A 11 dias do primeiro turno, Ciro Gomes (PDT) segue com o mesmo patamar de intenção de votos com que entrou em 2022: na casa dos 7%. O número de candidatos afunilou e a campanha foi para as ruas, mas nada mudou a perspectiva de ele sair derrotado na disputa presidencial que Ciro diz ser a última de sua carreira política. A postura e o discurso do candidato na sabatina promovida pelo Estadão em parceria com a FAAP nesta quarta-feira, 21, ajudam a explicar o insucesso do pedetista.
Ciro aposta na estratégia que o eleitor mostra rejeitar: a equivalência entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro. Os dois, segundo ele, representam os mesmos modelos político e econômico; um com um fascismo de direita e outro com um “fascismo de esquerda”.
Não é como pensa a maior parte do eleitorado brasileiro. A última pesquisa Datafolha mostrou que, embora os líderes nas pesquisas tenham alto índice de rejeição, só 6% dos eleitores rejeitam tanto Lula como Bolsonaro - justamente o teto do candidato do PDT. Metade dos eleitores que não votam em Lula e em Bolsonaro escolhem um dos dois como a segunda opção. A terceira via não decolou, e a Ciro tem restado o discurso de se colocar como vítima de um grande sistema que opera no submundo da política.
Ciro disse hoje que há um “grande esforço de um sistemão”, um “deep state” brasileiro, que quer manter tudo como está. A expressão era uma das teorias conspiratórias de Donald Trump para se vender como um outsider e conquistar a Casa Branca. Colou em 2016. Também levou Bolsonaro ao Planalto em 2018. Mas a ideia do “salvador da pátria” contra os políticos saiu derrotada em 2020 lá e mostra seus sinais de esgotamento aqui.
Para não se posicionar sobre temas questionados, Ciro apela ao ataque a jornalistas, interrompe as perguntas, fica irritado, sugere que a imprensa reproduz o que chama de “gabinete do ódio” petista. Discutir aborto, diz ele, é parte de um “esquerdismo infantil” que beneficia a direita. E ficamos todos sem saber o que de fato o candidato à Presidência pensa sobre o tema.
Ciro Gomes ataca os adversários, o sistema político, pilares econômicos estabelecidos desde FHC, de Guilherme Boulos (PSOL) a Henrique Meirelles (União Brasil), a classe artística que se junta a Lula, o jornalismo. Por isso, e pela incapacidade de atrair mais partidos em torno de sua candidatura, Ciro é questionado, entrevista após entrevista, sobre como e com quem pretende governar se eleito.
A narrativa “antitudo” não o tem ajudado a conquistar votos. Nem a indicar como seria seu governo. Mas parece que nada disso importa, pois a sabatina desta quarta-feira mostra que Ciro seguirá agarrado a ela.