Estratégia de Dirceu para voltar à Câmara em 2026 conta com apoio de Lula e apreensão de alas do PT


Ex-ministro da Casa Civil, condenado pela Lava Jato, está prestes a se tornar novamente elegível e tem conversado com Lira, Pacheco, Renan e Sarney

Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – De volta à cena política, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu quer participar de campanhas municipais estratégicas para o PT e acha que o partido precisa “repensar o seu papel” para enfrentar a “força da direita”. O movimento para reabilitar Dirceu tem o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas provoca apreensão em algumas alas do PT.

Nos últimos dias, o ex-ministro fez várias articulações nos bastidores. Almoçou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conversou com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Dirceu está preocupado com os embates entre o Congresso e o Palácio do Planalto e com o crescimento da oposição. Em entrevistas, anunciou que vai trabalhar para que o PT fique “pelo menos 12 anos no governo”.

O rol dos interlocutores políticos de Dirceu também inclui o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros (AL), ambos do MDB. Estão na lista, ainda, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e o ex-chanceler Aloysio Nunes (PSDB).

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O ex-ministro José Dirceu com o deputado Zeca Dirceu, seu filho, e o presidente da Câmara, Arthur Lira: conversa com lider do Centrão Foto: Julia Lindner

Desde que foi condenado e preso três vezes, no rastro dos processos do mensalão e do petrolão, Dirceu está inelegível. No mês passado, porém, a defesa do ex-ministro, comandada pelo advogado Roberto Podval, entrou com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular todas as suas condenações na Lava Jato. O caso está com o ministro Gilmar Mendes.

A defesa pede que o magistrado estenda para Dirceu os efeitos da decisão que beneficiou Lula, após virem à tona, na Operação Spoofing, mensagens comprometedoras entre procuradores, como o então chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e o juiz Sérgio Moro, hoje senador pelo União Brasil. Ex-ministro da Justiça sob Jair Bolsonaro, Moro enfrenta ação para cassar o seu mandato e, se a Justiça Eleitoral julgar que ele praticou abuso do poder econômico, pode ficar inelegível.

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Diante dessa reviravolta e do desgaste da Lava Jato, Dirceu está confiante numa vitória jurídica que o livre de todos os processos. Se o STF acatar os argumentos de seus advogados, o ex-poderoso chefe da Casa Civil estará apto a disputar as eleições de 2026. Uma de suas ideias é retornar à Câmara, de onde foi defenestrado em 2005, acusado de ser o mentor do mensalão.

“Sou um entusiasta da volta do ‘Zé’ Dirceu”, admitiu o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), pré-candidato à Prefeitura de Osasco. “Se ele decidir voltar ao Congresso, dará uma contribuição enorme ao projeto político do País”, emendou o parlamentar, que já está organizando um debate para Dirceu em Osasco.

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Ex-ministro vai participar da campanha em SP

Ao Estadão, o ex-ministro disse que pretende ajudar o governo e o PT, mas na retaguarda. “Neste ano, participarei da campanha como cidadão e militante nas cidades que o diretório regional definir como prioritárias”, afirmou.

Na prática, porém, Dirceu tem auxiliado na montagem de alianças. O ex-presidente do PT foi um dos que conversaram com Marta Suplicy antes de ela aceitar o convite de Lula para retornar ao partido e ser vice da chapa de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

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Dirceu avalia que ganhar São Paulo é fundamental para a luta contra o fortalecimento do Centrão e do bolsonarismo. Nas eleições municipais de 2020, o PT foi um fiasco nas urnas: em todo o Estado, o partido conquistou apenas quatro prefeituras. Além disso, não venceu em nenhuma capital do País.

No ato de filiação de Marta, nesta sexta-feira, 2, Lula cobrou a cúpula petista pelos resultados daquele ano. “Por que um partido que teve 20% de preferência eleitoral teve (somente) 5% de voto na legenda para vereador? Alguma coisa está muito errada”, criticou.

O ex-ministro concorda e começou a liderar o coro dos que pedem mudanças no PT. Ele ainda prega um segundo mandato para Lula, mas, questionado sobre os seus próprios planos, desconversa.

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“Decisão sobre meu futuro político só no segundo semestre de 2025, após consulta à direção do PT e ao Lula, e dependendo da situação política e da conjuntura”, assegurou Dirceu ao Estadão. “Não necessariamente serei candidato.” O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho dele, concordou. “A família já está bem representada na Câmara”, resumiu Zeca, abrindo um sorriso.

Haddad e Gleisi têm protagonizado vários embates por causa da política econômica; Dirceu se alinha ao ministro de Lula Foto: Gabriela Biló/Estadão

O apoio do ex-titular da Casa Civil à política econômica de Haddad, após resolução do PT assinalar que “o Brasil precisa se libertar do austericídio fiscal”, escancarou o confronto entre ele e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.

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Sem citar o nome de Gleisi, mas não deixando dúvidas sobre quem falava, Dirceu declarou que o papel do PT era sustentar o governo. “No caso do Haddad, é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queria”, alfinetou Dirceu em um podcast do PT baiano.

Quando era chefe da Casa Civil, no entanto, ele teve vários embates com o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e lutava contra o “conservadorismo” da política econômica.

Gleisi e Zeca estão de olho na cadeira de Moro

A estratégia de Dirceu provoca desconforto em aliados de Gleisi, que o veem como um político que quer mostrar mais influência do que tem. A portas fechadas, alegam que o ex-ministro põe o PT em saia-justa, como às vésperas do primeiro turno da eleição de 2018, quando, em entrevista ao El País, ele proferiu a seguinte frase: “É uma questão de tempo para a gente tomar o poder”. À época, Haddad era candidato ao Planalto e teve de contornar a situação. Mesmo assim, ninguém quer confrontar Dirceu em público.

Lula, Haddad, Gleisi e Dirceu integram a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT. Há, porém, muitas divisões internas e Gleisi também enfrenta reparos dentro do partido. “A palavra do ‘Zé' Dirceu é importante para apoiar a política econômica do Haddad”, avaliou Aloysio Nunes, que hoje preside a São Paulo Negócios, agência de promoção de investimentos vinculada à Prefeitura. “Ele tem autoridade para isso.”

No diagnóstico de Dirceu, “a direita está ganhando a disputa política” e, portanto, o PT precisa reagir. “As mudanças no mundo e no Brasil exigem que façamos frente à força da direita. Depois de anos de repressão política e jurídica, é necessário o PT repensar o seu papel”, argumentou ele, ao destacar a importância da próxima disputa para a presidência do partido, em 2025.

Se Moro for cassado, haverá nova eleição no Paraná para a cadeira ocupada pelo ex-juiz da Lava Jato no Senado. Hoje deputada, Gleisi quer concorrer. Zeca Dirceu, o filho do ex-ministro, também está de olho na vaga.

A quem pergunta se fala frequentemente com Lula, Dirceu responde, enigmático: “O presidente sabe o que eu penso e eu sei o que ele pensa.” Mas o que isso quer dizer? “Quando ele quer me procurar, sabe onde eu estou”. E conclui: “Eu saí do governo, mas o governo não sai de mim.”

BRASÍLIA – De volta à cena política, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu quer participar de campanhas municipais estratégicas para o PT e acha que o partido precisa “repensar o seu papel” para enfrentar a “força da direita”. O movimento para reabilitar Dirceu tem o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas provoca apreensão em algumas alas do PT.

Nos últimos dias, o ex-ministro fez várias articulações nos bastidores. Almoçou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conversou com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Dirceu está preocupado com os embates entre o Congresso e o Palácio do Planalto e com o crescimento da oposição. Em entrevistas, anunciou que vai trabalhar para que o PT fique “pelo menos 12 anos no governo”.

O rol dos interlocutores políticos de Dirceu também inclui o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros (AL), ambos do MDB. Estão na lista, ainda, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e o ex-chanceler Aloysio Nunes (PSDB).

O ex-ministro José Dirceu com o deputado Zeca Dirceu, seu filho, e o presidente da Câmara, Arthur Lira: conversa com lider do Centrão Foto: Julia Lindner

Desde que foi condenado e preso três vezes, no rastro dos processos do mensalão e do petrolão, Dirceu está inelegível. No mês passado, porém, a defesa do ex-ministro, comandada pelo advogado Roberto Podval, entrou com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular todas as suas condenações na Lava Jato. O caso está com o ministro Gilmar Mendes.

A defesa pede que o magistrado estenda para Dirceu os efeitos da decisão que beneficiou Lula, após virem à tona, na Operação Spoofing, mensagens comprometedoras entre procuradores, como o então chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e o juiz Sérgio Moro, hoje senador pelo União Brasil. Ex-ministro da Justiça sob Jair Bolsonaro, Moro enfrenta ação para cassar o seu mandato e, se a Justiça Eleitoral julgar que ele praticou abuso do poder econômico, pode ficar inelegível.

Diante dessa reviravolta e do desgaste da Lava Jato, Dirceu está confiante numa vitória jurídica que o livre de todos os processos. Se o STF acatar os argumentos de seus advogados, o ex-poderoso chefe da Casa Civil estará apto a disputar as eleições de 2026. Uma de suas ideias é retornar à Câmara, de onde foi defenestrado em 2005, acusado de ser o mentor do mensalão.

“Sou um entusiasta da volta do ‘Zé’ Dirceu”, admitiu o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), pré-candidato à Prefeitura de Osasco. “Se ele decidir voltar ao Congresso, dará uma contribuição enorme ao projeto político do País”, emendou o parlamentar, que já está organizando um debate para Dirceu em Osasco.

Ex-ministro vai participar da campanha em SP

Ao Estadão, o ex-ministro disse que pretende ajudar o governo e o PT, mas na retaguarda. “Neste ano, participarei da campanha como cidadão e militante nas cidades que o diretório regional definir como prioritárias”, afirmou.

Na prática, porém, Dirceu tem auxiliado na montagem de alianças. O ex-presidente do PT foi um dos que conversaram com Marta Suplicy antes de ela aceitar o convite de Lula para retornar ao partido e ser vice da chapa de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Dirceu avalia que ganhar São Paulo é fundamental para a luta contra o fortalecimento do Centrão e do bolsonarismo. Nas eleições municipais de 2020, o PT foi um fiasco nas urnas: em todo o Estado, o partido conquistou apenas quatro prefeituras. Além disso, não venceu em nenhuma capital do País.

No ato de filiação de Marta, nesta sexta-feira, 2, Lula cobrou a cúpula petista pelos resultados daquele ano. “Por que um partido que teve 20% de preferência eleitoral teve (somente) 5% de voto na legenda para vereador? Alguma coisa está muito errada”, criticou.

O ex-ministro concorda e começou a liderar o coro dos que pedem mudanças no PT. Ele ainda prega um segundo mandato para Lula, mas, questionado sobre os seus próprios planos, desconversa.

“Decisão sobre meu futuro político só no segundo semestre de 2025, após consulta à direção do PT e ao Lula, e dependendo da situação política e da conjuntura”, assegurou Dirceu ao Estadão. “Não necessariamente serei candidato.” O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho dele, concordou. “A família já está bem representada na Câmara”, resumiu Zeca, abrindo um sorriso.

Haddad e Gleisi têm protagonizado vários embates por causa da política econômica; Dirceu se alinha ao ministro de Lula Foto: Gabriela Biló/Estadão

O apoio do ex-titular da Casa Civil à política econômica de Haddad, após resolução do PT assinalar que “o Brasil precisa se libertar do austericídio fiscal”, escancarou o confronto entre ele e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.

Sem citar o nome de Gleisi, mas não deixando dúvidas sobre quem falava, Dirceu declarou que o papel do PT era sustentar o governo. “No caso do Haddad, é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queria”, alfinetou Dirceu em um podcast do PT baiano.

Quando era chefe da Casa Civil, no entanto, ele teve vários embates com o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e lutava contra o “conservadorismo” da política econômica.

Gleisi e Zeca estão de olho na cadeira de Moro

A estratégia de Dirceu provoca desconforto em aliados de Gleisi, que o veem como um político que quer mostrar mais influência do que tem. A portas fechadas, alegam que o ex-ministro põe o PT em saia-justa, como às vésperas do primeiro turno da eleição de 2018, quando, em entrevista ao El País, ele proferiu a seguinte frase: “É uma questão de tempo para a gente tomar o poder”. À época, Haddad era candidato ao Planalto e teve de contornar a situação. Mesmo assim, ninguém quer confrontar Dirceu em público.

Lula, Haddad, Gleisi e Dirceu integram a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT. Há, porém, muitas divisões internas e Gleisi também enfrenta reparos dentro do partido. “A palavra do ‘Zé' Dirceu é importante para apoiar a política econômica do Haddad”, avaliou Aloysio Nunes, que hoje preside a São Paulo Negócios, agência de promoção de investimentos vinculada à Prefeitura. “Ele tem autoridade para isso.”

No diagnóstico de Dirceu, “a direita está ganhando a disputa política” e, portanto, o PT precisa reagir. “As mudanças no mundo e no Brasil exigem que façamos frente à força da direita. Depois de anos de repressão política e jurídica, é necessário o PT repensar o seu papel”, argumentou ele, ao destacar a importância da próxima disputa para a presidência do partido, em 2025.

Se Moro for cassado, haverá nova eleição no Paraná para a cadeira ocupada pelo ex-juiz da Lava Jato no Senado. Hoje deputada, Gleisi quer concorrer. Zeca Dirceu, o filho do ex-ministro, também está de olho na vaga.

A quem pergunta se fala frequentemente com Lula, Dirceu responde, enigmático: “O presidente sabe o que eu penso e eu sei o que ele pensa.” Mas o que isso quer dizer? “Quando ele quer me procurar, sabe onde eu estou”. E conclui: “Eu saí do governo, mas o governo não sai de mim.”

BRASÍLIA – De volta à cena política, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu quer participar de campanhas municipais estratégicas para o PT e acha que o partido precisa “repensar o seu papel” para enfrentar a “força da direita”. O movimento para reabilitar Dirceu tem o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas provoca apreensão em algumas alas do PT.

Nos últimos dias, o ex-ministro fez várias articulações nos bastidores. Almoçou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conversou com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Dirceu está preocupado com os embates entre o Congresso e o Palácio do Planalto e com o crescimento da oposição. Em entrevistas, anunciou que vai trabalhar para que o PT fique “pelo menos 12 anos no governo”.

O rol dos interlocutores políticos de Dirceu também inclui o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros (AL), ambos do MDB. Estão na lista, ainda, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e o ex-chanceler Aloysio Nunes (PSDB).

O ex-ministro José Dirceu com o deputado Zeca Dirceu, seu filho, e o presidente da Câmara, Arthur Lira: conversa com lider do Centrão Foto: Julia Lindner

Desde que foi condenado e preso três vezes, no rastro dos processos do mensalão e do petrolão, Dirceu está inelegível. No mês passado, porém, a defesa do ex-ministro, comandada pelo advogado Roberto Podval, entrou com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular todas as suas condenações na Lava Jato. O caso está com o ministro Gilmar Mendes.

A defesa pede que o magistrado estenda para Dirceu os efeitos da decisão que beneficiou Lula, após virem à tona, na Operação Spoofing, mensagens comprometedoras entre procuradores, como o então chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e o juiz Sérgio Moro, hoje senador pelo União Brasil. Ex-ministro da Justiça sob Jair Bolsonaro, Moro enfrenta ação para cassar o seu mandato e, se a Justiça Eleitoral julgar que ele praticou abuso do poder econômico, pode ficar inelegível.

Diante dessa reviravolta e do desgaste da Lava Jato, Dirceu está confiante numa vitória jurídica que o livre de todos os processos. Se o STF acatar os argumentos de seus advogados, o ex-poderoso chefe da Casa Civil estará apto a disputar as eleições de 2026. Uma de suas ideias é retornar à Câmara, de onde foi defenestrado em 2005, acusado de ser o mentor do mensalão.

“Sou um entusiasta da volta do ‘Zé’ Dirceu”, admitiu o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), pré-candidato à Prefeitura de Osasco. “Se ele decidir voltar ao Congresso, dará uma contribuição enorme ao projeto político do País”, emendou o parlamentar, que já está organizando um debate para Dirceu em Osasco.

Ex-ministro vai participar da campanha em SP

Ao Estadão, o ex-ministro disse que pretende ajudar o governo e o PT, mas na retaguarda. “Neste ano, participarei da campanha como cidadão e militante nas cidades que o diretório regional definir como prioritárias”, afirmou.

Na prática, porém, Dirceu tem auxiliado na montagem de alianças. O ex-presidente do PT foi um dos que conversaram com Marta Suplicy antes de ela aceitar o convite de Lula para retornar ao partido e ser vice da chapa de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Dirceu avalia que ganhar São Paulo é fundamental para a luta contra o fortalecimento do Centrão e do bolsonarismo. Nas eleições municipais de 2020, o PT foi um fiasco nas urnas: em todo o Estado, o partido conquistou apenas quatro prefeituras. Além disso, não venceu em nenhuma capital do País.

No ato de filiação de Marta, nesta sexta-feira, 2, Lula cobrou a cúpula petista pelos resultados daquele ano. “Por que um partido que teve 20% de preferência eleitoral teve (somente) 5% de voto na legenda para vereador? Alguma coisa está muito errada”, criticou.

O ex-ministro concorda e começou a liderar o coro dos que pedem mudanças no PT. Ele ainda prega um segundo mandato para Lula, mas, questionado sobre os seus próprios planos, desconversa.

“Decisão sobre meu futuro político só no segundo semestre de 2025, após consulta à direção do PT e ao Lula, e dependendo da situação política e da conjuntura”, assegurou Dirceu ao Estadão. “Não necessariamente serei candidato.” O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho dele, concordou. “A família já está bem representada na Câmara”, resumiu Zeca, abrindo um sorriso.

Haddad e Gleisi têm protagonizado vários embates por causa da política econômica; Dirceu se alinha ao ministro de Lula Foto: Gabriela Biló/Estadão

O apoio do ex-titular da Casa Civil à política econômica de Haddad, após resolução do PT assinalar que “o Brasil precisa se libertar do austericídio fiscal”, escancarou o confronto entre ele e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.

Sem citar o nome de Gleisi, mas não deixando dúvidas sobre quem falava, Dirceu declarou que o papel do PT era sustentar o governo. “No caso do Haddad, é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queria”, alfinetou Dirceu em um podcast do PT baiano.

Quando era chefe da Casa Civil, no entanto, ele teve vários embates com o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e lutava contra o “conservadorismo” da política econômica.

Gleisi e Zeca estão de olho na cadeira de Moro

A estratégia de Dirceu provoca desconforto em aliados de Gleisi, que o veem como um político que quer mostrar mais influência do que tem. A portas fechadas, alegam que o ex-ministro põe o PT em saia-justa, como às vésperas do primeiro turno da eleição de 2018, quando, em entrevista ao El País, ele proferiu a seguinte frase: “É uma questão de tempo para a gente tomar o poder”. À época, Haddad era candidato ao Planalto e teve de contornar a situação. Mesmo assim, ninguém quer confrontar Dirceu em público.

Lula, Haddad, Gleisi e Dirceu integram a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT. Há, porém, muitas divisões internas e Gleisi também enfrenta reparos dentro do partido. “A palavra do ‘Zé' Dirceu é importante para apoiar a política econômica do Haddad”, avaliou Aloysio Nunes, que hoje preside a São Paulo Negócios, agência de promoção de investimentos vinculada à Prefeitura. “Ele tem autoridade para isso.”

No diagnóstico de Dirceu, “a direita está ganhando a disputa política” e, portanto, o PT precisa reagir. “As mudanças no mundo e no Brasil exigem que façamos frente à força da direita. Depois de anos de repressão política e jurídica, é necessário o PT repensar o seu papel”, argumentou ele, ao destacar a importância da próxima disputa para a presidência do partido, em 2025.

Se Moro for cassado, haverá nova eleição no Paraná para a cadeira ocupada pelo ex-juiz da Lava Jato no Senado. Hoje deputada, Gleisi quer concorrer. Zeca Dirceu, o filho do ex-ministro, também está de olho na vaga.

A quem pergunta se fala frequentemente com Lula, Dirceu responde, enigmático: “O presidente sabe o que eu penso e eu sei o que ele pensa.” Mas o que isso quer dizer? “Quando ele quer me procurar, sabe onde eu estou”. E conclui: “Eu saí do governo, mas o governo não sai de mim.”

BRASÍLIA – De volta à cena política, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu quer participar de campanhas municipais estratégicas para o PT e acha que o partido precisa “repensar o seu papel” para enfrentar a “força da direita”. O movimento para reabilitar Dirceu tem o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas provoca apreensão em algumas alas do PT.

Nos últimos dias, o ex-ministro fez várias articulações nos bastidores. Almoçou com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e conversou com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Dirceu está preocupado com os embates entre o Congresso e o Palácio do Planalto e com o crescimento da oposição. Em entrevistas, anunciou que vai trabalhar para que o PT fique “pelo menos 12 anos no governo”.

O rol dos interlocutores políticos de Dirceu também inclui o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros (AL), ambos do MDB. Estão na lista, ainda, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e o ex-chanceler Aloysio Nunes (PSDB).

O ex-ministro José Dirceu com o deputado Zeca Dirceu, seu filho, e o presidente da Câmara, Arthur Lira: conversa com lider do Centrão Foto: Julia Lindner

Desde que foi condenado e preso três vezes, no rastro dos processos do mensalão e do petrolão, Dirceu está inelegível. No mês passado, porém, a defesa do ex-ministro, comandada pelo advogado Roberto Podval, entrou com uma petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular todas as suas condenações na Lava Jato. O caso está com o ministro Gilmar Mendes.

A defesa pede que o magistrado estenda para Dirceu os efeitos da decisão que beneficiou Lula, após virem à tona, na Operação Spoofing, mensagens comprometedoras entre procuradores, como o então chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, e o juiz Sérgio Moro, hoje senador pelo União Brasil. Ex-ministro da Justiça sob Jair Bolsonaro, Moro enfrenta ação para cassar o seu mandato e, se a Justiça Eleitoral julgar que ele praticou abuso do poder econômico, pode ficar inelegível.

Diante dessa reviravolta e do desgaste da Lava Jato, Dirceu está confiante numa vitória jurídica que o livre de todos os processos. Se o STF acatar os argumentos de seus advogados, o ex-poderoso chefe da Casa Civil estará apto a disputar as eleições de 2026. Uma de suas ideias é retornar à Câmara, de onde foi defenestrado em 2005, acusado de ser o mentor do mensalão.

“Sou um entusiasta da volta do ‘Zé’ Dirceu”, admitiu o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), pré-candidato à Prefeitura de Osasco. “Se ele decidir voltar ao Congresso, dará uma contribuição enorme ao projeto político do País”, emendou o parlamentar, que já está organizando um debate para Dirceu em Osasco.

Ex-ministro vai participar da campanha em SP

Ao Estadão, o ex-ministro disse que pretende ajudar o governo e o PT, mas na retaguarda. “Neste ano, participarei da campanha como cidadão e militante nas cidades que o diretório regional definir como prioritárias”, afirmou.

Na prática, porém, Dirceu tem auxiliado na montagem de alianças. O ex-presidente do PT foi um dos que conversaram com Marta Suplicy antes de ela aceitar o convite de Lula para retornar ao partido e ser vice da chapa de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Dirceu avalia que ganhar São Paulo é fundamental para a luta contra o fortalecimento do Centrão e do bolsonarismo. Nas eleições municipais de 2020, o PT foi um fiasco nas urnas: em todo o Estado, o partido conquistou apenas quatro prefeituras. Além disso, não venceu em nenhuma capital do País.

No ato de filiação de Marta, nesta sexta-feira, 2, Lula cobrou a cúpula petista pelos resultados daquele ano. “Por que um partido que teve 20% de preferência eleitoral teve (somente) 5% de voto na legenda para vereador? Alguma coisa está muito errada”, criticou.

O ex-ministro concorda e começou a liderar o coro dos que pedem mudanças no PT. Ele ainda prega um segundo mandato para Lula, mas, questionado sobre os seus próprios planos, desconversa.

“Decisão sobre meu futuro político só no segundo semestre de 2025, após consulta à direção do PT e ao Lula, e dependendo da situação política e da conjuntura”, assegurou Dirceu ao Estadão. “Não necessariamente serei candidato.” O deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho dele, concordou. “A família já está bem representada na Câmara”, resumiu Zeca, abrindo um sorriso.

Haddad e Gleisi têm protagonizado vários embates por causa da política econômica; Dirceu se alinha ao ministro de Lula Foto: Gabriela Biló/Estadão

O apoio do ex-titular da Casa Civil à política econômica de Haddad, após resolução do PT assinalar que “o Brasil precisa se libertar do austericídio fiscal”, escancarou o confronto entre ele e a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.

Sem citar o nome de Gleisi, mas não deixando dúvidas sobre quem falava, Dirceu declarou que o papel do PT era sustentar o governo. “No caso do Haddad, é quase uma covardia nós não darmos apoio total a ele para aprovar todas as medidas que ele queria”, alfinetou Dirceu em um podcast do PT baiano.

Quando era chefe da Casa Civil, no entanto, ele teve vários embates com o então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e lutava contra o “conservadorismo” da política econômica.

Gleisi e Zeca estão de olho na cadeira de Moro

A estratégia de Dirceu provoca desconforto em aliados de Gleisi, que o veem como um político que quer mostrar mais influência do que tem. A portas fechadas, alegam que o ex-ministro põe o PT em saia-justa, como às vésperas do primeiro turno da eleição de 2018, quando, em entrevista ao El País, ele proferiu a seguinte frase: “É uma questão de tempo para a gente tomar o poder”. À época, Haddad era candidato ao Planalto e teve de contornar a situação. Mesmo assim, ninguém quer confrontar Dirceu em público.

Lula, Haddad, Gleisi e Dirceu integram a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT. Há, porém, muitas divisões internas e Gleisi também enfrenta reparos dentro do partido. “A palavra do ‘Zé' Dirceu é importante para apoiar a política econômica do Haddad”, avaliou Aloysio Nunes, que hoje preside a São Paulo Negócios, agência de promoção de investimentos vinculada à Prefeitura. “Ele tem autoridade para isso.”

No diagnóstico de Dirceu, “a direita está ganhando a disputa política” e, portanto, o PT precisa reagir. “As mudanças no mundo e no Brasil exigem que façamos frente à força da direita. Depois de anos de repressão política e jurídica, é necessário o PT repensar o seu papel”, argumentou ele, ao destacar a importância da próxima disputa para a presidência do partido, em 2025.

Se Moro for cassado, haverá nova eleição no Paraná para a cadeira ocupada pelo ex-juiz da Lava Jato no Senado. Hoje deputada, Gleisi quer concorrer. Zeca Dirceu, o filho do ex-ministro, também está de olho na vaga.

A quem pergunta se fala frequentemente com Lula, Dirceu responde, enigmático: “O presidente sabe o que eu penso e eu sei o que ele pensa.” Mas o que isso quer dizer? “Quando ele quer me procurar, sabe onde eu estou”. E conclui: “Eu saí do governo, mas o governo não sai de mim.”

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