Em meio a uma avalanche de desfiliações, o PSDB de São Paulo filiou José Luiz Datena nesta quinta-feira, 4. Com 66 anos e mais de quatro décadas de televisão, o apresentador é um valioso reforço aos tucanos, que buscam uma alternativa eleitoralmente viável para as eleições deste ano na capital paulista.
Após quatro meses no PSB, Datena migrou para as fileiras tucanas. O PSDB é o 11º partido do jornalista, que já foi filiado ao PT e PDT, à esquerda, e ao PSL e MDB, à direita. Com a troca de sigla, existe a possibilidade de o apresentador ocupar a vice na chapa encabeçada pela deputada Tabata Amaral (PSB) na disputa pela Prefeitura.
A chegada do jornalista ocorre na mesma semana em que seis dos oito tucanos na Câmara de São Paulo anunciaram que vão deixar a sigla. Os outros dois podem fazer o mesmo. As baixas não se limitam à capital. Em Campinas, a legenda perdeu o único deputado eleito pela região, toda a representação na Câmara dos Vereadores e oito membros da executiva municipal.
Além disso, a própria direção do PSDB admite que o partido perderá pelo menos metade dos prefeitos no Estado em 2020. A origem da crise tucana, que tem no diretório paulista seu ponto mais crítico, surgiu a cerca de dez anos atrás, durante as eleições gerais de 2014, avalia o vereador licenciado Carlos Bezerra Júnior.
Filiado ao PSDB por três décadas, Bezerra entregou sua carta de desfiliação ao presidente municipal da sigla, José Aníbal, nesta terça-feira, 2. Duas vezes deputado estadual e quatro vezes vereador pela sigla, Bezerra foi secretário de Esporte na administração Bruno Covas. Hoje é secretário de Desenvolvimento Social na gestão Ricardo Nunes (MDB).
Nesta quinta-feira, 4, Bezerra acertou sua ida ao PSD, de Gilberto Kassab. Antes disso, chegou a ser convidado para ser o candidato do PSDB na eleição à Prefeitura de São Paulo, porém recusou o convite. Nesta sexta-feira, 5, Bezerra deixará a Secretaria de Desenvolvimento Social e voltará para a Câmara Municipal para disputar a reeleição.
Carlos Bezerra Júnior
De acordo com Bezerra, o PSDB aprofunda a sua crise de identidade a partir das eleições de 2014. “Um partido que sai de uma eleição democrática, mas que não consegue reconhecer sua derrota na urna, passando a questioná-la na Justiça, dá o primeiro passo para seu esfacelamento. Sempre fui absolutamente contra isso. Há vários outros momentos de idas e vindas em que o partido vai se distanciado de sua raiz e de seu programa social-democrata”, afirma.
Questionado sobre os confrontos entre os tucanos próximos ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, com aqueles ligados ao ex-governador João Doria (sem partido), ele afirma que alguns governadores tucanos foram eleitos numa onda ideológica que não tem nenhuma identificação com a social-democracia.
Carlos Bezerra Júnior
Sobre as intervenções da Executiva Nacional no Estado, Bezerra afiram que essas ações não têm lógica nenhuma. “Não são intervenções em torno de ideias, elas não são intervenções que são feitas a partir de diálogos com a base partidária, com a militância. Elas são intervenções feitas a partir de interesses pessoais daqueles que estão olhando para as eleições de 2026 e sequer estão levando em conta 2024″, disse.
Por sua vez, o presidente do PSDB paulistano, José Aníbal, considera que as declarações de Bezerra “são meio vazias”. “Tudo isso é muito conversa, mas pouca reflexão. Nós fizemos com o Ricardo Nunes o mesmo acordo de quatro anos atrás, quando ele foi vice do Bruno Covas. O PSDB busca hoje recuperar seu protagonismo. Não vamos no apoio ao Ricardo se ele não abrir espaço para o PSDB”, disse.
Aníbal também afirma que o PSDB não compartilha com golpista, em referência ao apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro ao projeto de reeleição de Nunes. O ex-chefe do Executivo é investigado pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe de Estado. Por fim, o presidente tucano considera que a então bancada do partido na Câmara aderiu a gestão Ricardo Nunes de forma irrestrita e sem reflexão. “O PSDB não é uma legenda de aluguel”, disse.