Análise|Derrota de Boulos em SP abre ‘caça às bruxas’ no PT em busca de culpados


Revés só é amenizado pela conquista de Fortaleza, única capital a ser administrada pelo partido de Lula

Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – A derrota de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo provocou uma espécie de “caças às bruxas” nas fileiras do PT em busca dos culpados pelo fracasso do candidato apoiado pelo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não sem motivo: o desfecho dessas eleições municipais tem impacto nacional e afeta a correlação de forças políticas.

O desgosto do PT por não conseguir voltar ao comando da capital paulista, onde o prefeito Ricardo Nunes (MDB) se reelegeu, só foi amenizado pela vitória em Fortaleza. Na maior capital do Nordeste, Evandro Leitão (PT) venceu André Fernandes (PL), candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

continua após a publicidade
Guilherme Boulos e Marta Suplicy: derrota é atribuída por petistas à ação de Tarcísio. Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O triunfo em Fortaleza foi comemorado ainda mais porque o PT não administrava nenhuma capital desde 2018 e, além disso, venceu um aliado de Bolsonaro. Em 2018, o único prefeito petista de uma capital – Marcos Alexandre, de Rio Branco (AC), – renunciou ao cargo conquistado em 2016 para concorrer ao governo do Acre e perdeu.

O resultado em Fortaleza dá musculatura ao ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do Ceará, e ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), que quer presidir o PT. Até agora, porém, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva – que não conseguiu fazer a sucessora – é o nome preferido de Lula para comandar o partido.

continua após a publicidade

Das quatro capitais em que concorria com chapa própria neste segundo turno, o PT só ganhou Fortaleza. Perdeu em Porto Alegre, Natal e Cuiabá. Também sofreu reveses em cidades importantes, como Diadema, no ABC paulista, mas celebra como se fossem suas vitórias contra candidatos bolsonaristas como Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, que perdeu em João Pessoa para Cícero Lucena (PP), e Bruno Engler (PL), derrotado pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD) .

Em São Paulo, o ataque do governador Tarcísio de Freitas a Boulos, na última hora, serviu como argumento oficial para a cúpula do PT explicar o mau resultado do candidato do PSOL. Sem apresentar qualquer prova, Tarcísio disse que uma ação de inteligência do governo interceptou mensagens da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) pedindo voto em Boulos.

continua após a publicidade

“A força da virada do Boulos fez o Tarcísio sair da toca e ir para o submundo do crime eleitoral”, disse ao Estadão o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “A maior prova de que tudo o que o governador falou era falso é que ele não tomou nenhuma atitude: não encaminhou denúncia ao Tribunal Regional Eleitoral e nem ao Ministério da Justiça.”

A atuação do governador em favor de Ricardo Nunes – chamada de “armação rasteira e covarde” pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann – conseguiu desviar o foco, ao menos por enquanto, do processo de autofagia no partido. Nos bastidores, porém, há um jogo de empurra sobre os responsáveis pela derrota.

continua após a publicidade

No primeiro turno, por exemplo, o deputado Washington Quaquá (RJ), prefeito eleito de Maricá (RJ) e um dos vice-presidentes do PT, chegou a dizer que Boulos era “o melhor candidato para perder” por causa da alta rejeição e por não ampliar a aliança ao centro.

Na noite deste domingo, 27, após a divulgação do resultado em São Paulo, Quaquá voltou à carga. “O PT precisa parar de errar! Boulos era a crônica de uma morte anunciada! A candidatura errada na cidade errada!”, escreveu ele em postagens nas redes sociais.

continua após a publicidade

Embora interlocutores de Lula sustentem que as eleições municipais não têm ligação com a disputa de 2026, quando o presidente tentará concorrer a novo mandato, a correlação de forças que saiu das urnas indica o desgaste da esquerda e um caminho mais à direita.

“Há um desafio enorme para o bolsonarismo raiz, que sai derrotado, mas reconhecemos que também há um desafio para os partidos de esquerda, sobretudo para voltar a governar cidades importantes, como São Paulo”, afirmou Padilha.

A portas fechadas, ministros observam que o governo errou ao não projetar a figura de Boulos com antecedência. Argumentam que Lula deveria ter chamado o deputado para comandar um ministério da área social. A estratégia permitiria que ele se livrasse da pecha de “radical” e, ao mesmo tempo, mostrasse serviço.

continua após a publicidade

Foi o próprio Lula que bancou a candidatura de Boulos, apesar das divergências no PT. Em 2022, quando era candidato ao Palácio do Planalto, ele pediu que Boulos desistisse de concorrer ao governo paulista para apoiar Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda.

Em troca, Lula prometeu avalizar sua campanha à Prefeitura de São Paulo. O presidente não só intermediou o acordo como articulou a volta da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT para ser vice na chapa de Boulos. Até então, Marta estava no cargo de secretária de Relações Internacionais da gestão Nunes.

O balanço das eleições municipais será feito nesta segunda-feira, 28, em reunião da Executiva Nacional do PT ampliada, com a presença de deputados federais. Mas, apesar das críticas nos bastidores, a resolução política a ser aprovada deve destacar apenas as vitórias do partido, como em Fortaleza, Mauá, Camaçari e Pelotas, e as derrotas do bolsonarismo.

“Eu também vou pedir, nessa reunião, que quem é candidato a presidente do PT se apresente, porque queremos construir o consenso”, afirmou Gleisi Hoffmann ao Estadão. A eleição que vai renovar o comando do PT ocorrerá em junho de 2025, mas a briga no partido pela cadeira de Gleisi está cada vez mais forte.

BRASÍLIA – A derrota de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo provocou uma espécie de “caças às bruxas” nas fileiras do PT em busca dos culpados pelo fracasso do candidato apoiado pelo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não sem motivo: o desfecho dessas eleições municipais tem impacto nacional e afeta a correlação de forças políticas.

O desgosto do PT por não conseguir voltar ao comando da capital paulista, onde o prefeito Ricardo Nunes (MDB) se reelegeu, só foi amenizado pela vitória em Fortaleza. Na maior capital do Nordeste, Evandro Leitão (PT) venceu André Fernandes (PL), candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Guilherme Boulos e Marta Suplicy: derrota é atribuída por petistas à ação de Tarcísio. Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O triunfo em Fortaleza foi comemorado ainda mais porque o PT não administrava nenhuma capital desde 2018 e, além disso, venceu um aliado de Bolsonaro. Em 2018, o único prefeito petista de uma capital – Marcos Alexandre, de Rio Branco (AC), – renunciou ao cargo conquistado em 2016 para concorrer ao governo do Acre e perdeu.

O resultado em Fortaleza dá musculatura ao ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do Ceará, e ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), que quer presidir o PT. Até agora, porém, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva – que não conseguiu fazer a sucessora – é o nome preferido de Lula para comandar o partido.

Das quatro capitais em que concorria com chapa própria neste segundo turno, o PT só ganhou Fortaleza. Perdeu em Porto Alegre, Natal e Cuiabá. Também sofreu reveses em cidades importantes, como Diadema, no ABC paulista, mas celebra como se fossem suas vitórias contra candidatos bolsonaristas como Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, que perdeu em João Pessoa para Cícero Lucena (PP), e Bruno Engler (PL), derrotado pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD) .

Em São Paulo, o ataque do governador Tarcísio de Freitas a Boulos, na última hora, serviu como argumento oficial para a cúpula do PT explicar o mau resultado do candidato do PSOL. Sem apresentar qualquer prova, Tarcísio disse que uma ação de inteligência do governo interceptou mensagens da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) pedindo voto em Boulos.

“A força da virada do Boulos fez o Tarcísio sair da toca e ir para o submundo do crime eleitoral”, disse ao Estadão o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “A maior prova de que tudo o que o governador falou era falso é que ele não tomou nenhuma atitude: não encaminhou denúncia ao Tribunal Regional Eleitoral e nem ao Ministério da Justiça.”

A atuação do governador em favor de Ricardo Nunes – chamada de “armação rasteira e covarde” pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann – conseguiu desviar o foco, ao menos por enquanto, do processo de autofagia no partido. Nos bastidores, porém, há um jogo de empurra sobre os responsáveis pela derrota.

No primeiro turno, por exemplo, o deputado Washington Quaquá (RJ), prefeito eleito de Maricá (RJ) e um dos vice-presidentes do PT, chegou a dizer que Boulos era “o melhor candidato para perder” por causa da alta rejeição e por não ampliar a aliança ao centro.

Na noite deste domingo, 27, após a divulgação do resultado em São Paulo, Quaquá voltou à carga. “O PT precisa parar de errar! Boulos era a crônica de uma morte anunciada! A candidatura errada na cidade errada!”, escreveu ele em postagens nas redes sociais.

Embora interlocutores de Lula sustentem que as eleições municipais não têm ligação com a disputa de 2026, quando o presidente tentará concorrer a novo mandato, a correlação de forças que saiu das urnas indica o desgaste da esquerda e um caminho mais à direita.

“Há um desafio enorme para o bolsonarismo raiz, que sai derrotado, mas reconhecemos que também há um desafio para os partidos de esquerda, sobretudo para voltar a governar cidades importantes, como São Paulo”, afirmou Padilha.

A portas fechadas, ministros observam que o governo errou ao não projetar a figura de Boulos com antecedência. Argumentam que Lula deveria ter chamado o deputado para comandar um ministério da área social. A estratégia permitiria que ele se livrasse da pecha de “radical” e, ao mesmo tempo, mostrasse serviço.

Foi o próprio Lula que bancou a candidatura de Boulos, apesar das divergências no PT. Em 2022, quando era candidato ao Palácio do Planalto, ele pediu que Boulos desistisse de concorrer ao governo paulista para apoiar Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda.

Em troca, Lula prometeu avalizar sua campanha à Prefeitura de São Paulo. O presidente não só intermediou o acordo como articulou a volta da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT para ser vice na chapa de Boulos. Até então, Marta estava no cargo de secretária de Relações Internacionais da gestão Nunes.

O balanço das eleições municipais será feito nesta segunda-feira, 28, em reunião da Executiva Nacional do PT ampliada, com a presença de deputados federais. Mas, apesar das críticas nos bastidores, a resolução política a ser aprovada deve destacar apenas as vitórias do partido, como em Fortaleza, Mauá, Camaçari e Pelotas, e as derrotas do bolsonarismo.

“Eu também vou pedir, nessa reunião, que quem é candidato a presidente do PT se apresente, porque queremos construir o consenso”, afirmou Gleisi Hoffmann ao Estadão. A eleição que vai renovar o comando do PT ocorrerá em junho de 2025, mas a briga no partido pela cadeira de Gleisi está cada vez mais forte.

BRASÍLIA – A derrota de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo provocou uma espécie de “caças às bruxas” nas fileiras do PT em busca dos culpados pelo fracasso do candidato apoiado pelo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não sem motivo: o desfecho dessas eleições municipais tem impacto nacional e afeta a correlação de forças políticas.

O desgosto do PT por não conseguir voltar ao comando da capital paulista, onde o prefeito Ricardo Nunes (MDB) se reelegeu, só foi amenizado pela vitória em Fortaleza. Na maior capital do Nordeste, Evandro Leitão (PT) venceu André Fernandes (PL), candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Guilherme Boulos e Marta Suplicy: derrota é atribuída por petistas à ação de Tarcísio. Foto: Taba Benedicto/ Estadão

O triunfo em Fortaleza foi comemorado ainda mais porque o PT não administrava nenhuma capital desde 2018 e, além disso, venceu um aliado de Bolsonaro. Em 2018, o único prefeito petista de uma capital – Marcos Alexandre, de Rio Branco (AC), – renunciou ao cargo conquistado em 2016 para concorrer ao governo do Acre e perdeu.

O resultado em Fortaleza dá musculatura ao ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do Ceará, e ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), que quer presidir o PT. Até agora, porém, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva – que não conseguiu fazer a sucessora – é o nome preferido de Lula para comandar o partido.

Das quatro capitais em que concorria com chapa própria neste segundo turno, o PT só ganhou Fortaleza. Perdeu em Porto Alegre, Natal e Cuiabá. Também sofreu reveses em cidades importantes, como Diadema, no ABC paulista, mas celebra como se fossem suas vitórias contra candidatos bolsonaristas como Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, que perdeu em João Pessoa para Cícero Lucena (PP), e Bruno Engler (PL), derrotado pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD) .

Em São Paulo, o ataque do governador Tarcísio de Freitas a Boulos, na última hora, serviu como argumento oficial para a cúpula do PT explicar o mau resultado do candidato do PSOL. Sem apresentar qualquer prova, Tarcísio disse que uma ação de inteligência do governo interceptou mensagens da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) pedindo voto em Boulos.

“A força da virada do Boulos fez o Tarcísio sair da toca e ir para o submundo do crime eleitoral”, disse ao Estadão o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. “A maior prova de que tudo o que o governador falou era falso é que ele não tomou nenhuma atitude: não encaminhou denúncia ao Tribunal Regional Eleitoral e nem ao Ministério da Justiça.”

A atuação do governador em favor de Ricardo Nunes – chamada de “armação rasteira e covarde” pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann – conseguiu desviar o foco, ao menos por enquanto, do processo de autofagia no partido. Nos bastidores, porém, há um jogo de empurra sobre os responsáveis pela derrota.

No primeiro turno, por exemplo, o deputado Washington Quaquá (RJ), prefeito eleito de Maricá (RJ) e um dos vice-presidentes do PT, chegou a dizer que Boulos era “o melhor candidato para perder” por causa da alta rejeição e por não ampliar a aliança ao centro.

Na noite deste domingo, 27, após a divulgação do resultado em São Paulo, Quaquá voltou à carga. “O PT precisa parar de errar! Boulos era a crônica de uma morte anunciada! A candidatura errada na cidade errada!”, escreveu ele em postagens nas redes sociais.

Embora interlocutores de Lula sustentem que as eleições municipais não têm ligação com a disputa de 2026, quando o presidente tentará concorrer a novo mandato, a correlação de forças que saiu das urnas indica o desgaste da esquerda e um caminho mais à direita.

“Há um desafio enorme para o bolsonarismo raiz, que sai derrotado, mas reconhecemos que também há um desafio para os partidos de esquerda, sobretudo para voltar a governar cidades importantes, como São Paulo”, afirmou Padilha.

A portas fechadas, ministros observam que o governo errou ao não projetar a figura de Boulos com antecedência. Argumentam que Lula deveria ter chamado o deputado para comandar um ministério da área social. A estratégia permitiria que ele se livrasse da pecha de “radical” e, ao mesmo tempo, mostrasse serviço.

Foi o próprio Lula que bancou a candidatura de Boulos, apesar das divergências no PT. Em 2022, quando era candidato ao Palácio do Planalto, ele pediu que Boulos desistisse de concorrer ao governo paulista para apoiar Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda.

Em troca, Lula prometeu avalizar sua campanha à Prefeitura de São Paulo. O presidente não só intermediou o acordo como articulou a volta da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT para ser vice na chapa de Boulos. Até então, Marta estava no cargo de secretária de Relações Internacionais da gestão Nunes.

O balanço das eleições municipais será feito nesta segunda-feira, 28, em reunião da Executiva Nacional do PT ampliada, com a presença de deputados federais. Mas, apesar das críticas nos bastidores, a resolução política a ser aprovada deve destacar apenas as vitórias do partido, como em Fortaleza, Mauá, Camaçari e Pelotas, e as derrotas do bolsonarismo.

“Eu também vou pedir, nessa reunião, que quem é candidato a presidente do PT se apresente, porque queremos construir o consenso”, afirmou Gleisi Hoffmann ao Estadão. A eleição que vai renovar o comando do PT ocorrerá em junho de 2025, mas a briga no partido pela cadeira de Gleisi está cada vez mais forte.

Análise por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.