Durante debate no segundo turno da campanha eleitoral, o então candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “não era prudente e democrático” um presidente da República ter amigos como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo ele, as indicações deveriam ser baseadas apenas em “competência e currículo”, não em amizade. As declarações de Lula foram resgatadas nas redes sociais nesta quinta-feira, 1º, em publicações apontando a contradição diante da indicação de seu advogado pessoal e amigo Cristiano Zanin Martins para uma cadeira no STF.
“Não é prudente e democrático um presidente da República querer ter os ministros da Suprema Corte como amigos. Você não indica um ministro da Suprema Corte para votar favorável a você ou te beneficiar”, afirmou, ao responder uma pergunta no debate com o então presidente Jair Bolsonaro promovido pela Band, TV Cultura, UOL e Folha de S. Paulo. “Os ministros da Suprema Corte tem que ter currículo, história e biografia. Essa gente tem que fazer o que precisa ser feito.”
Veja a declaração de Lula em debate na campanha eleitoral
“Estou convencido que tentar mexer na Suprema Corte para colocar amigo, companheiro e partidário é um atraso e retrocesso que a República brasileira já conhece muito bem e eu sou contra. Eu acho que a Suprema Corte tem que ser escolhia por competência, por currículo e não por amizade”, declarou o candidato à época.
Zanin defendeu Lula nos processos da Operação Lava Jato. Sua projeção nacional se deu como uma espécie de porta-voz do petista durante o período em que esteve preso, em Curitiba, na carceragem da Polícia Federal. Foi ele quem conduziu o recurso ao STF que provocou uma reviravolta na investigação, com a declaração de parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro e a reabilitação política do hoje presidente.
Nas redes sociais e à imprensa, ao falar sobre Zanin, Lula procura destacar apenas o currículo e a biografia do advogado. “Já era esperado que eu fosse indicar o Zanin para o STF, não só pela minha defesa, mas porque eu acho que se transformará em um grande ministro da Suprema Corte. Conheço suas qualidades, formação, trajetória e competência. E acho que o Brasil irá se orgulhar”, disse.
Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, da rádio BandNews FM, em março, porém, ele admitiu a relação mais que profissional com Zanin: “É meu amigo, é meu companheiro. Como outros são meus companheiros. Mas eu nunca indiquei por conta disso”, afirmou, ao comentar a hipótese confirmada ontem.
A indicação foi criticada pela Transparência Internacional-Brasil que classificou o fato como uma afronta o “princípio constitucional de impessoalidade” e a “independência do Judiciário”. De acordo com a entidade, que atua no combate à corrupção, Lula repete o ex-presidente Jair Bolsonaro e tenta transformar a Corte em um “anexo do governo de ocasião”.