A análise atenta dos principais depoimentos e documentos obtidos pela CPI da Covid na visão do especialista em saúde pública Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP

Na CPI da Covid, cascavel não dá picada nem destila veneno


Por Mário Scheffer
O empresário e ex-deputado Airton Cascavel, assessor 'informal'do Ministerio da Saúde na gestão Pazuello Foto: GABRIELA BILO/ESTADÃO

A CPI da Covid iniciou a sessão celebrando o 5 de agosto, Dia Nacional da Saúde.

Aniversariante da data, o cientista Oswaldo Cruz dá nome à Medalha de Mérito nacional, criada para distinguir profissionais e instituições de destacada contribuição à saúde pública.

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Bolsonaro decretou a banalização da honraria, ao condecorar o recém-titular da Casa Civil, Ciro Nogueira, a ministra Damares Alves e até a primeira-dama.

Em plena pandemia, o menosprezo aos reais credores do mérito, que são os trabalhadores à frente da luta contra a covid, revela-se um escárnio à memória do sanitarista, uma revoltante desconsideração.

Nesta quinta-feira, ocorreu a 40ª reunião da CPI. Nas oitivas desde abril, nas falas de mais de 30 testemunhas, não era incomum os ouvintes serem submetidos a articulações verbais sofríveis, vícios de linguagem e gestos, atentados à gramática, às concordâncias verbais e nominais.

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O depoente do dia, conhecido como Airton Cascavel, político de longo mister, filiado ao Republicanos, trouxe certo talento e qualidade do orador que prende a atenção tanto quanto irrita. Mas logo caiu em perversão, como se, o tempo todo, mirasse eleitores num comício.

A CPI tem mostrado que sem linguagem não há demagogia e o que determina a polêmica de um depoimento é sua relação com determinado contexto.

Cascavel contou que, após conhecer o general Pazuello, na crise migratória venezuelana em Roraima, deu "um pulo a Brasília", só levou "três mudas de roupa", para ver no que poderia ajudar.

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"Facilitador institucional"

No Ministério da Saúde encontrou militares sem "traquejo político", o que o fez atender a "um chamamento maior" para que assumisse o papel de "facilitador institucional".

Antes de sua nomeação, em junho de 2020, quando assumiu a condição de assessor especial, com salário de R$13,6 mil por mês, Cascavel já vinha atuando sem cargo, mas com delegação: "eu trabalhava na interlocução com prefeitos e secretários".

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O que o fez chegar à CPI foi justamente sua fama de sombra, para quem Pazuello havia terceirizado competências.

Testemunha de incompetências, Cascavel repetiu a tarimba dos depoentes que não trocam a frieza da fidelidade, o capital social das afinidades consolidadas, pela revelação de verdades.

A confirmação involuntária de sua atuação como ministro de fato veio de senadores da base do governo, que destacaram sua "sensibilidade para ouvir e intermediar", e seu empenho em atender "as demandas que nós encaminhávamos para socorro aos prefeitos e aos governadores".

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As constatações, aqui, além do possível crime de usurpação de função pública, pela responsabilidade assumida antes de nomeação para tal, são a indigência política e o improviso administrativo que tomaram conta do Ministério da Saúde, num momento já crítico da pandemia, quando o País ultrapassava mais de mil mortes diárias por covid.

Vendedor de conselhos sábios à Pátria, o ex- prefeito de Mucajaí (RR) professorou na CPI que a avaliação de uma gestão desastrosa não pode ser feita "com base na farda". Em momentos de contradição, opinou sobre a "politização das tratativas", comum, segundo ele, nas compras de vacinas, mas assegurou que foi constante o bom diálogo do ministério com o laboratório Butantan.

Em rara indiscrição, confirmou que Pazuello foi advertido pelo senador Eduardo Braga, no final de 2020, da crise de oxigênio que se prenunciava no Amazonas.

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Indagado sobre o TrateCov, a plataforma que indicava cloroquina até para bebê, Airton Cascavel disse que não teve interesse no assunto, pois pensou tratar-se "de um aparelho russo".

O historiador americano Douglas Smith atualizou uma fascinante biografia de Raspútin, o monge conselheiro da família do czar Nicolau II, símbolo da derrocada imperial dos Románov, o que desaguou na revolução bolchevique.

O autor adverte que conselheiros informais, sem posição oficial clara, tornam-se uma mancha de ilegitimidade particularmente perigosa para os governantes.

Mas não foi desta vez, na CPI, que a picada e o veneno da cascavel inibiram os movimentos musculares dos criadores.

O empresário e ex-deputado Airton Cascavel, assessor 'informal'do Ministerio da Saúde na gestão Pazuello Foto: GABRIELA BILO/ESTADÃO

A CPI da Covid iniciou a sessão celebrando o 5 de agosto, Dia Nacional da Saúde.

Aniversariante da data, o cientista Oswaldo Cruz dá nome à Medalha de Mérito nacional, criada para distinguir profissionais e instituições de destacada contribuição à saúde pública.

Bolsonaro decretou a banalização da honraria, ao condecorar o recém-titular da Casa Civil, Ciro Nogueira, a ministra Damares Alves e até a primeira-dama.

Em plena pandemia, o menosprezo aos reais credores do mérito, que são os trabalhadores à frente da luta contra a covid, revela-se um escárnio à memória do sanitarista, uma revoltante desconsideração.

Nesta quinta-feira, ocorreu a 40ª reunião da CPI. Nas oitivas desde abril, nas falas de mais de 30 testemunhas, não era incomum os ouvintes serem submetidos a articulações verbais sofríveis, vícios de linguagem e gestos, atentados à gramática, às concordâncias verbais e nominais.

O depoente do dia, conhecido como Airton Cascavel, político de longo mister, filiado ao Republicanos, trouxe certo talento e qualidade do orador que prende a atenção tanto quanto irrita. Mas logo caiu em perversão, como se, o tempo todo, mirasse eleitores num comício.

A CPI tem mostrado que sem linguagem não há demagogia e o que determina a polêmica de um depoimento é sua relação com determinado contexto.

Cascavel contou que, após conhecer o general Pazuello, na crise migratória venezuelana em Roraima, deu "um pulo a Brasília", só levou "três mudas de roupa", para ver no que poderia ajudar.

"Facilitador institucional"

No Ministério da Saúde encontrou militares sem "traquejo político", o que o fez atender a "um chamamento maior" para que assumisse o papel de "facilitador institucional".

Antes de sua nomeação, em junho de 2020, quando assumiu a condição de assessor especial, com salário de R$13,6 mil por mês, Cascavel já vinha atuando sem cargo, mas com delegação: "eu trabalhava na interlocução com prefeitos e secretários".

O que o fez chegar à CPI foi justamente sua fama de sombra, para quem Pazuello havia terceirizado competências.

Testemunha de incompetências, Cascavel repetiu a tarimba dos depoentes que não trocam a frieza da fidelidade, o capital social das afinidades consolidadas, pela revelação de verdades.

A confirmação involuntária de sua atuação como ministro de fato veio de senadores da base do governo, que destacaram sua "sensibilidade para ouvir e intermediar", e seu empenho em atender "as demandas que nós encaminhávamos para socorro aos prefeitos e aos governadores".

As constatações, aqui, além do possível crime de usurpação de função pública, pela responsabilidade assumida antes de nomeação para tal, são a indigência política e o improviso administrativo que tomaram conta do Ministério da Saúde, num momento já crítico da pandemia, quando o País ultrapassava mais de mil mortes diárias por covid.

Vendedor de conselhos sábios à Pátria, o ex- prefeito de Mucajaí (RR) professorou na CPI que a avaliação de uma gestão desastrosa não pode ser feita "com base na farda". Em momentos de contradição, opinou sobre a "politização das tratativas", comum, segundo ele, nas compras de vacinas, mas assegurou que foi constante o bom diálogo do ministério com o laboratório Butantan.

Em rara indiscrição, confirmou que Pazuello foi advertido pelo senador Eduardo Braga, no final de 2020, da crise de oxigênio que se prenunciava no Amazonas.

Indagado sobre o TrateCov, a plataforma que indicava cloroquina até para bebê, Airton Cascavel disse que não teve interesse no assunto, pois pensou tratar-se "de um aparelho russo".

O historiador americano Douglas Smith atualizou uma fascinante biografia de Raspútin, o monge conselheiro da família do czar Nicolau II, símbolo da derrocada imperial dos Románov, o que desaguou na revolução bolchevique.

O autor adverte que conselheiros informais, sem posição oficial clara, tornam-se uma mancha de ilegitimidade particularmente perigosa para os governantes.

Mas não foi desta vez, na CPI, que a picada e o veneno da cascavel inibiram os movimentos musculares dos criadores.

O empresário e ex-deputado Airton Cascavel, assessor 'informal'do Ministerio da Saúde na gestão Pazuello Foto: GABRIELA BILO/ESTADÃO

A CPI da Covid iniciou a sessão celebrando o 5 de agosto, Dia Nacional da Saúde.

Aniversariante da data, o cientista Oswaldo Cruz dá nome à Medalha de Mérito nacional, criada para distinguir profissionais e instituições de destacada contribuição à saúde pública.

Bolsonaro decretou a banalização da honraria, ao condecorar o recém-titular da Casa Civil, Ciro Nogueira, a ministra Damares Alves e até a primeira-dama.

Em plena pandemia, o menosprezo aos reais credores do mérito, que são os trabalhadores à frente da luta contra a covid, revela-se um escárnio à memória do sanitarista, uma revoltante desconsideração.

Nesta quinta-feira, ocorreu a 40ª reunião da CPI. Nas oitivas desde abril, nas falas de mais de 30 testemunhas, não era incomum os ouvintes serem submetidos a articulações verbais sofríveis, vícios de linguagem e gestos, atentados à gramática, às concordâncias verbais e nominais.

O depoente do dia, conhecido como Airton Cascavel, político de longo mister, filiado ao Republicanos, trouxe certo talento e qualidade do orador que prende a atenção tanto quanto irrita. Mas logo caiu em perversão, como se, o tempo todo, mirasse eleitores num comício.

A CPI tem mostrado que sem linguagem não há demagogia e o que determina a polêmica de um depoimento é sua relação com determinado contexto.

Cascavel contou que, após conhecer o general Pazuello, na crise migratória venezuelana em Roraima, deu "um pulo a Brasília", só levou "três mudas de roupa", para ver no que poderia ajudar.

"Facilitador institucional"

No Ministério da Saúde encontrou militares sem "traquejo político", o que o fez atender a "um chamamento maior" para que assumisse o papel de "facilitador institucional".

Antes de sua nomeação, em junho de 2020, quando assumiu a condição de assessor especial, com salário de R$13,6 mil por mês, Cascavel já vinha atuando sem cargo, mas com delegação: "eu trabalhava na interlocução com prefeitos e secretários".

O que o fez chegar à CPI foi justamente sua fama de sombra, para quem Pazuello havia terceirizado competências.

Testemunha de incompetências, Cascavel repetiu a tarimba dos depoentes que não trocam a frieza da fidelidade, o capital social das afinidades consolidadas, pela revelação de verdades.

A confirmação involuntária de sua atuação como ministro de fato veio de senadores da base do governo, que destacaram sua "sensibilidade para ouvir e intermediar", e seu empenho em atender "as demandas que nós encaminhávamos para socorro aos prefeitos e aos governadores".

As constatações, aqui, além do possível crime de usurpação de função pública, pela responsabilidade assumida antes de nomeação para tal, são a indigência política e o improviso administrativo que tomaram conta do Ministério da Saúde, num momento já crítico da pandemia, quando o País ultrapassava mais de mil mortes diárias por covid.

Vendedor de conselhos sábios à Pátria, o ex- prefeito de Mucajaí (RR) professorou na CPI que a avaliação de uma gestão desastrosa não pode ser feita "com base na farda". Em momentos de contradição, opinou sobre a "politização das tratativas", comum, segundo ele, nas compras de vacinas, mas assegurou que foi constante o bom diálogo do ministério com o laboratório Butantan.

Em rara indiscrição, confirmou que Pazuello foi advertido pelo senador Eduardo Braga, no final de 2020, da crise de oxigênio que se prenunciava no Amazonas.

Indagado sobre o TrateCov, a plataforma que indicava cloroquina até para bebê, Airton Cascavel disse que não teve interesse no assunto, pois pensou tratar-se "de um aparelho russo".

O historiador americano Douglas Smith atualizou uma fascinante biografia de Raspútin, o monge conselheiro da família do czar Nicolau II, símbolo da derrocada imperial dos Románov, o que desaguou na revolução bolchevique.

O autor adverte que conselheiros informais, sem posição oficial clara, tornam-se uma mancha de ilegitimidade particularmente perigosa para os governantes.

Mas não foi desta vez, na CPI, que a picada e o veneno da cascavel inibiram os movimentos musculares dos criadores.

O empresário e ex-deputado Airton Cascavel, assessor 'informal'do Ministerio da Saúde na gestão Pazuello Foto: GABRIELA BILO/ESTADÃO

A CPI da Covid iniciou a sessão celebrando o 5 de agosto, Dia Nacional da Saúde.

Aniversariante da data, o cientista Oswaldo Cruz dá nome à Medalha de Mérito nacional, criada para distinguir profissionais e instituições de destacada contribuição à saúde pública.

Bolsonaro decretou a banalização da honraria, ao condecorar o recém-titular da Casa Civil, Ciro Nogueira, a ministra Damares Alves e até a primeira-dama.

Em plena pandemia, o menosprezo aos reais credores do mérito, que são os trabalhadores à frente da luta contra a covid, revela-se um escárnio à memória do sanitarista, uma revoltante desconsideração.

Nesta quinta-feira, ocorreu a 40ª reunião da CPI. Nas oitivas desde abril, nas falas de mais de 30 testemunhas, não era incomum os ouvintes serem submetidos a articulações verbais sofríveis, vícios de linguagem e gestos, atentados à gramática, às concordâncias verbais e nominais.

O depoente do dia, conhecido como Airton Cascavel, político de longo mister, filiado ao Republicanos, trouxe certo talento e qualidade do orador que prende a atenção tanto quanto irrita. Mas logo caiu em perversão, como se, o tempo todo, mirasse eleitores num comício.

A CPI tem mostrado que sem linguagem não há demagogia e o que determina a polêmica de um depoimento é sua relação com determinado contexto.

Cascavel contou que, após conhecer o general Pazuello, na crise migratória venezuelana em Roraima, deu "um pulo a Brasília", só levou "três mudas de roupa", para ver no que poderia ajudar.

"Facilitador institucional"

No Ministério da Saúde encontrou militares sem "traquejo político", o que o fez atender a "um chamamento maior" para que assumisse o papel de "facilitador institucional".

Antes de sua nomeação, em junho de 2020, quando assumiu a condição de assessor especial, com salário de R$13,6 mil por mês, Cascavel já vinha atuando sem cargo, mas com delegação: "eu trabalhava na interlocução com prefeitos e secretários".

O que o fez chegar à CPI foi justamente sua fama de sombra, para quem Pazuello havia terceirizado competências.

Testemunha de incompetências, Cascavel repetiu a tarimba dos depoentes que não trocam a frieza da fidelidade, o capital social das afinidades consolidadas, pela revelação de verdades.

A confirmação involuntária de sua atuação como ministro de fato veio de senadores da base do governo, que destacaram sua "sensibilidade para ouvir e intermediar", e seu empenho em atender "as demandas que nós encaminhávamos para socorro aos prefeitos e aos governadores".

As constatações, aqui, além do possível crime de usurpação de função pública, pela responsabilidade assumida antes de nomeação para tal, são a indigência política e o improviso administrativo que tomaram conta do Ministério da Saúde, num momento já crítico da pandemia, quando o País ultrapassava mais de mil mortes diárias por covid.

Vendedor de conselhos sábios à Pátria, o ex- prefeito de Mucajaí (RR) professorou na CPI que a avaliação de uma gestão desastrosa não pode ser feita "com base na farda". Em momentos de contradição, opinou sobre a "politização das tratativas", comum, segundo ele, nas compras de vacinas, mas assegurou que foi constante o bom diálogo do ministério com o laboratório Butantan.

Em rara indiscrição, confirmou que Pazuello foi advertido pelo senador Eduardo Braga, no final de 2020, da crise de oxigênio que se prenunciava no Amazonas.

Indagado sobre o TrateCov, a plataforma que indicava cloroquina até para bebê, Airton Cascavel disse que não teve interesse no assunto, pois pensou tratar-se "de um aparelho russo".

O historiador americano Douglas Smith atualizou uma fascinante biografia de Raspútin, o monge conselheiro da família do czar Nicolau II, símbolo da derrocada imperial dos Románov, o que desaguou na revolução bolchevique.

O autor adverte que conselheiros informais, sem posição oficial clara, tornam-se uma mancha de ilegitimidade particularmente perigosa para os governantes.

Mas não foi desta vez, na CPI, que a picada e o veneno da cascavel inibiram os movimentos musculares dos criadores.

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