PORTO ALEGRE e SÃO PAULO - Sem acordo, os pré-candidatos no Rio Grande do Sul Edegar Pretto (PT), Beto Albuquerque (PSB) e Pedro Ruas (PSOL) podem deixar a esquerda de fora de um provável segundo turno da eleição para governador do Estado pela segunda vez seguida. Hoje, conforme pesquisas, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) - que renunciou ao cargo em março -, e o deputado federal e ex-ministro do governo Bolsonaro Onyx Lorenzoni (PL) lideram as intenções de voto.
A divisão das candidaturas de esquerda neste ano pode repetir o cenário de 2018, quando o segundo turno foi disputado entre Leite e o então governador, José Ivo Sartori (MDB), que deve ser candidato ao Senado neste ano.
Edegar Pretto (PT) é deputado estadual e tem participado das agendas de pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Estado. Beto Albuquerque (PSB) foi deputado federal e secretário estadual de Infraestrutura no governo de Tarso Genro (PT) no RS, além de ter sido candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva (Rede) em 2014. Já Pedro Ruas (PSOL), hoje deputado estadual e antes aliado do ex-governador Leonel Brizola no PDT, já foi o vereador mais votado de Porto Alegre.
Cada um dos representantes da esquerda gaúcha dá um motivo para não selar um acordo: da posição nas pesquisas de intenção de voto até a capacidade de reação e mobilização da sigla que representam para impulsionar a candidatura ainda no primeiro turno e conquistar uma vaga no segundo. O levantamento mais recente no Estado, de 16 de junho, da Exame/Ideia, aponta Onyx com 25% das intenções de voto, seguido de Leite, com 20%. Albuquerque e Pretto têm 11% e Ruas, 7%.
Para o presidente do PSB/RS, Mário Bruck, ainda existe a possibilidade de uma frente de esquerda para evitar um segundo turno com Leite e Onyx. “No momento, estamos trabalhando para isso. Estamos conversando, tentando achar uma unidade”, disse. Apesar de acreditar na aliança, o presidente do PSB disse que “não está nos planos do Beto abrir mão da cabeça da chapa”: “Entendemos que ele pode ampliar a votação no segundo turno e ganhar as eleições. As próprias pesquisas dizem isso”.
Além de esperar que Albuquerque lidere essa aliança de esquerda, Bruck considera que seria importante essa frente contar com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pretto afirmou que “já é o candidato de Lula” e declarou que gostaria de costurar uma “frente ampla contra o bolsonarismo”. Ele alega já ter acordos com PC do B e PV, além de manter conversas com o PSOL e buscar retomar os diálogos com o PSB.
“É importante que se diga: essa candidatura não é somente minha para abrir mão. Ela é do conjunto das forças do PT, dos ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro, do senador Paulo Paim, das bancadas estaduais e federais no Estado. Como o próprio Lula disse, a candidatura mais viável para ir para o segundo turno é aquela que tem maior densidade de militantes, estrutura e representação parlamentar. Por isso, acreditamos, e vejo pela mobilização em cada agenda que participo, que o povo enxerga na nossa candidatura a esperança de vitória”, declarou Pretto.
Pedro Ruas disse também que “está aberto para conversar sobre coligações”, mas destacou ter sido escolhido pelo PSOL para ser candidato. “Nas pesquisas de intenção de votos dos partidos de esquerda estou na frente, então eu não abriria mão de encabeçar a chapa. Podemos ter uma aliança com o PT, mas não com o PSB que nem considero de esquerda, já que fez parte do governo Sartori e apoiou privatizações.”
Nome forte da esquerda gaúcha, a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B) defendia a unidade das legendas de esquerda e considerava possível uma aliança entre Albuquerque e Ruas. Ela foi candidata a vice-presidente na chapa liderada por Fernando Haddad (PT) em 2018, derrotada por Bolsonaro no segundo turno. Em 2020, Manuela chegou ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre, mas neste ano abriu mão de concorrer, segundo ela, por vir sofrendo repetidas ameaças.
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Para o cientista político Bruno Schaefer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), são muito remotas as chances de a esquerda colocar candidato no segundo turno se não fechar uma aliança. “O cenário político no Rio Grande do Sul mudou. podemos perceber isso na última eleição, quando foram para o segundo turno Sartori e Leite. As próprias pesquisas hoje mostram isso, com Onyx e Leite na frente. O eleitor gaúcho está mais voltado para a direita e a esquerda só terá alguma chance se definir uma frente. Desunidos, quase impossível”, disse.