O primeiro debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo deu fortes indícios de que esta poderá ser a eleição com mais baixarias e ataques pessoais da história da capital. Pablo Marçal (PRTB), ex-coach goiano que resolveu se aventurar na disputa pela Prefeitura paulistana, foi quem mais contribuiu para que esse cenário se desenhasse. Em meio a tanta agressividade, um fato acabou passando quase despercebido: a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), que dominou boa parte da pré-campanha, foi praticamente esquecida durante o debate da Band.
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O apresentador José Luiz Datena (PSDB) até tentou emplacar a ideia de que Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) seriam “marionetes” de Lula e Bolsonaro, mas a provocação não teve impacto e o próprio Datena não insistiu na ideia.
Boulos, que havia apostado na polarização durante a pré-campanha, mal falou sobre o aliado. Apenas em um momento declarou ter orgulho do apoio do presidente e chamou o prefeito de “bolsonarista envergonhado” e Marçal de “bolsonarista rejeitado”, em postura bem distante do que se viu nos últimos meses. Nunes, por sua vez, explorou as declarações controversas de Boulos sobre a Venezuela, mas passou longe de citar Lula ou o PT.
Do ponto de vista do eleitorado, a notícia é positiva, pois abre espaço para discutir propostas para a cidade – muito embora os candidatos não tenham aproveitado bem essa oportunidade na noite de quinta e madrugada de sexta.
Da perspectiva das campanhas, esse cenário favoreceu o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que ganhou fôlego para falar sobre suas realizações à frente da administração municipal e não precisou gastar tempo se defendendo das acusações de ter o apoio de Bolsonaro, investigado por supostamente tramar um golpe de Estado.
Questões locais X questões nacionais
Há algumas explicações para a polarização ter ficado em segundo plano. A primeira é o fracasso de Datena em pautar o tema, uma vez que parte de sua estratégia eleitoral se apoia justamente nesse discurso. A segunda é que, de acordo com integrantes das campanhas de Nunes e Boulos, pesquisas qualitativas indicam que os eleitores estão mais interessados em discutir questões locais do que assuntos nacionais.
No caso de Boulos, há ainda um fator adicional: para crescer nas intenções de voto, ele terá que conquistar um público que atualmente o rejeita. Por isso, talvez não seja vantajoso apostar todas as fichas no debate entre Lula e Bolsonaro.