Brasília - Em uma manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que os pagamentos de propina ao PT eram feitos muitas vezes mediante ameaças de interrupção de contratos entre as empresas e o governo. De acordo com os investigadores da Operação Lava Jato, a estratégia era centralizada na pessoa de Edinho Silva, ex-ministro-chefe da secretaria de Comunicação Social de Dilma.
"Em verdade, o pedido de pagamento para auxílio financeiro ao Partido dos Trabalhadores, notadamente para o custeio oficial e não oficial (caixa 2) das campanhas eleitorais, muitas vezes mediante ameaças de cessação das facilidades proporcionadas ao Núcleo Econômico pelos Núcleos Político e Administrativo (do esquema de corrupção da Petrobrás), revelam-se coma medida habitual institucionalizada e centralizada, em parte, na pessoa de Edison Antônio Edinho da Silva", escreveu Janot.
Edinho é investigado com base em delações premiadas que afirmam que ele pediu R$ 20 milhões para a campanha da reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014. A informação consta dos depoimentos tanto de Walmir Pinheiro Santana quando de Ricardo Pessoa, ambos da UTC Engenharia. O ex-ministro - então tesoureiro da campanha da petista - teria dito que a Petrobrás continuaria "crescendo" e que o empresário "ganharia outros contratos", garantindo que o repasse "se pagaria".
A investigação, que tramitava em absoluto sigilo no STF, será enviada ao juiz Sério Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, já que Edinho perdeu o foro privilegiado. Além desse procedimento, há também um pedido de Janot para que o ex-ministro seja incluído no inquérito-mãe da Lava Jato, conhecido como "quadrilhão". Esse deve permanecer no STF porque inclui diversos parlamentares que ainda detém a prerrogativa de só serem processados pela Suprema Corte.
Além das delações, Janot incluiu no inquérito contra Edinho troca de mensagens entre ele e Léo Pinheiro, além de registros obtidos no aparelho celular de outro empreiteiro preso na Lava Jato, Marcelo Odebrecht. Em uma delas, o ex-ministro encaminhou, poucos meses antes das eleições de 2014, um cronograma de pagamentos que deveriam ser efetuados pela OAS. Há mensagens em anos anteriores, em que os interlocutores indagam a Edinho como os pagamentos ao PT devem ser feitos.
Em um dos diálogos, Léo Pinheiro pediu em contrapartida a Edinho para que ele intercedesse junto ao então ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante, para que o empreiteiro recebesse algum tipo de contrato ou serviço referente a TV e rádio, conforme explica Janot na manifestação enviada ao STF. O procurador-geral da República aponta, no entanto, não saber com exatidão se o episódio envolveu alguma concessão ou utilização de veículos de comunicação em campanha eleitoral.
A defesa do ex-ministro afirma que as afirmações de Janot não têm fundamento nos elementos do inquérito. Disse também que irá recorrer da decisão de transferir as investigações ao juiz Moro. Em nota, Edinho disse ser favorável à apuração dos fatos relacionados à campanha da presidente Dilma em 2014. "Sempre agi de maneira ética, correta e dentro da legalidade. Jamais pressionei ou ameacei empresários", disse o comunicado.