BRASÍLIA – O governo Lula enfrenta dificuldades para definir em quais ministérios vai acomodar André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) mesmo após o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ter recebido nesta semana os dois indicados do Centrão para ocupar pastas na Esplanada.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer evitar a saída de mais mulheres depois da troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino no Turismo, e preservar ministros que não têm mandato, o que deixou mais complexo o xadrez da reforma ministerial.
Padilha teve reuniões com Fufuca e Costa Filho na terça-feira, 18, no Palácio do Planalto. De acordo com relatos feitos ao Estadão/Broadcast, o objetivo das conversas foi tranquilizar os “ministeriáveis” de que eles realmente vão integrar o governo. Pessoas que acompanham as discussões dizem que há “dezenas de possibilidades diferentes” sendo consideradas para a “dança das cadeiras” na Esplanada. A expectativa é que a nomeação dos indicados pelo Centrão ainda demore para acontecer, a exemplo do que ocorreu com Sabino, apesar dos nomes já estarem definidos.
Responsável pela articulação política com o Congresso, Padilha também se reuniu com o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), que tenta evitar a saída de petistas da Esplanada. “Confio que o presidente Lula achará uma solução que contemple bem eles (Centrão) e mantenha bons espaços ao PT”, disse o parlamentar à reportagem.
Com o impasse sobre quais pastas serão entregues ao Centrão, a tendência é que ministérios do PT e do PSB ou da chamada cota pessoal de Lula entrem nas negociações. Depois de o presidente dizer que não tiraria Nísia Trindade da Saúde, o PP passou a mirar no Desenvolvimento Social, hoje ocupado pelo petista Wellington Dias.
A ambição do grupo político do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de comandar a pasta que controla o Bolsa Família foi, inclusive, reiterada na conversa com Padilha. Já Costa Filho era cotado inicialmente para o Esporte, mas Lula quer blindar a atual ministra da pasta, Ana Moser.
Apesar de Lula ter sinalizado na semana passada que o Ministério do Desenvolvimento Social também não seria entregue ao Centrão, os critérios estabelecidos pelo presidente para a reforma ministerial deixaram poucas opções em aberto.
Nesse cenário, interlocutores do petista voltaram a considerar a saída de Wellington Dias, uma vez que ele é senador e poderia retomar seu mandato no Congresso. No entanto, o entorno de Lula quer evitar que a pasta fique com Fufuca devido à proximidade do deputado com o senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro do governo Bolsonaro e uma das principais vozes de oposição ao Planalto hoje.
Outro ponto a ser considerado pelo presidente nas trocas ministeriais é como os futuros ex-integrantes poderão ser um suporte do governo. Para isso, o foco será priorizar ministros que tenham mandato. O mesmo fato ocorreu com a ex-ministra do Turismo Daniela Carneiro. Demitida da pasta, Daniela, que é deputada federal, deve ocupar o cargo de vice-liderança do governo na Câmara.
Há uma avaliação no governo de que, caso Lula mude de ideia e decida dar o Desenvolvimento Social a um dos indicados do Centrão, Costa Filho estaria mais cotado para o posto. Nesse caso, Fufuca poderia assumir a Ciência e Tecnologia no lugar da atual titular da pasta, Luciana Santos. Única integrante do PCdoB na Esplanada, a ministra poderia substituir Silvio Almeida no Ministério dos Direitos Humanos.
Em 2020, Almeida participou de um comitê externo criado para acompanhar o caso da morte do João Alberto Silveira, homem negro assassinado por seguranças de uma unidade do Carrefour em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O hoje ministro, que é advogado, foi criticado por sua atuação. A imagem de Almeida ficou desgastada com o movimento negro. Por isso, há uma avaliação de que eventual saída dele do ministério causaria poucos problemas.
Reforma ministerial de Lula já começou
A reforma ministerial começou na semana passada com a troca no Ministério do Turismo. Os deputados não se sentiam representados nem por Daniela, nem pelos ministros Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) e Juscelino Filho (Comunicações), indicados pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP).
O União Brasil quer ainda a Embratur, vinculada ao Turismo, e os Correios. Além disso, o Centrão negocia a Funasa e a presidência da Caixa. Nesse último caso, Rita Serrano pode dar lugar a Gilberto Occhi, ex-ministro dos governos Dilma e Temer que também já comandou o banco público.
O governo tem tentado se aproximar do Centrão após uma série de reclamações dos partidos sobre a demora na liberação de emendas, a falta de nomeações de aliados para cargos regionais e até mesmo o tratamento dispensado por ministros aos parlamentares. O auge da tensão entre Executivo e Legislativo ocorreu na votação da MP da Esplanada no fim de maio, quando a Câmara cogitou derrubar a estrutura ministerial de Lula para mandar um recado de insatisfação com a articulação política.
Um dia depois da votação, Lira disse, em entrevista à GloboNews, que é natural o Palácio do Planalto oferecer ministérios a partidos para atraí-los à base, já que esse foi o modelo de coalizão escolhido por Lula para governar. Depois, Padilha e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, então os principais alvos das críticas dos deputados, também passaram a tentar uma maior aproximação com o Congresso.
A promessa de acomodar o Centrão no governo foi essencial, no último dia 7, para a aprovação do projeto de lei que retoma o voto de desempate a favor da Receita Federal nos julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Essa proposta é uma das prioridades do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao lado da reforma tributária, também aprovada pelos deputados naquela semana.