BRASÍLIA - O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) montou uma estrutura com oito funcionários da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) para levar ao ar as “lives” do presidente Lula e criar uma marca na comunicação direta do petista. Apesar da contratação de nomes de peso como o ex-jornalista da Globo Marcos Uchôa e de novos comissionados (cargos sem concurso público), a iniciativa tem “flopado” – termo usado na internet como sinônimo de “fracassado”.
A audiência simultânea das transmissões, realizadas às terças-feiras, fica na casa dos 6 mil. O PT e sites de apoiadores de Lula retransmitem os vídeos para ampliar o alcance. Em paralelo, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) tem apostado nos “cortes” para tentar viralizar as mensagens de Lula – também sem sucesso.
Apesar do esforço governamental para ampliar a presença de Lula nas redes sociais, arena onde Bolsonaro cresceu e se consolidou, a audiência da “Conversa com o Presidente” é baixa, se comparada ao alcance do antecessor Jair Bolsonaro (PL).
Os vídeos das lives de Bolsonaro, realizadas com uma estrutura menor e sem sistemas de apresentador, câmeras e microfone como os de Lula, chegaram a alcançar 2 milhões de visualizações no Facebook, principal plataforma de divulgação das transmissões que realizava nas noites de quinta-feira. Para efeito ilustrativo, a última transmissão do ex-presidente, em 30 de dezembro, soma 1,1 milhão de visualizações só no YouTube. A primeira de Lula, 185,8 mil.
O entorno de Lula tem afirmado que a comparação de audiências é inadequada. Isso porque mudanças nos algoritmos das principais redes alteraram o alcance. Mesmo assim, segundo avaliações internas, os “cortes” das lives disseminados em várias plataformas estariam cumprindo o objetivo de massificar os discursos do petista.
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A criação da live de Lula é parte de um pacote de medidas que incharam a EBC com ampliação de comissionados e criação de novos postos de chefia. Entre eles, quatro novos postos de superintendentes. Um deles foi entregue à jornalista que controlava os perfis do petista no período da prisão dele em Curitiba (PR).
Com a chegada dos petistas no governo federal, a EBC, presidida pelo jornalista Hélio Doyle, aumentou o número de comissionados aliados. Dos 421 cargos comissionados na estrutura da empresa, 130 foram entregues a pessoas de fora do quadro institucional, segundo dados de junho. No mesmo período de 2022, eram 100 comissionados de fora da empresa. É um aumento de 30%.
4 novas superintendências criadas
No governo Bolsonaro, a EBC era ligada ao Ministério das Comunicações. Agora, está sob o controle da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), chefiada pelo ministro Paulo Pimenta.
As principais mudanças administrativas da empresa foram planejadas internamente entre fevereiro e abril. A cúpula decidiu recriar as superintendências do Rio de Janeiro e de São Paulo e ainda criar outras mais duas: a de Comunicação Digital e Mídias Sociais (Sudim) e a de Serviços de Comunicação (Susec).
Para a Sudim foi designada a jornalista Nicole Briones, responsável pelos perfis oficiais de Lula durante a prisão dele. Ela é esposa de Marco Aurélio Santana Ribeiro, conhecido como Marcola, chefe de gabinete de Lula.
O objetivo da reformulação, segundo as conversas internas, foi “realinhar o desenho organizacional às demandas de prestação de serviço de radiodifusão pública e governamental”, “viabilizar que a programação das emissoras de televisão pública e governamental seja apresentada em canais distintos e “fortalecer a comunicação digital e mídias sociais”.
Para a superintendência de São Paulo, foi nomeado o jornalista e ex-deputado paulista José Américo (PT). Para o Rio, o jornalista e escritor Eric Nepomuceno. Os postos haviam sido fechados em 2019, no governo Bolsonaro.
O então presidente tratou do “fechamento da EBC” como promessa de sua campanha vitoriosa de 2018. Na campanha, Bolsonaro classificava a empresa como um dos “cabides de emprego petistas”.
Quando chegou ao Palácio do Planalto, porém, foi criticado por usar a empresa pública com fins “políticos e partidários”. Até então, a EBC, criada em 2007, era chamada de responsável pela “TV do Lula” e era criticada por “viés ideológico”, por ser “cara demais” e pouco eficiente.
Em nota, a EBC informou que a contratação de novas pessoas para cargos de livre preenchimento se dá por força da “reestruturação e dos novos projetos em desenvolvimento nesta gestão, como o Canal Gov e a Agência Gov”. A empresa complementou dizendo que “a maior parte dos cargos em comissão, cerca de 68%, segue ocupada por empregados e empregadas do quadro” e informou, ainda, que os novos cargos comissionados não foram criados, mas são resultado de “reorganização” interna.