Quatro dos cinco ex-ministros da presidente Dilma Rousseff que são alvo de investigação sob suspeita de envolvimento em irregularidades na Petrobrás receberam, segundo delatores da Operação Lava Jato, ao menos R$ 4 milhões do esquema de corrupção na estatal, além de uma "mesada" que variava de R$ 30 mil a R$ 150 mil.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou em delação premiada que o senador Edison Lobão (PMDB-MA) solicitou a ele R$ 1 milhão em 2008. Na época, Lobão era Ministro de Minas e Energia - ele comandou a pasta de 2008 a 2010 e de 2011 a 2014.
As declarações de Costa constam da petição encaminhada ao Supremo Tribunal Federal na semana passada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. No documento, Janot pediu ao STF a instauração de inquérito para investigação do repasse a Lobão. Costa disse que o ex-ministro não explicou a finalidade da transação.
Ex-ministros sob investigação
"(Costa) pediu a Alberto Youssef a realização desse pagamento, o qual teria origem no 'caixa do PP', ou seja, correria por conta do porcentual de 1% que esse partido teria direito em relação aos contratos firmados pela Petrobrás com as empresas que faziam parte do cartel", diz a delação do ex-diretor. Lobão negou participação em irregularidades na Petrobrás.
O PP, com PT e PMDB, é suspeito de lotear diretorias da Petrobrás para arrecadar entre 1% e 3% de propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel.
Campanha. Além de Lobão, Costa relatou um repasse de R$ 2 milhões ao ex-ministro da Fazenda (2003-2006) e ex-ministro da Casa Civil (2011) Antonio Palocci em 2010, quando o petista coordenava a campanha presidencial de Dilma. Costa afirmou que Palocci solicitou o montante para a candidatura da presidente na época. O pagamento, segundo o ex-diretor, foi feito por Youssef. O doleiro, porém, nega que tenha dado dinheiro para Palocci. O ex-ministro da Casa Civil de Dilma também Palocci rechaça as acusações de Costa.
O ex-diretor da Petrobrás fez menção também à ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann. A senadora (PT-PR), de acordo com Costa, recebeu, por meio do doleiro Alberto Youssef - que confirmou a informação em sua delação -, R$ 1 milhão em 2010 para sua campanha ao Senado. A ex-ministra foi eleita naquele ano e, um ano depois, foi indicada para a Casa Civil, onde permaneceu até 2014. Gleisi negou ter recebido doação do ex-diretor e afirmou ser vítima de "denuncismo".
Os outros dois ex-ministros investigados, Mário Negromonte e Aguinaldo Ribeiro, que foram titulares do Ministério das Cidades, também foram citados pelos delatores da Lava Jato. Negromonte, que era filiado ao PP e ocupou a pasta de 2011 a 2012, chefiou um esquema ilícito no ministério envolvendo contratos de rastreamento veicular, segundo Youssef.
O doleiro, no entanto, não informa valores que o ex-ministro teria recebido. Negromonte também foi mencionado por Costa como um dos beneficiários do esquema na Petrobrás. Ele diz nunca ter recebido "vantagens indevidas".
Ribeiro, que é deputado federal pelo PP e foi ministro de 2012 a 2014, se beneficiou do pagamento mensal de propina ao PP, segundo Youssef. De acordo com o doleiro, o deputado recebia repasses mensais que variavam de R$ 30 mil a R$ 150 mil da "cota" do PP no esquema. O ex-ministro informou que só vai se manifestar quando tiver conhecimento sobre o teor dos documentos.
Foro. Na semana passada o ministro do STF Teori Zavascki mandou investigar 50 pessoas suspeitas de envolvimento no esquema de corrução na Petrobrás, entre elas 34 parlamentares.
A investigação sobre Palocci foi remetida à Justiça Federal no Paraná. Gleisi, Lobão e Ribeiro, por serem parlamentares, detêm foro privilegiado e estão sendo investigados no Supremo. Negromonte, como conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, será investigado no Superior Tribunal de Justiça.