A cinco meses das eleições municipais, três candidatos despontam como os favoritos na intenção de voto dos goianienses. Enquanto o atual prefeito aparece como o candidato mais rejeitado pelo eleitorado, o cenário de Goiânia apresenta uma disputa entre o governador do Estado, Ronaldo Caiado (UB), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o atual presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O embate, municipalizado nos nomes de Sandro Mabel (UB), Gustavo Gayer (PL) e Adriana Accorsi (PT), gira em torno de quem consegue influenciar o maior número de votos para definir o pleito.
Rogério Cruz (Solidariedade), atual chefe do executivo municipal, era vice do então candidato eleito nas eleições de 2020, Maguito Vilela (MDB), que faleceu no final do mesmo ano em decorrência da covid-19. Antes disso, tinha ocupado o cargo de vereador em Goiânia por dois mandatos. Apesar de buscar a reeleição, Rogério enfrentou dificuldades dentro do seu antigo partido, o Republicanos. A sigla alegou inviabilidade política e decidiu não dar apoio a ele. Em abril, Rogério Cruz trocou a legenda pelo Solidariedade para dar continuidade ao seu projeto.
Apesar de não ser unanimidade, não há chances de recuo. Rogério Cruz, correndo por fora da influência nacional, será candidato. Segundo correligionários, o prefeito, além de ter sido acolhido pelo Solidariedade, conta com o apoio do PP, PDT, DC e Mobiliza. Nas pesquisas mais recentes, o atual prefeito não aparece bem posicionado. De acordo com o levantamento realizado pelo instituto Paraná Pesquisas, publicado em fevereiro, ele aparece com 7% das intenções de votos.
A cientista política e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Denise Paiva, explica que é “natural” que Rogério Cruz tente um segundo mandato. “Em geral, os incumbentes quase sempre se apresentam como candidatos à reeleição”, explica ela, fazendo uma ressalva sobre os desafios que ele enfrentará. “Além de chegar ao cargo por uma obra do acaso (a morte do eleito), durante todo o mandato, ele nunca se destacou, não teve uma gestão bem avaliada, não era um político conhecido na cidade e, para a campanha, não tem um partido estruturado”, diz ela, explicando que falta também uma marca ao pré-candidato à reeleição para que ele se torne competitivo.
Adriana Accorsi (PT), nome escolhido pelo presidente Lula, aparece bem posicionada nas intenções de votos, com 22%. Da lista de pré-candidatos, a deputada federal foi a primeira a oficializar a sua intenção de concorrer ao paço municipal e não encontra divisão no campo da esquerda. A delegada da polícia civil, além de já ter ocupado a cadeira de deputada estadual, é filha do ex-prefeito de Goiânia, Darci Accorsi e busca contar com a influência do atual presidente da república para angariar mais votos.
A representante do PT já tentou chegar à prefeitura em outras duas ocasiões, 2016 e 2020, terminando em 5° e 3° lugar, respectivamente. A pré-candidata conta com o apoio da federação formada pelo PV e pelo PCdoB, além do próprio PT. Somando à estas siglas, PSOL e Rede Sustentabilidade também vão caminhar junto à deputada. Segundo assessores, a intenção da parlamentar é buscar o apoio de mais partidos e isso incluiria negociar uma vice candidatura na chapa com uma sigla mais ao centro do espectro politico.
Ainda segundo a cientista política, Accorsi enfrenta um contexto complicado em relação aos adversários. “A deputada tem se destacado nas pesquisas e é conhecida do eleitorado, mas tem um aspecto que a gente não pode desconsiderar. O eleitor goiano e goianiense tem uma tendência, que vem muito dos anos mais recentes com a polarização política, de muito afeto à direita e ao bolsonarismo. Mas, apesar da conjuntura da capital dar indícios de repetir disputas causadas pela divisão política nacional, as questão locais terão um peso muito forte na agenda da eleição.”
Nacionalização da disputa
Do outro lado do espectro ideológico, a direita goianiense aparece fragmentada com as pré-candidaturas de Gustavo Gayer (PL), Vanderlan Cardoso (PSD) e Sandro Mabel (UB). Gayer, que é deputado federal, foi anunciado como candidato após um período de desconfiança, sobretudo pela falta de movimentação do PL e o não posicionamento do político. Em visita a Goiânia em abril, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o responsável por confirmar e dar a “bênção” à candidatura. A escolha por Gayer também tem grande influencia de Wilder Morais (PL), senador por Goiás e aliado de primeira hora do bolsonarismo. Morais quer ser candidato ao governo em 2026, o que o coloca em embate direito com Daniel Vilela (MDB), atual vice-governador e sucessor de Caiado.
Gayer foi o segundo deputado federal mais votado em Goiás na votação de 2022, sendo eleito com mais de 200 mil votos. O representante do PL é filho de Maria da Conceição Gayer, que chegou a ser vereadora em Goiânia, deputada estadual por Goiás e, em contraste com o filho, esteve ligada a movimentos e ações feministas. Além de municipalizar com Adriana Accorsi a última disputa nacional entre petismo e bolsonarismo, a candidatura do conservador entra em conflito com os interesses do atual governador do Estado, Ronaldo Caiado.
Caiado, há alguns meses, vem anunciando suas pretensões de ser candidato à Presidência da República em 2026. O governador de Goiás, além de já estar atuando para se posicionar nacionalmente, busca se aproximar de Bolsonaro e conseguir o seu apoio para ser o principal representante da direita contra o PT. Apesar de suas intenções a nível nacional, o político goiano, que conta com alta aprovação da população, resolveu por ter um candidato que seja da sua própria base.
Após meses de indefinição e passando por nomes como Ana Paula Rezende, filha do ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende, Jânio Darrot, empresário goiano e ex-prefeito da cidade de Trindade, o governador escolheu Sandro Mabel para representar o seu projeto político. Mabel, além de ser um relevante empresário goiano e ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), já foi deputado estadual e deputado federal por quatro mandatos.
De acordo com sua equipe, o pré-candidato conta com o apoio de dez partidos, entre eles o MDB do vice-governador Daniel Vilela, e o Republicanos, ex-partido do atual prefeito Rogério Cruz. Ainda, segundo assessores, a meta é somar uma coligação de 14 ou 15 legendas. Apesar da força política de Ronaldo Caiado, Mabel, de acordo com a última pesquisa de intenção de votos do Instituto Goiás Pesquisas - primeira que apresentou o nome do representante do chefe do executivo estadual - aparece apenas com 5%.
Como explica Denise Paiva, apesar do desencontro entre caiadismo e bolsonarismo, isso pode ter pouco impacto nas pretensões de Caiado para a eleição nacional de 2026. “A disputa pela prefeitura é algo mais regional, eu não considero que isso interfira diretamente em algo [...]. Claro que do ponto de vista do Caiado, o ideal pra ele seria que o Gustavo Gayer desistisse, só que que isso também não vai acontecer. Mas de qualquer maneira, o embate entre os diferentes grupos vai ficar circunscrito a uma disputa local. Possivelmente o Bolsonaro volta para Goiânia para fazer campanha para o Gayer, mas isso não cria rota de colisão, acho improvável.”
Ainda na direita, o empresário e senador Vanderlan Cardoso (PSD) busca, pela terceira vez, chegar ao cargo de prefeito. No final de março, ao lado do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, Cardoso anunciou a sua candidatura. Apesar de já ter sido prefeito de Senador Canedo e aparecer bem posicionado nas pesquisas disputando a liderança com Accorsi e Gayer, Vanderlan não conseguiu trazer para o seu projeto um apoio expressivo.
De acordo com representantes da pré-campanha, as conversas sobre alianças ainda estão ocorrendo. Nesse sentido, até as convenções, pode haver mudança de cenário em relação a apoios partidários. No entanto, a intenção do PSD é seguir independente, podendo inclusive optar por uma chapa pura. O senador trabalha de olho no histórico das eleições em Goiânia, a capital não costuma eleger o candidato escolhido pelo governador.
PSDB, Novo e UP também terão candidatos
O PSDB, apesar de ter perdido relevância no cenário nacional, estadual e municipal nos últimos anos, optou por ter a sua própria candidatura em Goiânia. Com apenas uma cadeira na Câmara Municipal, a sigla escolheu, a partir da bandeira da renovação política, Matheus Ribeiro (PSDB) para tentar conquistar os mais de 1 milhão de eleitores da capital. O nome do jornalista foi anunciando com o apoio do ex-governador de Goiás e presidente nacional do partido, Marconi Perillo.
O partido Novo e a Unidade Popular também terão candidatos próprios na capital. O primeiro apresentou o nome do empresário Leonardo Rizzo, que entrou na política em 2022, quando concorreu a uma vaga de senador por Goiás e ficou em 9° lugar com quase 36 mil votos. Já a UP, após as convenções internas, oficializou a candidatura do Professor Pantaleão.
Confira a lista dos pré-candidatos, em ordem alfabética:
- Adriana Accorsi (PT), deputada federal
- Gustavo Gayer (PL), deputado federal
- Leonardo Rizzo (Novo), empresário
- Matheus Ribeiro (PSDB), jornalista
- Professor Pantaleão (UP), professor
- Rogério Cruz (Solidariedade), prefeito de Goiânia
- Sandro Mabel (UB), empresário
- Vanderlan Cardoso (PSD), senador