Análises sobre o estado geral da nação

Opinião|Em 2025, adote os 10 passos da moderação política para encarar amigos e parentes extremistas


O cientista político romeno Aurelian Crăiuțu, da Universidade de Indiana, nos EUA, um dos raros estudiosos da moderação política, sugere uma lista de dez regras para moderados não conformistas; podemos adaptá-las em passos para promover a moderação política no Brasil em 2025

Por Diogo Schelp

O porre da polarização extrema de 2022 foi além das festas de fim de ano e avançou 2023 adentro, culminando nos atos do 8 de Janeiro, que quase colocaram o país em coma político. A ressaca que se seguiu foi duradoura. Parecia que os brasileiros iam optar de vez pela abstinência dos radicalismos. Só de sentir o cheiro de acusações mútuas como “comunista” ou “fascista” ou da menção dos nomes de Lula ou Bolsonaro em contextos alheios a conversas sobre política já causava um certo enjoo. O país estava cansado até de ouvir falar em polarização.

Rivais no plano nacional, os partidos de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) aumentaram o número de filiados antes das eleições municipais de 2024. Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas 2024 tinha outros planos. A violência política e o discurso maniqueísta reapareceram na eleição municipal, com direito a cadeiradas e troca de sopapos diante das câmeras. A disputa de mais baixo nível das últimas décadas não rendeu vitórias aos radicais em todos os lugares (sem se esquecer daqueles que conquistaram cadeiras de vereadores), mas deixou sua marca. Em outra frente, os sentimentos que intoxicaram as mentes dos que participaram da quebradeira de 8 de janeiro voltaram a aflorar pouco a pouco, abastecidos pelas fake news de sempre e por arbitrariedades judiciais cometidas em nome do nobre fim de combatê-los. Seria a falsa percepção de ditadura do STF e do TSE que justificou as conspirações golpistas dos derrotados na eleição de 2022 uma profecia autorrealizável prestes a derrubar nossa jovem democracia?

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Bandeiras do Brasil em janelas viraram símbolo de apoio a Jair Bolsonaro Foto: Tiago Queiroz

O temor de que os extremismos sigam ditando o tom da política nacional em 2025, ainda mais sendo um ano pré-eleitoral, tem sua razão de ser. O antídoto para isso é a moderação política, que não deve se confundir com ficar em cima do muro ou com deixar de defender aquilo em que se acredita. Adotar uma postura de moderação política, ao contrário do que dizem seus detratores, exige mais coragem do que abraçar confortavelmente um dos extremos. É preciso pensar mais e desafiar mais as próprias certezas. Existem alguns princípios que a leitora e o leitor que se consideram moderados certamente consideram inegociáveis. Os direitos fundamentais garantidos pela Constituição e os direitos humanos, o pluralismo político e o respeito à regra da alternância de poder via eleições são alguns exemplos. Quase todo o resto pode ser objeto de discussão, de concessões e de compromissos.

Bandeira de apoio a Lula em janela de apartamento de São Paulo Foto: Tiago Queiroz
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O cientista político romeno Aurelian Crăiuțu, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, um dos raros estudiosos da moderação política, sugere uma lista de dez regras para moderados não conformistas, que não aceitam se recolher à proteção da neutralidade e da complacência e que gostariam de enfrentar com sucesso os radicalismos do mundo ao redor. Podemos adaptar esse decálogo como uma sequência de passos para promover a moderação política no Brasil em 2025.

Primeiro passo: considere a moderação como uma virtude com múltiplas facetas, em que os limites do que é aceitável definido por um, com base na sua capacidade de discernimento, não são os mesmos de outros.

Segundo: reconheça as dimensões institucionais da moderação, que incluem valores como separação de poderes, pesos e contrapesos, federalismo, devido processo legal, etc.

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Terceiro: não confunda moderação com indecisão, fraqueza ou apatia. É sempre mais árduo pesar os prós e contras e avaliar a multiplicidade de informações antes de se chegar a uma conclusão, mas uma vez que se chegou lá, seja firme nos compromissos e das decisões.

Quarto: pense de forma política, não ideológica. Isso significa ser pragmático e pensar de forma independente, sem se prender a visões de mundo herméticas que só são capazes de analisar o mundo sob uma única ótica.

Quinto: invista no diálogo com seus oponentes, mesmo que isso seja por vezes desconfortável. Não permita que a discordância se transforme em aversão absoluta a quem pensa diferente, a ponto de não se permitir reconhecer suas eventuais virtudes.

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Sexto: saia da sua bolha política. Tente acompanhar com regularidade diferentes fontes de jornalismo profissional e use essa variedade de abordagens sobre os fatos para formar sua opinião. Nas redes sociais, siga jornalistas, influenciadores e figuras públicas com os quais não concorda, mas nos quais reconhece o traço da moderação e a abertura ao diálogo.

Sétimo: não se ofenda com muita facilidade. Muitas das ideias que outras pessoas dizem a você não foram criadas por elas, mas absorvidas de outras fontes. Convide-as a pensar de onde essas opiniões vieram e qual o seu impacto sobre outras pessoas. Faça o mesmo com as próprias convicções.

Oitavo: reconheça que o partidarismo nem sempre é algo ruim, pois há espaço para atitudes moderadas dentro dele.

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Nono: seja humilde e pratique a arte da dúvida. A dose certa de flexibilidade nas discussões dá aos moderados um grande trunfo, que é o de não ser inteiramente previsível.

Décimo e último passo: não desista de defender o que é o certo e não se cale para injustiças, mas faça isso sem violência e pensando que do outro lado há alguém a ser convencido, não destruído.

Nas festas de fim de ano e no engajamento político, moderação é o que evita as piores ressacas. Que 2025 seja um ano de paz.

O porre da polarização extrema de 2022 foi além das festas de fim de ano e avançou 2023 adentro, culminando nos atos do 8 de Janeiro, que quase colocaram o país em coma político. A ressaca que se seguiu foi duradoura. Parecia que os brasileiros iam optar de vez pela abstinência dos radicalismos. Só de sentir o cheiro de acusações mútuas como “comunista” ou “fascista” ou da menção dos nomes de Lula ou Bolsonaro em contextos alheios a conversas sobre política já causava um certo enjoo. O país estava cansado até de ouvir falar em polarização.

Rivais no plano nacional, os partidos de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) aumentaram o número de filiados antes das eleições municipais de 2024. Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas 2024 tinha outros planos. A violência política e o discurso maniqueísta reapareceram na eleição municipal, com direito a cadeiradas e troca de sopapos diante das câmeras. A disputa de mais baixo nível das últimas décadas não rendeu vitórias aos radicais em todos os lugares (sem se esquecer daqueles que conquistaram cadeiras de vereadores), mas deixou sua marca. Em outra frente, os sentimentos que intoxicaram as mentes dos que participaram da quebradeira de 8 de janeiro voltaram a aflorar pouco a pouco, abastecidos pelas fake news de sempre e por arbitrariedades judiciais cometidas em nome do nobre fim de combatê-los. Seria a falsa percepção de ditadura do STF e do TSE que justificou as conspirações golpistas dos derrotados na eleição de 2022 uma profecia autorrealizável prestes a derrubar nossa jovem democracia?

Bandeiras do Brasil em janelas viraram símbolo de apoio a Jair Bolsonaro Foto: Tiago Queiroz

O temor de que os extremismos sigam ditando o tom da política nacional em 2025, ainda mais sendo um ano pré-eleitoral, tem sua razão de ser. O antídoto para isso é a moderação política, que não deve se confundir com ficar em cima do muro ou com deixar de defender aquilo em que se acredita. Adotar uma postura de moderação política, ao contrário do que dizem seus detratores, exige mais coragem do que abraçar confortavelmente um dos extremos. É preciso pensar mais e desafiar mais as próprias certezas. Existem alguns princípios que a leitora e o leitor que se consideram moderados certamente consideram inegociáveis. Os direitos fundamentais garantidos pela Constituição e os direitos humanos, o pluralismo político e o respeito à regra da alternância de poder via eleições são alguns exemplos. Quase todo o resto pode ser objeto de discussão, de concessões e de compromissos.

Bandeira de apoio a Lula em janela de apartamento de São Paulo Foto: Tiago Queiroz

O cientista político romeno Aurelian Crăiuțu, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, um dos raros estudiosos da moderação política, sugere uma lista de dez regras para moderados não conformistas, que não aceitam se recolher à proteção da neutralidade e da complacência e que gostariam de enfrentar com sucesso os radicalismos do mundo ao redor. Podemos adaptar esse decálogo como uma sequência de passos para promover a moderação política no Brasil em 2025.

Primeiro passo: considere a moderação como uma virtude com múltiplas facetas, em que os limites do que é aceitável definido por um, com base na sua capacidade de discernimento, não são os mesmos de outros.

Segundo: reconheça as dimensões institucionais da moderação, que incluem valores como separação de poderes, pesos e contrapesos, federalismo, devido processo legal, etc.

Terceiro: não confunda moderação com indecisão, fraqueza ou apatia. É sempre mais árduo pesar os prós e contras e avaliar a multiplicidade de informações antes de se chegar a uma conclusão, mas uma vez que se chegou lá, seja firme nos compromissos e das decisões.

Quarto: pense de forma política, não ideológica. Isso significa ser pragmático e pensar de forma independente, sem se prender a visões de mundo herméticas que só são capazes de analisar o mundo sob uma única ótica.

Quinto: invista no diálogo com seus oponentes, mesmo que isso seja por vezes desconfortável. Não permita que a discordância se transforme em aversão absoluta a quem pensa diferente, a ponto de não se permitir reconhecer suas eventuais virtudes.

Sexto: saia da sua bolha política. Tente acompanhar com regularidade diferentes fontes de jornalismo profissional e use essa variedade de abordagens sobre os fatos para formar sua opinião. Nas redes sociais, siga jornalistas, influenciadores e figuras públicas com os quais não concorda, mas nos quais reconhece o traço da moderação e a abertura ao diálogo.

Sétimo: não se ofenda com muita facilidade. Muitas das ideias que outras pessoas dizem a você não foram criadas por elas, mas absorvidas de outras fontes. Convide-as a pensar de onde essas opiniões vieram e qual o seu impacto sobre outras pessoas. Faça o mesmo com as próprias convicções.

Oitavo: reconheça que o partidarismo nem sempre é algo ruim, pois há espaço para atitudes moderadas dentro dele.

Nono: seja humilde e pratique a arte da dúvida. A dose certa de flexibilidade nas discussões dá aos moderados um grande trunfo, que é o de não ser inteiramente previsível.

Décimo e último passo: não desista de defender o que é o certo e não se cale para injustiças, mas faça isso sem violência e pensando que do outro lado há alguém a ser convencido, não destruído.

Nas festas de fim de ano e no engajamento político, moderação é o que evita as piores ressacas. Que 2025 seja um ano de paz.

O porre da polarização extrema de 2022 foi além das festas de fim de ano e avançou 2023 adentro, culminando nos atos do 8 de Janeiro, que quase colocaram o país em coma político. A ressaca que se seguiu foi duradoura. Parecia que os brasileiros iam optar de vez pela abstinência dos radicalismos. Só de sentir o cheiro de acusações mútuas como “comunista” ou “fascista” ou da menção dos nomes de Lula ou Bolsonaro em contextos alheios a conversas sobre política já causava um certo enjoo. O país estava cansado até de ouvir falar em polarização.

Rivais no plano nacional, os partidos de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) aumentaram o número de filiados antes das eleições municipais de 2024. Foto: Wilton Junior/Estadão

Mas 2024 tinha outros planos. A violência política e o discurso maniqueísta reapareceram na eleição municipal, com direito a cadeiradas e troca de sopapos diante das câmeras. A disputa de mais baixo nível das últimas décadas não rendeu vitórias aos radicais em todos os lugares (sem se esquecer daqueles que conquistaram cadeiras de vereadores), mas deixou sua marca. Em outra frente, os sentimentos que intoxicaram as mentes dos que participaram da quebradeira de 8 de janeiro voltaram a aflorar pouco a pouco, abastecidos pelas fake news de sempre e por arbitrariedades judiciais cometidas em nome do nobre fim de combatê-los. Seria a falsa percepção de ditadura do STF e do TSE que justificou as conspirações golpistas dos derrotados na eleição de 2022 uma profecia autorrealizável prestes a derrubar nossa jovem democracia?

Bandeiras do Brasil em janelas viraram símbolo de apoio a Jair Bolsonaro Foto: Tiago Queiroz

O temor de que os extremismos sigam ditando o tom da política nacional em 2025, ainda mais sendo um ano pré-eleitoral, tem sua razão de ser. O antídoto para isso é a moderação política, que não deve se confundir com ficar em cima do muro ou com deixar de defender aquilo em que se acredita. Adotar uma postura de moderação política, ao contrário do que dizem seus detratores, exige mais coragem do que abraçar confortavelmente um dos extremos. É preciso pensar mais e desafiar mais as próprias certezas. Existem alguns princípios que a leitora e o leitor que se consideram moderados certamente consideram inegociáveis. Os direitos fundamentais garantidos pela Constituição e os direitos humanos, o pluralismo político e o respeito à regra da alternância de poder via eleições são alguns exemplos. Quase todo o resto pode ser objeto de discussão, de concessões e de compromissos.

Bandeira de apoio a Lula em janela de apartamento de São Paulo Foto: Tiago Queiroz

O cientista político romeno Aurelian Crăiuțu, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, um dos raros estudiosos da moderação política, sugere uma lista de dez regras para moderados não conformistas, que não aceitam se recolher à proteção da neutralidade e da complacência e que gostariam de enfrentar com sucesso os radicalismos do mundo ao redor. Podemos adaptar esse decálogo como uma sequência de passos para promover a moderação política no Brasil em 2025.

Primeiro passo: considere a moderação como uma virtude com múltiplas facetas, em que os limites do que é aceitável definido por um, com base na sua capacidade de discernimento, não são os mesmos de outros.

Segundo: reconheça as dimensões institucionais da moderação, que incluem valores como separação de poderes, pesos e contrapesos, federalismo, devido processo legal, etc.

Terceiro: não confunda moderação com indecisão, fraqueza ou apatia. É sempre mais árduo pesar os prós e contras e avaliar a multiplicidade de informações antes de se chegar a uma conclusão, mas uma vez que se chegou lá, seja firme nos compromissos e das decisões.

Quarto: pense de forma política, não ideológica. Isso significa ser pragmático e pensar de forma independente, sem se prender a visões de mundo herméticas que só são capazes de analisar o mundo sob uma única ótica.

Quinto: invista no diálogo com seus oponentes, mesmo que isso seja por vezes desconfortável. Não permita que a discordância se transforme em aversão absoluta a quem pensa diferente, a ponto de não se permitir reconhecer suas eventuais virtudes.

Sexto: saia da sua bolha política. Tente acompanhar com regularidade diferentes fontes de jornalismo profissional e use essa variedade de abordagens sobre os fatos para formar sua opinião. Nas redes sociais, siga jornalistas, influenciadores e figuras públicas com os quais não concorda, mas nos quais reconhece o traço da moderação e a abertura ao diálogo.

Sétimo: não se ofenda com muita facilidade. Muitas das ideias que outras pessoas dizem a você não foram criadas por elas, mas absorvidas de outras fontes. Convide-as a pensar de onde essas opiniões vieram e qual o seu impacto sobre outras pessoas. Faça o mesmo com as próprias convicções.

Oitavo: reconheça que o partidarismo nem sempre é algo ruim, pois há espaço para atitudes moderadas dentro dele.

Nono: seja humilde e pratique a arte da dúvida. A dose certa de flexibilidade nas discussões dá aos moderados um grande trunfo, que é o de não ser inteiramente previsível.

Décimo e último passo: não desista de defender o que é o certo e não se cale para injustiças, mas faça isso sem violência e pensando que do outro lado há alguém a ser convencido, não destruído.

Nas festas de fim de ano e no engajamento político, moderação é o que evita as piores ressacas. Que 2025 seja um ano de paz.

Opinião por Diogo Schelp

Jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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