Eleição em SP: veja a ‘pedra no sapato’ de cada pré-candidato e como eles já se enfrentam nas redes


‘Estadão’ entrevistou os principais concorrentes e vasculhou os posts no segundo semestre do ano para entender como deve ser a disputa e como eles pretendem reagir ao ‘fogo cruzado’ em 2024

Por Samuel Lima
Atualização:

A disputa pela Prefeitura de São Paulo começou de forma antecipada, e não apenas diante da agenda cheia do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou da caravana na periferia do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Os pré-candidatos estão há meses em confronto nas redes sociais e já ensaiam o discurso para desgastar os adversários e reagir ao “fogo cruzado” da eleição municipal de 2024.

Ricardo Nunes é o alvo predileto: o atual prefeito da cidade foi diretamente citado 318 vezes por todos os seus adversários em posts do X (antigo Twitter), Facebook e Instagram entre os meses de junho e dezembro. Enfrenta uma oposição ferrenha de Boulos, que endereçou ao todo mais de uma crítica por dia no período, e também concentra a maioria das ações dos deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil), Ricardo Salles (PL) e Tabata Amaral (PSB).

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Na sequência, está Boulos, que conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apareceu em primeiro lugar nas intenções de voto na pesquisa Datafolha realizada no final de agosto. Somente a deputada Tabata Amaral, do mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), não o atacou diretamente nas redes.

Juntos, Boulos e Nunes estiveram na mira de 429 publicações nas redes sociais dos respectivos oponentes em seis meses, de um total de 451 – ou seja, 95% da amostra. Tabata é criticada, em um distante terceiro lugar, por pré-candidatos de direita, enquanto Salles, Kim e Marina Helena (Novo) praticamente não foram citados pelos opositores ao longo de seis meses.

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Nunes: desgaste com apagão e contra-ataque na imprensa

O atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, conta com a máquina pública para conquistar um novo mandato depois de assumir o posto com a morte de Bruno Covas, em 2021, e naturalmente concentra as atenções de pré-candidatos que tentam convencer o eleitorado da necessidade de mudança na administração municipal.

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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, vai tentar a reeleição em 2024 Foto: Felipe Rau/Estadão

Três oponentes que aceitaram conversar com o Estadão alegaram que o prefeito seria ausente e desconhecido do paulistano, dando o tom do que Nunes deve ter pela frente em um debate na TV. “Todo mundo vê que a cidade está abandonada, que ele está perdido e não sabe governar. Muitas pessoas nem sequer sabem quem ele é”, disse o deputado Kim Kataguiri, o segundo que mais citou o nome do prefeito nas redes.

Nunes rebate dizendo que esse tipo de colocação é “leviana” e não condiz com a realidade. “Quem fala isso conhece muito pouco a cidade”, afirmou o prefeito durante um evento de entrega de moradias populares. Ele cita como exemplo a previsão de R$ 14 bilhões de investimento em 2024. Ao acusar os adversários de falta de ética, promete não atuar dessa forma durante a campanha. “O meu estilo é acordar cedo, trabalhar até tarde e fazer entrega pela cidade, que é o que estamos fazendo.”

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O momento de maior incidência de críticas foi durante o apagão na capital. O pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, publicou vídeo dizendo que a cidade estava sem luz e o prefeito, “sem energia”. Nunes também foi chamado de “rei do camarote” por ter comparecido a eventos como UFC e Fórmula 1 durante a crise. Na época, o prefeito reagiu dizendo que “varou a madrugada trabalhando” e, ao longo da semana, subiu o tom contra a Enel, concessionária do serviço.

O levantamento do Estadão mostra que, de fato, Nunes pouco entra em brigas no meio digital, dando preferência a fotos e vídeos de suas agendas públicas. O contra-ataque aos adversários aparece por meio da imprensa. Em discursos e entrevistas, Nunes já chamou Boulos de “amigo do Hamas”, grupo terrorista que está em guerra com Israel, e sugeriu que o candidato adota “política extremista”. O prefeito busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para, segundo ele, unir a direita e a centro-direita contra a “extrema esquerda” representada pelo PSOL.

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Boulos tenta se desvencilhar de fama de ‘radical’

A ênfase a esse tipo de questão não é dada apenas por Nunes. Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e nome apoiado por Lula na disputa pela capital paulista, Boulos frequentemente é associado por opositores à ideia de que seria “radical” e um “invasor de propriedade”. Marina Helena, do Novo, constantemente responde a posts do deputado no X com esse tipo de posicionamento. “Boulos representa o contrário de tudo que eu defendo, a começar pela bandidolatria”, disse ao Estadão.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) em evento com o presidente Lula em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Em outubro, Guilherme Boulos enfrentou desgaste com o desembarque de um dos seus coordenadores de campanha, o ex-secretário da Saúde Jean Gorinchteyn, que reclamou da falta de um posicionamento mais contundente do deputado contra o Hamas. Ele havia condenado os “ataques violentos a civis” sem mencionar o nome do grupo terrorista. Depois da saída de Gorinchteyn, ele criticou diretamente o Hamas em discurso na Câmara, afirmando que ele não representa o povo palestino e responsabilizando também Israel pelo agravamento do conflito.

No mês seguinte, o pré-candidato a prefeito de São Paulo passou a ser associado a greves de funcionários do metrô, da CPTM e da Sabesp. O deputado se mostrou contrário à privatização da companhia de água e saneamento e parte das lideranças dos sindicatos tem ligação com o seu partido. O episódio mais recente de desgaste foi a revelação da foto tirada ao lado de Luciane Barbosa, esposa de um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, recebida em gabinetes parlamentares e no Ministério da Justiça em 2023.

Procurado pela reportagem, Boulos não quis dar entrevista. Nas redes sociais, costuma minimizar o discurso de que seria extremista. Uma das apostas da campanha é o quadro “Boulos Invadiu a Minha Casa”, em que visita moradores para falar sobre política. Ele também já afirmou em entrevistas que não acha que as pessoas acreditarão nessa fama em 2024. “O desafio é quebrar uma caricatura que foi feita a meu respeito em um processo de criminalização de movimento social”, disse ao jornal Valor Econômico, em outubro.

Tabata dispensa ‘fogo amigo’ e confronta Nunes

Apesar de ser responsável por mais da metade dos posts do levantamento, o segundo pelotão da disputa quase não é citado por seus adversários nas redes. O episódio mais marcante foi a discussão entre Tabata Amaral e Ricardo Salles depois que a deputada do PSB sofreu uma tentativa de assalto em São Paulo. O aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro disse para ela “fazer o L” e “não encher a paciência”. Tabata escreveu que a postura dele era “lamentável”.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB) enfrenta desgaste na esquerda e na direita Foto: Dida Sampaio/Estadão

A deputada, citada 20 vezes, incluindo uma manifestação de solidariedade de Boulos, acabou sendo alvo apenas de Salles, Kataguiri e Marina Helena, pré-candidatos conservadores que a criticam pela ligação dela e de seu partido com a esquerda e o PT. Mas, ainda que tenha estabelecido uma espécie de trégua com Boulos neste momento, o cenário é diferente quanto aos apoiadores do oponente nas redes.

Diversos usuários lembram do seu voto a favor da Reforma da Previdência, em 2019, e a contestam como uma representante do campo progressista. Outro fato lembrado é a sua participação em programas de formação de líderes com financiamento privado, como Raps e RenovaBR. A campanha negativa foi mais intensa em setembro, quando declarou ao jornal Folha de S. Paulo que o maior problema de Boulos era a “falta de seriedade e maturidade”.

A deputada não atendeu aos pedidos de entrevista do Estadão. Ela, porém, já afirmou em outras ocasiões que considera críticas a movimentos civis de renovação da política um “desserviço à democracia” e justificou seu voto na reforma previdenciária por conta de mudanças que pleiteou no texto e em nome da responsabilidade fiscal. A situação “nem lá, nem cá” resulta em dúvidas no eleitorado sobre seu viés político. Ao quadro Joga na Busca, que esclarece as principais dúvidas na internet, disse que é de “centro-esquerda” com uma visão econômica “mais de diálogo e de centro”.

Salles, Kataguiri e Marina ativos, mas isolados

Kim Kataguiri é outro que encontra desafetos tanto na direita bolsonarista quanto na esquerda. O deputado é um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que atuou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), apoiou a eleição de Bolsonaro e depois rompeu com o político, chegando a promover passeatas contra o ex-presidente e pedir a interrupção de seu mandato. Nas redes, costuma ser acusado de adotar uma postura beligerante e vazia, como em discussão recente com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Kataguiri respondeu a essa crítica alegando ser um dos deputados “mais produtivos da Câmara” e dizendo não estar em busca de “lacração” para vencer a disputa. “A maioria do eleitorado não é ideológico e quer saber de propostas. A rejeição de Lula e Bolsonaro, pelo contrário, pode até atrapalhar os seus candidatos”, afirmou.

KIm Kataguiri (União Brasil) e Ricardo Salles (PL) na CPI do MST Foto: Wilton Junior/Estadão

Ricardo Salles não tem partido para disputar as eleições e espera uma carta de anuência do PL para se filiar ao PRD, o que não está garantido. Para além desse primeiro desafio, ainda pesa contra a sua candidatura a rejeição a Bolsonaro, seu padrinho político, que perdeu para Lula na capital nas eleições de 2022. Seu nome é frequentemente lembrado nas redes sociais por dois episódios: a reunião em que defendeu “passar a boiada” e mudar regras ambientais durante a pandemia de covid-19 e a acusação de que teria facilitado uma exportação ilegal de madeira quando era ministro do Meio Ambiente.

Boulos, por exemplo, deu o apelido de “traficante de madeira” ao hoje deputado na única menção feita a ele em seis meses. “A conta da passagem da boiada está chegando para o traficante de madeira Ricardo Salles. A papuda é o limite”, escreveu o adversário no X, ao comentar um parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito da gestão do Fundo Amazônia pelo seu ministério.

“Obviamente, isso é uma besteira que faz parte do processo eleitoral. Fato é que não tenho absolutamente nenhuma condenação. Essas acusações foram feitas por delegados petistas e agora estou respondendo, mas não tem nada”, defendeu-se Salles. Ele considera positivo o período em que atuou no ministério. “O meu esforço sempre foi de conciliação do desenvolvimento econômico com a proteção ambiental. Os indicadores do governo Lula agora mostram que a crítica deles contra mim era pura demagogia.”

Marina Helena é a única candidata sem mandato da lista, depois de falhar na sua tentativa de conquistar uma vaga de deputada federal em São Paulo; acabou como suplente do Novo. Ela admite que tem pela frente o desafio de tornar seu nome conhecido e contesta a afirmação de que o partido teria se tornado uma “linha auxiliar do bolsonarismo” nos últimos anos – o que pode ser reforçado pela sua participação no governo de Jair Bolsonaro, como secretária de Desestatização do Ministério da Economia. Ela sustenta que seu perfil é técnico e que atuou por um convite pessoal de Paulo Guedes.

“O Novo tem uma linha ideológica muito clara de acreditar que o Estado não é a solução de problemas como a pobreza e a desigualdade e que o que dá certo é a liberdade econômica. Em alguns momentos, acaba tendo uma aderência em outros partidos”, afirmou Marina Helena. Segundo ela, a diferença estaria na capacidade de gestão sem o “peso dos acordos políticos que acabam loteando cargos”. O partido deve aprovar o uso do fundo eleitoral na campanha, abandonando uma de suas principais bandeiras políticas, sob justificativa de que a soma atingiu patamares que não deixam alternativa. “Seria como entrar de canivete numa guerra em que todo mundo está usando bazuca.”

A disputa pela Prefeitura de São Paulo começou de forma antecipada, e não apenas diante da agenda cheia do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou da caravana na periferia do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Os pré-candidatos estão há meses em confronto nas redes sociais e já ensaiam o discurso para desgastar os adversários e reagir ao “fogo cruzado” da eleição municipal de 2024.

Ricardo Nunes é o alvo predileto: o atual prefeito da cidade foi diretamente citado 318 vezes por todos os seus adversários em posts do X (antigo Twitter), Facebook e Instagram entre os meses de junho e dezembro. Enfrenta uma oposição ferrenha de Boulos, que endereçou ao todo mais de uma crítica por dia no período, e também concentra a maioria das ações dos deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil), Ricardo Salles (PL) e Tabata Amaral (PSB).

Na sequência, está Boulos, que conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apareceu em primeiro lugar nas intenções de voto na pesquisa Datafolha realizada no final de agosto. Somente a deputada Tabata Amaral, do mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), não o atacou diretamente nas redes.

Juntos, Boulos e Nunes estiveram na mira de 429 publicações nas redes sociais dos respectivos oponentes em seis meses, de um total de 451 – ou seja, 95% da amostra. Tabata é criticada, em um distante terceiro lugar, por pré-candidatos de direita, enquanto Salles, Kim e Marina Helena (Novo) praticamente não foram citados pelos opositores ao longo de seis meses.

Nunes: desgaste com apagão e contra-ataque na imprensa

O atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, conta com a máquina pública para conquistar um novo mandato depois de assumir o posto com a morte de Bruno Covas, em 2021, e naturalmente concentra as atenções de pré-candidatos que tentam convencer o eleitorado da necessidade de mudança na administração municipal.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, vai tentar a reeleição em 2024 Foto: Felipe Rau/Estadão

Três oponentes que aceitaram conversar com o Estadão alegaram que o prefeito seria ausente e desconhecido do paulistano, dando o tom do que Nunes deve ter pela frente em um debate na TV. “Todo mundo vê que a cidade está abandonada, que ele está perdido e não sabe governar. Muitas pessoas nem sequer sabem quem ele é”, disse o deputado Kim Kataguiri, o segundo que mais citou o nome do prefeito nas redes.

Nunes rebate dizendo que esse tipo de colocação é “leviana” e não condiz com a realidade. “Quem fala isso conhece muito pouco a cidade”, afirmou o prefeito durante um evento de entrega de moradias populares. Ele cita como exemplo a previsão de R$ 14 bilhões de investimento em 2024. Ao acusar os adversários de falta de ética, promete não atuar dessa forma durante a campanha. “O meu estilo é acordar cedo, trabalhar até tarde e fazer entrega pela cidade, que é o que estamos fazendo.”

O momento de maior incidência de críticas foi durante o apagão na capital. O pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, publicou vídeo dizendo que a cidade estava sem luz e o prefeito, “sem energia”. Nunes também foi chamado de “rei do camarote” por ter comparecido a eventos como UFC e Fórmula 1 durante a crise. Na época, o prefeito reagiu dizendo que “varou a madrugada trabalhando” e, ao longo da semana, subiu o tom contra a Enel, concessionária do serviço.

O levantamento do Estadão mostra que, de fato, Nunes pouco entra em brigas no meio digital, dando preferência a fotos e vídeos de suas agendas públicas. O contra-ataque aos adversários aparece por meio da imprensa. Em discursos e entrevistas, Nunes já chamou Boulos de “amigo do Hamas”, grupo terrorista que está em guerra com Israel, e sugeriu que o candidato adota “política extremista”. O prefeito busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para, segundo ele, unir a direita e a centro-direita contra a “extrema esquerda” representada pelo PSOL.

Boulos tenta se desvencilhar de fama de ‘radical’

A ênfase a esse tipo de questão não é dada apenas por Nunes. Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e nome apoiado por Lula na disputa pela capital paulista, Boulos frequentemente é associado por opositores à ideia de que seria “radical” e um “invasor de propriedade”. Marina Helena, do Novo, constantemente responde a posts do deputado no X com esse tipo de posicionamento. “Boulos representa o contrário de tudo que eu defendo, a começar pela bandidolatria”, disse ao Estadão.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) em evento com o presidente Lula em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Em outubro, Guilherme Boulos enfrentou desgaste com o desembarque de um dos seus coordenadores de campanha, o ex-secretário da Saúde Jean Gorinchteyn, que reclamou da falta de um posicionamento mais contundente do deputado contra o Hamas. Ele havia condenado os “ataques violentos a civis” sem mencionar o nome do grupo terrorista. Depois da saída de Gorinchteyn, ele criticou diretamente o Hamas em discurso na Câmara, afirmando que ele não representa o povo palestino e responsabilizando também Israel pelo agravamento do conflito.

No mês seguinte, o pré-candidato a prefeito de São Paulo passou a ser associado a greves de funcionários do metrô, da CPTM e da Sabesp. O deputado se mostrou contrário à privatização da companhia de água e saneamento e parte das lideranças dos sindicatos tem ligação com o seu partido. O episódio mais recente de desgaste foi a revelação da foto tirada ao lado de Luciane Barbosa, esposa de um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, recebida em gabinetes parlamentares e no Ministério da Justiça em 2023.

Procurado pela reportagem, Boulos não quis dar entrevista. Nas redes sociais, costuma minimizar o discurso de que seria extremista. Uma das apostas da campanha é o quadro “Boulos Invadiu a Minha Casa”, em que visita moradores para falar sobre política. Ele também já afirmou em entrevistas que não acha que as pessoas acreditarão nessa fama em 2024. “O desafio é quebrar uma caricatura que foi feita a meu respeito em um processo de criminalização de movimento social”, disse ao jornal Valor Econômico, em outubro.

Tabata dispensa ‘fogo amigo’ e confronta Nunes

Apesar de ser responsável por mais da metade dos posts do levantamento, o segundo pelotão da disputa quase não é citado por seus adversários nas redes. O episódio mais marcante foi a discussão entre Tabata Amaral e Ricardo Salles depois que a deputada do PSB sofreu uma tentativa de assalto em São Paulo. O aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro disse para ela “fazer o L” e “não encher a paciência”. Tabata escreveu que a postura dele era “lamentável”.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB) enfrenta desgaste na esquerda e na direita Foto: Dida Sampaio/Estadão

A deputada, citada 20 vezes, incluindo uma manifestação de solidariedade de Boulos, acabou sendo alvo apenas de Salles, Kataguiri e Marina Helena, pré-candidatos conservadores que a criticam pela ligação dela e de seu partido com a esquerda e o PT. Mas, ainda que tenha estabelecido uma espécie de trégua com Boulos neste momento, o cenário é diferente quanto aos apoiadores do oponente nas redes.

Diversos usuários lembram do seu voto a favor da Reforma da Previdência, em 2019, e a contestam como uma representante do campo progressista. Outro fato lembrado é a sua participação em programas de formação de líderes com financiamento privado, como Raps e RenovaBR. A campanha negativa foi mais intensa em setembro, quando declarou ao jornal Folha de S. Paulo que o maior problema de Boulos era a “falta de seriedade e maturidade”.

A deputada não atendeu aos pedidos de entrevista do Estadão. Ela, porém, já afirmou em outras ocasiões que considera críticas a movimentos civis de renovação da política um “desserviço à democracia” e justificou seu voto na reforma previdenciária por conta de mudanças que pleiteou no texto e em nome da responsabilidade fiscal. A situação “nem lá, nem cá” resulta em dúvidas no eleitorado sobre seu viés político. Ao quadro Joga na Busca, que esclarece as principais dúvidas na internet, disse que é de “centro-esquerda” com uma visão econômica “mais de diálogo e de centro”.

Salles, Kataguiri e Marina ativos, mas isolados

Kim Kataguiri é outro que encontra desafetos tanto na direita bolsonarista quanto na esquerda. O deputado é um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que atuou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), apoiou a eleição de Bolsonaro e depois rompeu com o político, chegando a promover passeatas contra o ex-presidente e pedir a interrupção de seu mandato. Nas redes, costuma ser acusado de adotar uma postura beligerante e vazia, como em discussão recente com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Kataguiri respondeu a essa crítica alegando ser um dos deputados “mais produtivos da Câmara” e dizendo não estar em busca de “lacração” para vencer a disputa. “A maioria do eleitorado não é ideológico e quer saber de propostas. A rejeição de Lula e Bolsonaro, pelo contrário, pode até atrapalhar os seus candidatos”, afirmou.

KIm Kataguiri (União Brasil) e Ricardo Salles (PL) na CPI do MST Foto: Wilton Junior/Estadão

Ricardo Salles não tem partido para disputar as eleições e espera uma carta de anuência do PL para se filiar ao PRD, o que não está garantido. Para além desse primeiro desafio, ainda pesa contra a sua candidatura a rejeição a Bolsonaro, seu padrinho político, que perdeu para Lula na capital nas eleições de 2022. Seu nome é frequentemente lembrado nas redes sociais por dois episódios: a reunião em que defendeu “passar a boiada” e mudar regras ambientais durante a pandemia de covid-19 e a acusação de que teria facilitado uma exportação ilegal de madeira quando era ministro do Meio Ambiente.

Boulos, por exemplo, deu o apelido de “traficante de madeira” ao hoje deputado na única menção feita a ele em seis meses. “A conta da passagem da boiada está chegando para o traficante de madeira Ricardo Salles. A papuda é o limite”, escreveu o adversário no X, ao comentar um parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito da gestão do Fundo Amazônia pelo seu ministério.

“Obviamente, isso é uma besteira que faz parte do processo eleitoral. Fato é que não tenho absolutamente nenhuma condenação. Essas acusações foram feitas por delegados petistas e agora estou respondendo, mas não tem nada”, defendeu-se Salles. Ele considera positivo o período em que atuou no ministério. “O meu esforço sempre foi de conciliação do desenvolvimento econômico com a proteção ambiental. Os indicadores do governo Lula agora mostram que a crítica deles contra mim era pura demagogia.”

Marina Helena é a única candidata sem mandato da lista, depois de falhar na sua tentativa de conquistar uma vaga de deputada federal em São Paulo; acabou como suplente do Novo. Ela admite que tem pela frente o desafio de tornar seu nome conhecido e contesta a afirmação de que o partido teria se tornado uma “linha auxiliar do bolsonarismo” nos últimos anos – o que pode ser reforçado pela sua participação no governo de Jair Bolsonaro, como secretária de Desestatização do Ministério da Economia. Ela sustenta que seu perfil é técnico e que atuou por um convite pessoal de Paulo Guedes.

“O Novo tem uma linha ideológica muito clara de acreditar que o Estado não é a solução de problemas como a pobreza e a desigualdade e que o que dá certo é a liberdade econômica. Em alguns momentos, acaba tendo uma aderência em outros partidos”, afirmou Marina Helena. Segundo ela, a diferença estaria na capacidade de gestão sem o “peso dos acordos políticos que acabam loteando cargos”. O partido deve aprovar o uso do fundo eleitoral na campanha, abandonando uma de suas principais bandeiras políticas, sob justificativa de que a soma atingiu patamares que não deixam alternativa. “Seria como entrar de canivete numa guerra em que todo mundo está usando bazuca.”

A disputa pela Prefeitura de São Paulo começou de forma antecipada, e não apenas diante da agenda cheia do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou da caravana na periferia do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Os pré-candidatos estão há meses em confronto nas redes sociais e já ensaiam o discurso para desgastar os adversários e reagir ao “fogo cruzado” da eleição municipal de 2024.

Ricardo Nunes é o alvo predileto: o atual prefeito da cidade foi diretamente citado 318 vezes por todos os seus adversários em posts do X (antigo Twitter), Facebook e Instagram entre os meses de junho e dezembro. Enfrenta uma oposição ferrenha de Boulos, que endereçou ao todo mais de uma crítica por dia no período, e também concentra a maioria das ações dos deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil), Ricardo Salles (PL) e Tabata Amaral (PSB).

Na sequência, está Boulos, que conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apareceu em primeiro lugar nas intenções de voto na pesquisa Datafolha realizada no final de agosto. Somente a deputada Tabata Amaral, do mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), não o atacou diretamente nas redes.

Juntos, Boulos e Nunes estiveram na mira de 429 publicações nas redes sociais dos respectivos oponentes em seis meses, de um total de 451 – ou seja, 95% da amostra. Tabata é criticada, em um distante terceiro lugar, por pré-candidatos de direita, enquanto Salles, Kim e Marina Helena (Novo) praticamente não foram citados pelos opositores ao longo de seis meses.

Nunes: desgaste com apagão e contra-ataque na imprensa

O atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, conta com a máquina pública para conquistar um novo mandato depois de assumir o posto com a morte de Bruno Covas, em 2021, e naturalmente concentra as atenções de pré-candidatos que tentam convencer o eleitorado da necessidade de mudança na administração municipal.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, vai tentar a reeleição em 2024 Foto: Felipe Rau/Estadão

Três oponentes que aceitaram conversar com o Estadão alegaram que o prefeito seria ausente e desconhecido do paulistano, dando o tom do que Nunes deve ter pela frente em um debate na TV. “Todo mundo vê que a cidade está abandonada, que ele está perdido e não sabe governar. Muitas pessoas nem sequer sabem quem ele é”, disse o deputado Kim Kataguiri, o segundo que mais citou o nome do prefeito nas redes.

Nunes rebate dizendo que esse tipo de colocação é “leviana” e não condiz com a realidade. “Quem fala isso conhece muito pouco a cidade”, afirmou o prefeito durante um evento de entrega de moradias populares. Ele cita como exemplo a previsão de R$ 14 bilhões de investimento em 2024. Ao acusar os adversários de falta de ética, promete não atuar dessa forma durante a campanha. “O meu estilo é acordar cedo, trabalhar até tarde e fazer entrega pela cidade, que é o que estamos fazendo.”

O momento de maior incidência de críticas foi durante o apagão na capital. O pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, publicou vídeo dizendo que a cidade estava sem luz e o prefeito, “sem energia”. Nunes também foi chamado de “rei do camarote” por ter comparecido a eventos como UFC e Fórmula 1 durante a crise. Na época, o prefeito reagiu dizendo que “varou a madrugada trabalhando” e, ao longo da semana, subiu o tom contra a Enel, concessionária do serviço.

O levantamento do Estadão mostra que, de fato, Nunes pouco entra em brigas no meio digital, dando preferência a fotos e vídeos de suas agendas públicas. O contra-ataque aos adversários aparece por meio da imprensa. Em discursos e entrevistas, Nunes já chamou Boulos de “amigo do Hamas”, grupo terrorista que está em guerra com Israel, e sugeriu que o candidato adota “política extremista”. O prefeito busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para, segundo ele, unir a direita e a centro-direita contra a “extrema esquerda” representada pelo PSOL.

Boulos tenta se desvencilhar de fama de ‘radical’

A ênfase a esse tipo de questão não é dada apenas por Nunes. Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e nome apoiado por Lula na disputa pela capital paulista, Boulos frequentemente é associado por opositores à ideia de que seria “radical” e um “invasor de propriedade”. Marina Helena, do Novo, constantemente responde a posts do deputado no X com esse tipo de posicionamento. “Boulos representa o contrário de tudo que eu defendo, a começar pela bandidolatria”, disse ao Estadão.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) em evento com o presidente Lula em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Em outubro, Guilherme Boulos enfrentou desgaste com o desembarque de um dos seus coordenadores de campanha, o ex-secretário da Saúde Jean Gorinchteyn, que reclamou da falta de um posicionamento mais contundente do deputado contra o Hamas. Ele havia condenado os “ataques violentos a civis” sem mencionar o nome do grupo terrorista. Depois da saída de Gorinchteyn, ele criticou diretamente o Hamas em discurso na Câmara, afirmando que ele não representa o povo palestino e responsabilizando também Israel pelo agravamento do conflito.

No mês seguinte, o pré-candidato a prefeito de São Paulo passou a ser associado a greves de funcionários do metrô, da CPTM e da Sabesp. O deputado se mostrou contrário à privatização da companhia de água e saneamento e parte das lideranças dos sindicatos tem ligação com o seu partido. O episódio mais recente de desgaste foi a revelação da foto tirada ao lado de Luciane Barbosa, esposa de um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, recebida em gabinetes parlamentares e no Ministério da Justiça em 2023.

Procurado pela reportagem, Boulos não quis dar entrevista. Nas redes sociais, costuma minimizar o discurso de que seria extremista. Uma das apostas da campanha é o quadro “Boulos Invadiu a Minha Casa”, em que visita moradores para falar sobre política. Ele também já afirmou em entrevistas que não acha que as pessoas acreditarão nessa fama em 2024. “O desafio é quebrar uma caricatura que foi feita a meu respeito em um processo de criminalização de movimento social”, disse ao jornal Valor Econômico, em outubro.

Tabata dispensa ‘fogo amigo’ e confronta Nunes

Apesar de ser responsável por mais da metade dos posts do levantamento, o segundo pelotão da disputa quase não é citado por seus adversários nas redes. O episódio mais marcante foi a discussão entre Tabata Amaral e Ricardo Salles depois que a deputada do PSB sofreu uma tentativa de assalto em São Paulo. O aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro disse para ela “fazer o L” e “não encher a paciência”. Tabata escreveu que a postura dele era “lamentável”.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB) enfrenta desgaste na esquerda e na direita Foto: Dida Sampaio/Estadão

A deputada, citada 20 vezes, incluindo uma manifestação de solidariedade de Boulos, acabou sendo alvo apenas de Salles, Kataguiri e Marina Helena, pré-candidatos conservadores que a criticam pela ligação dela e de seu partido com a esquerda e o PT. Mas, ainda que tenha estabelecido uma espécie de trégua com Boulos neste momento, o cenário é diferente quanto aos apoiadores do oponente nas redes.

Diversos usuários lembram do seu voto a favor da Reforma da Previdência, em 2019, e a contestam como uma representante do campo progressista. Outro fato lembrado é a sua participação em programas de formação de líderes com financiamento privado, como Raps e RenovaBR. A campanha negativa foi mais intensa em setembro, quando declarou ao jornal Folha de S. Paulo que o maior problema de Boulos era a “falta de seriedade e maturidade”.

A deputada não atendeu aos pedidos de entrevista do Estadão. Ela, porém, já afirmou em outras ocasiões que considera críticas a movimentos civis de renovação da política um “desserviço à democracia” e justificou seu voto na reforma previdenciária por conta de mudanças que pleiteou no texto e em nome da responsabilidade fiscal. A situação “nem lá, nem cá” resulta em dúvidas no eleitorado sobre seu viés político. Ao quadro Joga na Busca, que esclarece as principais dúvidas na internet, disse que é de “centro-esquerda” com uma visão econômica “mais de diálogo e de centro”.

Salles, Kataguiri e Marina ativos, mas isolados

Kim Kataguiri é outro que encontra desafetos tanto na direita bolsonarista quanto na esquerda. O deputado é um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que atuou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), apoiou a eleição de Bolsonaro e depois rompeu com o político, chegando a promover passeatas contra o ex-presidente e pedir a interrupção de seu mandato. Nas redes, costuma ser acusado de adotar uma postura beligerante e vazia, como em discussão recente com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Kataguiri respondeu a essa crítica alegando ser um dos deputados “mais produtivos da Câmara” e dizendo não estar em busca de “lacração” para vencer a disputa. “A maioria do eleitorado não é ideológico e quer saber de propostas. A rejeição de Lula e Bolsonaro, pelo contrário, pode até atrapalhar os seus candidatos”, afirmou.

KIm Kataguiri (União Brasil) e Ricardo Salles (PL) na CPI do MST Foto: Wilton Junior/Estadão

Ricardo Salles não tem partido para disputar as eleições e espera uma carta de anuência do PL para se filiar ao PRD, o que não está garantido. Para além desse primeiro desafio, ainda pesa contra a sua candidatura a rejeição a Bolsonaro, seu padrinho político, que perdeu para Lula na capital nas eleições de 2022. Seu nome é frequentemente lembrado nas redes sociais por dois episódios: a reunião em que defendeu “passar a boiada” e mudar regras ambientais durante a pandemia de covid-19 e a acusação de que teria facilitado uma exportação ilegal de madeira quando era ministro do Meio Ambiente.

Boulos, por exemplo, deu o apelido de “traficante de madeira” ao hoje deputado na única menção feita a ele em seis meses. “A conta da passagem da boiada está chegando para o traficante de madeira Ricardo Salles. A papuda é o limite”, escreveu o adversário no X, ao comentar um parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito da gestão do Fundo Amazônia pelo seu ministério.

“Obviamente, isso é uma besteira que faz parte do processo eleitoral. Fato é que não tenho absolutamente nenhuma condenação. Essas acusações foram feitas por delegados petistas e agora estou respondendo, mas não tem nada”, defendeu-se Salles. Ele considera positivo o período em que atuou no ministério. “O meu esforço sempre foi de conciliação do desenvolvimento econômico com a proteção ambiental. Os indicadores do governo Lula agora mostram que a crítica deles contra mim era pura demagogia.”

Marina Helena é a única candidata sem mandato da lista, depois de falhar na sua tentativa de conquistar uma vaga de deputada federal em São Paulo; acabou como suplente do Novo. Ela admite que tem pela frente o desafio de tornar seu nome conhecido e contesta a afirmação de que o partido teria se tornado uma “linha auxiliar do bolsonarismo” nos últimos anos – o que pode ser reforçado pela sua participação no governo de Jair Bolsonaro, como secretária de Desestatização do Ministério da Economia. Ela sustenta que seu perfil é técnico e que atuou por um convite pessoal de Paulo Guedes.

“O Novo tem uma linha ideológica muito clara de acreditar que o Estado não é a solução de problemas como a pobreza e a desigualdade e que o que dá certo é a liberdade econômica. Em alguns momentos, acaba tendo uma aderência em outros partidos”, afirmou Marina Helena. Segundo ela, a diferença estaria na capacidade de gestão sem o “peso dos acordos políticos que acabam loteando cargos”. O partido deve aprovar o uso do fundo eleitoral na campanha, abandonando uma de suas principais bandeiras políticas, sob justificativa de que a soma atingiu patamares que não deixam alternativa. “Seria como entrar de canivete numa guerra em que todo mundo está usando bazuca.”

A disputa pela Prefeitura de São Paulo começou de forma antecipada, e não apenas diante da agenda cheia do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou da caravana na periferia do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Os pré-candidatos estão há meses em confronto nas redes sociais e já ensaiam o discurso para desgastar os adversários e reagir ao “fogo cruzado” da eleição municipal de 2024.

Ricardo Nunes é o alvo predileto: o atual prefeito da cidade foi diretamente citado 318 vezes por todos os seus adversários em posts do X (antigo Twitter), Facebook e Instagram entre os meses de junho e dezembro. Enfrenta uma oposição ferrenha de Boulos, que endereçou ao todo mais de uma crítica por dia no período, e também concentra a maioria das ações dos deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil), Ricardo Salles (PL) e Tabata Amaral (PSB).

Na sequência, está Boulos, que conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apareceu em primeiro lugar nas intenções de voto na pesquisa Datafolha realizada no final de agosto. Somente a deputada Tabata Amaral, do mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), não o atacou diretamente nas redes.

Juntos, Boulos e Nunes estiveram na mira de 429 publicações nas redes sociais dos respectivos oponentes em seis meses, de um total de 451 – ou seja, 95% da amostra. Tabata é criticada, em um distante terceiro lugar, por pré-candidatos de direita, enquanto Salles, Kim e Marina Helena (Novo) praticamente não foram citados pelos opositores ao longo de seis meses.

Nunes: desgaste com apagão e contra-ataque na imprensa

O atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, conta com a máquina pública para conquistar um novo mandato depois de assumir o posto com a morte de Bruno Covas, em 2021, e naturalmente concentra as atenções de pré-candidatos que tentam convencer o eleitorado da necessidade de mudança na administração municipal.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, vai tentar a reeleição em 2024 Foto: Felipe Rau/Estadão

Três oponentes que aceitaram conversar com o Estadão alegaram que o prefeito seria ausente e desconhecido do paulistano, dando o tom do que Nunes deve ter pela frente em um debate na TV. “Todo mundo vê que a cidade está abandonada, que ele está perdido e não sabe governar. Muitas pessoas nem sequer sabem quem ele é”, disse o deputado Kim Kataguiri, o segundo que mais citou o nome do prefeito nas redes.

Nunes rebate dizendo que esse tipo de colocação é “leviana” e não condiz com a realidade. “Quem fala isso conhece muito pouco a cidade”, afirmou o prefeito durante um evento de entrega de moradias populares. Ele cita como exemplo a previsão de R$ 14 bilhões de investimento em 2024. Ao acusar os adversários de falta de ética, promete não atuar dessa forma durante a campanha. “O meu estilo é acordar cedo, trabalhar até tarde e fazer entrega pela cidade, que é o que estamos fazendo.”

O momento de maior incidência de críticas foi durante o apagão na capital. O pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, publicou vídeo dizendo que a cidade estava sem luz e o prefeito, “sem energia”. Nunes também foi chamado de “rei do camarote” por ter comparecido a eventos como UFC e Fórmula 1 durante a crise. Na época, o prefeito reagiu dizendo que “varou a madrugada trabalhando” e, ao longo da semana, subiu o tom contra a Enel, concessionária do serviço.

O levantamento do Estadão mostra que, de fato, Nunes pouco entra em brigas no meio digital, dando preferência a fotos e vídeos de suas agendas públicas. O contra-ataque aos adversários aparece por meio da imprensa. Em discursos e entrevistas, Nunes já chamou Boulos de “amigo do Hamas”, grupo terrorista que está em guerra com Israel, e sugeriu que o candidato adota “política extremista”. O prefeito busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para, segundo ele, unir a direita e a centro-direita contra a “extrema esquerda” representada pelo PSOL.

Boulos tenta se desvencilhar de fama de ‘radical’

A ênfase a esse tipo de questão não é dada apenas por Nunes. Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e nome apoiado por Lula na disputa pela capital paulista, Boulos frequentemente é associado por opositores à ideia de que seria “radical” e um “invasor de propriedade”. Marina Helena, do Novo, constantemente responde a posts do deputado no X com esse tipo de posicionamento. “Boulos representa o contrário de tudo que eu defendo, a começar pela bandidolatria”, disse ao Estadão.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) em evento com o presidente Lula em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Em outubro, Guilherme Boulos enfrentou desgaste com o desembarque de um dos seus coordenadores de campanha, o ex-secretário da Saúde Jean Gorinchteyn, que reclamou da falta de um posicionamento mais contundente do deputado contra o Hamas. Ele havia condenado os “ataques violentos a civis” sem mencionar o nome do grupo terrorista. Depois da saída de Gorinchteyn, ele criticou diretamente o Hamas em discurso na Câmara, afirmando que ele não representa o povo palestino e responsabilizando também Israel pelo agravamento do conflito.

No mês seguinte, o pré-candidato a prefeito de São Paulo passou a ser associado a greves de funcionários do metrô, da CPTM e da Sabesp. O deputado se mostrou contrário à privatização da companhia de água e saneamento e parte das lideranças dos sindicatos tem ligação com o seu partido. O episódio mais recente de desgaste foi a revelação da foto tirada ao lado de Luciane Barbosa, esposa de um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, recebida em gabinetes parlamentares e no Ministério da Justiça em 2023.

Procurado pela reportagem, Boulos não quis dar entrevista. Nas redes sociais, costuma minimizar o discurso de que seria extremista. Uma das apostas da campanha é o quadro “Boulos Invadiu a Minha Casa”, em que visita moradores para falar sobre política. Ele também já afirmou em entrevistas que não acha que as pessoas acreditarão nessa fama em 2024. “O desafio é quebrar uma caricatura que foi feita a meu respeito em um processo de criminalização de movimento social”, disse ao jornal Valor Econômico, em outubro.

Tabata dispensa ‘fogo amigo’ e confronta Nunes

Apesar de ser responsável por mais da metade dos posts do levantamento, o segundo pelotão da disputa quase não é citado por seus adversários nas redes. O episódio mais marcante foi a discussão entre Tabata Amaral e Ricardo Salles depois que a deputada do PSB sofreu uma tentativa de assalto em São Paulo. O aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro disse para ela “fazer o L” e “não encher a paciência”. Tabata escreveu que a postura dele era “lamentável”.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB) enfrenta desgaste na esquerda e na direita Foto: Dida Sampaio/Estadão

A deputada, citada 20 vezes, incluindo uma manifestação de solidariedade de Boulos, acabou sendo alvo apenas de Salles, Kataguiri e Marina Helena, pré-candidatos conservadores que a criticam pela ligação dela e de seu partido com a esquerda e o PT. Mas, ainda que tenha estabelecido uma espécie de trégua com Boulos neste momento, o cenário é diferente quanto aos apoiadores do oponente nas redes.

Diversos usuários lembram do seu voto a favor da Reforma da Previdência, em 2019, e a contestam como uma representante do campo progressista. Outro fato lembrado é a sua participação em programas de formação de líderes com financiamento privado, como Raps e RenovaBR. A campanha negativa foi mais intensa em setembro, quando declarou ao jornal Folha de S. Paulo que o maior problema de Boulos era a “falta de seriedade e maturidade”.

A deputada não atendeu aos pedidos de entrevista do Estadão. Ela, porém, já afirmou em outras ocasiões que considera críticas a movimentos civis de renovação da política um “desserviço à democracia” e justificou seu voto na reforma previdenciária por conta de mudanças que pleiteou no texto e em nome da responsabilidade fiscal. A situação “nem lá, nem cá” resulta em dúvidas no eleitorado sobre seu viés político. Ao quadro Joga na Busca, que esclarece as principais dúvidas na internet, disse que é de “centro-esquerda” com uma visão econômica “mais de diálogo e de centro”.

Salles, Kataguiri e Marina ativos, mas isolados

Kim Kataguiri é outro que encontra desafetos tanto na direita bolsonarista quanto na esquerda. O deputado é um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que atuou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), apoiou a eleição de Bolsonaro e depois rompeu com o político, chegando a promover passeatas contra o ex-presidente e pedir a interrupção de seu mandato. Nas redes, costuma ser acusado de adotar uma postura beligerante e vazia, como em discussão recente com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Kataguiri respondeu a essa crítica alegando ser um dos deputados “mais produtivos da Câmara” e dizendo não estar em busca de “lacração” para vencer a disputa. “A maioria do eleitorado não é ideológico e quer saber de propostas. A rejeição de Lula e Bolsonaro, pelo contrário, pode até atrapalhar os seus candidatos”, afirmou.

KIm Kataguiri (União Brasil) e Ricardo Salles (PL) na CPI do MST Foto: Wilton Junior/Estadão

Ricardo Salles não tem partido para disputar as eleições e espera uma carta de anuência do PL para se filiar ao PRD, o que não está garantido. Para além desse primeiro desafio, ainda pesa contra a sua candidatura a rejeição a Bolsonaro, seu padrinho político, que perdeu para Lula na capital nas eleições de 2022. Seu nome é frequentemente lembrado nas redes sociais por dois episódios: a reunião em que defendeu “passar a boiada” e mudar regras ambientais durante a pandemia de covid-19 e a acusação de que teria facilitado uma exportação ilegal de madeira quando era ministro do Meio Ambiente.

Boulos, por exemplo, deu o apelido de “traficante de madeira” ao hoje deputado na única menção feita a ele em seis meses. “A conta da passagem da boiada está chegando para o traficante de madeira Ricardo Salles. A papuda é o limite”, escreveu o adversário no X, ao comentar um parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito da gestão do Fundo Amazônia pelo seu ministério.

“Obviamente, isso é uma besteira que faz parte do processo eleitoral. Fato é que não tenho absolutamente nenhuma condenação. Essas acusações foram feitas por delegados petistas e agora estou respondendo, mas não tem nada”, defendeu-se Salles. Ele considera positivo o período em que atuou no ministério. “O meu esforço sempre foi de conciliação do desenvolvimento econômico com a proteção ambiental. Os indicadores do governo Lula agora mostram que a crítica deles contra mim era pura demagogia.”

Marina Helena é a única candidata sem mandato da lista, depois de falhar na sua tentativa de conquistar uma vaga de deputada federal em São Paulo; acabou como suplente do Novo. Ela admite que tem pela frente o desafio de tornar seu nome conhecido e contesta a afirmação de que o partido teria se tornado uma “linha auxiliar do bolsonarismo” nos últimos anos – o que pode ser reforçado pela sua participação no governo de Jair Bolsonaro, como secretária de Desestatização do Ministério da Economia. Ela sustenta que seu perfil é técnico e que atuou por um convite pessoal de Paulo Guedes.

“O Novo tem uma linha ideológica muito clara de acreditar que o Estado não é a solução de problemas como a pobreza e a desigualdade e que o que dá certo é a liberdade econômica. Em alguns momentos, acaba tendo uma aderência em outros partidos”, afirmou Marina Helena. Segundo ela, a diferença estaria na capacidade de gestão sem o “peso dos acordos políticos que acabam loteando cargos”. O partido deve aprovar o uso do fundo eleitoral na campanha, abandonando uma de suas principais bandeiras políticas, sob justificativa de que a soma atingiu patamares que não deixam alternativa. “Seria como entrar de canivete numa guerra em que todo mundo está usando bazuca.”

A disputa pela Prefeitura de São Paulo começou de forma antecipada, e não apenas diante da agenda cheia do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou da caravana na periferia do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Os pré-candidatos estão há meses em confronto nas redes sociais e já ensaiam o discurso para desgastar os adversários e reagir ao “fogo cruzado” da eleição municipal de 2024.

Ricardo Nunes é o alvo predileto: o atual prefeito da cidade foi diretamente citado 318 vezes por todos os seus adversários em posts do X (antigo Twitter), Facebook e Instagram entre os meses de junho e dezembro. Enfrenta uma oposição ferrenha de Boulos, que endereçou ao todo mais de uma crítica por dia no período, e também concentra a maioria das ações dos deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil), Ricardo Salles (PL) e Tabata Amaral (PSB).

Na sequência, está Boulos, que conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apareceu em primeiro lugar nas intenções de voto na pesquisa Datafolha realizada no final de agosto. Somente a deputada Tabata Amaral, do mesmo partido do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), não o atacou diretamente nas redes.

Juntos, Boulos e Nunes estiveram na mira de 429 publicações nas redes sociais dos respectivos oponentes em seis meses, de um total de 451 – ou seja, 95% da amostra. Tabata é criticada, em um distante terceiro lugar, por pré-candidatos de direita, enquanto Salles, Kim e Marina Helena (Novo) praticamente não foram citados pelos opositores ao longo de seis meses.

Nunes: desgaste com apagão e contra-ataque na imprensa

O atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, conta com a máquina pública para conquistar um novo mandato depois de assumir o posto com a morte de Bruno Covas, em 2021, e naturalmente concentra as atenções de pré-candidatos que tentam convencer o eleitorado da necessidade de mudança na administração municipal.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, vai tentar a reeleição em 2024 Foto: Felipe Rau/Estadão

Três oponentes que aceitaram conversar com o Estadão alegaram que o prefeito seria ausente e desconhecido do paulistano, dando o tom do que Nunes deve ter pela frente em um debate na TV. “Todo mundo vê que a cidade está abandonada, que ele está perdido e não sabe governar. Muitas pessoas nem sequer sabem quem ele é”, disse o deputado Kim Kataguiri, o segundo que mais citou o nome do prefeito nas redes.

Nunes rebate dizendo que esse tipo de colocação é “leviana” e não condiz com a realidade. “Quem fala isso conhece muito pouco a cidade”, afirmou o prefeito durante um evento de entrega de moradias populares. Ele cita como exemplo a previsão de R$ 14 bilhões de investimento em 2024. Ao acusar os adversários de falta de ética, promete não atuar dessa forma durante a campanha. “O meu estilo é acordar cedo, trabalhar até tarde e fazer entrega pela cidade, que é o que estamos fazendo.”

O momento de maior incidência de críticas foi durante o apagão na capital. O pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, publicou vídeo dizendo que a cidade estava sem luz e o prefeito, “sem energia”. Nunes também foi chamado de “rei do camarote” por ter comparecido a eventos como UFC e Fórmula 1 durante a crise. Na época, o prefeito reagiu dizendo que “varou a madrugada trabalhando” e, ao longo da semana, subiu o tom contra a Enel, concessionária do serviço.

O levantamento do Estadão mostra que, de fato, Nunes pouco entra em brigas no meio digital, dando preferência a fotos e vídeos de suas agendas públicas. O contra-ataque aos adversários aparece por meio da imprensa. Em discursos e entrevistas, Nunes já chamou Boulos de “amigo do Hamas”, grupo terrorista que está em guerra com Israel, e sugeriu que o candidato adota “política extremista”. O prefeito busca o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para, segundo ele, unir a direita e a centro-direita contra a “extrema esquerda” representada pelo PSOL.

Boulos tenta se desvencilhar de fama de ‘radical’

A ênfase a esse tipo de questão não é dada apenas por Nunes. Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e nome apoiado por Lula na disputa pela capital paulista, Boulos frequentemente é associado por opositores à ideia de que seria “radical” e um “invasor de propriedade”. Marina Helena, do Novo, constantemente responde a posts do deputado no X com esse tipo de posicionamento. “Boulos representa o contrário de tudo que eu defendo, a começar pela bandidolatria”, disse ao Estadão.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) em evento com o presidente Lula em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Em outubro, Guilherme Boulos enfrentou desgaste com o desembarque de um dos seus coordenadores de campanha, o ex-secretário da Saúde Jean Gorinchteyn, que reclamou da falta de um posicionamento mais contundente do deputado contra o Hamas. Ele havia condenado os “ataques violentos a civis” sem mencionar o nome do grupo terrorista. Depois da saída de Gorinchteyn, ele criticou diretamente o Hamas em discurso na Câmara, afirmando que ele não representa o povo palestino e responsabilizando também Israel pelo agravamento do conflito.

No mês seguinte, o pré-candidato a prefeito de São Paulo passou a ser associado a greves de funcionários do metrô, da CPTM e da Sabesp. O deputado se mostrou contrário à privatização da companhia de água e saneamento e parte das lideranças dos sindicatos tem ligação com o seu partido. O episódio mais recente de desgaste foi a revelação da foto tirada ao lado de Luciane Barbosa, esposa de um dos líderes do Comando Vermelho no Amazonas, recebida em gabinetes parlamentares e no Ministério da Justiça em 2023.

Procurado pela reportagem, Boulos não quis dar entrevista. Nas redes sociais, costuma minimizar o discurso de que seria extremista. Uma das apostas da campanha é o quadro “Boulos Invadiu a Minha Casa”, em que visita moradores para falar sobre política. Ele também já afirmou em entrevistas que não acha que as pessoas acreditarão nessa fama em 2024. “O desafio é quebrar uma caricatura que foi feita a meu respeito em um processo de criminalização de movimento social”, disse ao jornal Valor Econômico, em outubro.

Tabata dispensa ‘fogo amigo’ e confronta Nunes

Apesar de ser responsável por mais da metade dos posts do levantamento, o segundo pelotão da disputa quase não é citado por seus adversários nas redes. O episódio mais marcante foi a discussão entre Tabata Amaral e Ricardo Salles depois que a deputada do PSB sofreu uma tentativa de assalto em São Paulo. O aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro disse para ela “fazer o L” e “não encher a paciência”. Tabata escreveu que a postura dele era “lamentável”.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB) enfrenta desgaste na esquerda e na direita Foto: Dida Sampaio/Estadão

A deputada, citada 20 vezes, incluindo uma manifestação de solidariedade de Boulos, acabou sendo alvo apenas de Salles, Kataguiri e Marina Helena, pré-candidatos conservadores que a criticam pela ligação dela e de seu partido com a esquerda e o PT. Mas, ainda que tenha estabelecido uma espécie de trégua com Boulos neste momento, o cenário é diferente quanto aos apoiadores do oponente nas redes.

Diversos usuários lembram do seu voto a favor da Reforma da Previdência, em 2019, e a contestam como uma representante do campo progressista. Outro fato lembrado é a sua participação em programas de formação de líderes com financiamento privado, como Raps e RenovaBR. A campanha negativa foi mais intensa em setembro, quando declarou ao jornal Folha de S. Paulo que o maior problema de Boulos era a “falta de seriedade e maturidade”.

A deputada não atendeu aos pedidos de entrevista do Estadão. Ela, porém, já afirmou em outras ocasiões que considera críticas a movimentos civis de renovação da política um “desserviço à democracia” e justificou seu voto na reforma previdenciária por conta de mudanças que pleiteou no texto e em nome da responsabilidade fiscal. A situação “nem lá, nem cá” resulta em dúvidas no eleitorado sobre seu viés político. Ao quadro Joga na Busca, que esclarece as principais dúvidas na internet, disse que é de “centro-esquerda” com uma visão econômica “mais de diálogo e de centro”.

Salles, Kataguiri e Marina ativos, mas isolados

Kim Kataguiri é outro que encontra desafetos tanto na direita bolsonarista quanto na esquerda. O deputado é um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo que atuou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), apoiou a eleição de Bolsonaro e depois rompeu com o político, chegando a promover passeatas contra o ex-presidente e pedir a interrupção de seu mandato. Nas redes, costuma ser acusado de adotar uma postura beligerante e vazia, como em discussão recente com o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

Kataguiri respondeu a essa crítica alegando ser um dos deputados “mais produtivos da Câmara” e dizendo não estar em busca de “lacração” para vencer a disputa. “A maioria do eleitorado não é ideológico e quer saber de propostas. A rejeição de Lula e Bolsonaro, pelo contrário, pode até atrapalhar os seus candidatos”, afirmou.

KIm Kataguiri (União Brasil) e Ricardo Salles (PL) na CPI do MST Foto: Wilton Junior/Estadão

Ricardo Salles não tem partido para disputar as eleições e espera uma carta de anuência do PL para se filiar ao PRD, o que não está garantido. Para além desse primeiro desafio, ainda pesa contra a sua candidatura a rejeição a Bolsonaro, seu padrinho político, que perdeu para Lula na capital nas eleições de 2022. Seu nome é frequentemente lembrado nas redes sociais por dois episódios: a reunião em que defendeu “passar a boiada” e mudar regras ambientais durante a pandemia de covid-19 e a acusação de que teria facilitado uma exportação ilegal de madeira quando era ministro do Meio Ambiente.

Boulos, por exemplo, deu o apelido de “traficante de madeira” ao hoje deputado na única menção feita a ele em seis meses. “A conta da passagem da boiada está chegando para o traficante de madeira Ricardo Salles. A papuda é o limite”, escreveu o adversário no X, ao comentar um parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito da gestão do Fundo Amazônia pelo seu ministério.

“Obviamente, isso é uma besteira que faz parte do processo eleitoral. Fato é que não tenho absolutamente nenhuma condenação. Essas acusações foram feitas por delegados petistas e agora estou respondendo, mas não tem nada”, defendeu-se Salles. Ele considera positivo o período em que atuou no ministério. “O meu esforço sempre foi de conciliação do desenvolvimento econômico com a proteção ambiental. Os indicadores do governo Lula agora mostram que a crítica deles contra mim era pura demagogia.”

Marina Helena é a única candidata sem mandato da lista, depois de falhar na sua tentativa de conquistar uma vaga de deputada federal em São Paulo; acabou como suplente do Novo. Ela admite que tem pela frente o desafio de tornar seu nome conhecido e contesta a afirmação de que o partido teria se tornado uma “linha auxiliar do bolsonarismo” nos últimos anos – o que pode ser reforçado pela sua participação no governo de Jair Bolsonaro, como secretária de Desestatização do Ministério da Economia. Ela sustenta que seu perfil é técnico e que atuou por um convite pessoal de Paulo Guedes.

“O Novo tem uma linha ideológica muito clara de acreditar que o Estado não é a solução de problemas como a pobreza e a desigualdade e que o que dá certo é a liberdade econômica. Em alguns momentos, acaba tendo uma aderência em outros partidos”, afirmou Marina Helena. Segundo ela, a diferença estaria na capacidade de gestão sem o “peso dos acordos políticos que acabam loteando cargos”. O partido deve aprovar o uso do fundo eleitoral na campanha, abandonando uma de suas principais bandeiras políticas, sob justificativa de que a soma atingiu patamares que não deixam alternativa. “Seria como entrar de canivete numa guerra em que todo mundo está usando bazuca.”

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