Conta-se que Lorde Palmerston, primeiro-ministro britânico em meados do século XIX, vislumbrou o “fim da diplomacia” quando inventaram o telégrafo. Ele temia que a nova tecnologia pudesse levar a interpretações equivocadas nas comunicações entre autoridades estrangeiras e a decisões políticas apressadas.
Com a internet e as redes sociais, esses temores se tornaram mais palpáveis. A diplomacia precisa de clareza para a compreensão dos interesses envolvidos e de tempo para as idas e vindas do diálogo entre as partes. Precisa, também, assimilar os acontecimentos e dar uma resposta bem calibrada ao público, sob pena de agravar conflitos.
Um posicionamento movido pelo calor do momento pode ser desastroso. Foi o que ocorreu em 2012, quando o governo dos Estados Unidos embarcou em uma fake news divulgada por radicais islâmicos que levou uma multidão a invadir a sua embaixada no Cairo, no Egito. Os diplomatas americanos publicaram uma nota no Twitter classificando como “abuso da liberdade de expressão” o trailer de um filme de Hollywood ofensivo a Maomé (descobriu-se depois que a tal produção não existia). Com isso, endossaram uma mentira e atiçaram ainda mais os protestos, que se alastraram e resultaram no assassinato do embaixador americano na Líbia.
Desde então, os países vêm aperfeiçoando a prática da diplomacia em tempo real: a capacidade de se posicionar com rapidez em momentos de crise para acalmar os ânimos e não deixar que os adversários dominem o discurso público, enquanto nos bastidores os diplomatas articulam soluções.
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A polêmica em torno da explosão no hospital Ahli Arab na última terça-feira, 17, que os palestinos atribuem a Israel e vice-versa, é um exemplo de como diplomatas precisam atuar em um contexto de versões conflitantes e evidências adulteradas de ambos os lados nas redes sociais. Falhar nessa resposta pode ser o que separa uma situação já trágica em Israel e na Faixa de Gaza de um alastramento calamitoso do conflito para o restante da região.
Na Guerra da Ucrânia, a estratégia da diplomacia ocidental tem sido a de se posicionar com cautela em momentos críticos (por exemplo, quando a Rússia foi acusada de atacar o território polonês) para ganhar tempo — o precioso tempo diplomático — e colher informações mais confiáveis. O desafio vai ser fazer o mesmo na atual guerra entre Israel e Hamas.