Disputa por pasta de Transportes em SP deve gerar conflito de interesses entre alas do União e do PL


Aliados de Milton Leite defendem que ele indique nome para chefiar Secretaria; em contrapartida, setores do partido de Mello Araújo querem que o vice-prefeito lidere a pasta para ‘tirar o PCC dos ônibus’ da capital paulista

Por Pedro Lima

A disputa pelo comando – ou ao menos pela influência – da Secretaria de Transportes na nova gestão de Ricardo Nunes (MDB) deve gerar certa indisposição entre os aliados do prefeito e o grupo de Milton Leite (União), atual presidente da Câmara Municipal de São Paulo. O impasse ocorre em meio à pressão de uma ala do União Brasil para que Leite assuma a Secretaria, considerada uma das três mais importantes do governo, ou indique alguém de sua confiança para o cargo, onde ele já exerce certa influência.

Em contrapartida, setores do PL defendem que o vice-prefeito eleito, Coronel Mello Araújo (PL), assuma a liderança da pasta, acumulando essa função com suas atribuições na vice-prefeitura.

Essa articulação tem por objetivo, segundo os correligionários do policial militar, abrir caminho para que o ex-Rota capitalize a “bandeira de ter tirado o Primeiro Comando da Capital (PCC)” do sistema de ônibus do município. Nos bastidores, a estratégia busca reforçar a imagem de Mello como “combatente do crime”, já em uma tentativa de cacifar seu nome para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2028 – diante da impossibilidade de Nunes concorrer novamente ao cargo.

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Um dos filiados ao União Brasil, partido de Leite, admite que essa movimentação pode se tornar a “primeira indisposição do novo mandato do prefeito com a Câmara”. O mal-estar poderia se manifestar mesmo que de maneira indireta, diante da grande influência política do atual presidente do Legislativo paulistano sobre os vereadores da Casa.

Além disso, os parlamentares eleitos acreditam que, mesmo sem a presença de Milton no plenário, sua autoridade deverá se manter na próxima legislatura.

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Aliados de Milton Leite (União) e de Mello Araújo (PL) defendem participação de políticos na Secretaria dos Transportes em nova gestão de Ricardo Nunes (MDB) na Prefeitura de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão, Daniel Teixeira/Estadão

Os correligionários de Jair Bolsonaro (PL), entretanto, não acreditam na possibilidade de “maiores conflitos” entre Executivo e Legislativo municipais por isso. Eles reafirmam a intenção de Nunes de “manter um bom relacionamento” com todas as esferas de poder – “em nível municipal, estadual e federal, por sinal.”

Milton Leite, ao Estadão, declarou que “nunca ouviu falar” da informação, e garantiu à reportagem que não será secretário. Nunes seguiu a mesma linha do vereador ao repetir seu discurso. “Não tratei nada sobre secretarias”, afirmou. Ele se reservou a dizer que “não tem definição” quando indagado sobre a possibilidade de destinar a Secretaria dos Transportes a um dos dois nomes cotados nos bastidores.

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Entretanto, interlocutores sugerem que Leite não seria, necessariamente, o secretário de fato. Preferencialmente, o político estaria disputando a possibilidade de indicar alguém para a vaga, mantendo sua influência no setor. De acordo com esses aliados, o nome do vereador Ricardo Teixeira (União) aparece como o mais forte.

Teixeira também é o favorito para assumir a presidência da Câmara a partir do ano que vem – após acordo entre partidos da coligação de reeleição de Nunes, que garantiu ao União o apoio ao indicado da sigla para o comando da Casa pelos próximos quatro anos.

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Caso ele assuma a pasta dos Transportes, ocuparia o posto vago na Câmara o primeiro vereador suplente do União da lista: Adilson Amadeu. Em abril deste ano, o Estadão revelou que cinco alvos da Operação Fim da Linha, que investiga suspeitas de ligação entre duas empresas de ônibus de São Paulo e o PCC, fizeram doações de campanha ao diretório municipal do antigo DEM, na época controlado por Milton Leite, e a um ex-vereador do PT nas eleições de 2020.

A análise da prestação de contas apresentada pelo antigo DEM ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrava que o dinheiro dessas doações foi parar na conta de alguns candidatos específicos – um deles é Amadeu, que foi contemplado pelo recurso doado por Moisés Gomes Pinto, sócio da Transwolff, no valor de R$ 50 mil. “Essa doação veio através do fundo do diretório municipal do partido, que fique claro”, disse Amadeu, em mensagem enviada ao Estadão.

Uma saída quase “forçada” de Teixeira da Câmara, porém, comprometeria a articulação de Leite para indicar o nome de um aliado para disputar a presidência da Casa. Teixeira é o único vereador remanescente da lista de possíveis indicados de Leite, já que outros nomes foram descartados pelo próprio prefeito, caso de Rubinho Nunes (União), ou não têm experiência no Legislativo. Indicar Amadeu, vereador suplente, para presidir o plenário “não é a melhor coisa a se fazer”, na visão de seus próprios aliados.

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Nunes terá que distribuir cargos em sua nova gestão entre os 11 partidos que compuseram sua coligação durante a campanha eleitoral. Ao menos os principais, como PL, União e PSD, além do MDB, seu próprio partido, já têm manifestado interesse nas três secretarias mais importantes do governo: Saúde, Educação e Transportes.

Anteriormente, o prefeito havia afirmado a seus aliados que os secretários, ao menos dessas pastas, dada a importância das categorias, seriam indicações dele. Pessoas próximas a Nunes mencionam certo receio do emedebista com os nomes que assumirão os cargos mais altos dessas secretarias, temendo que qualquer mínimo erro “respingue nele”.

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Ainda que o nome de Mello, indicado para a pasta dos Transportes, não seja uma escolha direta de Bolsonaro, Nunes quer evitar qualquer indisposição com o ex-presidente. Correligionários emedebistas sinalizam que é interessante para o prefeito reeleito mostrar que quer seu vice atuando de forma ativa em sua nova gestão – uma estratégia que, para eles, pode resultar em um apoio significativo do presidente de honra do PL a Nunes em futuras empreitadas na política.

A doutora em antropologia Isabela Kalil acredita que a pasta dos Transportes tem ganhado mais importância com o passar do tempo, e que antes era vista como uma secretaria “estritamente técnica”.

“Como essa agenda foi central em um contexto político de um evento de grandes proporções, como foi em junho de 2013, com o aumento das tarifas, os ‘20 centavos’, a agenda de transporte passou a ter um peso mais relevante”, afirmou. “Tem um peso econômico, tem um peso para o Estado, tem um peso para a iniciativa privada e tem um peso político”, disse Isabela Kalil.

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A disputa pelo comando – ou ao menos pela influência – da Secretaria de Transportes na nova gestão de Ricardo Nunes (MDB) deve gerar certa indisposição entre os aliados do prefeito e o grupo de Milton Leite (União), atual presidente da Câmara Municipal de São Paulo. O impasse ocorre em meio à pressão de uma ala do União Brasil para que Leite assuma a Secretaria, considerada uma das três mais importantes do governo, ou indique alguém de sua confiança para o cargo, onde ele já exerce certa influência.

Em contrapartida, setores do PL defendem que o vice-prefeito eleito, Coronel Mello Araújo (PL), assuma a liderança da pasta, acumulando essa função com suas atribuições na vice-prefeitura.

Essa articulação tem por objetivo, segundo os correligionários do policial militar, abrir caminho para que o ex-Rota capitalize a “bandeira de ter tirado o Primeiro Comando da Capital (PCC)” do sistema de ônibus do município. Nos bastidores, a estratégia busca reforçar a imagem de Mello como “combatente do crime”, já em uma tentativa de cacifar seu nome para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2028 – diante da impossibilidade de Nunes concorrer novamente ao cargo.

Um dos filiados ao União Brasil, partido de Leite, admite que essa movimentação pode se tornar a “primeira indisposição do novo mandato do prefeito com a Câmara”. O mal-estar poderia se manifestar mesmo que de maneira indireta, diante da grande influência política do atual presidente do Legislativo paulistano sobre os vereadores da Casa.

Além disso, os parlamentares eleitos acreditam que, mesmo sem a presença de Milton no plenário, sua autoridade deverá se manter na próxima legislatura.

Aliados de Milton Leite (União) e de Mello Araújo (PL) defendem participação de políticos na Secretaria dos Transportes em nova gestão de Ricardo Nunes (MDB) na Prefeitura de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão, Daniel Teixeira/Estadão

Os correligionários de Jair Bolsonaro (PL), entretanto, não acreditam na possibilidade de “maiores conflitos” entre Executivo e Legislativo municipais por isso. Eles reafirmam a intenção de Nunes de “manter um bom relacionamento” com todas as esferas de poder – “em nível municipal, estadual e federal, por sinal.”

Milton Leite, ao Estadão, declarou que “nunca ouviu falar” da informação, e garantiu à reportagem que não será secretário. Nunes seguiu a mesma linha do vereador ao repetir seu discurso. “Não tratei nada sobre secretarias”, afirmou. Ele se reservou a dizer que “não tem definição” quando indagado sobre a possibilidade de destinar a Secretaria dos Transportes a um dos dois nomes cotados nos bastidores.

Entretanto, interlocutores sugerem que Leite não seria, necessariamente, o secretário de fato. Preferencialmente, o político estaria disputando a possibilidade de indicar alguém para a vaga, mantendo sua influência no setor. De acordo com esses aliados, o nome do vereador Ricardo Teixeira (União) aparece como o mais forte.

Teixeira também é o favorito para assumir a presidência da Câmara a partir do ano que vem – após acordo entre partidos da coligação de reeleição de Nunes, que garantiu ao União o apoio ao indicado da sigla para o comando da Casa pelos próximos quatro anos.

Caso ele assuma a pasta dos Transportes, ocuparia o posto vago na Câmara o primeiro vereador suplente do União da lista: Adilson Amadeu. Em abril deste ano, o Estadão revelou que cinco alvos da Operação Fim da Linha, que investiga suspeitas de ligação entre duas empresas de ônibus de São Paulo e o PCC, fizeram doações de campanha ao diretório municipal do antigo DEM, na época controlado por Milton Leite, e a um ex-vereador do PT nas eleições de 2020.

A análise da prestação de contas apresentada pelo antigo DEM ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrava que o dinheiro dessas doações foi parar na conta de alguns candidatos específicos – um deles é Amadeu, que foi contemplado pelo recurso doado por Moisés Gomes Pinto, sócio da Transwolff, no valor de R$ 50 mil. “Essa doação veio através do fundo do diretório municipal do partido, que fique claro”, disse Amadeu, em mensagem enviada ao Estadão.

Uma saída quase “forçada” de Teixeira da Câmara, porém, comprometeria a articulação de Leite para indicar o nome de um aliado para disputar a presidência da Casa. Teixeira é o único vereador remanescente da lista de possíveis indicados de Leite, já que outros nomes foram descartados pelo próprio prefeito, caso de Rubinho Nunes (União), ou não têm experiência no Legislativo. Indicar Amadeu, vereador suplente, para presidir o plenário “não é a melhor coisa a se fazer”, na visão de seus próprios aliados.

Nunes terá que distribuir cargos em sua nova gestão entre os 11 partidos que compuseram sua coligação durante a campanha eleitoral. Ao menos os principais, como PL, União e PSD, além do MDB, seu próprio partido, já têm manifestado interesse nas três secretarias mais importantes do governo: Saúde, Educação e Transportes.

Anteriormente, o prefeito havia afirmado a seus aliados que os secretários, ao menos dessas pastas, dada a importância das categorias, seriam indicações dele. Pessoas próximas a Nunes mencionam certo receio do emedebista com os nomes que assumirão os cargos mais altos dessas secretarias, temendo que qualquer mínimo erro “respingue nele”.

Ainda que o nome de Mello, indicado para a pasta dos Transportes, não seja uma escolha direta de Bolsonaro, Nunes quer evitar qualquer indisposição com o ex-presidente. Correligionários emedebistas sinalizam que é interessante para o prefeito reeleito mostrar que quer seu vice atuando de forma ativa em sua nova gestão – uma estratégia que, para eles, pode resultar em um apoio significativo do presidente de honra do PL a Nunes em futuras empreitadas na política.

A doutora em antropologia Isabela Kalil acredita que a pasta dos Transportes tem ganhado mais importância com o passar do tempo, e que antes era vista como uma secretaria “estritamente técnica”.

“Como essa agenda foi central em um contexto político de um evento de grandes proporções, como foi em junho de 2013, com o aumento das tarifas, os ‘20 centavos’, a agenda de transporte passou a ter um peso mais relevante”, afirmou. “Tem um peso econômico, tem um peso para o Estado, tem um peso para a iniciativa privada e tem um peso político”, disse Isabela Kalil.

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Em contrapartida, setores do PL defendem que o vice-prefeito eleito, Coronel Mello Araújo (PL), assuma a liderança da pasta, acumulando essa função com suas atribuições na vice-prefeitura.

Essa articulação tem por objetivo, segundo os correligionários do policial militar, abrir caminho para que o ex-Rota capitalize a “bandeira de ter tirado o Primeiro Comando da Capital (PCC)” do sistema de ônibus do município. Nos bastidores, a estratégia busca reforçar a imagem de Mello como “combatente do crime”, já em uma tentativa de cacifar seu nome para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2028 – diante da impossibilidade de Nunes concorrer novamente ao cargo.

Um dos filiados ao União Brasil, partido de Leite, admite que essa movimentação pode se tornar a “primeira indisposição do novo mandato do prefeito com a Câmara”. O mal-estar poderia se manifestar mesmo que de maneira indireta, diante da grande influência política do atual presidente do Legislativo paulistano sobre os vereadores da Casa.

Além disso, os parlamentares eleitos acreditam que, mesmo sem a presença de Milton no plenário, sua autoridade deverá se manter na próxima legislatura.

Aliados de Milton Leite (União) e de Mello Araújo (PL) defendem participação de políticos na Secretaria dos Transportes em nova gestão de Ricardo Nunes (MDB) na Prefeitura de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão, Daniel Teixeira/Estadão

Os correligionários de Jair Bolsonaro (PL), entretanto, não acreditam na possibilidade de “maiores conflitos” entre Executivo e Legislativo municipais por isso. Eles reafirmam a intenção de Nunes de “manter um bom relacionamento” com todas as esferas de poder – “em nível municipal, estadual e federal, por sinal.”

Milton Leite, ao Estadão, declarou que “nunca ouviu falar” da informação, e garantiu à reportagem que não será secretário. Nunes seguiu a mesma linha do vereador ao repetir seu discurso. “Não tratei nada sobre secretarias”, afirmou. Ele se reservou a dizer que “não tem definição” quando indagado sobre a possibilidade de destinar a Secretaria dos Transportes a um dos dois nomes cotados nos bastidores.

Entretanto, interlocutores sugerem que Leite não seria, necessariamente, o secretário de fato. Preferencialmente, o político estaria disputando a possibilidade de indicar alguém para a vaga, mantendo sua influência no setor. De acordo com esses aliados, o nome do vereador Ricardo Teixeira (União) aparece como o mais forte.

Teixeira também é o favorito para assumir a presidência da Câmara a partir do ano que vem – após acordo entre partidos da coligação de reeleição de Nunes, que garantiu ao União o apoio ao indicado da sigla para o comando da Casa pelos próximos quatro anos.

Caso ele assuma a pasta dos Transportes, ocuparia o posto vago na Câmara o primeiro vereador suplente do União da lista: Adilson Amadeu. Em abril deste ano, o Estadão revelou que cinco alvos da Operação Fim da Linha, que investiga suspeitas de ligação entre duas empresas de ônibus de São Paulo e o PCC, fizeram doações de campanha ao diretório municipal do antigo DEM, na época controlado por Milton Leite, e a um ex-vereador do PT nas eleições de 2020.

A análise da prestação de contas apresentada pelo antigo DEM ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrava que o dinheiro dessas doações foi parar na conta de alguns candidatos específicos – um deles é Amadeu, que foi contemplado pelo recurso doado por Moisés Gomes Pinto, sócio da Transwolff, no valor de R$ 50 mil. “Essa doação veio através do fundo do diretório municipal do partido, que fique claro”, disse Amadeu, em mensagem enviada ao Estadão.

Uma saída quase “forçada” de Teixeira da Câmara, porém, comprometeria a articulação de Leite para indicar o nome de um aliado para disputar a presidência da Casa. Teixeira é o único vereador remanescente da lista de possíveis indicados de Leite, já que outros nomes foram descartados pelo próprio prefeito, caso de Rubinho Nunes (União), ou não têm experiência no Legislativo. Indicar Amadeu, vereador suplente, para presidir o plenário “não é a melhor coisa a se fazer”, na visão de seus próprios aliados.

Nunes terá que distribuir cargos em sua nova gestão entre os 11 partidos que compuseram sua coligação durante a campanha eleitoral. Ao menos os principais, como PL, União e PSD, além do MDB, seu próprio partido, já têm manifestado interesse nas três secretarias mais importantes do governo: Saúde, Educação e Transportes.

Anteriormente, o prefeito havia afirmado a seus aliados que os secretários, ao menos dessas pastas, dada a importância das categorias, seriam indicações dele. Pessoas próximas a Nunes mencionam certo receio do emedebista com os nomes que assumirão os cargos mais altos dessas secretarias, temendo que qualquer mínimo erro “respingue nele”.

Ainda que o nome de Mello, indicado para a pasta dos Transportes, não seja uma escolha direta de Bolsonaro, Nunes quer evitar qualquer indisposição com o ex-presidente. Correligionários emedebistas sinalizam que é interessante para o prefeito reeleito mostrar que quer seu vice atuando de forma ativa em sua nova gestão – uma estratégia que, para eles, pode resultar em um apoio significativo do presidente de honra do PL a Nunes em futuras empreitadas na política.

A doutora em antropologia Isabela Kalil acredita que a pasta dos Transportes tem ganhado mais importância com o passar do tempo, e que antes era vista como uma secretaria “estritamente técnica”.

“Como essa agenda foi central em um contexto político de um evento de grandes proporções, como foi em junho de 2013, com o aumento das tarifas, os ‘20 centavos’, a agenda de transporte passou a ter um peso mais relevante”, afirmou. “Tem um peso econômico, tem um peso para o Estado, tem um peso para a iniciativa privada e tem um peso político”, disse Isabela Kalil.

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A disputa pelo comando – ou ao menos pela influência – da Secretaria de Transportes na nova gestão de Ricardo Nunes (MDB) deve gerar certa indisposição entre os aliados do prefeito e o grupo de Milton Leite (União), atual presidente da Câmara Municipal de São Paulo. O impasse ocorre em meio à pressão de uma ala do União Brasil para que Leite assuma a Secretaria, considerada uma das três mais importantes do governo, ou indique alguém de sua confiança para o cargo, onde ele já exerce certa influência.

Em contrapartida, setores do PL defendem que o vice-prefeito eleito, Coronel Mello Araújo (PL), assuma a liderança da pasta, acumulando essa função com suas atribuições na vice-prefeitura.

Essa articulação tem por objetivo, segundo os correligionários do policial militar, abrir caminho para que o ex-Rota capitalize a “bandeira de ter tirado o Primeiro Comando da Capital (PCC)” do sistema de ônibus do município. Nos bastidores, a estratégia busca reforçar a imagem de Mello como “combatente do crime”, já em uma tentativa de cacifar seu nome para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2028 – diante da impossibilidade de Nunes concorrer novamente ao cargo.

Um dos filiados ao União Brasil, partido de Leite, admite que essa movimentação pode se tornar a “primeira indisposição do novo mandato do prefeito com a Câmara”. O mal-estar poderia se manifestar mesmo que de maneira indireta, diante da grande influência política do atual presidente do Legislativo paulistano sobre os vereadores da Casa.

Além disso, os parlamentares eleitos acreditam que, mesmo sem a presença de Milton no plenário, sua autoridade deverá se manter na próxima legislatura.

Aliados de Milton Leite (União) e de Mello Araújo (PL) defendem participação de políticos na Secretaria dos Transportes em nova gestão de Ricardo Nunes (MDB) na Prefeitura de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão, Daniel Teixeira/Estadão

Os correligionários de Jair Bolsonaro (PL), entretanto, não acreditam na possibilidade de “maiores conflitos” entre Executivo e Legislativo municipais por isso. Eles reafirmam a intenção de Nunes de “manter um bom relacionamento” com todas as esferas de poder – “em nível municipal, estadual e federal, por sinal.”

Milton Leite, ao Estadão, declarou que “nunca ouviu falar” da informação, e garantiu à reportagem que não será secretário. Nunes seguiu a mesma linha do vereador ao repetir seu discurso. “Não tratei nada sobre secretarias”, afirmou. Ele se reservou a dizer que “não tem definição” quando indagado sobre a possibilidade de destinar a Secretaria dos Transportes a um dos dois nomes cotados nos bastidores.

Entretanto, interlocutores sugerem que Leite não seria, necessariamente, o secretário de fato. Preferencialmente, o político estaria disputando a possibilidade de indicar alguém para a vaga, mantendo sua influência no setor. De acordo com esses aliados, o nome do vereador Ricardo Teixeira (União) aparece como o mais forte.

Teixeira também é o favorito para assumir a presidência da Câmara a partir do ano que vem – após acordo entre partidos da coligação de reeleição de Nunes, que garantiu ao União o apoio ao indicado da sigla para o comando da Casa pelos próximos quatro anos.

Caso ele assuma a pasta dos Transportes, ocuparia o posto vago na Câmara o primeiro vereador suplente do União da lista: Adilson Amadeu. Em abril deste ano, o Estadão revelou que cinco alvos da Operação Fim da Linha, que investiga suspeitas de ligação entre duas empresas de ônibus de São Paulo e o PCC, fizeram doações de campanha ao diretório municipal do antigo DEM, na época controlado por Milton Leite, e a um ex-vereador do PT nas eleições de 2020.

A análise da prestação de contas apresentada pelo antigo DEM ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrava que o dinheiro dessas doações foi parar na conta de alguns candidatos específicos – um deles é Amadeu, que foi contemplado pelo recurso doado por Moisés Gomes Pinto, sócio da Transwolff, no valor de R$ 50 mil. “Essa doação veio através do fundo do diretório municipal do partido, que fique claro”, disse Amadeu, em mensagem enviada ao Estadão.

Uma saída quase “forçada” de Teixeira da Câmara, porém, comprometeria a articulação de Leite para indicar o nome de um aliado para disputar a presidência da Casa. Teixeira é o único vereador remanescente da lista de possíveis indicados de Leite, já que outros nomes foram descartados pelo próprio prefeito, caso de Rubinho Nunes (União), ou não têm experiência no Legislativo. Indicar Amadeu, vereador suplente, para presidir o plenário “não é a melhor coisa a se fazer”, na visão de seus próprios aliados.

Nunes terá que distribuir cargos em sua nova gestão entre os 11 partidos que compuseram sua coligação durante a campanha eleitoral. Ao menos os principais, como PL, União e PSD, além do MDB, seu próprio partido, já têm manifestado interesse nas três secretarias mais importantes do governo: Saúde, Educação e Transportes.

Anteriormente, o prefeito havia afirmado a seus aliados que os secretários, ao menos dessas pastas, dada a importância das categorias, seriam indicações dele. Pessoas próximas a Nunes mencionam certo receio do emedebista com os nomes que assumirão os cargos mais altos dessas secretarias, temendo que qualquer mínimo erro “respingue nele”.

Ainda que o nome de Mello, indicado para a pasta dos Transportes, não seja uma escolha direta de Bolsonaro, Nunes quer evitar qualquer indisposição com o ex-presidente. Correligionários emedebistas sinalizam que é interessante para o prefeito reeleito mostrar que quer seu vice atuando de forma ativa em sua nova gestão – uma estratégia que, para eles, pode resultar em um apoio significativo do presidente de honra do PL a Nunes em futuras empreitadas na política.

A doutora em antropologia Isabela Kalil acredita que a pasta dos Transportes tem ganhado mais importância com o passar do tempo, e que antes era vista como uma secretaria “estritamente técnica”.

“Como essa agenda foi central em um contexto político de um evento de grandes proporções, como foi em junho de 2013, com o aumento das tarifas, os ‘20 centavos’, a agenda de transporte passou a ter um peso mais relevante”, afirmou. “Tem um peso econômico, tem um peso para o Estado, tem um peso para a iniciativa privada e tem um peso político”, disse Isabela Kalil.

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