Diretor do Butantan diz que negativa de Bolsonaro representou menos 52 milhões de doses da Coronavac


À CPI, Dimas Covas revela aos senadores que proposta enviada em outubro de 2020 para o Ministério da Saúde previa 100 milhões de doses até maio; contrato assinado só em janeiro possibilitou entrega de 47,2 milhões até agora

BRASÍLIA – O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou à CPI da Covid nesta quinta-feira, 27, que o governo Jair Bolsonaro negou uma oferta de vacinas que poderia ter ampliado em 111% o total de doses da Coronavac entregues até maio ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Segundo o médico, a proposta feita ao Ministério da Saúde em 7 de outubro de 2020 estabelecia a entrega de 100 milhões de doses até o fim deste mês. Com a interrupção das negociações determinada por Bolsonaro, o contrato só foi assinado em janeiro de 2021 e a entrega desse quantitativo foi empurrada para setembro. O número de doses entregues até agora é de 47,2 milhões.

Essa diferença poderia ter ao menos dobrado o número de brasileiros com esquema vacinal completo contra a covid hoje. Até quarta, 26, o total de pessoas que tinham tomado as duas doses da vacina (somando Coronavac e Oxford/AstraZeneca) era de 21 milhões. Se tivéssemos as 100 milhões de doses que seriam entregues até maio, estaríamos perto dos 50 milhões de vacinados. 

A oferta de outubro não foi a primeira. Covas disse ter enviado um ofício ao Ministério da Saúde ainda em 30 de julho de 2020, assinalando a importância de parceria já naquele momento da pandemia.

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O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, durante depoimento na CPI da Covid Foto: Gabriela Biló/Estadão

“Ofertamos 60 milhões de doses que poderiam ser entregues no último trimestre de 2020. Um pouquinho depois, como não houve uma resposta efetiva, nós reforçamos o ofício. Em agosto, ainda solicitamos apoio financeiro do ministério para apoiar o estudo clínico, com previsão de custo de R$ 100 milhões, e para reformar a fábrica”, disse Covas. Já em outubro, a proposta de doses subiu para 100 milhões, sendo 45 milhões até dezembro, 15 milhões até fevereiro e outros 40 milhões até maio.

Com os quantitativos, o diretor do Butantan quis dar a entender aos senadores que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a vacinar contra o novo coronavírus. “O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro (de 2020). No final de dezembro, o mundo tinha aplicado um pouco mais de 4 milhões de doses e nós tínhamos, no Butantan, 5,5 milhões de doses prontas, mais 4 milhões em processamento sem contrato com o ministério. Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou”, afirmou Covas.

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Ele não mencionou, porém, que, em dezembro, os testes de eficácia da Coronavac ainda não haviam sido finalizados. A apresentação dos dados à Anvisa ocorreu em janeiro, o que indica, portanto, que dificilmente o Brasil seria o primeiro a vacinar no mundo, mas poderia ter imunizado um número muito maior de pessoas hoje se não fossem as recusas federais às ofertas do Butantan e de outros fabricantes de vacinas.

“Eu, muitas vezes, declarei de público que o Brasil poderia ser o primeiro País do mundo a começar a vacinação, não fossem os percalços que nós tivemos de enfrentar durante esse período, tanto do ponto de vista do contrato como do ponto de vista também regulatório”.

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Os percalços mencionados teriam sido as constantes declarações do presidente Bolsonaro contrárias a vacinas e, especialmente, à vacina do Butantan, classificada por ele diversas vezes como a “vacina chinesa do Doria”, já que o instituto é vinculado ao governo paulista. A postura do presidente, segundo Covas, interromperam as negociações, retomadas apenas em janeiro deste ano.

“A partir desse ponto (da crítica de Bolsonaro), é notório que houve uma inflexão. E eu digo isso porque, no final da reunião, no dia 20 (de outubro de 2020), com a presença de vários governadores, vários parlamentares, nós saímos de lá muito satisfeitos com a evolução dessas tratativas”, contou Covas. “Achávamos que, de fato, iríamos ter resolvido parte desse problema. E aí, no outro dia de manhã, existiriam conversações adicionais”.

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O diretor do Instituto Butantan observou que, infelizmente, o diálogo não prosseguiu. “Houve, sim, uma manifestação do presidente da República, naquele momento, dizendo que a vacina não seria, de fato incorporada, não haveria o progresso desse processo”, declarou o médico à CPI.

Declarações anti-China

Para Covas, as declarações agressivas de Bolsonaro contra a China – o presidente já chegou a acusar o país de criar uma “guerra química” -- criam dificuldades para que os insumos das vacinas cheguem ao Brasil e novas doses sejam aplicadas.

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“Não precisa dizer que tem problema de relacionamento. Isso é senso comum. Quer dizer, cada declaração que ocorre aqui no Brasil repercute na imprensa da China. As pessoas da China têm grande orgulho da contribuição que a China dá ao mundo neste momento. Então, obviamente isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, e hoje demoram mais de mês para serem resolvidas”, reclamou o médico.

As informações prestadas pelo diretor do Instituto Butantan sobre a Coronavac se somam ao que disse o presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. Em depoimento à CPI, há duas semanas, Murillo disse que o governo ignorou por três meses ofertas de vacinas do laboratório farmacêutico. /COLABORARAM MATHEUS LARA, FABIA RENATA, ESPECIAL PARA O ‘ESTADÃO’

BRASÍLIA – O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou à CPI da Covid nesta quinta-feira, 27, que o governo Jair Bolsonaro negou uma oferta de vacinas que poderia ter ampliado em 111% o total de doses da Coronavac entregues até maio ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Segundo o médico, a proposta feita ao Ministério da Saúde em 7 de outubro de 2020 estabelecia a entrega de 100 milhões de doses até o fim deste mês. Com a interrupção das negociações determinada por Bolsonaro, o contrato só foi assinado em janeiro de 2021 e a entrega desse quantitativo foi empurrada para setembro. O número de doses entregues até agora é de 47,2 milhões.

Essa diferença poderia ter ao menos dobrado o número de brasileiros com esquema vacinal completo contra a covid hoje. Até quarta, 26, o total de pessoas que tinham tomado as duas doses da vacina (somando Coronavac e Oxford/AstraZeneca) era de 21 milhões. Se tivéssemos as 100 milhões de doses que seriam entregues até maio, estaríamos perto dos 50 milhões de vacinados. 

A oferta de outubro não foi a primeira. Covas disse ter enviado um ofício ao Ministério da Saúde ainda em 30 de julho de 2020, assinalando a importância de parceria já naquele momento da pandemia.

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, durante depoimento na CPI da Covid Foto: Gabriela Biló/Estadão

“Ofertamos 60 milhões de doses que poderiam ser entregues no último trimestre de 2020. Um pouquinho depois, como não houve uma resposta efetiva, nós reforçamos o ofício. Em agosto, ainda solicitamos apoio financeiro do ministério para apoiar o estudo clínico, com previsão de custo de R$ 100 milhões, e para reformar a fábrica”, disse Covas. Já em outubro, a proposta de doses subiu para 100 milhões, sendo 45 milhões até dezembro, 15 milhões até fevereiro e outros 40 milhões até maio.

Com os quantitativos, o diretor do Butantan quis dar a entender aos senadores que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a vacinar contra o novo coronavírus. “O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro (de 2020). No final de dezembro, o mundo tinha aplicado um pouco mais de 4 milhões de doses e nós tínhamos, no Butantan, 5,5 milhões de doses prontas, mais 4 milhões em processamento sem contrato com o ministério. Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou”, afirmou Covas.

Ele não mencionou, porém, que, em dezembro, os testes de eficácia da Coronavac ainda não haviam sido finalizados. A apresentação dos dados à Anvisa ocorreu em janeiro, o que indica, portanto, que dificilmente o Brasil seria o primeiro a vacinar no mundo, mas poderia ter imunizado um número muito maior de pessoas hoje se não fossem as recusas federais às ofertas do Butantan e de outros fabricantes de vacinas.

“Eu, muitas vezes, declarei de público que o Brasil poderia ser o primeiro País do mundo a começar a vacinação, não fossem os percalços que nós tivemos de enfrentar durante esse período, tanto do ponto de vista do contrato como do ponto de vista também regulatório”.

Os percalços mencionados teriam sido as constantes declarações do presidente Bolsonaro contrárias a vacinas e, especialmente, à vacina do Butantan, classificada por ele diversas vezes como a “vacina chinesa do Doria”, já que o instituto é vinculado ao governo paulista. A postura do presidente, segundo Covas, interromperam as negociações, retomadas apenas em janeiro deste ano.

“A partir desse ponto (da crítica de Bolsonaro), é notório que houve uma inflexão. E eu digo isso porque, no final da reunião, no dia 20 (de outubro de 2020), com a presença de vários governadores, vários parlamentares, nós saímos de lá muito satisfeitos com a evolução dessas tratativas”, contou Covas. “Achávamos que, de fato, iríamos ter resolvido parte desse problema. E aí, no outro dia de manhã, existiriam conversações adicionais”.

O diretor do Instituto Butantan observou que, infelizmente, o diálogo não prosseguiu. “Houve, sim, uma manifestação do presidente da República, naquele momento, dizendo que a vacina não seria, de fato incorporada, não haveria o progresso desse processo”, declarou o médico à CPI.

Declarações anti-China

Para Covas, as declarações agressivas de Bolsonaro contra a China – o presidente já chegou a acusar o país de criar uma “guerra química” -- criam dificuldades para que os insumos das vacinas cheguem ao Brasil e novas doses sejam aplicadas.

“Não precisa dizer que tem problema de relacionamento. Isso é senso comum. Quer dizer, cada declaração que ocorre aqui no Brasil repercute na imprensa da China. As pessoas da China têm grande orgulho da contribuição que a China dá ao mundo neste momento. Então, obviamente isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, e hoje demoram mais de mês para serem resolvidas”, reclamou o médico.

As informações prestadas pelo diretor do Instituto Butantan sobre a Coronavac se somam ao que disse o presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. Em depoimento à CPI, há duas semanas, Murillo disse que o governo ignorou por três meses ofertas de vacinas do laboratório farmacêutico. /COLABORARAM MATHEUS LARA, FABIA RENATA, ESPECIAL PARA O ‘ESTADÃO’

BRASÍLIA – O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou à CPI da Covid nesta quinta-feira, 27, que o governo Jair Bolsonaro negou uma oferta de vacinas que poderia ter ampliado em 111% o total de doses da Coronavac entregues até maio ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Segundo o médico, a proposta feita ao Ministério da Saúde em 7 de outubro de 2020 estabelecia a entrega de 100 milhões de doses até o fim deste mês. Com a interrupção das negociações determinada por Bolsonaro, o contrato só foi assinado em janeiro de 2021 e a entrega desse quantitativo foi empurrada para setembro. O número de doses entregues até agora é de 47,2 milhões.

Essa diferença poderia ter ao menos dobrado o número de brasileiros com esquema vacinal completo contra a covid hoje. Até quarta, 26, o total de pessoas que tinham tomado as duas doses da vacina (somando Coronavac e Oxford/AstraZeneca) era de 21 milhões. Se tivéssemos as 100 milhões de doses que seriam entregues até maio, estaríamos perto dos 50 milhões de vacinados. 

A oferta de outubro não foi a primeira. Covas disse ter enviado um ofício ao Ministério da Saúde ainda em 30 de julho de 2020, assinalando a importância de parceria já naquele momento da pandemia.

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, durante depoimento na CPI da Covid Foto: Gabriela Biló/Estadão

“Ofertamos 60 milhões de doses que poderiam ser entregues no último trimestre de 2020. Um pouquinho depois, como não houve uma resposta efetiva, nós reforçamos o ofício. Em agosto, ainda solicitamos apoio financeiro do ministério para apoiar o estudo clínico, com previsão de custo de R$ 100 milhões, e para reformar a fábrica”, disse Covas. Já em outubro, a proposta de doses subiu para 100 milhões, sendo 45 milhões até dezembro, 15 milhões até fevereiro e outros 40 milhões até maio.

Com os quantitativos, o diretor do Butantan quis dar a entender aos senadores que o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a vacinar contra o novo coronavírus. “O mundo começou a vacinação no dia 8 de dezembro (de 2020). No final de dezembro, o mundo tinha aplicado um pouco mais de 4 milhões de doses e nós tínhamos, no Butantan, 5,5 milhões de doses prontas, mais 4 milhões em processamento sem contrato com o ministério. Poderíamos ter iniciado a vacinação antes do que começou”, afirmou Covas.

Ele não mencionou, porém, que, em dezembro, os testes de eficácia da Coronavac ainda não haviam sido finalizados. A apresentação dos dados à Anvisa ocorreu em janeiro, o que indica, portanto, que dificilmente o Brasil seria o primeiro a vacinar no mundo, mas poderia ter imunizado um número muito maior de pessoas hoje se não fossem as recusas federais às ofertas do Butantan e de outros fabricantes de vacinas.

“Eu, muitas vezes, declarei de público que o Brasil poderia ser o primeiro País do mundo a começar a vacinação, não fossem os percalços que nós tivemos de enfrentar durante esse período, tanto do ponto de vista do contrato como do ponto de vista também regulatório”.

Os percalços mencionados teriam sido as constantes declarações do presidente Bolsonaro contrárias a vacinas e, especialmente, à vacina do Butantan, classificada por ele diversas vezes como a “vacina chinesa do Doria”, já que o instituto é vinculado ao governo paulista. A postura do presidente, segundo Covas, interromperam as negociações, retomadas apenas em janeiro deste ano.

“A partir desse ponto (da crítica de Bolsonaro), é notório que houve uma inflexão. E eu digo isso porque, no final da reunião, no dia 20 (de outubro de 2020), com a presença de vários governadores, vários parlamentares, nós saímos de lá muito satisfeitos com a evolução dessas tratativas”, contou Covas. “Achávamos que, de fato, iríamos ter resolvido parte desse problema. E aí, no outro dia de manhã, existiriam conversações adicionais”.

O diretor do Instituto Butantan observou que, infelizmente, o diálogo não prosseguiu. “Houve, sim, uma manifestação do presidente da República, naquele momento, dizendo que a vacina não seria, de fato incorporada, não haveria o progresso desse processo”, declarou o médico à CPI.

Declarações anti-China

Para Covas, as declarações agressivas de Bolsonaro contra a China – o presidente já chegou a acusar o país de criar uma “guerra química” -- criam dificuldades para que os insumos das vacinas cheguem ao Brasil e novas doses sejam aplicadas.

“Não precisa dizer que tem problema de relacionamento. Isso é senso comum. Quer dizer, cada declaração que ocorre aqui no Brasil repercute na imprensa da China. As pessoas da China têm grande orgulho da contribuição que a China dá ao mundo neste momento. Então, obviamente isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, e hoje demoram mais de mês para serem resolvidas”, reclamou o médico.

As informações prestadas pelo diretor do Instituto Butantan sobre a Coronavac se somam ao que disse o presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. Em depoimento à CPI, há duas semanas, Murillo disse que o governo ignorou por três meses ofertas de vacinas do laboratório farmacêutico. /COLABORARAM MATHEUS LARA, FABIA RENATA, ESPECIAL PARA O ‘ESTADÃO’

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