BRASÍLIA- O discurso de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi claramente direcionado ao antecessor, Jair Bolsonaro, mas o tom pesado acabou atingindo figuras que estavam ao seu lado e na sua frente no plenário da Câmara. Sobrou para os presidentes da Câmara, Arthur Lira (Progressitas-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e até para a ex-presidente Dilma Rousseff.
Sentado do lado direito de Lula, Lira ouviu que houve um “desastre orçamentário” no País. O deputado foi o fiador do orçamento secreto criado por Bolsonaro para comprar votos no Congresso e que tirou das mãos do Executivo a decisão sobre onde alocar bilhões de reais. Do lado esquerdo, Pacheco ouviu Lula pedir punição a responsáveis pelos 700 mil mortos da pandemia. “As responsabilidades por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes”, afirmou. Pacheco tentou impedir a instalação da CPI da Pandemia e a oposição teve que ingressar no Supremo Tribunal Federal (STF) para demovê-lo.
Por sua vez, Dilma Rousseff, que estava numa das primeiras fileiras do plenário, ouviu Lula criticar a política ambiental de destruição da Amazônia e de ataques aos povos indígenas. O petista estava se referindo, novamente, a Bolsonaro. Porém, foi na gestão de Dilma tanto como ministra da Casa Civil como presidente que foram construídas obras de hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau consideradas por ambientalistas como grandes desastres para a floresta. Lula também afirmou que irá “revogar todas as injustiças cometidas contra os povos indígenas”. Foi no governo Dilma que a Advocacia Geral da União (AGU) tentou incorporar a tese do marco temporal, hoje o tema de maior preocupação das lideranças indígenas. A tese do marco temporal só reconhece o direito à terra de quem a ocupava até a promulgação da Constituição de 88.
Rapinagem, terrível, desastre. Lula utilizou adjetivos em vários momentos do seu discurso. Chamou de “estupidez” o teto de gastos aprovado no governo Michel Temer para conter os gastos públicos. Falou em genocídio ao se referir à pandemia da Covid-19 e classificou a condução do governo Bolsonaro na crise de saúde como uma “atitude criminosa de um governo negacionista, obscurantista e insensível à vida”. Em nenhum momento Lula citou o nome de Bolsonaro, mas adjetivou seu governo várias vezes como um “projeto autoritário de poder”. “O diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição de Governo é estarrecedor”, afirmou.
Lula disse ainda que “os recursos do País foram rapinados para saciar a estupidez dos rentistas e de acionistas privados das empresas públicas”. No discurso de 31 minutos, o presidente não fez autocrítica sobre seus governos anteriores ou mencionou a prisão em Curitiba.