BRASÍLIA - Foi o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ajudante de ordens e “faz-tudo” do então presidente Jair Bolsonaro, quem pediu, com “urgência”, avião da FAB e diárias para a ida do sargento Jairo Moreira da Silva a São Paulo, três dias antes do fim do mandato, para buscar as joias apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos. Esse fato é uma espécie de “impressão digital” de Bolsonaro na tentativa de liberar as peças, que valem R$ 16,5 milhões.
Segundo ofício publicado pelo Estadão, foi “atendendo demanda recebida do chefe da Ajudância de Ordens do presidente da República” que o governo autorizou a viagem de Jairo “de Brasília para Guarulhos, em voo da FAB, em 29 de dezembro de 2022, para atender demandas do senhor presidente da República”. O documento frisa, ainda, que o retorno seria em voo comercial.
O então chefe da Ajudância de Ordens do presidente era justamente o tenente coronel Mauro Cid, da ativa do Exército, que executava todas as ordens do presidente, cuidava de seus papéis, discursos e demandas pessoais e o acompanhava praticamente o tempo todo, na rotina do Planalto, nas viagens e até nos debates presidenciais de 2022, dando sugestões, apresentando documentos e dados.
Com o fim do governo, Mauro Cid, filho de um colega e grande amigo de Bolsonaro, também militar, foi nomeado para o Primeiro Batalhão de Ações e Comandos (BAC), uma unidade de Operações Especiais que pode ser acionada a qualquer momento e fica sediada em Goiânia, capital de Goiás e próxima da capital da República.
Depois da derrota de Bolsonaro e da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porém, o coronel Cid perdeu a vaga e foi deslocado para um cargo burocrático no Comando de Operações Terrestres (Coter), em Brasília, causando a demissão do então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, que resistia à decisão de anular sua nomeação para o BAC. Quem assumiu o lugar de Arruda foi o também general de quatro estrelas Tomás Miguel Ribeiro Paiva, com o compromisso de “despolitizar” o Exército.
Além de perder a nomeação para um cargo importante, o antigo “fiel escudeiro” de Bolsonaro responde a pelo menos duas acusações. A Polícia Federal concluiu que Mauro Cid cometeu crime de incitação à infração de medida sanitária, ao participar, ao lado do próprio Bolsonaro, de uma live em que o presidente associava as vacinas contra a covid à disseminação do vírus da Aids.
O Supremo Tribunal Federal também identificou a participação direta do coronel Cid no pagamento de contas do clã presidencial, inclusive da então primeira-dama Michelle Bolsonaro, com dinheiro vivo. As operações são consideradas como uma espécie de “caixa paralelo”, ou “caixa dois” dos cartões corporativos da Presidência.