BRASÍLIA – A disputa eleitoral nas capitais da região mais rica e populosa do Brasil chega ao fim do primeiro turno com cenários bastante diferentes. No Rio de Janeiro (RJ) e em Vitória (ES), os atuais prefeitos, Eduardo Paes (PSD) e Lorenzo Pazolini (Republicanos), podem conquistar a reeleição já no primeiro turno, de acordo com as pesquisas. Já em São Paulo (SP) e em Belo Horizonte (MG), os levantamentos mais recentes apontam para um empate triplo entre candidatos. A realização de segundo turno é muito provável, mas não há certeza sobre quem estará na segunda parte da disputa.
São Paulo e Belo Horizonte, onde a disputa está embolada, têm uma característica em comum: em ambos os casos, o atual prefeito, que busca a reeleição, foi eleito como vice no último pleito. Há quatro anos, Ricardo Nunes (MDB) foi o vice do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB, 1980-2021), vitimado por um câncer no aparelho digestivo meses depois da vitória eleitoral.
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Em Belo Horizonte, Fuad Noman foi companheiro de chapa de Alexandre Kalil (PSD), que deixou a prefeitura para disputar o governo do Estado em 2022. Derrotado, deixou a prefeitura para Noman.
São Paulo (SP): disputa acirrada pelo 2º turno e prévia de 2026
A eleição em São Paulo (SP) chega ao fim do primeiro turno com uma acirrada disputa de três candidatos pelas duas vagas do segundo turno. Nacionalizada, a corrida na capital paulista também é vista por muitos analistas como uma prévia da eleição presidencial de 2026, ao determinar as posições de possíveis concorrentes na disputa pelo Planalto.
De acordo com a maioria das pesquisas, disputam as vagas no segundo turno Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB). Os três têm em torno de 20% das intenções de voto. A maioria dos levantamentos posiciona Nunes alguns pontos acima dos demais, com exceção da pesquisa Atlas, que dá a dianteira a Boulos. Os últimos dias viram uma leve subida do ex-coach Pablo Marçal.
“A campanha teve um primeiro momento em que o Marçal conseguiu chamar bastante atenção. Pouco antes do começo do horário eleitoral, no qual o Nunes teve uma vantagem muito grande, era uma dúvida se o tempo de TV serviria de algo, considerando o peso das redes sociais. Mas parece que TV e rádio ainda importam bastante. Pode ser isso que ajudou o Nunes. Ou pode ser o uso da máquina clientelista”, diz o cientista político e pesquisador da Escola de Ciências Sociais do CPDOC (FGV-RJ), Sérgio Praça – apesar de vinculado à FGV do Rio, ele é paulistano.
A eleição em São Paulo este ano também tem um caráter nacional ainda mais forte que em disputas anteriores. No campo da direita, Pablo Marçal parece ter conseguido atrair para si parte do eleitorado antes fiel ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – ao menos formalmente, o capitão da reserva do Exército apoia a candidatura de Ricardo Nunes. Na esquerda, Guilherme Boulos conta com apoio do presidente Lula (PT) e se cacifaria como um nome da esquerda.
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Belo Horizonte (MG): empate triplo e esquerda dividida
Em Belo Horizonte (MG), as duas vagas no segundo turno estão sendo disputadas por três candidatos: o deputado estadual bolsonarista Bruno Engler (PL), de apenas 27 anos; o atual prefeito, Fuad Noman (PSD); e o apresentador de programas policiais de TV e deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos). As principais pesquisas divergem sobre as posições relativas dos três candidatos, mas todas mostram um crescimento de Engler nos últimos dias. Já Mauro Tramonte estaria perdendo tração, enquanto Fuad se mantém estável.
“Fuad está participando da primeira disputa da vida dele, uma vez que ele era vice do (ex-prefeito) Alexandre Kalil (Republicanos), que renunciou. Seus padrinhos são os caciques do PSD, Rodrigo Pacheco (presidente do Senado) e Alexandre Silveira (ministro de Minas e Energia). Mauro Tramonte tem como ativo a participação no programa de maior audiência da TV mineira, que é o Balanço Geral; e tem também o apoio do governador Romeu Zema (Novo) e do ex-prefeito Kalil. E o terceiro, Engler, é o representante do bolsonarismo. Foi o deputado estadual mais votado”, explica o cientista político Malco Camargos, professor da PUC Minas.
Já a esquerda local encontra-se dividida entre as candidaturas dos deputados federais Rogério Correia (PT) e Duda Salabert (PDT). Na reta final da campanha, nenhum dos dois supera a marca dos 10%, de acordo com as principais pesquisas. Correia conta com o apoio do presidente Lula (PT), mas isso não bastou para levá-lo ao primeiro escalão da corrida. “Os dois candidatos dividiram os votos de esquerda, e essa divisão acabou restringindo as chances de algum deles ir para o segundo turno. É um estoque pequeno de votos, ainda por cima dividido por dois”, diz Camargos.
Vitória (ES): atual prefeito lidera, mas 2º turno é possibilidade
Na capital do Espírito Santo, Vitória (ES), a corrida é liderada pelo atual prefeito e candidato à reeleição, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Aos 42 anos, Pazolini é oriundo do serviço público. Foi auditor no Tribunal de Contas do Estado e delegado da Polícia Civil capixaba. Segundo as principais pesquisas, Pazolini tem pouco mais de 40% das intenções de voto, mas está em trajetória descendente.
Em segundo lugar aparece o ex-prefeito de Vitória entre 1997 e 2005, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), na casa dos 20% das intenções de voto. Ele disputa com outro ex-prefeito da capital, o advogado João Coser (PT), a vaga num eventual segundo turno contra Pazolini. Coser governou Vitória entre 2005 e 2013, e atualmente exerce o cargo de deputado estadual.
Correm por fora, no terceiro pelotão, os candidatos Capitão Assumção (PL), e Camila Valadão (PSOL), ambos na casa dos 8%. Capitão da reserva da Polícia Militar, Assumção, 61, é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele disputa o mesmo público de Pazolini, a quem acusa de ser um “falso bolsonarista”. Já a assistente social Camila Valadão disputa os votos da esquerda com João Coser.
“O que tem levado o prefeito a crescer nos últimos meses foi aquela estratégia clássica, de guardar dinheiro e fazer as obras no final da gestão. Isso permitiu que ele tivesse um crescimento na reta final. Mas as pesquisas (indicam) um movimento forte do Luiz Paulo, que foi prefeito há 20 anos atrás. Ele começou a ganhar tração”, diz o cientista político capixaba Fernando Pignaton, que é o representante brasileiro na AIFRIS (Sociedade Internacional de Pesquisa e Formação em Políticas Sociais), sediada em Paris.
“O que nós temos é uma disputa de ex-prefeitos. Tá muito uma discussão sobre quem fez o quê”, diz ele. Até algumas semanas atrás, Coser estava à frente de Luiz Paulo, diz Pignaton.
Rio de Janeiro: Paes pode levar no 1º turno, mas trajetória é de queda
Na capital fluminense, o atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), pode levar a disputa no primeiro turno – ele aparece acima da marca dos 50% na maioria dos levantamentos. No entanto, as últimas pesquisas registram uma queda discreta do atual alcaide. Dependendo da intensidade deste movimento, Paes pode ter de enfrentar um segundo turno contra o representante do bolsonarismo, o delegado e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL).
Na média das principais pesquisas, Paes chegou a registrar 59% das intenções de voto, em meados de setembro. Hoje, está em 52%, segundo o mesmo agregador de pesquisas, desenvolvido pela firma de análise de dados Lagom Data. Já Ramagem, hoje deputado federal, tem demonstrado crescimento consistente. Saiu do patamar dos 13% em meados do mês passado para 25% agora, e é o franco favorito a enfrentar Paes no segundo turno, caso aconteça.
O terceiro colocado da disputa é o professor e deputado federal Tarcísio Motta (PSOL), com cerca de 8% das intenções de voto, segundo o agregador do Lagom Data. Prejudicado pela divisão interna no campo da esquerda, Motta viu um antigo aliado seu no PSOL, o atual presidente da Embratur Marcelo Freixo, pedir votos para Paes no último fim de semana. Hoje filiado ao PT, Freixo argumenta que a esquerda deve votar em Paes para barrar um segundo turno com a presença de Ramagem. O atual prefeito do PSD conta com o apoio do presidente Lula (PT).
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