Análises sobre o estado geral da nação

Opinião|O que existe a ser comemorado no fechamento do escritório do X, ex-Twitter, no Brasil?


Ao defender a atuação de Moraes contra a rede social, integrantes do governo reforçam a suspeita de que a política digital do Palácio do Planalto serve a interesses partidários, não de Estado

Por Diogo Schelp
Atualização:

A mentalidade de quinta série tomou conta das redes sociais depois do anúncio do fechamento do escritório do X, ex-Twitter, no Brasil, em mais um capítulo do embate entre o bilionário Elon Musk e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, comemorou a decisão com um “by by @elonmusk!” no seu perfil no próprio X. Era para ser uma despedida irônica em inglês, que depois de muita gozação dos usuários ele acabou corrigindo para “bye bye”. Como a questão da reforma agrária aparentemente já está resolvida no Brasil, o ministro pode se dedicar a surfar nas últimas tendências da militância petista, que está em festa na internet com a iminente saída do X do país, como se isso fosse representar o fim das fake news, e que se dedica a inundar outras redes com agradecimentos a Alexandre de Moraes com comentários desse tipo: “Xandão salvou a democracia.”

Decisões de Alexandre de Moraes são apontadas como motivação pelo bilionário Elon Musk para fechar o escritório do X no Brasil Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agencia Brasil

Moraes, indicado ao STF por Michel Temer, que no imaginário petista é um golpista, virou herói do PT, quem diria. Não importa se, como mostraram mensagens de WhatsApp reveladas nos últimos dias, ele criou um rito de primeiro ter a ideia de suspender um perfil ou impor uma multa a alguém para só depois solicitar relatórios que embasem sua decisão. “Use sua criatividade”, disse um de seus assessores ao funcionário do TSE encarregado de elaborar os relatórios. Não importa, tampouco, se à frente da Justiça Eleitoral ele exigia que as empresas de redes sociais suspendessem perfis de forma secreta, sem informar ou dar chance de defesa aos bloqueados, como mostraram os Twitter Files. Enquanto estiver empenhado em punir e censurar aliados de Jair Bolsonaro e em fazer exigências draconianas às plataformas online preferidas dos apoiadores do ex-presidente, Moraes terá o respaldo da militância e do governo petista. Mas será que tudo isso está realmente salvando a nossa democracia?

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Musk, por sua vez, virou o herói do bolsonarismo. Ele usa o X como um brinquedinho pessoal de trolagem. Em suas postagens na rede, oscila entre frases prontas sobre valores como liberdade de expressão e surtos da mais infantil lacração. Neste fim de semana, após o anúncio de que o escritório da rede social no Brasil será fechado e os funcionários perderão seus empregos, Musk publicou um conhecido meme comparando Moraes ao vilão da série Harry Potter e escreveu: “Alexandre de Voldemort.” Algumas horas depois, passado o seu momento quinta série, explicou que “a decisão de fechar o escritório do X no Brasil foi difícil, mas, se concordássemos com as demandas de Alexandre [de Moraes] de censura secreta e entrega de informações privadas, não haveria como explicar nossas ações sem parecer envergonhados”.

Oficialmente, o X informou que o fechamento de sua operação no Brasil se tornou necessária pois Moraes estava ameaçando prender representantes da empresa por causa da recusa de cumprir suas ordens sigilosas de suspensão de perfis e pagamento de multas. João Brant, secretário de Políticas Digitais da Presidência da República, foi rápido em defender as ações do STF e em acusar o X, em postagem no próprio X, de ignorar ordens judiciais e de fugir de intimações para forçar “um pênalti” e “jogar no STF o ônus político de uma decisão que tem fundo comercial”.

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O X e todas as outras big techs têm, sim, a obrigação de se submeter às lei brasileiras e de respeitar decisões judiciais. Não podem fazer o que querem. Mas isso não significa que abusos e métodos questionáveis das autoridades judiciais não devam ser denunciados e debatidos. Ao adotar a defesa intransigente da atuação do STF contra o X, o secretário Brant e outros integrantes do governo alimentam a narrativa bolsonarista de que Moraes age em conluio com a gestão de Lula contra os seus adversários políticos. E reforçam a suspeita de que a tal política digital do governo, sob as palavras bonitas de “promoção da liberdade de expressão, do acesso à informação, de enfrentamento à desinformação e ao discurso de ódio na Internet”, serve a interesses partidários, não de Estado.

Pode parecer uma vitória momentânea de um grupo político sobre outro, mas não há nada a ser comemorado no fechamento do escritório do X no Brasil.

A mentalidade de quinta série tomou conta das redes sociais depois do anúncio do fechamento do escritório do X, ex-Twitter, no Brasil, em mais um capítulo do embate entre o bilionário Elon Musk e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, comemorou a decisão com um “by by @elonmusk!” no seu perfil no próprio X. Era para ser uma despedida irônica em inglês, que depois de muita gozação dos usuários ele acabou corrigindo para “bye bye”. Como a questão da reforma agrária aparentemente já está resolvida no Brasil, o ministro pode se dedicar a surfar nas últimas tendências da militância petista, que está em festa na internet com a iminente saída do X do país, como se isso fosse representar o fim das fake news, e que se dedica a inundar outras redes com agradecimentos a Alexandre de Moraes com comentários desse tipo: “Xandão salvou a democracia.”

Decisões de Alexandre de Moraes são apontadas como motivação pelo bilionário Elon Musk para fechar o escritório do X no Brasil Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agencia Brasil

Moraes, indicado ao STF por Michel Temer, que no imaginário petista é um golpista, virou herói do PT, quem diria. Não importa se, como mostraram mensagens de WhatsApp reveladas nos últimos dias, ele criou um rito de primeiro ter a ideia de suspender um perfil ou impor uma multa a alguém para só depois solicitar relatórios que embasem sua decisão. “Use sua criatividade”, disse um de seus assessores ao funcionário do TSE encarregado de elaborar os relatórios. Não importa, tampouco, se à frente da Justiça Eleitoral ele exigia que as empresas de redes sociais suspendessem perfis de forma secreta, sem informar ou dar chance de defesa aos bloqueados, como mostraram os Twitter Files. Enquanto estiver empenhado em punir e censurar aliados de Jair Bolsonaro e em fazer exigências draconianas às plataformas online preferidas dos apoiadores do ex-presidente, Moraes terá o respaldo da militância e do governo petista. Mas será que tudo isso está realmente salvando a nossa democracia?

Musk, por sua vez, virou o herói do bolsonarismo. Ele usa o X como um brinquedinho pessoal de trolagem. Em suas postagens na rede, oscila entre frases prontas sobre valores como liberdade de expressão e surtos da mais infantil lacração. Neste fim de semana, após o anúncio de que o escritório da rede social no Brasil será fechado e os funcionários perderão seus empregos, Musk publicou um conhecido meme comparando Moraes ao vilão da série Harry Potter e escreveu: “Alexandre de Voldemort.” Algumas horas depois, passado o seu momento quinta série, explicou que “a decisão de fechar o escritório do X no Brasil foi difícil, mas, se concordássemos com as demandas de Alexandre [de Moraes] de censura secreta e entrega de informações privadas, não haveria como explicar nossas ações sem parecer envergonhados”.

Oficialmente, o X informou que o fechamento de sua operação no Brasil se tornou necessária pois Moraes estava ameaçando prender representantes da empresa por causa da recusa de cumprir suas ordens sigilosas de suspensão de perfis e pagamento de multas. João Brant, secretário de Políticas Digitais da Presidência da República, foi rápido em defender as ações do STF e em acusar o X, em postagem no próprio X, de ignorar ordens judiciais e de fugir de intimações para forçar “um pênalti” e “jogar no STF o ônus político de uma decisão que tem fundo comercial”.

O X e todas as outras big techs têm, sim, a obrigação de se submeter às lei brasileiras e de respeitar decisões judiciais. Não podem fazer o que querem. Mas isso não significa que abusos e métodos questionáveis das autoridades judiciais não devam ser denunciados e debatidos. Ao adotar a defesa intransigente da atuação do STF contra o X, o secretário Brant e outros integrantes do governo alimentam a narrativa bolsonarista de que Moraes age em conluio com a gestão de Lula contra os seus adversários políticos. E reforçam a suspeita de que a tal política digital do governo, sob as palavras bonitas de “promoção da liberdade de expressão, do acesso à informação, de enfrentamento à desinformação e ao discurso de ódio na Internet”, serve a interesses partidários, não de Estado.

Pode parecer uma vitória momentânea de um grupo político sobre outro, mas não há nada a ser comemorado no fechamento do escritório do X no Brasil.

A mentalidade de quinta série tomou conta das redes sociais depois do anúncio do fechamento do escritório do X, ex-Twitter, no Brasil, em mais um capítulo do embate entre o bilionário Elon Musk e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, comemorou a decisão com um “by by @elonmusk!” no seu perfil no próprio X. Era para ser uma despedida irônica em inglês, que depois de muita gozação dos usuários ele acabou corrigindo para “bye bye”. Como a questão da reforma agrária aparentemente já está resolvida no Brasil, o ministro pode se dedicar a surfar nas últimas tendências da militância petista, que está em festa na internet com a iminente saída do X do país, como se isso fosse representar o fim das fake news, e que se dedica a inundar outras redes com agradecimentos a Alexandre de Moraes com comentários desse tipo: “Xandão salvou a democracia.”

Decisões de Alexandre de Moraes são apontadas como motivação pelo bilionário Elon Musk para fechar o escritório do X no Brasil Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agencia Brasil

Moraes, indicado ao STF por Michel Temer, que no imaginário petista é um golpista, virou herói do PT, quem diria. Não importa se, como mostraram mensagens de WhatsApp reveladas nos últimos dias, ele criou um rito de primeiro ter a ideia de suspender um perfil ou impor uma multa a alguém para só depois solicitar relatórios que embasem sua decisão. “Use sua criatividade”, disse um de seus assessores ao funcionário do TSE encarregado de elaborar os relatórios. Não importa, tampouco, se à frente da Justiça Eleitoral ele exigia que as empresas de redes sociais suspendessem perfis de forma secreta, sem informar ou dar chance de defesa aos bloqueados, como mostraram os Twitter Files. Enquanto estiver empenhado em punir e censurar aliados de Jair Bolsonaro e em fazer exigências draconianas às plataformas online preferidas dos apoiadores do ex-presidente, Moraes terá o respaldo da militância e do governo petista. Mas será que tudo isso está realmente salvando a nossa democracia?

Musk, por sua vez, virou o herói do bolsonarismo. Ele usa o X como um brinquedinho pessoal de trolagem. Em suas postagens na rede, oscila entre frases prontas sobre valores como liberdade de expressão e surtos da mais infantil lacração. Neste fim de semana, após o anúncio de que o escritório da rede social no Brasil será fechado e os funcionários perderão seus empregos, Musk publicou um conhecido meme comparando Moraes ao vilão da série Harry Potter e escreveu: “Alexandre de Voldemort.” Algumas horas depois, passado o seu momento quinta série, explicou que “a decisão de fechar o escritório do X no Brasil foi difícil, mas, se concordássemos com as demandas de Alexandre [de Moraes] de censura secreta e entrega de informações privadas, não haveria como explicar nossas ações sem parecer envergonhados”.

Oficialmente, o X informou que o fechamento de sua operação no Brasil se tornou necessária pois Moraes estava ameaçando prender representantes da empresa por causa da recusa de cumprir suas ordens sigilosas de suspensão de perfis e pagamento de multas. João Brant, secretário de Políticas Digitais da Presidência da República, foi rápido em defender as ações do STF e em acusar o X, em postagem no próprio X, de ignorar ordens judiciais e de fugir de intimações para forçar “um pênalti” e “jogar no STF o ônus político de uma decisão que tem fundo comercial”.

O X e todas as outras big techs têm, sim, a obrigação de se submeter às lei brasileiras e de respeitar decisões judiciais. Não podem fazer o que querem. Mas isso não significa que abusos e métodos questionáveis das autoridades judiciais não devam ser denunciados e debatidos. Ao adotar a defesa intransigente da atuação do STF contra o X, o secretário Brant e outros integrantes do governo alimentam a narrativa bolsonarista de que Moraes age em conluio com a gestão de Lula contra os seus adversários políticos. E reforçam a suspeita de que a tal política digital do governo, sob as palavras bonitas de “promoção da liberdade de expressão, do acesso à informação, de enfrentamento à desinformação e ao discurso de ódio na Internet”, serve a interesses partidários, não de Estado.

Pode parecer uma vitória momentânea de um grupo político sobre outro, mas não há nada a ser comemorado no fechamento do escritório do X no Brasil.

A mentalidade de quinta série tomou conta das redes sociais depois do anúncio do fechamento do escritório do X, ex-Twitter, no Brasil, em mais um capítulo do embate entre o bilionário Elon Musk e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, comemorou a decisão com um “by by @elonmusk!” no seu perfil no próprio X. Era para ser uma despedida irônica em inglês, que depois de muita gozação dos usuários ele acabou corrigindo para “bye bye”. Como a questão da reforma agrária aparentemente já está resolvida no Brasil, o ministro pode se dedicar a surfar nas últimas tendências da militância petista, que está em festa na internet com a iminente saída do X do país, como se isso fosse representar o fim das fake news, e que se dedica a inundar outras redes com agradecimentos a Alexandre de Moraes com comentários desse tipo: “Xandão salvou a democracia.”

Decisões de Alexandre de Moraes são apontadas como motivação pelo bilionário Elon Musk para fechar o escritório do X no Brasil Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agencia Brasil

Moraes, indicado ao STF por Michel Temer, que no imaginário petista é um golpista, virou herói do PT, quem diria. Não importa se, como mostraram mensagens de WhatsApp reveladas nos últimos dias, ele criou um rito de primeiro ter a ideia de suspender um perfil ou impor uma multa a alguém para só depois solicitar relatórios que embasem sua decisão. “Use sua criatividade”, disse um de seus assessores ao funcionário do TSE encarregado de elaborar os relatórios. Não importa, tampouco, se à frente da Justiça Eleitoral ele exigia que as empresas de redes sociais suspendessem perfis de forma secreta, sem informar ou dar chance de defesa aos bloqueados, como mostraram os Twitter Files. Enquanto estiver empenhado em punir e censurar aliados de Jair Bolsonaro e em fazer exigências draconianas às plataformas online preferidas dos apoiadores do ex-presidente, Moraes terá o respaldo da militância e do governo petista. Mas será que tudo isso está realmente salvando a nossa democracia?

Musk, por sua vez, virou o herói do bolsonarismo. Ele usa o X como um brinquedinho pessoal de trolagem. Em suas postagens na rede, oscila entre frases prontas sobre valores como liberdade de expressão e surtos da mais infantil lacração. Neste fim de semana, após o anúncio de que o escritório da rede social no Brasil será fechado e os funcionários perderão seus empregos, Musk publicou um conhecido meme comparando Moraes ao vilão da série Harry Potter e escreveu: “Alexandre de Voldemort.” Algumas horas depois, passado o seu momento quinta série, explicou que “a decisão de fechar o escritório do X no Brasil foi difícil, mas, se concordássemos com as demandas de Alexandre [de Moraes] de censura secreta e entrega de informações privadas, não haveria como explicar nossas ações sem parecer envergonhados”.

Oficialmente, o X informou que o fechamento de sua operação no Brasil se tornou necessária pois Moraes estava ameaçando prender representantes da empresa por causa da recusa de cumprir suas ordens sigilosas de suspensão de perfis e pagamento de multas. João Brant, secretário de Políticas Digitais da Presidência da República, foi rápido em defender as ações do STF e em acusar o X, em postagem no próprio X, de ignorar ordens judiciais e de fugir de intimações para forçar “um pênalti” e “jogar no STF o ônus político de uma decisão que tem fundo comercial”.

O X e todas as outras big techs têm, sim, a obrigação de se submeter às lei brasileiras e de respeitar decisões judiciais. Não podem fazer o que querem. Mas isso não significa que abusos e métodos questionáveis das autoridades judiciais não devam ser denunciados e debatidos. Ao adotar a defesa intransigente da atuação do STF contra o X, o secretário Brant e outros integrantes do governo alimentam a narrativa bolsonarista de que Moraes age em conluio com a gestão de Lula contra os seus adversários políticos. E reforçam a suspeita de que a tal política digital do governo, sob as palavras bonitas de “promoção da liberdade de expressão, do acesso à informação, de enfrentamento à desinformação e ao discurso de ódio na Internet”, serve a interesses partidários, não de Estado.

Pode parecer uma vitória momentânea de um grupo político sobre outro, mas não há nada a ser comemorado no fechamento do escritório do X no Brasil.

A mentalidade de quinta série tomou conta das redes sociais depois do anúncio do fechamento do escritório do X, ex-Twitter, no Brasil, em mais um capítulo do embate entre o bilionário Elon Musk e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, comemorou a decisão com um “by by @elonmusk!” no seu perfil no próprio X. Era para ser uma despedida irônica em inglês, que depois de muita gozação dos usuários ele acabou corrigindo para “bye bye”. Como a questão da reforma agrária aparentemente já está resolvida no Brasil, o ministro pode se dedicar a surfar nas últimas tendências da militância petista, que está em festa na internet com a iminente saída do X do país, como se isso fosse representar o fim das fake news, e que se dedica a inundar outras redes com agradecimentos a Alexandre de Moraes com comentários desse tipo: “Xandão salvou a democracia.”

Decisões de Alexandre de Moraes são apontadas como motivação pelo bilionário Elon Musk para fechar o escritório do X no Brasil Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agencia Brasil

Moraes, indicado ao STF por Michel Temer, que no imaginário petista é um golpista, virou herói do PT, quem diria. Não importa se, como mostraram mensagens de WhatsApp reveladas nos últimos dias, ele criou um rito de primeiro ter a ideia de suspender um perfil ou impor uma multa a alguém para só depois solicitar relatórios que embasem sua decisão. “Use sua criatividade”, disse um de seus assessores ao funcionário do TSE encarregado de elaborar os relatórios. Não importa, tampouco, se à frente da Justiça Eleitoral ele exigia que as empresas de redes sociais suspendessem perfis de forma secreta, sem informar ou dar chance de defesa aos bloqueados, como mostraram os Twitter Files. Enquanto estiver empenhado em punir e censurar aliados de Jair Bolsonaro e em fazer exigências draconianas às plataformas online preferidas dos apoiadores do ex-presidente, Moraes terá o respaldo da militância e do governo petista. Mas será que tudo isso está realmente salvando a nossa democracia?

Musk, por sua vez, virou o herói do bolsonarismo. Ele usa o X como um brinquedinho pessoal de trolagem. Em suas postagens na rede, oscila entre frases prontas sobre valores como liberdade de expressão e surtos da mais infantil lacração. Neste fim de semana, após o anúncio de que o escritório da rede social no Brasil será fechado e os funcionários perderão seus empregos, Musk publicou um conhecido meme comparando Moraes ao vilão da série Harry Potter e escreveu: “Alexandre de Voldemort.” Algumas horas depois, passado o seu momento quinta série, explicou que “a decisão de fechar o escritório do X no Brasil foi difícil, mas, se concordássemos com as demandas de Alexandre [de Moraes] de censura secreta e entrega de informações privadas, não haveria como explicar nossas ações sem parecer envergonhados”.

Oficialmente, o X informou que o fechamento de sua operação no Brasil se tornou necessária pois Moraes estava ameaçando prender representantes da empresa por causa da recusa de cumprir suas ordens sigilosas de suspensão de perfis e pagamento de multas. João Brant, secretário de Políticas Digitais da Presidência da República, foi rápido em defender as ações do STF e em acusar o X, em postagem no próprio X, de ignorar ordens judiciais e de fugir de intimações para forçar “um pênalti” e “jogar no STF o ônus político de uma decisão que tem fundo comercial”.

O X e todas as outras big techs têm, sim, a obrigação de se submeter às lei brasileiras e de respeitar decisões judiciais. Não podem fazer o que querem. Mas isso não significa que abusos e métodos questionáveis das autoridades judiciais não devam ser denunciados e debatidos. Ao adotar a defesa intransigente da atuação do STF contra o X, o secretário Brant e outros integrantes do governo alimentam a narrativa bolsonarista de que Moraes age em conluio com a gestão de Lula contra os seus adversários políticos. E reforçam a suspeita de que a tal política digital do governo, sob as palavras bonitas de “promoção da liberdade de expressão, do acesso à informação, de enfrentamento à desinformação e ao discurso de ódio na Internet”, serve a interesses partidários, não de Estado.

Pode parecer uma vitória momentânea de um grupo político sobre outro, mas não há nada a ser comemorado no fechamento do escritório do X no Brasil.

Opinião por Diogo Schelp

Jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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