BRASÍLIA — Com o apelo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para que manifestantes não levem faixas ou cartazes para a manifestação em sua própria defesa neste domingo, 25, uma outra iconografia deverá aparecer na Avenida Paulista: a bandeira de Israel.
Ainda que não haja nenhuma instrução direta de organizadores de caravanas, de influenciadores ou donos de grandes canais no Telegram e no WhatsApp, usuários em aplicativos de mensagem procuram por camisas e bandeiras do país asiático.
Lideranças bolsonaristas procuradas pela reportagem dizem que esse não será o tema principal, mas deverá também haver menções a Israel durante o pronunciamento de Bolsonaro.
“Poderá ter, mas não é o objetivo”, diz Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), primeiro-vice-presidente da Câmara.
Deputados e senadores não discursarão, mas espera-se que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, faça algum pronunciamento ao público presente.
A aparição de bandeiras de Israel é costumeira em manifestações bolsonaristas, mas ela deverá aparecer com mais volume, motivados após a declaração do presidente Luiz Inácio Lula Silva, que comparou a ofensiva de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza com o Holocausto.
Para isso, bolsonaristas reforçam conteúdos contra Lula, com imagens que associam o chefe do Executivo ao Hamas e a movimentos árabes e também divulgam fake news.
Uma notícia falsa que ganha tração é uma “continuação” de uma outra desinformação que começou a viralizar em 2019 e foi desmentida pelo Estadão Verifica naquele ano.
A fake news diz que Israel teria desenvolvido uma tecnologia que detecta e combate o câncer de mama e o câncer de próstata logo na fase inicial.
Segundo o novo texto, esse recurso seria enviado para o Brasil neste ano, mas Israel teria cancelado todos os contratos. O Verifica mostou tanto que Bolsonaro não importou nenhuma tecnologia desse tipo de Israel.
Como mostrou o Estadão, maior parte da mobilização faz do uso de teorias da conspiração para mobilizar o público bolsonarista a ir à Paulista.
Influenciadores e organizadores notaram um crescente receio de pessoas participarem desta manifestação a favor do ex-presidente, a primeira depois dos ataques golpistas no 8 de Janeiro.
Em um grupo de uma caravana para a Avenida Paulista, um usuário manifestou estar com medo de Bolsonaro ser preso. Outra pessoa disse que, com Israel do lado, não haveria razão para temer.
“Não vão prender ninguém, poxa, quem tem que ser preso é nove dedos (Lula)”, disse um usuário. “Israel agora é nossa aliada nessa luta. Vamos pensar positivo.”
O apelo por bandeiras aparece em comentários de usuários com poucos seguidores nas redes sociais. “Levem bandeiras de Israel! Muitas!”, disse um usuário de poucos seguidores no X (ex-Twitter), em resposta à publicação de uma influenciadora bolsonarista.
No WhatsApp, pessoas procuram pelas bandeiras. “Precisamos, quem tiver, levar bandeira de Israel”, disse uma pessoa em um grupo de caravana de São José dos Campos para a Avenida Paulista.
Para o professor Vinicius do Valle, do departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), que faz pesquisas com evangélicos há mais de dez anos, há uma associação histórica especialmente entre a fé evangélica e Israel.
“Existe uma corrente teológica que localiza em Israel os eventos que culminarão no fim dos tempos. E tem toda uma confusão sobre o Israel bíblico, do antigo testamento, e o Estado contemporâneo de Israel”, afirma.
Ele também acredita que essa aproximação também acontece como uma reprodução de uma corrente teológica nos Estados Unidos. “Também existe uma afinidade política, entre pastores ultra conservadores dos Estados Unidos e a política de Israel, que inclusive reforça essa leitura teológica”, diz.
Foi a oposição bolsonarista no Congresso Nacional quem logo reagiu às falas de Lula sobre o conflito em Gaza. A deputada Carla Zambelli foi quem encabeçou um pedido de impeachment contra o presidente, que chegou ao número final de 140 assinaturas de deputados na noite da quarta-feira, 21.