Análises sobre o estado geral da nação

Opinião|Em comparação com Holocausto, Lula acredita no que fala e joga para sua galera


Quando fala de improviso, presidente expõe o que realmente pensa de Israel e do conflito, demonstrando um enorme desconhecimento de história e uma maneira enviesada de ver os fatos atuais

Por Diogo Schelp

Não há interdição ao debate sobre se o que está acontecendo na Faixa de Gaza é ou não um genocídio do povo palestino perpetrado pelo governo extremista de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. Há gente séria, especialista no assunto, se fazendo essa pergunta ou, mais importante ainda, alertando para a possibilidade de que as ações das forças israelenses, com abusos já registrados e documentados contra a população civil, resultem em genocídio, o pai de todos os crimes.

É possível reconhecer o direito de Israel de se defender contra um grande ataque terrorista em seu território, combatendo o grupo palestino que o executou, e ao mesmo tempo pressionar Netanyahu para que exerça a contenção na resposta militar, de forma a preservar os inocentes e evitar uma catástrofe humanitária.

Não é o que faz Lula. O presidente brasileiro, quando lê os discursos escritos por sua chancelaria, expõe uma posição crítica razoavelmente equilibrada às ações de Israel em Gaza – e, portanto, com maior chance de se somar ao coro internacional que clama por comedimento e diálogo. Mas quando fala de improviso, Lula expõe o que realmente pensa de Israel e do conflito, demonstrando um enorme desconhecimento de história e uma maneira enviesada de ver os fatos atuais.

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Lula durante coletiva de imprensa em Adis Abeba, na Etiópia Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em entrevista na Etiópia, depois de se encontrar com o primeiro-ministro Mohammad Shtayyeh, da Autoridade Palestina, Lula deixou de lado o roteiro escrito e soltou este disparate: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.

Não há equivalência possível entre o extermínio de judeus pelos nazistas e a guerra na Faixa de Gaza. O racismo e o ódio aos judeus estava no cerne da ideologia nazista, que aplicou métodos industriais para exterminá-los. Os nazistas tinham tanta pressa em eliminar o povo judeu, que fuzilá-los deixou de ser eficaz. Eles passaram a ser assassinados em massa em câmaras de gás. Para se ter uma ideia do tanto que se matou em pouquíssimo tempo, no campo de concentração de Treblinka, na Polônia ocupada, durante um único ano de funcionamento, apenas 150 guardas comandaram o extermínio de 800.000 judeus. No total, 6 milhões de pessoas foram exterminadas no Holocausto.

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Ao contrário do que disse Lula, já ocorreram outros genocídios na história mundial. O Holocausto não foi o único, apesar de ter tido características únicas, como mencionado acima. Houve, por exemplo, o genocídio armênio, que se iniciou durante a Primeira Guerra Mundial, antes portanto do Holocausto cometido pelos nazistas. O Brasil é um dos países que reconhecem o genocídio armênio. Há também quem considere que a grande fome na Ucrânia promovida pela União Soviética nos tempos de Stalin foi um genocídio. Mais recentemente, houve o genocídio em Darfur, no Sudão. E muitos outros.

Em 2009, durante uma cúpula de países árabes e sul-americanos em Doha, no Qatar, Lula, então em seu segundo mandato presidencial, foi colocado ao lado de Omar Al-Bashir, ditador do Sudão, na mesa de almoço. Al-Bashir tinha acabado de ser indiciado pelo Tribunal Penal Internacional. Quando o sudanês chegou, Lula cumprimentou-o e foi embora. Não ficou para o almoço, comeu só a entrada. Mesmo assim, não deixou de cumprimentar o genocida antes de deixar a mesa.

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Os países árabes queriam que o Brasil se unisse a eles em repúdio ao indiciamento de Al-Bashir. Lula assumiu uma posição dúbia. Não se posicionou contra nem a favor do indiciamento de Al-Bashir, pois queria o apoio dos países árabes para conseguir uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU. A indignação de Lula com criminosos de guerra ou genocidas, como se vê, é seletiva.

Israel é um alvo propício para Lula porque é também um alvo preferencial da militância mais radical de esquerda no Brasil. Lula fez isso em seus dois primeiros mandatos e parece querer repetir agora: para compensar toda a pauta progressista que não aplica na política interna, adota um discurso e uma postura de alinhamento com a agenda partidária externa. Antes, eram as amizades com as ditaduras de esquerda da América Latina e o gasto discurso antiamericano; agora, o posicionamento contra o estado de Israel.

Para Netanyahu, à parte a justa indignação que a declaração gerou na sociedade israelense, Lula deu um presente: uma boa justificativa para apresentar as críticas da comunidade internacional às suas ações em Gaza como uma infame expressão do antissemitismo. No caso de Lula, talvez tenha razão.

Não há interdição ao debate sobre se o que está acontecendo na Faixa de Gaza é ou não um genocídio do povo palestino perpetrado pelo governo extremista de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. Há gente séria, especialista no assunto, se fazendo essa pergunta ou, mais importante ainda, alertando para a possibilidade de que as ações das forças israelenses, com abusos já registrados e documentados contra a população civil, resultem em genocídio, o pai de todos os crimes.

É possível reconhecer o direito de Israel de se defender contra um grande ataque terrorista em seu território, combatendo o grupo palestino que o executou, e ao mesmo tempo pressionar Netanyahu para que exerça a contenção na resposta militar, de forma a preservar os inocentes e evitar uma catástrofe humanitária.

Não é o que faz Lula. O presidente brasileiro, quando lê os discursos escritos por sua chancelaria, expõe uma posição crítica razoavelmente equilibrada às ações de Israel em Gaza – e, portanto, com maior chance de se somar ao coro internacional que clama por comedimento e diálogo. Mas quando fala de improviso, Lula expõe o que realmente pensa de Israel e do conflito, demonstrando um enorme desconhecimento de história e uma maneira enviesada de ver os fatos atuais.

Lula durante coletiva de imprensa em Adis Abeba, na Etiópia Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em entrevista na Etiópia, depois de se encontrar com o primeiro-ministro Mohammad Shtayyeh, da Autoridade Palestina, Lula deixou de lado o roteiro escrito e soltou este disparate: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.

Não há equivalência possível entre o extermínio de judeus pelos nazistas e a guerra na Faixa de Gaza. O racismo e o ódio aos judeus estava no cerne da ideologia nazista, que aplicou métodos industriais para exterminá-los. Os nazistas tinham tanta pressa em eliminar o povo judeu, que fuzilá-los deixou de ser eficaz. Eles passaram a ser assassinados em massa em câmaras de gás. Para se ter uma ideia do tanto que se matou em pouquíssimo tempo, no campo de concentração de Treblinka, na Polônia ocupada, durante um único ano de funcionamento, apenas 150 guardas comandaram o extermínio de 800.000 judeus. No total, 6 milhões de pessoas foram exterminadas no Holocausto.

Ao contrário do que disse Lula, já ocorreram outros genocídios na história mundial. O Holocausto não foi o único, apesar de ter tido características únicas, como mencionado acima. Houve, por exemplo, o genocídio armênio, que se iniciou durante a Primeira Guerra Mundial, antes portanto do Holocausto cometido pelos nazistas. O Brasil é um dos países que reconhecem o genocídio armênio. Há também quem considere que a grande fome na Ucrânia promovida pela União Soviética nos tempos de Stalin foi um genocídio. Mais recentemente, houve o genocídio em Darfur, no Sudão. E muitos outros.

Em 2009, durante uma cúpula de países árabes e sul-americanos em Doha, no Qatar, Lula, então em seu segundo mandato presidencial, foi colocado ao lado de Omar Al-Bashir, ditador do Sudão, na mesa de almoço. Al-Bashir tinha acabado de ser indiciado pelo Tribunal Penal Internacional. Quando o sudanês chegou, Lula cumprimentou-o e foi embora. Não ficou para o almoço, comeu só a entrada. Mesmo assim, não deixou de cumprimentar o genocida antes de deixar a mesa.

Os países árabes queriam que o Brasil se unisse a eles em repúdio ao indiciamento de Al-Bashir. Lula assumiu uma posição dúbia. Não se posicionou contra nem a favor do indiciamento de Al-Bashir, pois queria o apoio dos países árabes para conseguir uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU. A indignação de Lula com criminosos de guerra ou genocidas, como se vê, é seletiva.

Israel é um alvo propício para Lula porque é também um alvo preferencial da militância mais radical de esquerda no Brasil. Lula fez isso em seus dois primeiros mandatos e parece querer repetir agora: para compensar toda a pauta progressista que não aplica na política interna, adota um discurso e uma postura de alinhamento com a agenda partidária externa. Antes, eram as amizades com as ditaduras de esquerda da América Latina e o gasto discurso antiamericano; agora, o posicionamento contra o estado de Israel.

Para Netanyahu, à parte a justa indignação que a declaração gerou na sociedade israelense, Lula deu um presente: uma boa justificativa para apresentar as críticas da comunidade internacional às suas ações em Gaza como uma infame expressão do antissemitismo. No caso de Lula, talvez tenha razão.

Não há interdição ao debate sobre se o que está acontecendo na Faixa de Gaza é ou não um genocídio do povo palestino perpetrado pelo governo extremista de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. Há gente séria, especialista no assunto, se fazendo essa pergunta ou, mais importante ainda, alertando para a possibilidade de que as ações das forças israelenses, com abusos já registrados e documentados contra a população civil, resultem em genocídio, o pai de todos os crimes.

É possível reconhecer o direito de Israel de se defender contra um grande ataque terrorista em seu território, combatendo o grupo palestino que o executou, e ao mesmo tempo pressionar Netanyahu para que exerça a contenção na resposta militar, de forma a preservar os inocentes e evitar uma catástrofe humanitária.

Não é o que faz Lula. O presidente brasileiro, quando lê os discursos escritos por sua chancelaria, expõe uma posição crítica razoavelmente equilibrada às ações de Israel em Gaza – e, portanto, com maior chance de se somar ao coro internacional que clama por comedimento e diálogo. Mas quando fala de improviso, Lula expõe o que realmente pensa de Israel e do conflito, demonstrando um enorme desconhecimento de história e uma maneira enviesada de ver os fatos atuais.

Lula durante coletiva de imprensa em Adis Abeba, na Etiópia Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em entrevista na Etiópia, depois de se encontrar com o primeiro-ministro Mohammad Shtayyeh, da Autoridade Palestina, Lula deixou de lado o roteiro escrito e soltou este disparate: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.

Não há equivalência possível entre o extermínio de judeus pelos nazistas e a guerra na Faixa de Gaza. O racismo e o ódio aos judeus estava no cerne da ideologia nazista, que aplicou métodos industriais para exterminá-los. Os nazistas tinham tanta pressa em eliminar o povo judeu, que fuzilá-los deixou de ser eficaz. Eles passaram a ser assassinados em massa em câmaras de gás. Para se ter uma ideia do tanto que se matou em pouquíssimo tempo, no campo de concentração de Treblinka, na Polônia ocupada, durante um único ano de funcionamento, apenas 150 guardas comandaram o extermínio de 800.000 judeus. No total, 6 milhões de pessoas foram exterminadas no Holocausto.

Ao contrário do que disse Lula, já ocorreram outros genocídios na história mundial. O Holocausto não foi o único, apesar de ter tido características únicas, como mencionado acima. Houve, por exemplo, o genocídio armênio, que se iniciou durante a Primeira Guerra Mundial, antes portanto do Holocausto cometido pelos nazistas. O Brasil é um dos países que reconhecem o genocídio armênio. Há também quem considere que a grande fome na Ucrânia promovida pela União Soviética nos tempos de Stalin foi um genocídio. Mais recentemente, houve o genocídio em Darfur, no Sudão. E muitos outros.

Em 2009, durante uma cúpula de países árabes e sul-americanos em Doha, no Qatar, Lula, então em seu segundo mandato presidencial, foi colocado ao lado de Omar Al-Bashir, ditador do Sudão, na mesa de almoço. Al-Bashir tinha acabado de ser indiciado pelo Tribunal Penal Internacional. Quando o sudanês chegou, Lula cumprimentou-o e foi embora. Não ficou para o almoço, comeu só a entrada. Mesmo assim, não deixou de cumprimentar o genocida antes de deixar a mesa.

Os países árabes queriam que o Brasil se unisse a eles em repúdio ao indiciamento de Al-Bashir. Lula assumiu uma posição dúbia. Não se posicionou contra nem a favor do indiciamento de Al-Bashir, pois queria o apoio dos países árabes para conseguir uma vaga permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU. A indignação de Lula com criminosos de guerra ou genocidas, como se vê, é seletiva.

Israel é um alvo propício para Lula porque é também um alvo preferencial da militância mais radical de esquerda no Brasil. Lula fez isso em seus dois primeiros mandatos e parece querer repetir agora: para compensar toda a pauta progressista que não aplica na política interna, adota um discurso e uma postura de alinhamento com a agenda partidária externa. Antes, eram as amizades com as ditaduras de esquerda da América Latina e o gasto discurso antiamericano; agora, o posicionamento contra o estado de Israel.

Para Netanyahu, à parte a justa indignação que a declaração gerou na sociedade israelense, Lula deu um presente: uma boa justificativa para apresentar as críticas da comunidade internacional às suas ações em Gaza como uma infame expressão do antissemitismo. No caso de Lula, talvez tenha razão.

Opinião por Diogo Schelp

Jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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