Análises sobre o estado geral da nação

Opinião|Ataque do Irã a Israel reaviva temor de 3ª Guerra Mundial; saiba o que a impede de ocorrer


O medo de um conflito mundial é alimentado pela Rússia desde o início de sua agressão contra o território ucraniano, há dois anos, como forma de dissuadir as potências de um envolvimento direto no conflito

Por Diogo Schelp

O ataque com centenas de drones e mísseis iranianos contra Israel na madrugada deste domingo, 14, no fuso horário local, colocou combustível na fogueira dos temores de que o mundo pode estar caminhando para mais um conflito global, quase 80 anos depois do fim da 2ª Guerra.

De acordo com esse cenário mais pessimista, uma guerra aberta entre Israel e Irã vai levar a um conflito regional, com envolvimento de diversas nações vizinhas, que obrigaria os Estados Unidos e as potências europeias a dar proteção aos israelenses, de um lado, e a Rússia e a China a apoiar o regime de Teerã, do outro.

Manifestantes em Terã comemora ataque a Israel. (Photo by ATTA KENARE / AFP) Foto: ATTA KENARE
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A Rússia aproveitaria o caos no Oriente Médio para iniciar uma grande ofensiva na Ucrânia, provavelmente acompanhada de uma incursão na Finlândia para testar a disposição da Otan, a aliança militar do Ocidente, de reagir a um ataque contra um de seus países-membros. Diante de uma ameaça existencial, as nações europeias colocariam suas tropas em confronto direto com os russos, apesar do perigo do uso de armas nucleares por parte do Kremlin.

A existência de dois palcos de guerra em escala regional com múltiplos envolvidos, na Europa e no Oriente Médio, arrastaria as nações de outras partes do globo a se posicionar em um conflito em várias frentes, tendo como pano de fundo a disputa entre dois polos antagônicos de poder, liderados pela China e pelos Estados Unidos.

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O medo de uma 3ª Guerra Mundial é alimentado pela Rússia desde o início de sua agressão contra o território ucraniano, há dois anos, como forma de dissuadir as potências de um envolvimento direto no conflito. O governo ucraniano também fala do risco de um conflito global, mas com outro objetivo, o de convencer americanos e europeus da importância de dar mais ajuda militar e financeira ao seu país justamente para evitar o transbordamento da guerra para o restante da Europa.

Nos Estados Unidos, o temor de um conflito mundial é explorado eleitoralmente por Donald Trump para demonstrar a fraqueza e a incompetência do seu adversário, o presidente Joe Biden, na política externa. A esquerda americana, por sua vez, cita a possibilidade de o mundo estar caminhando para uma 3ª Guerra para criticar as operações militares de Israel na Faixa de Gaza.

Muitos historiadores e analistas são céticos quanto ao risco de uma 3ª Guerra Mundial e tratam as menções a esse tema como um alarmismo com fins políticos. Mas o fato é que esse é um cenário que não pode ser descartado pelos estrategistas militares das principais nações interessadas. Em janeiro deste ano, por exemplo, o jornal Bild revelou que o exército da Alemanha chegou a elaborar um relatório considerando as chances de um confronto direto entre as forças da Rússia e da Otan, com o emprego de 30.000 soldados alemães.

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A escalada para um conflito de alcance regional no Oriente Médio é tão incerta quanto no caso europeu. Os argumentos para descartar essa possibilidade incluem, primeiro, a avaliação de que os governos dos países envolvidos são atores racionais que não têm interesse em um confronto aberto e direto. E, segundo, que o ataque iraniano deste fim de semana coloca o conflito em um ponto de equilíbrio em que todos ganham.

Sob essa ótica, o ataque do Irã foi só um aviso, uma demonstração da disposição dos aiatolás de reagir com força contra episódios como o bombardeio de uma representação diplomática em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária iraniana, no início de abril.

Politicamente, o Irã ganha porque mostra para sua população que não se dobrou às “provocações” israelenses. Ao mesmo tempo, calcula que a resposta de Israel será moderada, já que o sistema de defesa do país derrubou quase todos os drones e mísseis e não houve mortes. Tanto é assim que, horas após o ataque, o governo iraniano informou que a operação estava encerrada. Israel, por sua vez, avisou que a reação viria “no momento certo”.

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O governo israelense ganha em duas frentes com o ataque sofrido neste fim de semana: primeiro, porque demonstra que o Domo de Ferro, seu sistema de defesa antiaérea, consegue proteger a população desse tipo de ameaça — algo importante depois das falhas de segurança que permitiram o sangrento atentado terrorista do Hamas em outubro passado; segundo, porque volta a aglutinar o apoio dos Estados Unidos, que havia sofrido abalos recentes, e da “aliança estratégica e a cooperação regional” contra o Irã, referindo-se a países como a Jordânia e a Arábia Saudita, que mobilizaram suas forças aéreas para interceptar drones iranianos que invadissem seu espaço aéreo.

Mesmo a ideia de que a Rússia pode se ver favorecida por uma escalada no conflito no Oriente Médio é questionável. O Kremlin tem grande influência na região, especialmente no Irã e na Síria, onde mantém bases militares, mas está focado na guerra na Ucrânia, que drena seus recursos bélicos, financeiros e humanos. O Irã tornou-se um importante aliado nessa guerra, principalmente para o fornecimento de armamentos, como os drones.

Um conflito regional no Oriente Médio teria efeitos contraditórios para o ditador Vladimir Putin. Por um lado, desviaria parte da atenção e dos investimentos militares dos Estados Unidos para longe da Ucrânia. Por outro, criaria dificuldades para o próprio esforço de guerra russo.

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Tudo depende, porém, dos cálculos que estão sendo feitos em Jerusalém e em Teerã. A verdade é que nunca uma guerra aberta entre os dois países esteve tão na iminência de acontecer.

O ataque com centenas de drones e mísseis iranianos contra Israel na madrugada deste domingo, 14, no fuso horário local, colocou combustível na fogueira dos temores de que o mundo pode estar caminhando para mais um conflito global, quase 80 anos depois do fim da 2ª Guerra.

De acordo com esse cenário mais pessimista, uma guerra aberta entre Israel e Irã vai levar a um conflito regional, com envolvimento de diversas nações vizinhas, que obrigaria os Estados Unidos e as potências europeias a dar proteção aos israelenses, de um lado, e a Rússia e a China a apoiar o regime de Teerã, do outro.

Manifestantes em Terã comemora ataque a Israel. (Photo by ATTA KENARE / AFP) Foto: ATTA KENARE

A Rússia aproveitaria o caos no Oriente Médio para iniciar uma grande ofensiva na Ucrânia, provavelmente acompanhada de uma incursão na Finlândia para testar a disposição da Otan, a aliança militar do Ocidente, de reagir a um ataque contra um de seus países-membros. Diante de uma ameaça existencial, as nações europeias colocariam suas tropas em confronto direto com os russos, apesar do perigo do uso de armas nucleares por parte do Kremlin.

A existência de dois palcos de guerra em escala regional com múltiplos envolvidos, na Europa e no Oriente Médio, arrastaria as nações de outras partes do globo a se posicionar em um conflito em várias frentes, tendo como pano de fundo a disputa entre dois polos antagônicos de poder, liderados pela China e pelos Estados Unidos.

O medo de uma 3ª Guerra Mundial é alimentado pela Rússia desde o início de sua agressão contra o território ucraniano, há dois anos, como forma de dissuadir as potências de um envolvimento direto no conflito. O governo ucraniano também fala do risco de um conflito global, mas com outro objetivo, o de convencer americanos e europeus da importância de dar mais ajuda militar e financeira ao seu país justamente para evitar o transbordamento da guerra para o restante da Europa.

Nos Estados Unidos, o temor de um conflito mundial é explorado eleitoralmente por Donald Trump para demonstrar a fraqueza e a incompetência do seu adversário, o presidente Joe Biden, na política externa. A esquerda americana, por sua vez, cita a possibilidade de o mundo estar caminhando para uma 3ª Guerra para criticar as operações militares de Israel na Faixa de Gaza.

Muitos historiadores e analistas são céticos quanto ao risco de uma 3ª Guerra Mundial e tratam as menções a esse tema como um alarmismo com fins políticos. Mas o fato é que esse é um cenário que não pode ser descartado pelos estrategistas militares das principais nações interessadas. Em janeiro deste ano, por exemplo, o jornal Bild revelou que o exército da Alemanha chegou a elaborar um relatório considerando as chances de um confronto direto entre as forças da Rússia e da Otan, com o emprego de 30.000 soldados alemães.

A escalada para um conflito de alcance regional no Oriente Médio é tão incerta quanto no caso europeu. Os argumentos para descartar essa possibilidade incluem, primeiro, a avaliação de que os governos dos países envolvidos são atores racionais que não têm interesse em um confronto aberto e direto. E, segundo, que o ataque iraniano deste fim de semana coloca o conflito em um ponto de equilíbrio em que todos ganham.

Sob essa ótica, o ataque do Irã foi só um aviso, uma demonstração da disposição dos aiatolás de reagir com força contra episódios como o bombardeio de uma representação diplomática em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária iraniana, no início de abril.

Politicamente, o Irã ganha porque mostra para sua população que não se dobrou às “provocações” israelenses. Ao mesmo tempo, calcula que a resposta de Israel será moderada, já que o sistema de defesa do país derrubou quase todos os drones e mísseis e não houve mortes. Tanto é assim que, horas após o ataque, o governo iraniano informou que a operação estava encerrada. Israel, por sua vez, avisou que a reação viria “no momento certo”.

O governo israelense ganha em duas frentes com o ataque sofrido neste fim de semana: primeiro, porque demonstra que o Domo de Ferro, seu sistema de defesa antiaérea, consegue proteger a população desse tipo de ameaça — algo importante depois das falhas de segurança que permitiram o sangrento atentado terrorista do Hamas em outubro passado; segundo, porque volta a aglutinar o apoio dos Estados Unidos, que havia sofrido abalos recentes, e da “aliança estratégica e a cooperação regional” contra o Irã, referindo-se a países como a Jordânia e a Arábia Saudita, que mobilizaram suas forças aéreas para interceptar drones iranianos que invadissem seu espaço aéreo.

Mesmo a ideia de que a Rússia pode se ver favorecida por uma escalada no conflito no Oriente Médio é questionável. O Kremlin tem grande influência na região, especialmente no Irã e na Síria, onde mantém bases militares, mas está focado na guerra na Ucrânia, que drena seus recursos bélicos, financeiros e humanos. O Irã tornou-se um importante aliado nessa guerra, principalmente para o fornecimento de armamentos, como os drones.

Um conflito regional no Oriente Médio teria efeitos contraditórios para o ditador Vladimir Putin. Por um lado, desviaria parte da atenção e dos investimentos militares dos Estados Unidos para longe da Ucrânia. Por outro, criaria dificuldades para o próprio esforço de guerra russo.

Tudo depende, porém, dos cálculos que estão sendo feitos em Jerusalém e em Teerã. A verdade é que nunca uma guerra aberta entre os dois países esteve tão na iminência de acontecer.

O ataque com centenas de drones e mísseis iranianos contra Israel na madrugada deste domingo, 14, no fuso horário local, colocou combustível na fogueira dos temores de que o mundo pode estar caminhando para mais um conflito global, quase 80 anos depois do fim da 2ª Guerra.

De acordo com esse cenário mais pessimista, uma guerra aberta entre Israel e Irã vai levar a um conflito regional, com envolvimento de diversas nações vizinhas, que obrigaria os Estados Unidos e as potências europeias a dar proteção aos israelenses, de um lado, e a Rússia e a China a apoiar o regime de Teerã, do outro.

Manifestantes em Terã comemora ataque a Israel. (Photo by ATTA KENARE / AFP) Foto: ATTA KENARE

A Rússia aproveitaria o caos no Oriente Médio para iniciar uma grande ofensiva na Ucrânia, provavelmente acompanhada de uma incursão na Finlândia para testar a disposição da Otan, a aliança militar do Ocidente, de reagir a um ataque contra um de seus países-membros. Diante de uma ameaça existencial, as nações europeias colocariam suas tropas em confronto direto com os russos, apesar do perigo do uso de armas nucleares por parte do Kremlin.

A existência de dois palcos de guerra em escala regional com múltiplos envolvidos, na Europa e no Oriente Médio, arrastaria as nações de outras partes do globo a se posicionar em um conflito em várias frentes, tendo como pano de fundo a disputa entre dois polos antagônicos de poder, liderados pela China e pelos Estados Unidos.

O medo de uma 3ª Guerra Mundial é alimentado pela Rússia desde o início de sua agressão contra o território ucraniano, há dois anos, como forma de dissuadir as potências de um envolvimento direto no conflito. O governo ucraniano também fala do risco de um conflito global, mas com outro objetivo, o de convencer americanos e europeus da importância de dar mais ajuda militar e financeira ao seu país justamente para evitar o transbordamento da guerra para o restante da Europa.

Nos Estados Unidos, o temor de um conflito mundial é explorado eleitoralmente por Donald Trump para demonstrar a fraqueza e a incompetência do seu adversário, o presidente Joe Biden, na política externa. A esquerda americana, por sua vez, cita a possibilidade de o mundo estar caminhando para uma 3ª Guerra para criticar as operações militares de Israel na Faixa de Gaza.

Muitos historiadores e analistas são céticos quanto ao risco de uma 3ª Guerra Mundial e tratam as menções a esse tema como um alarmismo com fins políticos. Mas o fato é que esse é um cenário que não pode ser descartado pelos estrategistas militares das principais nações interessadas. Em janeiro deste ano, por exemplo, o jornal Bild revelou que o exército da Alemanha chegou a elaborar um relatório considerando as chances de um confronto direto entre as forças da Rússia e da Otan, com o emprego de 30.000 soldados alemães.

A escalada para um conflito de alcance regional no Oriente Médio é tão incerta quanto no caso europeu. Os argumentos para descartar essa possibilidade incluem, primeiro, a avaliação de que os governos dos países envolvidos são atores racionais que não têm interesse em um confronto aberto e direto. E, segundo, que o ataque iraniano deste fim de semana coloca o conflito em um ponto de equilíbrio em que todos ganham.

Sob essa ótica, o ataque do Irã foi só um aviso, uma demonstração da disposição dos aiatolás de reagir com força contra episódios como o bombardeio de uma representação diplomática em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária iraniana, no início de abril.

Politicamente, o Irã ganha porque mostra para sua população que não se dobrou às “provocações” israelenses. Ao mesmo tempo, calcula que a resposta de Israel será moderada, já que o sistema de defesa do país derrubou quase todos os drones e mísseis e não houve mortes. Tanto é assim que, horas após o ataque, o governo iraniano informou que a operação estava encerrada. Israel, por sua vez, avisou que a reação viria “no momento certo”.

O governo israelense ganha em duas frentes com o ataque sofrido neste fim de semana: primeiro, porque demonstra que o Domo de Ferro, seu sistema de defesa antiaérea, consegue proteger a população desse tipo de ameaça — algo importante depois das falhas de segurança que permitiram o sangrento atentado terrorista do Hamas em outubro passado; segundo, porque volta a aglutinar o apoio dos Estados Unidos, que havia sofrido abalos recentes, e da “aliança estratégica e a cooperação regional” contra o Irã, referindo-se a países como a Jordânia e a Arábia Saudita, que mobilizaram suas forças aéreas para interceptar drones iranianos que invadissem seu espaço aéreo.

Mesmo a ideia de que a Rússia pode se ver favorecida por uma escalada no conflito no Oriente Médio é questionável. O Kremlin tem grande influência na região, especialmente no Irã e na Síria, onde mantém bases militares, mas está focado na guerra na Ucrânia, que drena seus recursos bélicos, financeiros e humanos. O Irã tornou-se um importante aliado nessa guerra, principalmente para o fornecimento de armamentos, como os drones.

Um conflito regional no Oriente Médio teria efeitos contraditórios para o ditador Vladimir Putin. Por um lado, desviaria parte da atenção e dos investimentos militares dos Estados Unidos para longe da Ucrânia. Por outro, criaria dificuldades para o próprio esforço de guerra russo.

Tudo depende, porém, dos cálculos que estão sendo feitos em Jerusalém e em Teerã. A verdade é que nunca uma guerra aberta entre os dois países esteve tão na iminência de acontecer.

Opinião por Diogo Schelp

Jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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