Desistência de Doria resume colapso da terceira via e crise do sistema partidário; leia análise


Momento atual marca ainda anúncio antecipado de possível morte do PSDB

Por José Álvaro Moisés
Atualização:

A desistência do ex-governador João Doria de disputar a Presidência da República, mesmo tendo vencido as prévias do PSDB, sugere uma reflexão sobre três questões importantes para a qualidade da democracia brasileira.

A primeira dialoga com o colapso da chamada “terceira via”. Ela não se constituiu em alternativa capaz de confrontar as duas candidaturas vistas como expressão de polarização negativa. Sem se desvencilhar de divisões internas, lutas de facções e de traições, os líderes da terceira via perderam um tempo precioso sem definir os seus objetivos e sem explicar a ideia de que, comprometidos com a reconstrução do País, defendem a democracia das ameaças de um dos polos em disputa. O mote de que se movem por um “bem maior” ficou devendo esforço de persuasão para convencer o eleitor mediano de que estão em jogo não interesses pessoais ou de facções, mas uma coalizão capaz de conectar a democracia com a luta pela retomada da economia, com o enfrentamento das desigualdades e, principalmente, da fome e da miséria que assolam parcelas da população. O debate ficou restrito às cúpulas dos partidos.

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O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) se emociona ao anunciar que desistiu de sua pré-candidatura à Presidência. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada", disse. Foto: WERTHER / ESTADAO CONTEUDO

A segunda é um anúncio antecipado de possível morte de um dos principais partidos políticos do País. O teatro oferecido pelo PSDB, depois da tentativa inédita e democrática de escolher candidato por prévias, sugere que o legado de Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e tantos outros cedeu lugar a uma estratégia fratricida que abandonou as grandes teses social democratas em favor de querelas menores. A luta de Aécio Neves contra João Doria ou da direção contra quem venceu as prévias, e de quem foi derrotado nelas, jamais ofereceu argumento capaz de falar com os eleitores que outrora deram vitórias ao PSDB. A impressão oferecida foi a de disputa por um espólio ao invés de uma perspectiva para o País. Nem os resultados positivos do governo de Doria foram trazidos para o debate.

A terceira questão é sobre a crise do sistema de partidos. As dificuldades de coordenação dos partidos da terceira via reproduzem a desconexão que existe entre os partidos e a quase totalidade de eleitores brasileiros. Quase 90% não se sentem representados por eles. A cadeia de delegação de poder dos eleitores para os partidos está rompida, a maior parte deles está em mãos de oligarquias, funcionam por procedimentos antidemocráticos e têm as portas fechadas para a população, daí sua incapacidade de formar novas lideranças. A terceira via sofre desses males. Por isso perdeu (ao menos até agora).

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* PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP

A desistência do ex-governador João Doria de disputar a Presidência da República, mesmo tendo vencido as prévias do PSDB, sugere uma reflexão sobre três questões importantes para a qualidade da democracia brasileira.

A primeira dialoga com o colapso da chamada “terceira via”. Ela não se constituiu em alternativa capaz de confrontar as duas candidaturas vistas como expressão de polarização negativa. Sem se desvencilhar de divisões internas, lutas de facções e de traições, os líderes da terceira via perderam um tempo precioso sem definir os seus objetivos e sem explicar a ideia de que, comprometidos com a reconstrução do País, defendem a democracia das ameaças de um dos polos em disputa. O mote de que se movem por um “bem maior” ficou devendo esforço de persuasão para convencer o eleitor mediano de que estão em jogo não interesses pessoais ou de facções, mas uma coalizão capaz de conectar a democracia com a luta pela retomada da economia, com o enfrentamento das desigualdades e, principalmente, da fome e da miséria que assolam parcelas da população. O debate ficou restrito às cúpulas dos partidos.

O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) se emociona ao anunciar que desistiu de sua pré-candidatura à Presidência. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada", disse. Foto: WERTHER / ESTADAO CONTEUDO

A segunda é um anúncio antecipado de possível morte de um dos principais partidos políticos do País. O teatro oferecido pelo PSDB, depois da tentativa inédita e democrática de escolher candidato por prévias, sugere que o legado de Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e tantos outros cedeu lugar a uma estratégia fratricida que abandonou as grandes teses social democratas em favor de querelas menores. A luta de Aécio Neves contra João Doria ou da direção contra quem venceu as prévias, e de quem foi derrotado nelas, jamais ofereceu argumento capaz de falar com os eleitores que outrora deram vitórias ao PSDB. A impressão oferecida foi a de disputa por um espólio ao invés de uma perspectiva para o País. Nem os resultados positivos do governo de Doria foram trazidos para o debate.

A terceira questão é sobre a crise do sistema de partidos. As dificuldades de coordenação dos partidos da terceira via reproduzem a desconexão que existe entre os partidos e a quase totalidade de eleitores brasileiros. Quase 90% não se sentem representados por eles. A cadeia de delegação de poder dos eleitores para os partidos está rompida, a maior parte deles está em mãos de oligarquias, funcionam por procedimentos antidemocráticos e têm as portas fechadas para a população, daí sua incapacidade de formar novas lideranças. A terceira via sofre desses males. Por isso perdeu (ao menos até agora).

* PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP

A desistência do ex-governador João Doria de disputar a Presidência da República, mesmo tendo vencido as prévias do PSDB, sugere uma reflexão sobre três questões importantes para a qualidade da democracia brasileira.

A primeira dialoga com o colapso da chamada “terceira via”. Ela não se constituiu em alternativa capaz de confrontar as duas candidaturas vistas como expressão de polarização negativa. Sem se desvencilhar de divisões internas, lutas de facções e de traições, os líderes da terceira via perderam um tempo precioso sem definir os seus objetivos e sem explicar a ideia de que, comprometidos com a reconstrução do País, defendem a democracia das ameaças de um dos polos em disputa. O mote de que se movem por um “bem maior” ficou devendo esforço de persuasão para convencer o eleitor mediano de que estão em jogo não interesses pessoais ou de facções, mas uma coalizão capaz de conectar a democracia com a luta pela retomada da economia, com o enfrentamento das desigualdades e, principalmente, da fome e da miséria que assolam parcelas da população. O debate ficou restrito às cúpulas dos partidos.

O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) se emociona ao anunciar que desistiu de sua pré-candidatura à Presidência. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada", disse. Foto: WERTHER / ESTADAO CONTEUDO

A segunda é um anúncio antecipado de possível morte de um dos principais partidos políticos do País. O teatro oferecido pelo PSDB, depois da tentativa inédita e democrática de escolher candidato por prévias, sugere que o legado de Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e tantos outros cedeu lugar a uma estratégia fratricida que abandonou as grandes teses social democratas em favor de querelas menores. A luta de Aécio Neves contra João Doria ou da direção contra quem venceu as prévias, e de quem foi derrotado nelas, jamais ofereceu argumento capaz de falar com os eleitores que outrora deram vitórias ao PSDB. A impressão oferecida foi a de disputa por um espólio ao invés de uma perspectiva para o País. Nem os resultados positivos do governo de Doria foram trazidos para o debate.

A terceira questão é sobre a crise do sistema de partidos. As dificuldades de coordenação dos partidos da terceira via reproduzem a desconexão que existe entre os partidos e a quase totalidade de eleitores brasileiros. Quase 90% não se sentem representados por eles. A cadeia de delegação de poder dos eleitores para os partidos está rompida, a maior parte deles está em mãos de oligarquias, funcionam por procedimentos antidemocráticos e têm as portas fechadas para a população, daí sua incapacidade de formar novas lideranças. A terceira via sofre desses males. Por isso perdeu (ao menos até agora).

* PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP

A desistência do ex-governador João Doria de disputar a Presidência da República, mesmo tendo vencido as prévias do PSDB, sugere uma reflexão sobre três questões importantes para a qualidade da democracia brasileira.

A primeira dialoga com o colapso da chamada “terceira via”. Ela não se constituiu em alternativa capaz de confrontar as duas candidaturas vistas como expressão de polarização negativa. Sem se desvencilhar de divisões internas, lutas de facções e de traições, os líderes da terceira via perderam um tempo precioso sem definir os seus objetivos e sem explicar a ideia de que, comprometidos com a reconstrução do País, defendem a democracia das ameaças de um dos polos em disputa. O mote de que se movem por um “bem maior” ficou devendo esforço de persuasão para convencer o eleitor mediano de que estão em jogo não interesses pessoais ou de facções, mas uma coalizão capaz de conectar a democracia com a luta pela retomada da economia, com o enfrentamento das desigualdades e, principalmente, da fome e da miséria que assolam parcelas da população. O debate ficou restrito às cúpulas dos partidos.

O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) se emociona ao anunciar que desistiu de sua pré-candidatura à Presidência. “Me retiro da disputa com o coração ferido e a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada", disse. Foto: WERTHER / ESTADAO CONTEUDO

A segunda é um anúncio antecipado de possível morte de um dos principais partidos políticos do País. O teatro oferecido pelo PSDB, depois da tentativa inédita e democrática de escolher candidato por prévias, sugere que o legado de Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e tantos outros cedeu lugar a uma estratégia fratricida que abandonou as grandes teses social democratas em favor de querelas menores. A luta de Aécio Neves contra João Doria ou da direção contra quem venceu as prévias, e de quem foi derrotado nelas, jamais ofereceu argumento capaz de falar com os eleitores que outrora deram vitórias ao PSDB. A impressão oferecida foi a de disputa por um espólio ao invés de uma perspectiva para o País. Nem os resultados positivos do governo de Doria foram trazidos para o debate.

A terceira questão é sobre a crise do sistema de partidos. As dificuldades de coordenação dos partidos da terceira via reproduzem a desconexão que existe entre os partidos e a quase totalidade de eleitores brasileiros. Quase 90% não se sentem representados por eles. A cadeia de delegação de poder dos eleitores para os partidos está rompida, a maior parte deles está em mãos de oligarquias, funcionam por procedimentos antidemocráticos e têm as portas fechadas para a população, daí sua incapacidade de formar novas lideranças. A terceira via sofre desses males. Por isso perdeu (ao menos até agora).

* PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP

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