), exige prédios de embaixadas e bases militares como garantia para vender a países pobres, e ainda fecha acordos polêmicos. Um deles - obter informações confidenciais sobre efeitos adversos da vacina em troca de doses - foi o que permitiu Israel largar na frente na vacinação e ajudou na reeleição de Benjamin Netanyahu.

O depoimento da Pfizer criou uma atmosfera agourenta para o governo federal na CPI. A base probatória ganha corpo. Mas considerando o histórico de personagens centrais da comissão, não há que se esperar coerência excessiva nem se pode tornar antecedentes pessoais mais nobres do que foram. 

continua após a publicidade

*PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP

Quantas mortes teriam sido evitadas se o governo federal tivesse comprado, por dez dólares a dose, milhões de vacinas da Pfizer disponíveis para entrega desde dezembro de 2020? É certo que milhares de óbitos preveníveis pela vacinação ocorreram enquanto ofertas comerciais da empresa eram desdenhadas.

O representante da farmacêutica, Carlos Murillo, confirmou, em termos inequívocos, as tratativas fracassadas com o Ministério da Saúde, o que tanto causa estupor, agora com o detalhamento levado à CPI

O gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, em depoimento à CPI da Covid Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Das 11 vacinas vendidas no mundo, o Brasil apostou todas as fichas em apenas duas delas, decisão que revelou-se atroz. Conforme contrato recente e extemporâneo, entre o governo e Pfizer, a vacina que o país ajudou a testar passou de rejeitada a possível candidata a campeã de doses em 2021. As entregas anunciadas pelo depoente na CPI são mais um revelador da negligência anterior.

Nesse episódio, a oposição deve cimentar a tese na CPI que converge para a desmoralização do governo. É compreensível, sob o risco de dispersão que favoreceria governistas de tão poucos argumentos, que senadores não tenham olhado para a Pfizer em si. Em alguns países é ela, a empresa, que vem sendo criticada por suas estratégias comerciais calculistas. Com foco em inovação e produtos caros, a Pfizer prioriza vender seu imunizante aos países ricos e tem engajamento mínimo no consórcio de vacinas da OMS. Radical contra a quebra de patentes, não menciona transferir tecnologia para produção local, não prevê outsourcing (terceirizar produção, por exemplo com a Índia, para ampliar a oferta no mundo), exige prédios de embaixadas e bases militares como garantia para vender a países pobres, e ainda fecha acordos polêmicos. Um deles - obter informações confidenciais sobre efeitos adversos da vacina em troca de doses - foi o que permitiu Israel largar na frente na vacinação e ajudou na reeleição de Benjamin Netanyahu.

O depoimento da Pfizer criou uma atmosfera agourenta para o governo federal na CPI. A base probatória ganha corpo. Mas considerando o histórico de personagens centrais da comissão, não há que se esperar coerência excessiva nem se pode tornar antecedentes pessoais mais nobres do que foram. 

*PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP

Quantas mortes teriam sido evitadas se o governo federal tivesse comprado, por dez dólares a dose, milhões de vacinas da Pfizer disponíveis para entrega desde dezembro de 2020? É certo que milhares de óbitos preveníveis pela vacinação ocorreram enquanto ofertas comerciais da empresa eram desdenhadas.

O representante da farmacêutica, Carlos Murillo, confirmou, em termos inequívocos, as tratativas fracassadas com o Ministério da Saúde, o que tanto causa estupor, agora com o detalhamento levado à CPI

O gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, em depoimento à CPI da Covid Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Das 11 vacinas vendidas no mundo, o Brasil apostou todas as fichas em apenas duas delas, decisão que revelou-se atroz. Conforme contrato recente e extemporâneo, entre o governo e Pfizer, a vacina que o país ajudou a testar passou de rejeitada a possível candidata a campeã de doses em 2021. As entregas anunciadas pelo depoente na CPI são mais um revelador da negligência anterior.

Nesse episódio, a oposição deve cimentar a tese na CPI que converge para a desmoralização do governo. É compreensível, sob o risco de dispersão que favoreceria governistas de tão poucos argumentos, que senadores não tenham olhado para a Pfizer em si. Em alguns países é ela, a empresa, que vem sendo criticada por suas estratégias comerciais calculistas. Com foco em inovação e produtos caros, a Pfizer prioriza vender seu imunizante aos países ricos e tem engajamento mínimo no consórcio de vacinas da OMS. Radical contra a quebra de patentes, não menciona transferir tecnologia para produção local, não prevê outsourcing (terceirizar produção, por exemplo com a Índia, para ampliar a oferta no mundo), exige prédios de embaixadas e bases militares como garantia para vender a países pobres, e ainda fecha acordos polêmicos. Um deles - obter informações confidenciais sobre efeitos adversos da vacina em troca de doses - foi o que permitiu Israel largar na frente na vacinação e ajudou na reeleição de Benjamin Netanyahu.

O depoimento da Pfizer criou uma atmosfera agourenta para o governo federal na CPI. A base probatória ganha corpo. Mas considerando o histórico de personagens centrais da comissão, não há que se esperar coerência excessiva nem se pode tornar antecedentes pessoais mais nobres do que foram. 

*PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.