Do Capitólio a Brasília: a democracia sob ataque do fanatismo; leia análise


Bolsonarismo tornou-se sinônimo irrefutável de extremismo e radicalismo – mais até do que o próprio trumpismo nos EUA

Por Hussein Kalout
Atualização:

O cenário de terror em Brasília era, enfim, uma tragédia anunciada. A Praça dos Três Poderes viveu atos sem precedentes de golpismo contra a democracia e o Estado de Direito. O nível de virulência impetrado contra as instituições públicas transcendeu, em vários tons e cores, a invasão do Capitólio americano, em 06 de janeiro de 2021.

Ao largo do ano eleitoral no Brasil, em 2022, as tropas bolsonaristas alimentavam diuturnamente e de forma aberta a sua sanha golpista. O presidente derrotado, em pessoa, regia a orquestra do golpismo de Estado e convocava os seus apoiadores fanatizados ao descumprimento da lei e ao emprego da desordem pública e do anarquismo fascista.

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A agressividade excedeu, em muitas camadas, o que ocorreu em Washington. Havia uma coordenação mais estreita entre o comando do golpismo e os atos de terror. Eficiência do método, capacidade de coordenação, amplitude do financiamento, conivência proposital do aparato securitário e omissão articulada no campo político são alguns dos componentes que distinguem os ataques de Washington dos ataques de Brasília. Os trumpistas atuaram de forma extemporânea e menos verticalizada; já os bolsonaristas de forma premeditada, coesa e integrada.

É importante sublinhar que há inúmeros aspectos que diferenciam os ataques ao Capitólio, em Washington, em comparação aos ataques à democracia desferidos, em Brasília.

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O primeiro fator é o tempo. Bolsonaro teve mais tempo que Trump para preparar os atos golpistas. Tudo foi feito de forma calculada, meticulosa e dolosa.

O segundo fator é a coesão. Bolsonaro, diferentemente de Trump, contou com participação multissetorial de segmentos estatais, civis, políticos e empresariais na mobilização dos atos golpistas. Isto é: havia adesão e engajamento amplo e coordenado.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro promovem atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes em Brasília Foto: Eraldo Peres/AP - 8/1/23
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O terceiro fator é o método. Bolsonaro e sua patuleia de fanáticos não apenas importaram os ataques do estrangeiro, mas sofisticaram e refinaram os atos golpistas do Capitólio com o objetivo de intimidar, chocar e aterrorizar o país. O método empregado, em suma, em muito supera o método empregado no Capitólio. A partir do ocorrido em Brasília, eles imaginaram que a violência iria se irromper em outros pontos do território nacional, lançando o país em caos absoluto.

Não é desprezível considerar que o presidente derrotado preparou o teatro de arruaça anárquica durante o seu suposto sumiço, no último mês de dezembro, e, logo, se pirulitou para a Florida para comandar e acompanhar o circo pegar fogo a partir de seu novo QG no exílio – tentando se desvincular do golpismo terrorista.

Outras características que merecem consideração na comparação entre o ocorrido em 6 de janeiro de 2021, em Washington, e 8 de janeiro de 2023, em Brasília, se relacionam sobretudo ao papel do aparato securitário.

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As forças de segurança em Washington, assim como as Forças Armadas nos EUA, foram ágeis e efetivas na reação em comparação ao que ocorreu em Brasília. Nos EUA os aparatos civil e securitário locais não se colocaram à serviço do golpismo e dos atos de terror contra as instituições públicas – como Trump queria. E isso, sem dúvida, permitiu a rápida contenção de danos ao patrimônio público na capital americana; o que não ocorreu, enfim, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O trumpismo não conseguiu se arraigar no aparato securitário e político como o bolsonarismo logrou se enraizar em ambos.

Em Washington, o ataque se concentrou apenas no Congresso americano, enquanto, em Brasília, os ataques foram contra os Três Poderes da República – para que não restasse dúvida alguma da pretensão golpista e antidemocrática do terrorismo bolsonarista.

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Foram objeto de atos de terror o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e a Presidência da República. Nos EUA, a Casa Branca e a Suprema Corte foram protegidas e resguardas dos atos de violência dos fanáticos trumpistas.

Algumas perguntas merecem ser feitas: quais serão as consequências práticas no campo político e as consequências jurídicas no campo penal? Como sai a democracia brasileira desse trágico episódio? Como fica o tecido social brasileiro após esse trauma? Bolsonaro terá coragem de retornar ao Brasil?

Os ataques contra os Três Poderes da República, contra os símbolos nacionais e contra a memória histórica do Estado Brasileiro, revelam que o Brasil ainda terá que percorrer um árduo caminho para se pacificar. Por hora, uma coisa é certa: o bolsonarismo tornou-se sinônimo irrefutável de fanatismo; extremismo; e radicalismo – mais até do que o próprio trumpismo no norte do hemisfério. Um perigo letal à Democracia e à coexistência pacífica entre os divergentes.

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Hussein Kalout é cientista político, professor de Relações Internacionais e pesquisador na Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O cenário de terror em Brasília era, enfim, uma tragédia anunciada. A Praça dos Três Poderes viveu atos sem precedentes de golpismo contra a democracia e o Estado de Direito. O nível de virulência impetrado contra as instituições públicas transcendeu, em vários tons e cores, a invasão do Capitólio americano, em 06 de janeiro de 2021.

Ao largo do ano eleitoral no Brasil, em 2022, as tropas bolsonaristas alimentavam diuturnamente e de forma aberta a sua sanha golpista. O presidente derrotado, em pessoa, regia a orquestra do golpismo de Estado e convocava os seus apoiadores fanatizados ao descumprimento da lei e ao emprego da desordem pública e do anarquismo fascista.

A agressividade excedeu, em muitas camadas, o que ocorreu em Washington. Havia uma coordenação mais estreita entre o comando do golpismo e os atos de terror. Eficiência do método, capacidade de coordenação, amplitude do financiamento, conivência proposital do aparato securitário e omissão articulada no campo político são alguns dos componentes que distinguem os ataques de Washington dos ataques de Brasília. Os trumpistas atuaram de forma extemporânea e menos verticalizada; já os bolsonaristas de forma premeditada, coesa e integrada.

É importante sublinhar que há inúmeros aspectos que diferenciam os ataques ao Capitólio, em Washington, em comparação aos ataques à democracia desferidos, em Brasília.

O primeiro fator é o tempo. Bolsonaro teve mais tempo que Trump para preparar os atos golpistas. Tudo foi feito de forma calculada, meticulosa e dolosa.

O segundo fator é a coesão. Bolsonaro, diferentemente de Trump, contou com participação multissetorial de segmentos estatais, civis, políticos e empresariais na mobilização dos atos golpistas. Isto é: havia adesão e engajamento amplo e coordenado.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro promovem atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes em Brasília Foto: Eraldo Peres/AP - 8/1/23

O terceiro fator é o método. Bolsonaro e sua patuleia de fanáticos não apenas importaram os ataques do estrangeiro, mas sofisticaram e refinaram os atos golpistas do Capitólio com o objetivo de intimidar, chocar e aterrorizar o país. O método empregado, em suma, em muito supera o método empregado no Capitólio. A partir do ocorrido em Brasília, eles imaginaram que a violência iria se irromper em outros pontos do território nacional, lançando o país em caos absoluto.

Não é desprezível considerar que o presidente derrotado preparou o teatro de arruaça anárquica durante o seu suposto sumiço, no último mês de dezembro, e, logo, se pirulitou para a Florida para comandar e acompanhar o circo pegar fogo a partir de seu novo QG no exílio – tentando se desvincular do golpismo terrorista.

Outras características que merecem consideração na comparação entre o ocorrido em 6 de janeiro de 2021, em Washington, e 8 de janeiro de 2023, em Brasília, se relacionam sobretudo ao papel do aparato securitário.

As forças de segurança em Washington, assim como as Forças Armadas nos EUA, foram ágeis e efetivas na reação em comparação ao que ocorreu em Brasília. Nos EUA os aparatos civil e securitário locais não se colocaram à serviço do golpismo e dos atos de terror contra as instituições públicas – como Trump queria. E isso, sem dúvida, permitiu a rápida contenção de danos ao patrimônio público na capital americana; o que não ocorreu, enfim, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O trumpismo não conseguiu se arraigar no aparato securitário e político como o bolsonarismo logrou se enraizar em ambos.

Em Washington, o ataque se concentrou apenas no Congresso americano, enquanto, em Brasília, os ataques foram contra os Três Poderes da República – para que não restasse dúvida alguma da pretensão golpista e antidemocrática do terrorismo bolsonarista.

Foram objeto de atos de terror o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e a Presidência da República. Nos EUA, a Casa Branca e a Suprema Corte foram protegidas e resguardas dos atos de violência dos fanáticos trumpistas.

Algumas perguntas merecem ser feitas: quais serão as consequências práticas no campo político e as consequências jurídicas no campo penal? Como sai a democracia brasileira desse trágico episódio? Como fica o tecido social brasileiro após esse trauma? Bolsonaro terá coragem de retornar ao Brasil?

Os ataques contra os Três Poderes da República, contra os símbolos nacionais e contra a memória histórica do Estado Brasileiro, revelam que o Brasil ainda terá que percorrer um árduo caminho para se pacificar. Por hora, uma coisa é certa: o bolsonarismo tornou-se sinônimo irrefutável de fanatismo; extremismo; e radicalismo – mais até do que o próprio trumpismo no norte do hemisfério. Um perigo letal à Democracia e à coexistência pacífica entre os divergentes.

Hussein Kalout é cientista político, professor de Relações Internacionais e pesquisador na Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O cenário de terror em Brasília era, enfim, uma tragédia anunciada. A Praça dos Três Poderes viveu atos sem precedentes de golpismo contra a democracia e o Estado de Direito. O nível de virulência impetrado contra as instituições públicas transcendeu, em vários tons e cores, a invasão do Capitólio americano, em 06 de janeiro de 2021.

Ao largo do ano eleitoral no Brasil, em 2022, as tropas bolsonaristas alimentavam diuturnamente e de forma aberta a sua sanha golpista. O presidente derrotado, em pessoa, regia a orquestra do golpismo de Estado e convocava os seus apoiadores fanatizados ao descumprimento da lei e ao emprego da desordem pública e do anarquismo fascista.

A agressividade excedeu, em muitas camadas, o que ocorreu em Washington. Havia uma coordenação mais estreita entre o comando do golpismo e os atos de terror. Eficiência do método, capacidade de coordenação, amplitude do financiamento, conivência proposital do aparato securitário e omissão articulada no campo político são alguns dos componentes que distinguem os ataques de Washington dos ataques de Brasília. Os trumpistas atuaram de forma extemporânea e menos verticalizada; já os bolsonaristas de forma premeditada, coesa e integrada.

É importante sublinhar que há inúmeros aspectos que diferenciam os ataques ao Capitólio, em Washington, em comparação aos ataques à democracia desferidos, em Brasília.

O primeiro fator é o tempo. Bolsonaro teve mais tempo que Trump para preparar os atos golpistas. Tudo foi feito de forma calculada, meticulosa e dolosa.

O segundo fator é a coesão. Bolsonaro, diferentemente de Trump, contou com participação multissetorial de segmentos estatais, civis, políticos e empresariais na mobilização dos atos golpistas. Isto é: havia adesão e engajamento amplo e coordenado.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro promovem atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes em Brasília Foto: Eraldo Peres/AP - 8/1/23

O terceiro fator é o método. Bolsonaro e sua patuleia de fanáticos não apenas importaram os ataques do estrangeiro, mas sofisticaram e refinaram os atos golpistas do Capitólio com o objetivo de intimidar, chocar e aterrorizar o país. O método empregado, em suma, em muito supera o método empregado no Capitólio. A partir do ocorrido em Brasília, eles imaginaram que a violência iria se irromper em outros pontos do território nacional, lançando o país em caos absoluto.

Não é desprezível considerar que o presidente derrotado preparou o teatro de arruaça anárquica durante o seu suposto sumiço, no último mês de dezembro, e, logo, se pirulitou para a Florida para comandar e acompanhar o circo pegar fogo a partir de seu novo QG no exílio – tentando se desvincular do golpismo terrorista.

Outras características que merecem consideração na comparação entre o ocorrido em 6 de janeiro de 2021, em Washington, e 8 de janeiro de 2023, em Brasília, se relacionam sobretudo ao papel do aparato securitário.

As forças de segurança em Washington, assim como as Forças Armadas nos EUA, foram ágeis e efetivas na reação em comparação ao que ocorreu em Brasília. Nos EUA os aparatos civil e securitário locais não se colocaram à serviço do golpismo e dos atos de terror contra as instituições públicas – como Trump queria. E isso, sem dúvida, permitiu a rápida contenção de danos ao patrimônio público na capital americana; o que não ocorreu, enfim, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O trumpismo não conseguiu se arraigar no aparato securitário e político como o bolsonarismo logrou se enraizar em ambos.

Em Washington, o ataque se concentrou apenas no Congresso americano, enquanto, em Brasília, os ataques foram contra os Três Poderes da República – para que não restasse dúvida alguma da pretensão golpista e antidemocrática do terrorismo bolsonarista.

Foram objeto de atos de terror o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e a Presidência da República. Nos EUA, a Casa Branca e a Suprema Corte foram protegidas e resguardas dos atos de violência dos fanáticos trumpistas.

Algumas perguntas merecem ser feitas: quais serão as consequências práticas no campo político e as consequências jurídicas no campo penal? Como sai a democracia brasileira desse trágico episódio? Como fica o tecido social brasileiro após esse trauma? Bolsonaro terá coragem de retornar ao Brasil?

Os ataques contra os Três Poderes da República, contra os símbolos nacionais e contra a memória histórica do Estado Brasileiro, revelam que o Brasil ainda terá que percorrer um árduo caminho para se pacificar. Por hora, uma coisa é certa: o bolsonarismo tornou-se sinônimo irrefutável de fanatismo; extremismo; e radicalismo – mais até do que o próprio trumpismo no norte do hemisfério. Um perigo letal à Democracia e à coexistência pacífica entre os divergentes.

Hussein Kalout é cientista político, professor de Relações Internacionais e pesquisador na Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O cenário de terror em Brasília era, enfim, uma tragédia anunciada. A Praça dos Três Poderes viveu atos sem precedentes de golpismo contra a democracia e o Estado de Direito. O nível de virulência impetrado contra as instituições públicas transcendeu, em vários tons e cores, a invasão do Capitólio americano, em 06 de janeiro de 2021.

Ao largo do ano eleitoral no Brasil, em 2022, as tropas bolsonaristas alimentavam diuturnamente e de forma aberta a sua sanha golpista. O presidente derrotado, em pessoa, regia a orquestra do golpismo de Estado e convocava os seus apoiadores fanatizados ao descumprimento da lei e ao emprego da desordem pública e do anarquismo fascista.

A agressividade excedeu, em muitas camadas, o que ocorreu em Washington. Havia uma coordenação mais estreita entre o comando do golpismo e os atos de terror. Eficiência do método, capacidade de coordenação, amplitude do financiamento, conivência proposital do aparato securitário e omissão articulada no campo político são alguns dos componentes que distinguem os ataques de Washington dos ataques de Brasília. Os trumpistas atuaram de forma extemporânea e menos verticalizada; já os bolsonaristas de forma premeditada, coesa e integrada.

É importante sublinhar que há inúmeros aspectos que diferenciam os ataques ao Capitólio, em Washington, em comparação aos ataques à democracia desferidos, em Brasília.

O primeiro fator é o tempo. Bolsonaro teve mais tempo que Trump para preparar os atos golpistas. Tudo foi feito de forma calculada, meticulosa e dolosa.

O segundo fator é a coesão. Bolsonaro, diferentemente de Trump, contou com participação multissetorial de segmentos estatais, civis, políticos e empresariais na mobilização dos atos golpistas. Isto é: havia adesão e engajamento amplo e coordenado.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro promovem atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes em Brasília Foto: Eraldo Peres/AP - 8/1/23

O terceiro fator é o método. Bolsonaro e sua patuleia de fanáticos não apenas importaram os ataques do estrangeiro, mas sofisticaram e refinaram os atos golpistas do Capitólio com o objetivo de intimidar, chocar e aterrorizar o país. O método empregado, em suma, em muito supera o método empregado no Capitólio. A partir do ocorrido em Brasília, eles imaginaram que a violência iria se irromper em outros pontos do território nacional, lançando o país em caos absoluto.

Não é desprezível considerar que o presidente derrotado preparou o teatro de arruaça anárquica durante o seu suposto sumiço, no último mês de dezembro, e, logo, se pirulitou para a Florida para comandar e acompanhar o circo pegar fogo a partir de seu novo QG no exílio – tentando se desvincular do golpismo terrorista.

Outras características que merecem consideração na comparação entre o ocorrido em 6 de janeiro de 2021, em Washington, e 8 de janeiro de 2023, em Brasília, se relacionam sobretudo ao papel do aparato securitário.

As forças de segurança em Washington, assim como as Forças Armadas nos EUA, foram ágeis e efetivas na reação em comparação ao que ocorreu em Brasília. Nos EUA os aparatos civil e securitário locais não se colocaram à serviço do golpismo e dos atos de terror contra as instituições públicas – como Trump queria. E isso, sem dúvida, permitiu a rápida contenção de danos ao patrimônio público na capital americana; o que não ocorreu, enfim, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O trumpismo não conseguiu se arraigar no aparato securitário e político como o bolsonarismo logrou se enraizar em ambos.

Em Washington, o ataque se concentrou apenas no Congresso americano, enquanto, em Brasília, os ataques foram contra os Três Poderes da República – para que não restasse dúvida alguma da pretensão golpista e antidemocrática do terrorismo bolsonarista.

Foram objeto de atos de terror o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e a Presidência da República. Nos EUA, a Casa Branca e a Suprema Corte foram protegidas e resguardas dos atos de violência dos fanáticos trumpistas.

Algumas perguntas merecem ser feitas: quais serão as consequências práticas no campo político e as consequências jurídicas no campo penal? Como sai a democracia brasileira desse trágico episódio? Como fica o tecido social brasileiro após esse trauma? Bolsonaro terá coragem de retornar ao Brasil?

Os ataques contra os Três Poderes da República, contra os símbolos nacionais e contra a memória histórica do Estado Brasileiro, revelam que o Brasil ainda terá que percorrer um árduo caminho para se pacificar. Por hora, uma coisa é certa: o bolsonarismo tornou-se sinônimo irrefutável de fanatismo; extremismo; e radicalismo – mais até do que o próprio trumpismo no norte do hemisfério. Um perigo letal à Democracia e à coexistência pacífica entre os divergentes.

Hussein Kalout é cientista político, professor de Relações Internacionais e pesquisador na Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

O cenário de terror em Brasília era, enfim, uma tragédia anunciada. A Praça dos Três Poderes viveu atos sem precedentes de golpismo contra a democracia e o Estado de Direito. O nível de virulência impetrado contra as instituições públicas transcendeu, em vários tons e cores, a invasão do Capitólio americano, em 06 de janeiro de 2021.

Ao largo do ano eleitoral no Brasil, em 2022, as tropas bolsonaristas alimentavam diuturnamente e de forma aberta a sua sanha golpista. O presidente derrotado, em pessoa, regia a orquestra do golpismo de Estado e convocava os seus apoiadores fanatizados ao descumprimento da lei e ao emprego da desordem pública e do anarquismo fascista.

A agressividade excedeu, em muitas camadas, o que ocorreu em Washington. Havia uma coordenação mais estreita entre o comando do golpismo e os atos de terror. Eficiência do método, capacidade de coordenação, amplitude do financiamento, conivência proposital do aparato securitário e omissão articulada no campo político são alguns dos componentes que distinguem os ataques de Washington dos ataques de Brasília. Os trumpistas atuaram de forma extemporânea e menos verticalizada; já os bolsonaristas de forma premeditada, coesa e integrada.

É importante sublinhar que há inúmeros aspectos que diferenciam os ataques ao Capitólio, em Washington, em comparação aos ataques à democracia desferidos, em Brasília.

O primeiro fator é o tempo. Bolsonaro teve mais tempo que Trump para preparar os atos golpistas. Tudo foi feito de forma calculada, meticulosa e dolosa.

O segundo fator é a coesão. Bolsonaro, diferentemente de Trump, contou com participação multissetorial de segmentos estatais, civis, políticos e empresariais na mobilização dos atos golpistas. Isto é: havia adesão e engajamento amplo e coordenado.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro promovem atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes em Brasília Foto: Eraldo Peres/AP - 8/1/23

O terceiro fator é o método. Bolsonaro e sua patuleia de fanáticos não apenas importaram os ataques do estrangeiro, mas sofisticaram e refinaram os atos golpistas do Capitólio com o objetivo de intimidar, chocar e aterrorizar o país. O método empregado, em suma, em muito supera o método empregado no Capitólio. A partir do ocorrido em Brasília, eles imaginaram que a violência iria se irromper em outros pontos do território nacional, lançando o país em caos absoluto.

Não é desprezível considerar que o presidente derrotado preparou o teatro de arruaça anárquica durante o seu suposto sumiço, no último mês de dezembro, e, logo, se pirulitou para a Florida para comandar e acompanhar o circo pegar fogo a partir de seu novo QG no exílio – tentando se desvincular do golpismo terrorista.

Outras características que merecem consideração na comparação entre o ocorrido em 6 de janeiro de 2021, em Washington, e 8 de janeiro de 2023, em Brasília, se relacionam sobretudo ao papel do aparato securitário.

As forças de segurança em Washington, assim como as Forças Armadas nos EUA, foram ágeis e efetivas na reação em comparação ao que ocorreu em Brasília. Nos EUA os aparatos civil e securitário locais não se colocaram à serviço do golpismo e dos atos de terror contra as instituições públicas – como Trump queria. E isso, sem dúvida, permitiu a rápida contenção de danos ao patrimônio público na capital americana; o que não ocorreu, enfim, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O trumpismo não conseguiu se arraigar no aparato securitário e político como o bolsonarismo logrou se enraizar em ambos.

Em Washington, o ataque se concentrou apenas no Congresso americano, enquanto, em Brasília, os ataques foram contra os Três Poderes da República – para que não restasse dúvida alguma da pretensão golpista e antidemocrática do terrorismo bolsonarista.

Foram objeto de atos de terror o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e a Presidência da República. Nos EUA, a Casa Branca e a Suprema Corte foram protegidas e resguardas dos atos de violência dos fanáticos trumpistas.

Algumas perguntas merecem ser feitas: quais serão as consequências práticas no campo político e as consequências jurídicas no campo penal? Como sai a democracia brasileira desse trágico episódio? Como fica o tecido social brasileiro após esse trauma? Bolsonaro terá coragem de retornar ao Brasil?

Os ataques contra os Três Poderes da República, contra os símbolos nacionais e contra a memória histórica do Estado Brasileiro, revelam que o Brasil ainda terá que percorrer um árduo caminho para se pacificar. Por hora, uma coisa é certa: o bolsonarismo tornou-se sinônimo irrefutável de fanatismo; extremismo; e radicalismo – mais até do que o próprio trumpismo no norte do hemisfério. Um perigo letal à Democracia e à coexistência pacífica entre os divergentes.

Hussein Kalout é cientista político, professor de Relações Internacionais e pesquisador na Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

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