A cúpula nacional do PSDB abriu diálogo com a deputada federal Tabata Amaral (PSB) para fazer da parlamentar eventual candidata da legenda à Prefeitura de São Paulo em 2024. A negociação tem o aval do atual presidente da sigla, Eduardo Leite, e de aliados preocupados com o potencial eleitoral do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Há duas possibilidades colocadas à mesa: ou Tabata se filia ao PSDB, conforme desejo antigo do partido, ou apoiaria a candidatura da deputada pelo PSB. Neste caso, os tucanos indicariam o vice. O convite à deputada, porém, ainda não foi feito por dirigentes do PSDB.
A avaliação é de que a eventual candidatura de Tabata poderia romper a polarização que se desenha na capital entre os também deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Salles (PL) – que representam, respectivamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro. A movimentação é semelhante a de outros partidos, que também procuram um “plano B” a Nunes, caso o prefeito não se mostre competitivo. A lista já inclui o nome do ex-governador paulista Rodrigo Garcia, ainda no PSDB, mas com malas pronta para voltar ao União Brasil.
A possibilidade de filiação de Tabata segue em negociação, com conversas cada vez mais frequentes. A aproximação ficou facilitada em abril, quando o PSDB contratou uma espécie de “CEO” para reformular a sigla. A escolhida, Irina Bullara, é ex-diretora do grupo RenovaBR, do qual Tabata faz parte, assim como Leite. A pedido do governador do Rio Grande do Sul, a administradora tem procurado lideranças políticas de dentro e de fora da legenda com a intenção de atualizar o partido.
Com Boulos praticamente fechado com os partidos de esquerda – o parlamentar diz ter confiança de que PT e Lula vão cumprir a promessa de apoiá-lo – e Salles disputando as siglas do Centrão com Nunes, o caminho do PSB, de Tabata, passa pela aliança com a federação PSDB-Cidadania e pela busca de apoios do PSD e União Brasil.
Em nota, a deputada afirmou ter “muito orgulho de ser filiada ao PSB, um partido com tamanho, história e conquistas no campo progressista”. De acordo com a parlamentar, o partido está alinhado às suas ideias e é a legenda que escolheu para construir sua trajetória política.
“Nesse caminho, tenho a honra de contar com o apoio firme de dirigentes e lideranças que admiro, como o vice-presidente Geraldo Alckmin, Márcio França, Flávio Dino e todos os outros colegas. Não está nos meus planos me filiar a um outro partido. De toda forma, fico honrada ao saber sobre essas conversas no PSDB, partido pelo qual nutro respeito e reconhecimento por sua importância na política brasileira”, afirmou ao Estadão.
Resistência
Ainda inicial, as negociações por um eventual embarque de Tabata no partido e na disputa municipal precisam contornar resistências locais. O diálogo, por enquanto, ocorre fora da capital, comandado pela Executiva Nacional do PSDB. Em São Paulo, o Diretório Municipal segue oficialmente fechado com a reeleição de Nunes, que chegou ao cargo por ter sido vice na chapa da Bruno Covas. Nesta terça-feira, 16, fez dois anos que o tucano morreu.
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O presidente municipal do PSDB, Fernando Alfredo, tem dito que não há movimento contrário a Nunes e que o nome do prefeito passará a ser mais viável do ponto de vista eleitoral com o passar dos meses. A atual gestão aposta em um grande programa de recapeamento nas vias da cidade para se tornar mais popular. Do mesmo modo, a bancada tucana na Câmara Municipal declara publicamente apoio à reeleição.
Ao mesmo tempo, há dúvidas sobre o potencial de Tabata entre os paulistanos. Em seu segundo mandato na Câmara, a parlamentar recebeu 337 mil votos na eleição de 2022, ficando atrás de Boulos (1 milhão) e Salles (640 mil) no Estado. Na capital, no entanto, onde concentrou 42% do seu eleitorado, ela supera o ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro.
Enquanto avançam as negociações entre os partidos, Tabata marca cada vez mais sua posição contrária à gestão de Nunes na Prefeitura, com críticas públicas recorrentes. “Enquanto o prefeito seguir investindo R$ 10 milhões em festa no metaverso e fechar os olhos para essa crise humanitária, que é visível para qualquer paulistano, a população de rua vai continuar aumentando e tendo os seus direitos violados! Isso é cruel e inaceitável”, escreveu, em rede social, sobre a atuação de Nunes.
Em entrevista ao programa Morning Show, da Jovem Pan, no começo de abril, o presidente do PSDB e governador gaúcho disse que Tabata é uma pessoa “verdadeiramente interessada em fazer uma política diferente”. “Vejo ela com verdadeiro interesse sobre os temas do município, (mas) não avançamos em conversa nenhuma nessa direção (de filiá-la)”, afirmou.
“Ela tem tempo de demonstrar essa capacidade de agregar pessoas para formar um time e governar”, disse. Segundo ele, porém, a decisão de levá-la ao PSDB dependeria de uma construção com a base municipal.