O apresentador José Luiz Datena já se tornou figura folclórica da política brasileira por seu constante vaivém na disputa por um mandato eletivo, interrompendo a iniciativa antes que ela se concretize.
Mesmo sempre aparecendo bem nas pesquisas para cargos ao Executivo, seja qual for o posto, assim como vinha liderando as intenções de voto ao Senado por São Paulo nestas eleições de 2022, como de praxe, Datena, apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado apoio a ele na manhã desta quinta-feira, anunciou em seu próprio programa de TV que não mais será candidato. Sua renúncia embola a sucessão ao Senado e mexe de maneira substantiva no xadrez de apoios aos candidatos ao governo do Estado de São Paulo impactando negativamente as pretensões do bolsonarista Tarcísio de Freitas.
Quanto a sucessão ao governo estadual, a saída do apresentador de TV facilita a vida para o petista Fernando Haddad ao possibilitar que Marcio França abdique de sua pré-candidatura ao governo do Estado e possa ser ungido candidato ao Senado da coalizão de apoio ao candidato do PT ao Palácio dos Bandeirantes. O esforço de Haddad e Lula para viabilizar a saída de França se explica quando olhamos a última pesquisa Quaest/Genial ao governo paulista, publicada no mês de maio. Essa sondagem mostra que saída de Datena faz com que Haddad ganhe sete pontos porcentuais de intenção de voto (subindo de 30 para 37%), enquanto Tarcísio Freitas e Rodrigo Garcia ganham apenas 2 e 3% respectivamente, alcançando 12 e 8 pontos porcentuais cada um. A grande questão que fica em aberto nesse novo cenário é: para onde vai o PSD?
Olhando especificamente para a disputa pelo Senado, a entrada de França em um jogo sem José Luiz Datena, o coloca na condição de um candidato muito competitivo que pode se beneficiar diretamente do fortalecimento da coalizão de Haddad. Também nesse cenário, a candidata Janaina Paschoal, que vinha criticando o apoio do bolsonarismo a Datena, recupera protagonismo junto a direita e a extrema-direita e ganha competitividade, podendo ser a principal candidata desse segmento, além de Carla Zambelli e do ex-ministro Ricardo Salles, que sempre surgem como possíveis nomes e também são tidos como referências do Bolsonarismo nas hostes paulistas.
A renúncia de Datena se soma a um conjunto de más notícias para Jair Bolsonaro. O atual presidente da República vinha mobilizando esforços para que ele fosse candidato ao Senado e se tornasse cabo eleitoral não apenas de Bolsonaro, mas sobretudo de Tarcísio de Freitas. Nesse momento, tanto Haddad como Garcia devem estar comemorando esse ganho tido como inesperado, mas que repete movimentos anteriores já feitos por Datena. A pergunta que fica é: até quando o mundo da política e a sociedade levarão a sério as pretensões políticas de José Luiz Datena.
*Cientista político e professor do departamento de gestão pública da FGV EAEP