Análises sobre o estado geral da nação

Opinião|‘Babaca de internet’: para evitar armadilha dos cortes, candidatos deixam perguntas sem resposta


A tática da esquiva, no entanto, não funcionou na maioria das vezes, o que mostra o quanto a presença de Marçal, com seu estilo de bufão dotado de metralhadora giratória, moldou os rumos do debate

Por Diogo Schelp

Durante o debate dos pré-candidatos à prefeitura de São Paulo desta quarta-feira, dia 14, Guilherme Boulos (PSOL) aproveitou um direito de resposta que lhe foi concedido para dizer que São Paulo precisava de um prefeito, não de um “babaca de internet”, referindo-se a Pablo Marçal (PRTB). Os dois adversários protagonizaram alguns dos momentos mais tensos do debate, que foi marcado por um jogo de esquivas calculado para não fornecer material para os cortes de internet, ou seja, edições em vídeos curtos que tiram as falas de contexto e servem ao propósito da lacração nas redes sociais.

A tática preferencial adotada principalmente por candidatos como Boulos, Tabata Amaral (PSB) e Ricardo Nunes (MDB) para evitar essas armadilhas era a de ignorar solenemente as perguntas sem relação com os problemas da cidade ou as acusações mais duras ou de cunho pessoal dos adversários, muitas vezes respondendo também com ataques ou direcionando o embate para outros assuntos.

Pablo Marçal de costas enquanto Tabata Amaral e Guilherme Boulos debatem Foto: Pedro Augusto Figueiredo/Estadão
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Foi assim, por exemplo, quando Boulos questionou se Nunes concordava com três frases reprováveis do ex-presidente Jair Bolsonaro, que apoia um novo mandato para o atual prefeito. Nunes negou-se a responder e disse que não era candidato a comentarista político. E trocou a prosa acusando Boulos de apoiar a ditadura venezuelana e de ter atuado para livrar o deputado André Janones (Avante-MG) de ser punido pela prática da rachadinha. Foi assim, também, quando Marçal perguntou a Tabata o que a Universidade Harvard, nos Estados Unidos, onde a candidata estudou, tinha feito para acabar com o racismo. Tabata simplesmente disse que era a vez dela de perguntar, não dele, e seguiu em frente, mudando de assunto. Em outro momento, numa das muitas vezes em que Marçal tentou arrastar Boulos para uma discussão que não lhe interessava, o psolista tergiversou e afirmou que não ganha dinheiro enganando as pessoas como faz o autodenominado coach.

A tática da esquiva, no entanto, não funcionou na maioria das vezes, o que mostra o quanto a presença de Marçal, com seu estilo de bufão dotado de metralhadora giratória, moldou os rumos do debate. Boulos acabou arrastado para a lama do embate com golpes abaixo da linha da cintura de Marçal e forneceu ao influenciador imagens valiosas para os cortes da internet, como no momento em que, já fora do púlpito, tentou arrancar uma réplica de carteira de trabalho das mãos do adversário, que levantou o livreto azul sobre a cabeça do psolista como se fosse uma bíblia para “exorcizá-lo”.

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Nunes, por sua vez, perdeu a calma que tentou manter ao longo de todo o debate e que, conforme seus estrategistas acreditam, lhe traz benefícios eleitorais, ao chamar Tabata reiteradas vezes de mentirosa, sem descer ao mérito dos questionamentos que ela havia feito, por exemplo, sobre as contratações de obras sem licitação na cidade.

Marina Helena (Novo), em sua primeira participação em um debate, foi poupada por Marçal, de quem ganhou até elogios, e tentou se firmar como uma candidata de direita mais séria do que o coach e bem menos envergonhada do que Nunes, que segue tentando ocultar seus laços com Bolsonaro. Mas foi acusada de fake news tanto por Tabata, quando afirmou que o vice-presidente Geraldo Alckmin é apoiador do grupo terrorista Hamas, quanto por Nunes, quando acusou o município de promover bloqueio hormonal de crianças trans.

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Em meio a esse furdúncio, em que apesar de tudo algumas propostas para a cidade emergiram, o ex-apresentador José Luiz Datena parecia, mais uma vez, perdido no papel de candidato. Na dúvida do que falar, sua saída era desferir ataques a Ricardo Nunes a respeito de todo e qualquer tema. Saiu-se um pouco melhor do que no debate anterior, na Band, mas segue passando a impressão de não ter um plano de governo para a cidade. Acabou sendo poupado, em grande parte, da disputa pelas melhores oportunidades para cortes de internet que marcou os embates entre os outros candidatos.

Durante o debate dos pré-candidatos à prefeitura de São Paulo desta quarta-feira, dia 14, Guilherme Boulos (PSOL) aproveitou um direito de resposta que lhe foi concedido para dizer que São Paulo precisava de um prefeito, não de um “babaca de internet”, referindo-se a Pablo Marçal (PRTB). Os dois adversários protagonizaram alguns dos momentos mais tensos do debate, que foi marcado por um jogo de esquivas calculado para não fornecer material para os cortes de internet, ou seja, edições em vídeos curtos que tiram as falas de contexto e servem ao propósito da lacração nas redes sociais.

A tática preferencial adotada principalmente por candidatos como Boulos, Tabata Amaral (PSB) e Ricardo Nunes (MDB) para evitar essas armadilhas era a de ignorar solenemente as perguntas sem relação com os problemas da cidade ou as acusações mais duras ou de cunho pessoal dos adversários, muitas vezes respondendo também com ataques ou direcionando o embate para outros assuntos.

Pablo Marçal de costas enquanto Tabata Amaral e Guilherme Boulos debatem Foto: Pedro Augusto Figueiredo/Estadão

Foi assim, por exemplo, quando Boulos questionou se Nunes concordava com três frases reprováveis do ex-presidente Jair Bolsonaro, que apoia um novo mandato para o atual prefeito. Nunes negou-se a responder e disse que não era candidato a comentarista político. E trocou a prosa acusando Boulos de apoiar a ditadura venezuelana e de ter atuado para livrar o deputado André Janones (Avante-MG) de ser punido pela prática da rachadinha. Foi assim, também, quando Marçal perguntou a Tabata o que a Universidade Harvard, nos Estados Unidos, onde a candidata estudou, tinha feito para acabar com o racismo. Tabata simplesmente disse que era a vez dela de perguntar, não dele, e seguiu em frente, mudando de assunto. Em outro momento, numa das muitas vezes em que Marçal tentou arrastar Boulos para uma discussão que não lhe interessava, o psolista tergiversou e afirmou que não ganha dinheiro enganando as pessoas como faz o autodenominado coach.

A tática da esquiva, no entanto, não funcionou na maioria das vezes, o que mostra o quanto a presença de Marçal, com seu estilo de bufão dotado de metralhadora giratória, moldou os rumos do debate. Boulos acabou arrastado para a lama do embate com golpes abaixo da linha da cintura de Marçal e forneceu ao influenciador imagens valiosas para os cortes da internet, como no momento em que, já fora do púlpito, tentou arrancar uma réplica de carteira de trabalho das mãos do adversário, que levantou o livreto azul sobre a cabeça do psolista como se fosse uma bíblia para “exorcizá-lo”.

Nunes, por sua vez, perdeu a calma que tentou manter ao longo de todo o debate e que, conforme seus estrategistas acreditam, lhe traz benefícios eleitorais, ao chamar Tabata reiteradas vezes de mentirosa, sem descer ao mérito dos questionamentos que ela havia feito, por exemplo, sobre as contratações de obras sem licitação na cidade.

Marina Helena (Novo), em sua primeira participação em um debate, foi poupada por Marçal, de quem ganhou até elogios, e tentou se firmar como uma candidata de direita mais séria do que o coach e bem menos envergonhada do que Nunes, que segue tentando ocultar seus laços com Bolsonaro. Mas foi acusada de fake news tanto por Tabata, quando afirmou que o vice-presidente Geraldo Alckmin é apoiador do grupo terrorista Hamas, quanto por Nunes, quando acusou o município de promover bloqueio hormonal de crianças trans.

Em meio a esse furdúncio, em que apesar de tudo algumas propostas para a cidade emergiram, o ex-apresentador José Luiz Datena parecia, mais uma vez, perdido no papel de candidato. Na dúvida do que falar, sua saída era desferir ataques a Ricardo Nunes a respeito de todo e qualquer tema. Saiu-se um pouco melhor do que no debate anterior, na Band, mas segue passando a impressão de não ter um plano de governo para a cidade. Acabou sendo poupado, em grande parte, da disputa pelas melhores oportunidades para cortes de internet que marcou os embates entre os outros candidatos.

Durante o debate dos pré-candidatos à prefeitura de São Paulo desta quarta-feira, dia 14, Guilherme Boulos (PSOL) aproveitou um direito de resposta que lhe foi concedido para dizer que São Paulo precisava de um prefeito, não de um “babaca de internet”, referindo-se a Pablo Marçal (PRTB). Os dois adversários protagonizaram alguns dos momentos mais tensos do debate, que foi marcado por um jogo de esquivas calculado para não fornecer material para os cortes de internet, ou seja, edições em vídeos curtos que tiram as falas de contexto e servem ao propósito da lacração nas redes sociais.

A tática preferencial adotada principalmente por candidatos como Boulos, Tabata Amaral (PSB) e Ricardo Nunes (MDB) para evitar essas armadilhas era a de ignorar solenemente as perguntas sem relação com os problemas da cidade ou as acusações mais duras ou de cunho pessoal dos adversários, muitas vezes respondendo também com ataques ou direcionando o embate para outros assuntos.

Pablo Marçal de costas enquanto Tabata Amaral e Guilherme Boulos debatem Foto: Pedro Augusto Figueiredo/Estadão

Foi assim, por exemplo, quando Boulos questionou se Nunes concordava com três frases reprováveis do ex-presidente Jair Bolsonaro, que apoia um novo mandato para o atual prefeito. Nunes negou-se a responder e disse que não era candidato a comentarista político. E trocou a prosa acusando Boulos de apoiar a ditadura venezuelana e de ter atuado para livrar o deputado André Janones (Avante-MG) de ser punido pela prática da rachadinha. Foi assim, também, quando Marçal perguntou a Tabata o que a Universidade Harvard, nos Estados Unidos, onde a candidata estudou, tinha feito para acabar com o racismo. Tabata simplesmente disse que era a vez dela de perguntar, não dele, e seguiu em frente, mudando de assunto. Em outro momento, numa das muitas vezes em que Marçal tentou arrastar Boulos para uma discussão que não lhe interessava, o psolista tergiversou e afirmou que não ganha dinheiro enganando as pessoas como faz o autodenominado coach.

A tática da esquiva, no entanto, não funcionou na maioria das vezes, o que mostra o quanto a presença de Marçal, com seu estilo de bufão dotado de metralhadora giratória, moldou os rumos do debate. Boulos acabou arrastado para a lama do embate com golpes abaixo da linha da cintura de Marçal e forneceu ao influenciador imagens valiosas para os cortes da internet, como no momento em que, já fora do púlpito, tentou arrancar uma réplica de carteira de trabalho das mãos do adversário, que levantou o livreto azul sobre a cabeça do psolista como se fosse uma bíblia para “exorcizá-lo”.

Nunes, por sua vez, perdeu a calma que tentou manter ao longo de todo o debate e que, conforme seus estrategistas acreditam, lhe traz benefícios eleitorais, ao chamar Tabata reiteradas vezes de mentirosa, sem descer ao mérito dos questionamentos que ela havia feito, por exemplo, sobre as contratações de obras sem licitação na cidade.

Marina Helena (Novo), em sua primeira participação em um debate, foi poupada por Marçal, de quem ganhou até elogios, e tentou se firmar como uma candidata de direita mais séria do que o coach e bem menos envergonhada do que Nunes, que segue tentando ocultar seus laços com Bolsonaro. Mas foi acusada de fake news tanto por Tabata, quando afirmou que o vice-presidente Geraldo Alckmin é apoiador do grupo terrorista Hamas, quanto por Nunes, quando acusou o município de promover bloqueio hormonal de crianças trans.

Em meio a esse furdúncio, em que apesar de tudo algumas propostas para a cidade emergiram, o ex-apresentador José Luiz Datena parecia, mais uma vez, perdido no papel de candidato. Na dúvida do que falar, sua saída era desferir ataques a Ricardo Nunes a respeito de todo e qualquer tema. Saiu-se um pouco melhor do que no debate anterior, na Band, mas segue passando a impressão de não ter um plano de governo para a cidade. Acabou sendo poupado, em grande parte, da disputa pelas melhores oportunidades para cortes de internet que marcou os embates entre os outros candidatos.

Opinião por Diogo Schelp

Jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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