BRASÍLIA - Finalizadas as eleições municipais, a disputa pela sucessão da presidência da Câmara dos Deputados será intensificada e o vale-tudo pelo cargo tende a ampliar a divisão na base aliada do presidente Michel Temer. De um lado, estará o PSDB, que reivindica o apoio do Palácio do Planalto e da bancada de deputados do PMDB para chegar ao comando da Casa. Do outro, estarão os integrantes do chamado Centrão (PP, PSD, PR, PTB, entre outros partidos), que também esperam a ajuda do governo e dos peemedebistas para vencer a disputa.
Um terceiro personagem também articula sua candidatura: o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele tenta uma brecha jurídica para que possa se reeleger.
Até o dia 1.º de fevereiro, quando deve ocorrer a eleição, a disputa pode ter como ingredientes mudanças na Esplanada dos Ministérios e até ameaças aos pequenos partidos de uma possível aprovação da cláusula de barreira nas próximas eleições. “Não tem jeito. Depois das eleições municipais, a coisa aqui vai acelerar”, disse o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE).
Nas três candidaturas aventadas, o único consenso é que o PMDB não poderá lançar uma candidatura em razão de acumular a presidência da República e a do Senado. Segundo deputados envolvidos nas articulações, o líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), tem dito que aguarda um posicionamento de Temer para definir o rumo da legenda na disputa.
Em uma campanha silenciosa, lideranças do PSDB ressaltam que a batalha pela presidência da Casa tem de ter como critério a proporcionalidade de cada bancada. O PSDB, com 56 deputados eleitos, é o terceiro partido da Câmara, atrás apenas do PMDB e do PT, que atua na oposição ao governo Temer.
A promessa de se construir uma aliança “duradoura” pela estabilidade política neste e em um eventual próximo governo tem sido um argumento para atrair o apoio do Planalto. O tema permeou as conversas entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer, no último dia 12, em Brasília. Mas, ao serem questionados sobre a disputa pelo comando da Casa, líderes do tucanato preferem evitar o tema. “Tem de ter cautela, o momento é de aprovar os projetos de interesse do País e, quando chegar o momento, certo discutir isso”, afirmou Aécio Neves ao Estado.
Estratégia. Uma das estratégias dos adversários dos tucanos será a de colocar “suspeita” em torno da fidelidade que o PSDB diz ter em relação ao governo. O fato de o partido ser forte candidato à disputa presidencial de 2018 deverá ser uma das munições para dissuadir lideranças do governo e do PMDB de um possível apoio. Há um entendimento por parte dos adversários de que uma vez no comando da Câmara, o PSDB poderá usar o posto como “palanque” para 2018 e impor uma pauta de votação que se alinhe a seu projeto de poder.
“O próximo presidente será o condutor das reformas ou o indutor do caos”, disse o líder do PSD, Rogério Rosso, derrotado na última eleição pelo comando da Casa, vencida por Maia.
Em meio às votações de propostas de interesse do governo, os atores da eleição também terão de aparar arestas para conseguir se viabilizar. Dentro do PSDB, por exemplo, além de Antônio Imbassahy (BA), também tem se articulado o deputado Carlos Sampaio (SP). Ambos são ligados a Aécio Neves. Segundo integrantes da legenda, na corrida interna não está descartada a possibilidade de o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), voltar ao mandato para entrar na briga. “Tenho ouvido isso, mas fui para o ministério assumindo uma missão que a bancada me designou”, afirmou Araújo.
O ministério, assim como a liderança da bancada, entraria, dessa forma, no bojo das discussões pela ampliação de espaços dentro do PSDB, tema defendido por deputados ligados ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao ministro de Relações Exteriores, José Serra.
Mais candidaturas. Da parte do Centrão, além de Rosso e do líder do PTB, Jovair Arantes (GO), o PR também poderá lançar um candidato. “Já temos duas candidaturas colocadas. A do José Rocha e a do Milton Monti”, afirmou o líder do partido, Aelton Freitas (MG).
Lideranças também não descartam a discussão da reforma política como poder de barganha e a busca por uma aliança com o PT. “Não decidimos se vamos lançar candidatura própria ou fazer alianças. Eles estão se matando e isso pode acabar nos ajudando”, afirmou o líder do PT, Afonso Florence (BA).