A véspera da abertura oficial do Fórum Mundial Social na capital gaúcha foi marcada pela polêmica entre o governador do Estado, Olívio Dutra (PT), e o presidente Fernando Henrique Cardoso, que está em viagem pela Ásia. Em entrevista à rádio Gaúcha, o presidente criticou o gasto de dinheiro público no evento, organizado por entidades que se opõem à globalização. Em resposta, Dutra divulgou nota oficial prestando contas do investimento de R$ 970 mil, na qual lembra as despesas federais com a mudança do nome da Petrobrás, a feira de Hannover e as comemorações dos 500 anos do Brasil. Dutra disse que esperava uma atitude "respeitosa" do presidente Fernando Henrique na entrevista em que, ao comentar o Fórum Social Mundial, disse ser uma "visão ingênua imaginar que dá para quebrar as máquinas". "Voltar para trás não é possível", disse. O Fórum Social Mundial começa nesta quinta-feira e termina no dia 30, em sincronia com o Fórum Mundial Econômico de Davos, que reúne líderes políticos e sindicais como João Pedro Stédile, do MST, ou Bernard Cassen, da Ação para Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos (ATTAC) . O Rio Grande do Sul foi escolhido para sediar o que está sendo chamado de fórum anti-Davos por estar sob o governo do PT há 15 anos, período em que o Produto Interno Bruto aumentou, atingindo 4,6% - um ponto percentual acima da média nacional, "sem recorrer a privatizações ou a atração de capitais especulativos", frisou Dutra. Um dos participantes do fórum de Porto Alegre, o presidente da Associação de Empresários para a Cidadania (Cives), Oded Grajew, afirmou que o evento trará um "benefício financeiro fantástico" à cidade. "Estou falando como empresário, deixando de lado o aspecto ideológico", disse. Em entrevista coletiva, o presidente da ATTAC, Bernard Cassen, afirmou que o Fórum Econômico Mundial Davos, na Suíça, é que é contra Porto Alegre, onde estão as sociedades do mundo. Cassen, também diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, defendeu a suspensão do pagamento da dívida pública dos países pobres do mundo, inclusive o Brasil. Para ele, o que falta é uma união dos países devedores. "Este é o grande temor dos organismos financeiros internacionais", enfatizou. Modelo humano O representante do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Cândido Grzubowski, disse que o fórum é visto como evento antiglobalização, quando, na verdade, é contra a globalização regida pelo livre mercado. Grzubowski acrescentou que as organizações não-governamentais (ONGs) aceitaram um desafio para organizar um modo de desenvolvimento baseado nos seres humanos. "O fórum é uma oportunidade para sentar a base de uma aliança contra o neoliberalismo", disse o líder camponês Rafael Alegria, do Movimento Internacional Via Campesina. Ele ressaltou que a luta por mudanças na política agrícola e no comércio internacional terá continuação em abril, em Quebec, no Canadá, e em junho, em Barcelona, na Espanha. A organização do FSM confirmou a realização de 408 workshops sobre temas como globalização e neoliberalismo, entr outros. No dia 29, por exemplo, o "50 Years is Enough!" discutirá as estratégias de oposição às políticas do Banco Mundial e do FMI em 2001.