O presidente Lula e o ditador Nicolás Maduro, da Venezuela, encontraram-se na sexta, 1º, em São Vicente e Granadinas para falar sobre as eleições presidenciais prometidas por Caracas para o segundo semestre. Segundo o Palácio do Planalto, os dois não trataram da disputa gestada pelo governo venezuelano em torno da região de Essequibo, território da vizinha Guiana. Maduro disse a Lula que fez um acordo com a oposição venezuelana e que permitirá a presença de observadores internacionais para atestar a lisura da votação.
Os acontecimentos recentes desmentem Maduro e preparam o terreno para a diplomacia lulista, que se pretende fiadora do pleito venezuelano, passar vergonha em escala continental. O único acordo firmado nos últimos dias na Venezuela a respeito das eleições contou com a anuência apenas de partidos alinhados ao chavismo ou sem qualquer relevância política. A verdadeira oposição, aquela com reais chances de derrotar Maduro nas urnas, ficou de fora.
O regime venezuelano aumentou a repressão à oposição nos últimos meses. María Corina Machado, a principal pré-candidata da oposição, com 55% das intenções de voto, foi declarada inelegível por uma Suprema Corte subordinada a Maduro. Outros líderes opositores também foram retirados do páreo. Alguns tiveram até a prisão decretada com base em obscuras acusações de traição à pátria.
O regime chavista, em sua campanha para calar vozes críticas, foi ao encalço até mesmo de funcionários da ONU que se dedicavam a expor a miséria da população e as violações dos direitos humanos no País. Quando questionado especificamente sobre esse episódio, em meados de fevereiro, Lula disse não ter “informações a respeito”. Esse é o comportamento padrão do presidente brasileiro em assuntos internacionais: não perde uma chance de colocar sobre a mesa a sua bússola moral quando se trata de ditar os rumos para alguns países, como é o caso de Israel, mas para outros a esconde ou alega não estar sabendo de nada.
Havia bons argumentos para a retomada das relações diplomáticas com a Venezuela depois dos anos de afastamento no governo de Michel Temer e de ruptura durante o mandato de Jair Bolsonaro. Um deles era o de que o isolamento não ajudava a pressionar Maduro a percorrer o caminho da redemocratização. Restabelecer o diálogo com Caracas era a melhor forma de o Brasil contribuir para a abertura política no País.
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Mas esse não era o verdadeiro interesse da diplomacia lulista, mais preocupada em agradar sua militância petista, que morre de amores pelo chavismo, e em reeditar os tempos áureos das relações comerciais com a Venezuela, quando o País chegou a ser o nono maior comprador dos nossos produtos e serviços.
A alegria dos admiradores brasileiros do regime chavista está garantida quando Lula diz que “a Venezuela tem mais eleições do que o Brasil” ou que as críticas a Maduro não passam de “narrativas”. O objetivo de recuperar os negócios com a Venezuela, porém, é mais complicado. No ano passado, o primeiro de relações diplomáticas reatadas entre Brasília e Caracas, as exportações brasileiras para a Venezuela caíram 13% em comparação com 2022, o último ano do governo Bolsonaro.
Restaurar o potencial comercial entre os dois países depende da retirada total das sanções econômicas dos Estados Unidos contra a Venezuela, de forma a ampliar as divisas do País.
Mas isso só vai acontecer se Maduro realizar eleições limpas — o que é impossível se não houver condições justas para a oposição enfrentá-lo nas urnas. Lula parece disposto a aceitar um processo eleitoral meia-boca, que tenha um verniz mínimo de legitimidade. Qualquer coisa que possa ser aceita pelos Estados Unidos como suficiente para retirar as sanções. Mesmo nessas condições, a vergonha diplomática que Lula vai passar é inescapável.