Democrata conveniente considera legítimo Lula indicar novo PGR fora da lista tríplice


Percepção de democracia das pessoas é distorcida pelas suas preferências políticas

Por Carlos Pereira

Não é incomum em regimes democráticos pessoas estarem dispostas a aceitar um comportamento considerado como antidemocrático se acreditam que poderiam se beneficiar ao ver as políticas que defendem sendo implementadas.

Por exemplo, em seu primeiro mandato na presidência, Lula decidiu nomear para a Procuradoria-Geral da República Cláudio Fonteles, o primeiro lugar na lista tríplice das indicações sugeridas pelo Ministério Público. Essa decisão foi interpretada, especialmente pelos eleitores de esquerda, como um claro sinal de comportamento democrático. Afinal, Fonteles substituía Geraldo Brindeiro, pejorativamente apelidado por muitos como “o engavetador-geral da república”, indicado e reconduzido por mais três mandatos à frente da PGR por Fernando Henrique Cardoso.

Augusto Aras, que encerrou seu mandato à frente da PGR nesta terça-feira, 26, e o presidente Lula; petista vai ignorar lista tríplice para definir novo chefe do MP Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF
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A iniciativa de nomear um membro da lista tríplice do MP recebeu aprovação da sociedade e se tornou a praxe observada nos governos subsequentes de Lula, que também indicou Antônio Fernando de Souza e Roberto Gurgel, de Dilma, que indicou Rodrigo Janot e de Michel Temer, que indicou Raquel Dodge.

Bolsonaro foi o primeiro a romper com essa praxe ao ignorar a lista tríplice oferecida pelo MP e nomear e reconduzir Augusto Aras para a PGR. Tal decisão foi extremamente criticada e interpretada por muitos como um retrocesso e uma decisão antidemocrática diante dos riscos de fragilização da independência do MP com a nomeação de um procurador-geral da República aparentemente dócil e próximo das preferências do ex-presidente.

Lula, em seu terceiro mandato na presidência, dá sinais de que vai se comportar da mesma maneira que seu arquirrival antidemocrático ao ignorar a lista tríplice dos procuradores para substituir Aras na PGR. O mais surpreendente é que pessoas que outrora identificavam essa praxe como um avanço democrático e sinal de fortalecimento e independência do MP agora já consideram democrático e legítimo Lula indicar um novo PGR fora da lista do MP.

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De acordo com Sutan Krishnarajan no artigo Rationalizing Democracy: The Perceptual Bias and (un)Democratic Behavior, quando as preferências de políticas públicas conflitam com os valores democráticos, as pessoas frequentemente preferem ficar do lado antidemocrático da equação. Para o autor, as pessoas, na realidade, não aceitam deliberadamente o comportamento antidemocrático para obter algum ganho de políticas públicas que defendem. O que eles fazem, de fato, é evitar esse dilema ao racionalizar o que seria democrático e antidemocrático.

O resultado da pesquisa experimental de Krishnarajan, com uma amostra representativa de 3300 eleitores americanos, demonstra que quando eleitores de direita são confrontados com típicos comportamentos democráticos de um governante de direita, eles intrinsecamente os consideram muito mais democráticos do que comportamentos idênticos praticados por um governante de esquerda. De forma similar, quando confrontados com situações antidemocráticas de direita, parecem não as reconhecer como antidemocráticas. Entretanto, comportamentos idênticos de governos de esquerda são vistos pelas pessoas de direita como altamente antidemocráticos. O mais surpreendente é que pessoas de direita consideram comportamentos antidemocráticos de governos de direita igualmente democráticos ou até mais democráticos do que comportamentos de governos de esquerda que não violam as regras e normas democráticas.

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É importante ressaltar que a pesquisa identifica que a racionalização democrática é observada em todo o espectro ideológico, sendo igualmente forte entre pessoas de direita e de esquerda, e é persistente a várias características tais como idade, gênero, educação, renda e de escolha eleitoral. A pesquisa foi também replicada em 22 países, abarcando Europa Oriental, Ásia, e América Latina (incluindo o Brasil), encontrando resultados muito similares.

Existem dois mecanismos que as pessoas utilizam para racionalizar e alinhar as suas percepções de democracia com as suas preferências de políticas públicas: o primeiro, chamado de democratic transmission, as pessoas ignoram a dimensão democrática de um determinado comportamento e transmitem sua aprovação/desaprovação das políticas públicas nas suas percepções de democracia com forma de diminuir o desconforto mental. O segundo mecanismo seria o que o autor chama de democratic elevation, quando as pessoas mudam o nível no qual avaliam a democracia. Ao invés de avaliar o funcionamento das instituições, avaliam como acham que o país mudou com a decisão de política mesmo comprometendo os procedimentos democráticos.

Como é sabido, a nomeação de qualquer procurador-geral da República fora da lista tríplice do Ministério Público é uma prerrogativa constitucional do presidente e, portanto, não poderia ser considerada antidemocrática. Mas o problema maior é o fato desse equívoco institucional ser “convenientemente cometido” por quem quer atacar o político que rejeita, mas não o político que apoia.

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Não é incomum em regimes democráticos pessoas estarem dispostas a aceitar um comportamento considerado como antidemocrático se acreditam que poderiam se beneficiar ao ver as políticas que defendem sendo implementadas.

Por exemplo, em seu primeiro mandato na presidência, Lula decidiu nomear para a Procuradoria-Geral da República Cláudio Fonteles, o primeiro lugar na lista tríplice das indicações sugeridas pelo Ministério Público. Essa decisão foi interpretada, especialmente pelos eleitores de esquerda, como um claro sinal de comportamento democrático. Afinal, Fonteles substituía Geraldo Brindeiro, pejorativamente apelidado por muitos como “o engavetador-geral da república”, indicado e reconduzido por mais três mandatos à frente da PGR por Fernando Henrique Cardoso.

Augusto Aras, que encerrou seu mandato à frente da PGR nesta terça-feira, 26, e o presidente Lula; petista vai ignorar lista tríplice para definir novo chefe do MP Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

A iniciativa de nomear um membro da lista tríplice do MP recebeu aprovação da sociedade e se tornou a praxe observada nos governos subsequentes de Lula, que também indicou Antônio Fernando de Souza e Roberto Gurgel, de Dilma, que indicou Rodrigo Janot e de Michel Temer, que indicou Raquel Dodge.

Bolsonaro foi o primeiro a romper com essa praxe ao ignorar a lista tríplice oferecida pelo MP e nomear e reconduzir Augusto Aras para a PGR. Tal decisão foi extremamente criticada e interpretada por muitos como um retrocesso e uma decisão antidemocrática diante dos riscos de fragilização da independência do MP com a nomeação de um procurador-geral da República aparentemente dócil e próximo das preferências do ex-presidente.

Lula, em seu terceiro mandato na presidência, dá sinais de que vai se comportar da mesma maneira que seu arquirrival antidemocrático ao ignorar a lista tríplice dos procuradores para substituir Aras na PGR. O mais surpreendente é que pessoas que outrora identificavam essa praxe como um avanço democrático e sinal de fortalecimento e independência do MP agora já consideram democrático e legítimo Lula indicar um novo PGR fora da lista do MP.

De acordo com Sutan Krishnarajan no artigo Rationalizing Democracy: The Perceptual Bias and (un)Democratic Behavior, quando as preferências de políticas públicas conflitam com os valores democráticos, as pessoas frequentemente preferem ficar do lado antidemocrático da equação. Para o autor, as pessoas, na realidade, não aceitam deliberadamente o comportamento antidemocrático para obter algum ganho de políticas públicas que defendem. O que eles fazem, de fato, é evitar esse dilema ao racionalizar o que seria democrático e antidemocrático.

O resultado da pesquisa experimental de Krishnarajan, com uma amostra representativa de 3300 eleitores americanos, demonstra que quando eleitores de direita são confrontados com típicos comportamentos democráticos de um governante de direita, eles intrinsecamente os consideram muito mais democráticos do que comportamentos idênticos praticados por um governante de esquerda. De forma similar, quando confrontados com situações antidemocráticas de direita, parecem não as reconhecer como antidemocráticas. Entretanto, comportamentos idênticos de governos de esquerda são vistos pelas pessoas de direita como altamente antidemocráticos. O mais surpreendente é que pessoas de direita consideram comportamentos antidemocráticos de governos de direita igualmente democráticos ou até mais democráticos do que comportamentos de governos de esquerda que não violam as regras e normas democráticas.

É importante ressaltar que a pesquisa identifica que a racionalização democrática é observada em todo o espectro ideológico, sendo igualmente forte entre pessoas de direita e de esquerda, e é persistente a várias características tais como idade, gênero, educação, renda e de escolha eleitoral. A pesquisa foi também replicada em 22 países, abarcando Europa Oriental, Ásia, e América Latina (incluindo o Brasil), encontrando resultados muito similares.

Existem dois mecanismos que as pessoas utilizam para racionalizar e alinhar as suas percepções de democracia com as suas preferências de políticas públicas: o primeiro, chamado de democratic transmission, as pessoas ignoram a dimensão democrática de um determinado comportamento e transmitem sua aprovação/desaprovação das políticas públicas nas suas percepções de democracia com forma de diminuir o desconforto mental. O segundo mecanismo seria o que o autor chama de democratic elevation, quando as pessoas mudam o nível no qual avaliam a democracia. Ao invés de avaliar o funcionamento das instituições, avaliam como acham que o país mudou com a decisão de política mesmo comprometendo os procedimentos democráticos.

Como é sabido, a nomeação de qualquer procurador-geral da República fora da lista tríplice do Ministério Público é uma prerrogativa constitucional do presidente e, portanto, não poderia ser considerada antidemocrática. Mas o problema maior é o fato desse equívoco institucional ser “convenientemente cometido” por quem quer atacar o político que rejeita, mas não o político que apoia.

Não é incomum em regimes democráticos pessoas estarem dispostas a aceitar um comportamento considerado como antidemocrático se acreditam que poderiam se beneficiar ao ver as políticas que defendem sendo implementadas.

Por exemplo, em seu primeiro mandato na presidência, Lula decidiu nomear para a Procuradoria-Geral da República Cláudio Fonteles, o primeiro lugar na lista tríplice das indicações sugeridas pelo Ministério Público. Essa decisão foi interpretada, especialmente pelos eleitores de esquerda, como um claro sinal de comportamento democrático. Afinal, Fonteles substituía Geraldo Brindeiro, pejorativamente apelidado por muitos como “o engavetador-geral da república”, indicado e reconduzido por mais três mandatos à frente da PGR por Fernando Henrique Cardoso.

Augusto Aras, que encerrou seu mandato à frente da PGR nesta terça-feira, 26, e o presidente Lula; petista vai ignorar lista tríplice para definir novo chefe do MP Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF

A iniciativa de nomear um membro da lista tríplice do MP recebeu aprovação da sociedade e se tornou a praxe observada nos governos subsequentes de Lula, que também indicou Antônio Fernando de Souza e Roberto Gurgel, de Dilma, que indicou Rodrigo Janot e de Michel Temer, que indicou Raquel Dodge.

Bolsonaro foi o primeiro a romper com essa praxe ao ignorar a lista tríplice oferecida pelo MP e nomear e reconduzir Augusto Aras para a PGR. Tal decisão foi extremamente criticada e interpretada por muitos como um retrocesso e uma decisão antidemocrática diante dos riscos de fragilização da independência do MP com a nomeação de um procurador-geral da República aparentemente dócil e próximo das preferências do ex-presidente.

Lula, em seu terceiro mandato na presidência, dá sinais de que vai se comportar da mesma maneira que seu arquirrival antidemocrático ao ignorar a lista tríplice dos procuradores para substituir Aras na PGR. O mais surpreendente é que pessoas que outrora identificavam essa praxe como um avanço democrático e sinal de fortalecimento e independência do MP agora já consideram democrático e legítimo Lula indicar um novo PGR fora da lista do MP.

De acordo com Sutan Krishnarajan no artigo Rationalizing Democracy: The Perceptual Bias and (un)Democratic Behavior, quando as preferências de políticas públicas conflitam com os valores democráticos, as pessoas frequentemente preferem ficar do lado antidemocrático da equação. Para o autor, as pessoas, na realidade, não aceitam deliberadamente o comportamento antidemocrático para obter algum ganho de políticas públicas que defendem. O que eles fazem, de fato, é evitar esse dilema ao racionalizar o que seria democrático e antidemocrático.

O resultado da pesquisa experimental de Krishnarajan, com uma amostra representativa de 3300 eleitores americanos, demonstra que quando eleitores de direita são confrontados com típicos comportamentos democráticos de um governante de direita, eles intrinsecamente os consideram muito mais democráticos do que comportamentos idênticos praticados por um governante de esquerda. De forma similar, quando confrontados com situações antidemocráticas de direita, parecem não as reconhecer como antidemocráticas. Entretanto, comportamentos idênticos de governos de esquerda são vistos pelas pessoas de direita como altamente antidemocráticos. O mais surpreendente é que pessoas de direita consideram comportamentos antidemocráticos de governos de direita igualmente democráticos ou até mais democráticos do que comportamentos de governos de esquerda que não violam as regras e normas democráticas.

É importante ressaltar que a pesquisa identifica que a racionalização democrática é observada em todo o espectro ideológico, sendo igualmente forte entre pessoas de direita e de esquerda, e é persistente a várias características tais como idade, gênero, educação, renda e de escolha eleitoral. A pesquisa foi também replicada em 22 países, abarcando Europa Oriental, Ásia, e América Latina (incluindo o Brasil), encontrando resultados muito similares.

Existem dois mecanismos que as pessoas utilizam para racionalizar e alinhar as suas percepções de democracia com as suas preferências de políticas públicas: o primeiro, chamado de democratic transmission, as pessoas ignoram a dimensão democrática de um determinado comportamento e transmitem sua aprovação/desaprovação das políticas públicas nas suas percepções de democracia com forma de diminuir o desconforto mental. O segundo mecanismo seria o que o autor chama de democratic elevation, quando as pessoas mudam o nível no qual avaliam a democracia. Ao invés de avaliar o funcionamento das instituições, avaliam como acham que o país mudou com a decisão de política mesmo comprometendo os procedimentos democráticos.

Como é sabido, a nomeação de qualquer procurador-geral da República fora da lista tríplice do Ministério Público é uma prerrogativa constitucional do presidente e, portanto, não poderia ser considerada antidemocrática. Mas o problema maior é o fato desse equívoco institucional ser “convenientemente cometido” por quem quer atacar o político que rejeita, mas não o político que apoia.

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