Com dois suspeitos presos por suposto envolvimento no desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira, a Polícia Federal ainda não revelou se algum deles confessou ter cometido crime. Nesta quarta-feira, 15, um dos presos foi levado até a área onde estão concentradas as buscas, escoltado por agentes da delegacia de Atalaia do Norte até a região alagada próxima de onde foram localizados pertences da dupla.
Confira abaixo todas as atualizações sobre o desaparecimento
Desaparecimento
O mais recente rastreamento que se tem de Bruno Pereira e Dom Phillips veio de dados de localização fornecidos via Dispositivo de Comunicação Satelital SPOT, conforme relato da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que mantinha contato com a dupla. O jornalista e o indigenista partiram no domingo, 5, da comunidade São Rafael para Atalaia do Norte, mas a chegada ao município, prevista para acontecer até as 9h do mesmo dia, não ocorreu.
Primeiras buscas
Após horas sem contato, uma equipe da Univaja formada por indígenas conhecedores da região partiu em busca dos dois, passando pelo mesmo trecho que ambos haviam percorrido, mas nenhuma pista foi encontrada. Na segunda-feira, 6, a União dos Povos Indígenas fez um comunicado à imprensa relatando o desaparecimento dos dois homens.
trecho de nota da Unijava em resposta a críticas da Funai
Denúncia de omissão
A Univaja solicitou pedidos para que instituições de segurança municipais, estaduais e federais ampliassem as operações de busca. Conforme afirma a entidade, em nota, apenas seis policiais e uma equipe da Funai iniciaram as buscas na segunda-feira, 6.
Ao perceber a gravidade da situação em que o jornalista e o indigenista se encontravam, a Univaja, junto com a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF), ajuizaram uma Ação Civil Pública contra a União para que a Polícia Federal, Forças de Segurança ou das Forças Armadas (Comando Militar da Amazônia) disponibilizassem pessoal e equipamentos para reforçar a busca pelos desaparecidos.
Nota do Exército
Ainda na segunda-feira, 6, o Comando Militar da Amazônia (CMA) afirmou que ainda não havia iniciado as buscas por não ter recebido ordem do Escalão Superior, conforme divulgou o jornalista e colunista do Estadão, Pedro Doria.
Apelos
Familiares dos desaparecidos fizeram apelos às autoridades para que fossem empregados todos os recursos nas operações de busca. Em vídeo emocionado gravado à TV Bahia, a esposa do jornalista Dom Phillips pediu celeridade nas investigações e disse ter esperança de encontrá-lo vivo. A esposa de Bruno Pereira disse, em nota, que “cada minuto conta”, e que “cada trecho de rio não percorrido pode ser aquele em que eles aguardam por resgate”.
Ameaças
Um bilhete anônimo, escrito há cerca de um mês e contendo ameaças ao servidor da Funai, Bruno Pereira, e a indígenas da região foi divulgado pelo Estadão na terça-feira, 7. ‘Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas’, afirmava o bilhete enviado ao advogado da Univaja, Eliesio Marubo.
Suspeito preso
Na noite da terça-feira, 7, em Atalaia do Norte, a Polícia Militar prendeu um homem suspeito de participar do desaparecimento de Bruno Pereira. Amarildo, conhecido pelo apelido de “Pelado”, foi preso em flagrante portando munição de calibre 762, de origem peruana, o que sugere envolvimento com o crime internacional.
Justiça aponta omissão
A Justiça Federal da 1a Região determinou na quarta-feira, 8, que o governo federal reforçasse as buscas no Vale do Javari. A decisão é uma resposta à Ação Civil Pública movida pelo MPF, Univaja e DPU dois dias antes. Na decisão, a juíza federal Jaiza Maria Pinto Fraxe determina que a União efetive imediatamente a viabilização de helicópteros, embarcações e equipes de busca, seja da Polícia Federal, Forças de Segurança ou Forças Armadas a fim de localizar os desaparecidos. A justificativa foi de que a União foi omissa e falhou em seu dever de fiscalizar terras indígenas e proteger povos indígenas isolados e de recente contato.
Governo se pronuncia
O presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou na terça-feira,7, o que chamou de “aventura” do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. O presidente afirmou que a dupla pode ter sido executada e que na região, que segundo ele é “selvagem”, “tudo pode acontecer”.
Já o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, disse na noite de quarta-feira, 8, que foi um “erro” o jornalista e o indigenista não terem comunicado os órgãos de segurança sobre a viagem ao Vale do Javari e não pedirem autorização para entrar no local.
Conforme informações da Indigenistas Associados (INA), que reúne servidores da Funai, as declarações de Xavier estavam equivocadas, pelo fato de Phillips e Pereira não terem entrado na Terra Indígena, não sendo portanto necessário pedido de autorização.
Coletiva PF
Às 16h da quarta-feira, 8, três dias após o desaparecimento do indigenista e do jornalista no Vale do Javari, as forças de segurança disseram não haver “indícios fortes de crime”. Até o momento, cinco testemunhas e um suspeito haviam sido ouvidos pela polícia. As autoridades também anunciaram a criação de um gabinete integrado, com participação do Exército, Marinha, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, que irá coordenar as buscas a partir de Manaus, a 1.136 km de distância de Atalaia do Norte.
O superintendente regional da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Fontes, informou que todos os dias às 16h serão emitidas notas pela PF com novas informações sobre as ações de todos os órgãos envolvidos nas buscas.
Mancha de sangue
Na tarde desta quarta-feira, 9, a Polícia Federal informou que encontrou vestígios de sangue na lancha do pescador Amarildo. A informação foi divulgada pelo Comitê de Crise das forças de segurança que estão investigando o desaparecimento. O material coletado está sendo enviado para análise em Manaus, onde existe a estrutura necessária para a perícia. Ainda não está claro se o sangue seria humano ou de animais.
Nos Estados Unidos, durante a Cúpula das Américas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiu às críticas de falta de empenho e às cobranças para que o governo federal desvende o paradeiro dos desaparecidos. “Nossas três Forças (Armadas), bem como nosso MRE (Ministério das Relações Exteriores), a Polícia Federal, dentre outros, estão trabalhando desde segunda-feira, 6, de forma intensa na busca dos senhores Bruno Pereira e Dom Phillips. Mais de duas centenas de militares foram mobilizados para solucionar o caso o quanto antes”, escreveu o presidente, no Twitter.
Antes da viagem, na terça-feira, 7, o presidente classificou o trabalho de Pereira e Phillips como uma “aventura não recomendável”. “E realmente duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. a gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente”, afirmou Bolsonaro, em entrevista ao SBT News.
Prisão temporária
A juíza Jacinta Silva dos Santos, da Vara Única de Atalaia do Norte, determinou a prisão temporária, pelo prazo de 30 dias, de Amarildo, suspeito de envolvimento no desaparecimento de Bruno Pereira e de Dom Phillips. A decisão foi tomada durante audiência de custódia do pescador, que foi preso em flagrante na terça-feira, 7, por porte ilegal de munições. A prisão temporária, entretanto, não foi por causa do porte ilegal e sim pela suspeita de envolvimento do pescador no desaparecimento das vítimas.
ONU se pronuncia
A porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH), Ravina Shamdasani, afirmou nesta sexta-feira, 10, que o governo brasileiro demorou para iniciar as buscas pelo jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos há cinco dias no Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas.
“Cumprimentamos que agora, após decisão judicial, as autoridades empregaram mais meios para procurar esses dois homens”, afirmou Shamdasani em entrevista coletiva feita hoje em Genebra, na Suíça. “Mas inicialmente a resposta das autoridades foi lenta”, disse.
Ausência de ações da Força Nacional
Reportagem do Estadão mostrou que o governo federal não deslocou de outros Estados soldados da Força Nacional de Segurança para atuar nas buscas ou decretou Garantia da Lei e da Ordem (GLO), ao contrário do que costuma ocorrer em casos que envolvem regiões com pouca estrutura de segurança. O contingente de 250 homens da Marinha, Exército e das polícias federal, civil e bombeiros destacados na operação também está abaixo do que o Exército pode mobilizar, segundo militares e especialistas em selva ouvidos pelo Estadão.
Em discurso na plenária da Cúpula das Américas, em Los Angeles, o presidente Jair Bolsonaro afirmou o oposto. Segundo o chefe do Executivo, as autoridades do país têm trabalho “desde o primeiro momento” para localizar o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira. No evento internacional, Bolsonaro tem sido cobrado por membros internacionais.
Decisão do Supremo Tribunal Federal
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou nesta sexta-feira, 10, que o governo federal adote imediatamente “todas as providências necessárias”, usando “todos os meios e forças cabíveis” para localizar a dupla.
O despacho ordena ainda que sejam identificados e punidos os responsáveis pelo desaparecimento do indigenista e do jornalista e que seja apresentado ao Supremo, em até cinco dias e em documento sigiloso, um relatório com todas as providências adotadas e informações obtidas no caso. Foi fixada multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.
PF acha ‘material orgânico aparentemente humano’
A Polícia Federal no Amazonas informou na tarde desta sexta-feira, 10, que equipes de busca que integram a Operação Javari – que tentam localizar a dupla desaparecida – localizaram no Rio Itaquaí, próximo ao porto de Atalaia do Norte, “material orgânico aparentemente humano”. O conteúdo foi encaminhado para perícia no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, o mesmo que vai periciar as amostras de sangue encontradas na embarcação de Amarildo.
A Operação Javari ainda coletou de materiais genéticos de referência de Dom Phillips, em Salvador, e de Bruno Pereira, em Recife.
Corpo de bombeiros encontra mochila de Dom
Mochila do jornalista Dom Phillips e pertences do indigenista Bruno Pereira foram localizados por equipes de busca na região do Vale do Javari, no domingo, 12. “Nessa mochila, tinha notebook, todos os pertences, meias, camisas, bermudas”, disse o porta-voz do Corpo de Bombeiros em Atalaia do Norte (AM). A mochila estava amarrada a uma árvore em uma área alagada, de difícil acesso, no Rio Itaquaí.
Os itens foram encontrados pelos Bombeiros por volta das 16h no horário local (18h em Brasília) e no fim do dia a Polícia Federal confirmou, em nota, que eram de Dom e Bruno.
Nota da PF e declaração do presidente
A manhã desta segunda-feira, 13, foi marcada pela divulgação de informações de que os corpos dos desaparecidos teriam sido encontrado. Em nota, a Polícia Federal para negar os boatos. “Não procedem as informações que estão sendo divulgadas a respeito de terem sido encontrados os corpos do Sr. Bruno Pereira e do Sr. Dom Phillips”, diz o documento. O comitê de buscas também informou que os materiais biológicos encontrados no rio estão sendo periciados.
Em entrevista à rádio CBN Recife, o presidente Bolsonaro afirmou que “indícios levam a crer que fizeram alguma maldade” à dupla. O chefe do Executivo disse considerar improvável que a dupla ainda seja encontrada com vida. “Os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles, porque já foram encontradas vísceras humanas boiando no rio, que já estão aqui em Brasília para fazer o DNA e pelo tempo, já temos 8 dias, indo para o nono dia, de que isso tudo aconteceu, vai ser muito difícil encontrá-los com vida”, afirmou.
Mulher de indigenista cobra explicações sobre embaixador citar corpos
A esposa de Bruno Pereira, Beatriz Matos, foi às redes sociais nesta segunda-feira, 13, para cobrar novos esclarecimentos sobre o paradeiro do indigenista após confirmar que foi informada pela Polícia Federal que seu marido e o jornalista britânico Dom Phillips ainda não foram localizados.
Mais cedo, a família de Dom disse que foi comunicada pela embaixada do Brasil no Reino Unido sobre a suposta descoberta dos corpos no Amazonas. Procurada, a embaixada declarou que não poderia comentar o assunto.
Posteriormente, a Embaixada do Brasil em Londres confirmou que vem mantendo contato com familiares dos desaparecidos, mas se recusou a informar o teor dessas conversas. Mais cedo, o jornal The Guardian, para com o qual Phillips colaborava, publicou relato de familiares do correspondente estrangeiro, segundo os quais diplomatas brasileiros disseram a eles, por meio de um telefonema na manhã desta segunda, que os corpos de ambos haviam sido localizados na selva.
Embaixada pede desculpas
O embaixador do Brasil no Reino Unido, Fred Arruda, desculpou-se com a família de Dom Phillips nesta terça-feira, 14, depois de fornecer informação equivocada sobre a localização dos corpos do jornalista e do indigenista. Arruda escreveu à família de Phillips hoje mais cedo, afirmando que lamenta “que a embaixada tenha passado à família ontem informações que não se mostraram corretas”.
Bolsonaro é denunciado em Haia
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), entidade que já havia denunciado o Presidente Jair Bolsonaro (PL) no Tribunal Penal Internacional de Haia em agosto de 2021, incluiu na terça-feira, 13, o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na manifestação. A primeira denúncia da Apib atribuía ao chefe do Executivo a responsabilidade de crime genocídio contra os povos indígenas desde o início do seu mandato, com foco no período da pandemia da covid-19.
A nova denúncia afirma que o desaparecimento da dupla ressalta uma “omissão estatal na realização das buscas” e ainda defende que uma possível ocorrência de um crime são consequências da “política anti-indígena de Jair Bolsonaro”.
PF envia relatório sobre o caso ao STF
Preso no último dia 9, após a Polícia Federal encontrar vestígios de sangue em sua lancha, Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, disse em depoimento na terça-feira, 14, que Dom e Bruno passaram com uma embarcação em frente à comunidade São Gabriel. Ele negou ter saído de casa no dia 5 de junho, data do desaparecimento do jornalista e do indigenista.Ele ainda disse não ter arma de fogo, embora tenha sido preso em flagrante com munições de uso restrito. Também afirmou conhecer Bruno apenas de “vista” e que ambos nunca conversaram.
O depoimento de Pelado contradiz outras testemunhas. Segundo o relatório da Polícia Federal, dentre as ameaças sofridas por Bruno, algumas foram ditas por Pelado, indivíduo que tempos atrás teria efetuado disparos de arma de fogo contra a base local da Funai e, recentemente, ameaçado os ‘vigilantes’ da região ostentando uma arma de fogo do tipo espingarda.
Segundo suspeito preso
A Polícia Federal (PF) prendeu na terça-feira, 14, por suposto homicídio, o segundo suspeito de participar do desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Oseney da Costa Oliveira, conhecido como Dos Santos, é irmão de Pelado, o primeiro suspeito a ser preso por possível envolvimento com o desaparecimento. Dos Santos vive perto do local onde os pertences de Dom e Bruno foram encontrados. Segundo testemunhas, ele e Pelado teriam saído de barco em alta velocidade atrás de Dom e Bruno.
10 dias sem respostas
Nesta quarta-feira, 15, completam-se 10 dias do desaparecimento de Dom e Bruno sem que ao menos o barco no qual os dois se transportavam, uma baleeira de ferro de cerca de sete metros de comprimento, tenha sido encontrado.
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