A dissidente cubana Yoani Sánchez precisou encerrar um debate na noite desta quinta-feira após ser interrompida por dezenas de manifestantes pró-Cuba durante um evento em uma livraria na região central de São Paulo. Yoani participava do relançamento de seu livro "De Cuba, com Carinho" e faria uma sessão de autógrafos no auditório da livraria Cultura. Ela foi interrompida após a segunda pergunta do debate, e as atividades foram canceladas. Yoani chegou ao Brasil na madrugada de segunda-feira e sua visita ao país tem sido tumultuada por manifestantes. Apesar disso, a blogueira disse não estar surpreendida com os protestos, e os classifica como um direito democrático. "No ano passado, mais de 40 mil cubanos abandonaram a ilha. Os cubanos em lugar de protestar na rua estão utilizando a imigração como forma de mostrar a sua insatisfação com o sistema", disse a blogueira nesta quinta-feira em São Paulo. "Por outro lado, por que não se protesta na rua? Bom, porque esse tipo de coisa não está permitido no meu país", acrescentou. Durante a manifestação em São Paulo, Vivian Mendes, do Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba, criticou as opiniões de Yoani e disse que a blogueira não representava a massa da população cubana. "A Yoani, assim como o povo cubano, que por ventura tem qualquer diferença com o governo, eles têm espaço e eles podem e devem se manifestar, dizer quais são os ajustes que são necessários. Agora, a realidade é que a Yoani representa 1 por cento da população cubana. A hegemonia do povo cubano defende o socialismo, quer que ele se aprofunde." A mais conhecida ativista de oposição da ilha comunista chegou a São Paulo na madrugada desta quinta-feira e participou mais cedo de debate na sede do jornal O Estado de S. Paulo. Por outras cidades onde passou, Yoani também foi alvo de manifestações. Nos aeroportos do Recife e de Salvador, manifestantes a acusaram de agir sob influência dos Estados Unidos. Em Feira de Santana (BA), as manifestações impediram a exibição do documentário "Conexão Cuba x Honduras", do cineasta Dado Galvão, no qual é uma das entrevistadas. Em Brasília, visitou o Congresso Nacional amparada por deputados e sua presença provocou alvoroço envolvendo manifestantes a favor e contra o regime comunista de Cuba. A blogueira, de 37 anos e residente em Havana, ganhou a ira do governo comunista de Cuba por suas críticas constantes desde seu blog "Generación Y" e por meio da popular rede social Twitter. Ela tem dezenas de milhares de seguidores no exterior, mas poucos em Cuba, onde a Internet é controlada pelo governo. Yoani finalmente recebeu seu passaporte há apenas duas semanas graças a uma reforma de imigração cubana que entrou em vigor neste ano, depois de ter seu pedido para viajar negado mais de 20 vezes nos últimos cinco anos pelo regime dos irmãos Fidel e Raúl Castro. O Brasil é a primeira escala de uma viagem que a levará a diversos países, como Argentina, Peru, México, Estados Unidos, Espanha, Itália, Polônia e República Tcheca. (Reportagem da Reuters TV)