Eleições 2024: Bolsonaro x Lula vai além da capital e pode alterar mapa político da Grande São Paulo


Levantamento do ‘Estadão’ mostra ascensão e declínio de partidos nas prefeituras da região ao longo das duas últimas décadas e especialistas discutem o que estará em jogo para cada legenda nas eleições de outubro

Por Juliano Galisi e Karina Ferreira
Atualização:

A polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terá impacto nas eleições de 2024 na Grande São Paulo e influenciará uma mudança no mapa político da região, para além dos limites da capital paulista. Enquanto o PT quer retomar o espaço no comando das cidades e o PL pretende aproveitar o capital político do seu principal nome, partidos como MDB, PSD e União Brasil buscam ocupar o vácuo deixado pelo PSDB, que viu o perfil do seu eleitor mudar desde a chegada do bolsonarismo no jogo político.

O comando dos 39 municípios da região da Grande São Paulo costumava ser protagonizado por tucanos e petistas. Essa dinâmica mudou para o PT após 2014, com a crise na imagem da sigla decorrente das manifestações de rua e seguinte impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em 2012, o partido elegeu prefeitos em dez cidades da região, enquanto no pleito seguinte só conseguiu manter uma prefeitura, a de Franco da Rocha. Nas últimas eleições municipais, em 2020, somente duas prefeituras, Mauá e Diadema, foram conquistadas pelos petistas.

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O PSDB manteve a hegemonia, como partido com maior número de prefeituras na região. Contudo, a legenda sofre uma debandada de filiados, atraídos por siglas maiores e mais atrativas neste momento. Especialistas ouvidos pelo Estadão pontuam que a eleição de outubro será a primeira em que a força do apoio de Bolsonaro poderá se refletir nas urnas no âmbito municipal, e deve disputar o voto da direita, historicamente endereçado a partidos mais tradicionais no Estado.

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Eleição municipal, política nacional

Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom), Mayra Goulart, as eleições municipais devem ser compreendidas como vias de mão dupla no que diz respeito aos interesses das siglas e dos candidatos. Enquanto os dirigentes de partidos nacionais agem para consolidar cabos eleitorais, lideranças locais pleiteiam grupos políticos capazes de fortalecer a votação e atender financeiramente as demandas da região.

“Os atores nacionais têm muito interesse e jogam muito pesado na atração dessas lideranças locais”, disse Mayra. A escolha de prefeitos e vereadores, segundo a pesquisadora, prepara o terreno para a eleição de deputados federais, na medida que mantém o vínculo de quem está lá em Brasília com suas bases. E é a eleição dos congressistas, segundo a legislação eleitoral, que determina o acesso a recursos dos Fundos Partidário e Eleitoral, o que faz com que a dinâmica nacional seja dependente do processo local.

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A lógica se retroalimenta na medida em que os líderes regionais também buscam se coligar a grupos políticos robustos, o que pode tornar um candidato mais competitivo durante o período eleitoral. Além disso, uma vez à frente do Executivo municipal, estar filiado a um partido estruturado facilita o trânsito político do gestor. Isso pode ser útil na atração de investimentos e recursos para a cidade.

“Tem sim uma ‘caça’ dos caciques partidários nacionais para ter bons nomes, boas lideranças locais nos seus partidos. Mas há, sobretudo, a caça dos políticos locais por partidos que tenham e que estejam bem posicionados no acesso ao financiamento público de campanha”, afirmou Mayra.

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Um levantamento exclusivo do Estadão com a série histórica de dados eleitorais na Grande São Paulo mostra que, desde 2000, as eleições municipais foram marcadas pelo predomínio das forças políticas do centro à direita. A legenda com a maior representatividade na região foi o PSDB.

Apesar de hegemônica, a sigla vem perdendo bases locais. Após a janela partidária deste ano, por exemplo, houve uma debandada de todos os integrantes da bancada do partido na Câmara Municipal de São Paulo. No cenário nacional, o esvaziamento se repete. O partido, que ocupou por mais de 20 anos a terceira posição no ranking de bancadas do Senado, hoje está em último lugar, com apenas uma cadeira na Casa.

“O PSDB é um partido que perdeu a capacidade de engajamento de suas bases porque o perfil do eleitor à direita mudou”, disse Mayra. Se antes a sigla era a principal força política da oposição aos governos federais do PT, o que tornava a legenda atrativa aos líderes locais que pleiteavam o eleitor antipetista, o perfil desse eleitor mudou a partir das eleições gerais de 2014 e com a ascensão da figura de Jair Bolsonaro.

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Mayra pontua que os tucanos, que tinham diretrizes historicamente associadas ao centro e à esquerda, durante a década de 2010 também guinaram à direita. Mesmo assim, a sigla não conseguiu mais contemplar as reivindicações de um eleitorado que se reconfigurou. “A direita mais extrema, mais enfática nos termos de suas preferências políticas, começa a tomar o lugar da direita tradicional, ocupado pelo PSDB”, disse a cientista política.

Em termos de representatividade de governadores e congressistas eleitos no País, a crise no PSDB é sem precedentes. O principal entrave da legenda, entretanto, é de ordem identitária: se o partido guinar de vez à direita, se associará com o bolsonarismo, que é estranho aos seus valores históricos; por outro lado, se os tucanos adotarem posições mais enfáticas no campo progressista, podem não conseguir marcar posição contra o PT.

Manter-se ao centro, por sua vez, pode não ser o caminho para o PSDB. O impasse de identidade, agravado na última década, fez com que o vácuo de representatividade da sigla na Grande São Paulo fosse ocupado por novas legendas. PSD, MDB e União Brasil são as siglas que tendem a incorporar a maior parte do “espólio” de prefeituras originado com o declínio dos tucanos.

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“São partidos que têm o perfil de favorecer essa dinâmica de autonomia relativa das lideranças locais. Eles não têm uma grande identificação no plano nacional, um discurso programático muito definido em termos ideológicos. Isso permite que eles transitem bem nessa dimensão local”, disse Mayra Goulart.

MDB na disputa da maior cidade do Brasil

O MDB é uma força política tradicional e com bases consolidadas em todo o País. Consultado pelo Estadão, o diretório estadual da sigla informou que, até o momento, articula 11 pré-campanhas a prefeito na Grande São Paulo. O foco da legenda na região será reeleger Ricardo Nunes na capital paulista, mantendo-se no comando da maior cidade do País por mais quatro anos.

A despeito da representatividade no território nacional, no Estado de São Paulo e na própria região metropolitana da capital, o partido nunca chegou ao comando do Executivo paulistano por meio do voto direto.

Ricardo Nunes e Bruno Covas na campanha de 2020 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Último prefeito da sigla antes de Nunes, Mário Covas assumiu a Prefeitura em 1983, durante a ditadura militar, quando ainda vigorava a norma de os mandatários das capitais serem indicados pelos respectivos governadores. Covas foi indicado por Franco Montoro, governador paulista pelo MDB. Já Nunes, então vice-prefeito, assumiu a prefeitura em 2021, após o falecimento de Bruno Covas (PSDB), eleito no ano anterior.

Crescimento do PSD

O PSD surgiu em 2011 e se consolidou ao longo da última década como uma das principais legendas do País. Pesou a favor a direção de Gilberto Kassab, secretário de Relações Institucionais do governo de São Paulo. “O PSD hoje já se tornou o maior partido em número de prefeitos do Brasil”, disse o cientista político Antonio Lavareda.

Kassab não só é um articulador de destaque como é egresso da política paulista, uma das razões pelas quais o partido cresceu em todo o País – quase cinco vezes, segundo Lavareda –, e de forma ainda mais vertiginosa no Estado paulista. “O partido que tem mais prefeitos hoje, já sentados na cadeira, boa parte deles pré-candidatos à reeleição, dificilmente não terá um grande número de prefeitos reeleitos”, afirmou.

Segundo o diretório estadual do partido, pelo menos 16 pré-candidatos vão concorrer ao pleito de outubro para os cargos de prefeitos na Grande São Paulo.

Estreia do União Brasil

Quanto ao União Brasil, partido originado com a fusão entre o Democratas (DEM) e o Partido Social Liberal (PSL), em outubro de 2021, espera-se um “teste de fogo” nesta que será a primeira eleição com a nova configuração da sigla. A legenda historicamente se notabiliza pela capacidade de angariar lideranças locais, mantendo-se capilarizada nos rincões do País.

Para Antonio Lavareda, o grupo se expandiu para além da soma de forças entre DEM e PSL. “O partido cresceu com a adesão de prefeitos desde 2021″, disse. Para ele, a sigla pode se consolidar ainda mais nas eleições deste ano. Além de MDB, PSD e União, outras legendas correm por fora na região, como o PP e o Republicanos, que também se estruturou ao longo da última década e, hoje, abriga o governador do Estado, Tarcísio de Freitas.

PL de Valdemar

Se a hegemonia tucana na Grande São Paulo se deve ao PSDB ter sido, durante muito tempo, o principal polo da oposição aos governos petistas, espera-se que, neste ano, esse potencial de votos venha a ser explorado pelo PL. Em 2024, o bolsonarismo pode ter seu primeiro teste nas urnas em uma eleição municipal: desta vez, ao contrário do que ocorreu em 2020, em condições plenas e sem “asteriscos”.

Naquela eleição, Bolsonaro era presidente, mas já estava rompido com o PSL, sigla pela qual havia sido eleito em 2018, o que afetou as possibilidades do então mandatário influenciar nas escolas municipais pelo País. Mesmo se não estivesse de saída do partido, o PSL era gerido por Luciano Bivar, que não possuía o mesmo controle sob a própria legenda que Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.

“O PL é comandado por um expert em política, profundo conhecedor e com muito controle da legenda”, explicou Lavareda. “É o típico animal político”, afirmou o analista. Segundo ele, o tato do cacique fará diferença na forma como o partido se valerá do capital político de seu principal quadro.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Jair Bolsonaro, ex-presidente da República Foto: Divulgação/PL

“Bolsonaro já estava às turras com o Luciano Bivar na campanha de 2020. Agora, não. O Valdemar, com muito tato, muito jeito, conseguiu controlar, digamos, os arroubos do ex-presidente e explorar o que de melhor ele tem a oferecer para o fortalecimento do partido.”

Desde fevereiro deste ano, a dupla Valdemar e Bolsonaro não pode se encontrar por conta de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois são investigados por suposta tentativa de golpe de Estado e foram alvos da Operação Tempus Veritatis.

Segundo a professora Mayra Goulart, o que está em jogo para o PL é “o desafio de se institucionalizar”, transformando a presença de Bolsonaro em uma capilaridade nas prefeituras e câmaras municipais do País. O que pode atrapalhar esse objetivo é, ironicamente, o próprio bolsonarismo. “O partido fica entre mobilizar um discurso que é atraente, que pode ganhar voto no plano dos cidadãos, mas que pode dificultar o trânsito entre as elites políticas”, analisou a pesquisadora, que avalia Bolsonaro como “um jogador solitário” e que não tem compromisso com a construção de um partido, o oposto de Valdemar.

Forças à esquerda

Historicamente como força hegemônica na região, o PT tenta recuperar o protagonismo que teve antes da queda de Dilma. Neste ano, o partido que ficou atrás do PSDB, PL, PSD e Podemos, empatando com Republicanos nas eleições de 2020 em quantidade de prefeituras, concorre em quase metade dos municípios da Grande São Paulo, lançando pré-candidaturas em 17 cidades.

Guilherme Boulos e Marta Suplicy em evento da pré-campanha em março Foto: Felipe Rau/Estadão

Uma dobradinha entre PT e PSOL garantiu o retorno de Marta Suplicy ao partido de Lula e a formação de uma chapa encabeçada pelo deputado federal Guilherme Boulos. Essa é a primeira vez que a sigla petista não lança candidatura própria na capital. A tendência, analisa Lavareda, é que a repercussão da campanha de Boulos na maior cidade do Brasil ajude a puxar para cima a votação de outros candidatos do PSOL.

A polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terá impacto nas eleições de 2024 na Grande São Paulo e influenciará uma mudança no mapa político da região, para além dos limites da capital paulista. Enquanto o PT quer retomar o espaço no comando das cidades e o PL pretende aproveitar o capital político do seu principal nome, partidos como MDB, PSD e União Brasil buscam ocupar o vácuo deixado pelo PSDB, que viu o perfil do seu eleitor mudar desde a chegada do bolsonarismo no jogo político.

O comando dos 39 municípios da região da Grande São Paulo costumava ser protagonizado por tucanos e petistas. Essa dinâmica mudou para o PT após 2014, com a crise na imagem da sigla decorrente das manifestações de rua e seguinte impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em 2012, o partido elegeu prefeitos em dez cidades da região, enquanto no pleito seguinte só conseguiu manter uma prefeitura, a de Franco da Rocha. Nas últimas eleições municipais, em 2020, somente duas prefeituras, Mauá e Diadema, foram conquistadas pelos petistas.

O PSDB manteve a hegemonia, como partido com maior número de prefeituras na região. Contudo, a legenda sofre uma debandada de filiados, atraídos por siglas maiores e mais atrativas neste momento. Especialistas ouvidos pelo Estadão pontuam que a eleição de outubro será a primeira em que a força do apoio de Bolsonaro poderá se refletir nas urnas no âmbito municipal, e deve disputar o voto da direita, historicamente endereçado a partidos mais tradicionais no Estado.

Eleição municipal, política nacional

Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom), Mayra Goulart, as eleições municipais devem ser compreendidas como vias de mão dupla no que diz respeito aos interesses das siglas e dos candidatos. Enquanto os dirigentes de partidos nacionais agem para consolidar cabos eleitorais, lideranças locais pleiteiam grupos políticos capazes de fortalecer a votação e atender financeiramente as demandas da região.

“Os atores nacionais têm muito interesse e jogam muito pesado na atração dessas lideranças locais”, disse Mayra. A escolha de prefeitos e vereadores, segundo a pesquisadora, prepara o terreno para a eleição de deputados federais, na medida que mantém o vínculo de quem está lá em Brasília com suas bases. E é a eleição dos congressistas, segundo a legislação eleitoral, que determina o acesso a recursos dos Fundos Partidário e Eleitoral, o que faz com que a dinâmica nacional seja dependente do processo local.

A lógica se retroalimenta na medida em que os líderes regionais também buscam se coligar a grupos políticos robustos, o que pode tornar um candidato mais competitivo durante o período eleitoral. Além disso, uma vez à frente do Executivo municipal, estar filiado a um partido estruturado facilita o trânsito político do gestor. Isso pode ser útil na atração de investimentos e recursos para a cidade.

“Tem sim uma ‘caça’ dos caciques partidários nacionais para ter bons nomes, boas lideranças locais nos seus partidos. Mas há, sobretudo, a caça dos políticos locais por partidos que tenham e que estejam bem posicionados no acesso ao financiamento público de campanha”, afirmou Mayra.

Um levantamento exclusivo do Estadão com a série histórica de dados eleitorais na Grande São Paulo mostra que, desde 2000, as eleições municipais foram marcadas pelo predomínio das forças políticas do centro à direita. A legenda com a maior representatividade na região foi o PSDB.

Apesar de hegemônica, a sigla vem perdendo bases locais. Após a janela partidária deste ano, por exemplo, houve uma debandada de todos os integrantes da bancada do partido na Câmara Municipal de São Paulo. No cenário nacional, o esvaziamento se repete. O partido, que ocupou por mais de 20 anos a terceira posição no ranking de bancadas do Senado, hoje está em último lugar, com apenas uma cadeira na Casa.

“O PSDB é um partido que perdeu a capacidade de engajamento de suas bases porque o perfil do eleitor à direita mudou”, disse Mayra. Se antes a sigla era a principal força política da oposição aos governos federais do PT, o que tornava a legenda atrativa aos líderes locais que pleiteavam o eleitor antipetista, o perfil desse eleitor mudou a partir das eleições gerais de 2014 e com a ascensão da figura de Jair Bolsonaro.

Mayra pontua que os tucanos, que tinham diretrizes historicamente associadas ao centro e à esquerda, durante a década de 2010 também guinaram à direita. Mesmo assim, a sigla não conseguiu mais contemplar as reivindicações de um eleitorado que se reconfigurou. “A direita mais extrema, mais enfática nos termos de suas preferências políticas, começa a tomar o lugar da direita tradicional, ocupado pelo PSDB”, disse a cientista política.

Em termos de representatividade de governadores e congressistas eleitos no País, a crise no PSDB é sem precedentes. O principal entrave da legenda, entretanto, é de ordem identitária: se o partido guinar de vez à direita, se associará com o bolsonarismo, que é estranho aos seus valores históricos; por outro lado, se os tucanos adotarem posições mais enfáticas no campo progressista, podem não conseguir marcar posição contra o PT.

Manter-se ao centro, por sua vez, pode não ser o caminho para o PSDB. O impasse de identidade, agravado na última década, fez com que o vácuo de representatividade da sigla na Grande São Paulo fosse ocupado por novas legendas. PSD, MDB e União Brasil são as siglas que tendem a incorporar a maior parte do “espólio” de prefeituras originado com o declínio dos tucanos.

“São partidos que têm o perfil de favorecer essa dinâmica de autonomia relativa das lideranças locais. Eles não têm uma grande identificação no plano nacional, um discurso programático muito definido em termos ideológicos. Isso permite que eles transitem bem nessa dimensão local”, disse Mayra Goulart.

MDB na disputa da maior cidade do Brasil

O MDB é uma força política tradicional e com bases consolidadas em todo o País. Consultado pelo Estadão, o diretório estadual da sigla informou que, até o momento, articula 11 pré-campanhas a prefeito na Grande São Paulo. O foco da legenda na região será reeleger Ricardo Nunes na capital paulista, mantendo-se no comando da maior cidade do País por mais quatro anos.

A despeito da representatividade no território nacional, no Estado de São Paulo e na própria região metropolitana da capital, o partido nunca chegou ao comando do Executivo paulistano por meio do voto direto.

Ricardo Nunes e Bruno Covas na campanha de 2020 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Último prefeito da sigla antes de Nunes, Mário Covas assumiu a Prefeitura em 1983, durante a ditadura militar, quando ainda vigorava a norma de os mandatários das capitais serem indicados pelos respectivos governadores. Covas foi indicado por Franco Montoro, governador paulista pelo MDB. Já Nunes, então vice-prefeito, assumiu a prefeitura em 2021, após o falecimento de Bruno Covas (PSDB), eleito no ano anterior.

Crescimento do PSD

O PSD surgiu em 2011 e se consolidou ao longo da última década como uma das principais legendas do País. Pesou a favor a direção de Gilberto Kassab, secretário de Relações Institucionais do governo de São Paulo. “O PSD hoje já se tornou o maior partido em número de prefeitos do Brasil”, disse o cientista político Antonio Lavareda.

Kassab não só é um articulador de destaque como é egresso da política paulista, uma das razões pelas quais o partido cresceu em todo o País – quase cinco vezes, segundo Lavareda –, e de forma ainda mais vertiginosa no Estado paulista. “O partido que tem mais prefeitos hoje, já sentados na cadeira, boa parte deles pré-candidatos à reeleição, dificilmente não terá um grande número de prefeitos reeleitos”, afirmou.

Segundo o diretório estadual do partido, pelo menos 16 pré-candidatos vão concorrer ao pleito de outubro para os cargos de prefeitos na Grande São Paulo.

Estreia do União Brasil

Quanto ao União Brasil, partido originado com a fusão entre o Democratas (DEM) e o Partido Social Liberal (PSL), em outubro de 2021, espera-se um “teste de fogo” nesta que será a primeira eleição com a nova configuração da sigla. A legenda historicamente se notabiliza pela capacidade de angariar lideranças locais, mantendo-se capilarizada nos rincões do País.

Para Antonio Lavareda, o grupo se expandiu para além da soma de forças entre DEM e PSL. “O partido cresceu com a adesão de prefeitos desde 2021″, disse. Para ele, a sigla pode se consolidar ainda mais nas eleições deste ano. Além de MDB, PSD e União, outras legendas correm por fora na região, como o PP e o Republicanos, que também se estruturou ao longo da última década e, hoje, abriga o governador do Estado, Tarcísio de Freitas.

PL de Valdemar

Se a hegemonia tucana na Grande São Paulo se deve ao PSDB ter sido, durante muito tempo, o principal polo da oposição aos governos petistas, espera-se que, neste ano, esse potencial de votos venha a ser explorado pelo PL. Em 2024, o bolsonarismo pode ter seu primeiro teste nas urnas em uma eleição municipal: desta vez, ao contrário do que ocorreu em 2020, em condições plenas e sem “asteriscos”.

Naquela eleição, Bolsonaro era presidente, mas já estava rompido com o PSL, sigla pela qual havia sido eleito em 2018, o que afetou as possibilidades do então mandatário influenciar nas escolas municipais pelo País. Mesmo se não estivesse de saída do partido, o PSL era gerido por Luciano Bivar, que não possuía o mesmo controle sob a própria legenda que Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.

“O PL é comandado por um expert em política, profundo conhecedor e com muito controle da legenda”, explicou Lavareda. “É o típico animal político”, afirmou o analista. Segundo ele, o tato do cacique fará diferença na forma como o partido se valerá do capital político de seu principal quadro.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Jair Bolsonaro, ex-presidente da República Foto: Divulgação/PL

“Bolsonaro já estava às turras com o Luciano Bivar na campanha de 2020. Agora, não. O Valdemar, com muito tato, muito jeito, conseguiu controlar, digamos, os arroubos do ex-presidente e explorar o que de melhor ele tem a oferecer para o fortalecimento do partido.”

Desde fevereiro deste ano, a dupla Valdemar e Bolsonaro não pode se encontrar por conta de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois são investigados por suposta tentativa de golpe de Estado e foram alvos da Operação Tempus Veritatis.

Segundo a professora Mayra Goulart, o que está em jogo para o PL é “o desafio de se institucionalizar”, transformando a presença de Bolsonaro em uma capilaridade nas prefeituras e câmaras municipais do País. O que pode atrapalhar esse objetivo é, ironicamente, o próprio bolsonarismo. “O partido fica entre mobilizar um discurso que é atraente, que pode ganhar voto no plano dos cidadãos, mas que pode dificultar o trânsito entre as elites políticas”, analisou a pesquisadora, que avalia Bolsonaro como “um jogador solitário” e que não tem compromisso com a construção de um partido, o oposto de Valdemar.

Forças à esquerda

Historicamente como força hegemônica na região, o PT tenta recuperar o protagonismo que teve antes da queda de Dilma. Neste ano, o partido que ficou atrás do PSDB, PL, PSD e Podemos, empatando com Republicanos nas eleições de 2020 em quantidade de prefeituras, concorre em quase metade dos municípios da Grande São Paulo, lançando pré-candidaturas em 17 cidades.

Guilherme Boulos e Marta Suplicy em evento da pré-campanha em março Foto: Felipe Rau/Estadão

Uma dobradinha entre PT e PSOL garantiu o retorno de Marta Suplicy ao partido de Lula e a formação de uma chapa encabeçada pelo deputado federal Guilherme Boulos. Essa é a primeira vez que a sigla petista não lança candidatura própria na capital. A tendência, analisa Lavareda, é que a repercussão da campanha de Boulos na maior cidade do Brasil ajude a puxar para cima a votação de outros candidatos do PSOL.

A polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terá impacto nas eleições de 2024 na Grande São Paulo e influenciará uma mudança no mapa político da região, para além dos limites da capital paulista. Enquanto o PT quer retomar o espaço no comando das cidades e o PL pretende aproveitar o capital político do seu principal nome, partidos como MDB, PSD e União Brasil buscam ocupar o vácuo deixado pelo PSDB, que viu o perfil do seu eleitor mudar desde a chegada do bolsonarismo no jogo político.

O comando dos 39 municípios da região da Grande São Paulo costumava ser protagonizado por tucanos e petistas. Essa dinâmica mudou para o PT após 2014, com a crise na imagem da sigla decorrente das manifestações de rua e seguinte impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em 2012, o partido elegeu prefeitos em dez cidades da região, enquanto no pleito seguinte só conseguiu manter uma prefeitura, a de Franco da Rocha. Nas últimas eleições municipais, em 2020, somente duas prefeituras, Mauá e Diadema, foram conquistadas pelos petistas.

O PSDB manteve a hegemonia, como partido com maior número de prefeituras na região. Contudo, a legenda sofre uma debandada de filiados, atraídos por siglas maiores e mais atrativas neste momento. Especialistas ouvidos pelo Estadão pontuam que a eleição de outubro será a primeira em que a força do apoio de Bolsonaro poderá se refletir nas urnas no âmbito municipal, e deve disputar o voto da direita, historicamente endereçado a partidos mais tradicionais no Estado.

Eleição municipal, política nacional

Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom), Mayra Goulart, as eleições municipais devem ser compreendidas como vias de mão dupla no que diz respeito aos interesses das siglas e dos candidatos. Enquanto os dirigentes de partidos nacionais agem para consolidar cabos eleitorais, lideranças locais pleiteiam grupos políticos capazes de fortalecer a votação e atender financeiramente as demandas da região.

“Os atores nacionais têm muito interesse e jogam muito pesado na atração dessas lideranças locais”, disse Mayra. A escolha de prefeitos e vereadores, segundo a pesquisadora, prepara o terreno para a eleição de deputados federais, na medida que mantém o vínculo de quem está lá em Brasília com suas bases. E é a eleição dos congressistas, segundo a legislação eleitoral, que determina o acesso a recursos dos Fundos Partidário e Eleitoral, o que faz com que a dinâmica nacional seja dependente do processo local.

A lógica se retroalimenta na medida em que os líderes regionais também buscam se coligar a grupos políticos robustos, o que pode tornar um candidato mais competitivo durante o período eleitoral. Além disso, uma vez à frente do Executivo municipal, estar filiado a um partido estruturado facilita o trânsito político do gestor. Isso pode ser útil na atração de investimentos e recursos para a cidade.

“Tem sim uma ‘caça’ dos caciques partidários nacionais para ter bons nomes, boas lideranças locais nos seus partidos. Mas há, sobretudo, a caça dos políticos locais por partidos que tenham e que estejam bem posicionados no acesso ao financiamento público de campanha”, afirmou Mayra.

Um levantamento exclusivo do Estadão com a série histórica de dados eleitorais na Grande São Paulo mostra que, desde 2000, as eleições municipais foram marcadas pelo predomínio das forças políticas do centro à direita. A legenda com a maior representatividade na região foi o PSDB.

Apesar de hegemônica, a sigla vem perdendo bases locais. Após a janela partidária deste ano, por exemplo, houve uma debandada de todos os integrantes da bancada do partido na Câmara Municipal de São Paulo. No cenário nacional, o esvaziamento se repete. O partido, que ocupou por mais de 20 anos a terceira posição no ranking de bancadas do Senado, hoje está em último lugar, com apenas uma cadeira na Casa.

“O PSDB é um partido que perdeu a capacidade de engajamento de suas bases porque o perfil do eleitor à direita mudou”, disse Mayra. Se antes a sigla era a principal força política da oposição aos governos federais do PT, o que tornava a legenda atrativa aos líderes locais que pleiteavam o eleitor antipetista, o perfil desse eleitor mudou a partir das eleições gerais de 2014 e com a ascensão da figura de Jair Bolsonaro.

Mayra pontua que os tucanos, que tinham diretrizes historicamente associadas ao centro e à esquerda, durante a década de 2010 também guinaram à direita. Mesmo assim, a sigla não conseguiu mais contemplar as reivindicações de um eleitorado que se reconfigurou. “A direita mais extrema, mais enfática nos termos de suas preferências políticas, começa a tomar o lugar da direita tradicional, ocupado pelo PSDB”, disse a cientista política.

Em termos de representatividade de governadores e congressistas eleitos no País, a crise no PSDB é sem precedentes. O principal entrave da legenda, entretanto, é de ordem identitária: se o partido guinar de vez à direita, se associará com o bolsonarismo, que é estranho aos seus valores históricos; por outro lado, se os tucanos adotarem posições mais enfáticas no campo progressista, podem não conseguir marcar posição contra o PT.

Manter-se ao centro, por sua vez, pode não ser o caminho para o PSDB. O impasse de identidade, agravado na última década, fez com que o vácuo de representatividade da sigla na Grande São Paulo fosse ocupado por novas legendas. PSD, MDB e União Brasil são as siglas que tendem a incorporar a maior parte do “espólio” de prefeituras originado com o declínio dos tucanos.

“São partidos que têm o perfil de favorecer essa dinâmica de autonomia relativa das lideranças locais. Eles não têm uma grande identificação no plano nacional, um discurso programático muito definido em termos ideológicos. Isso permite que eles transitem bem nessa dimensão local”, disse Mayra Goulart.

MDB na disputa da maior cidade do Brasil

O MDB é uma força política tradicional e com bases consolidadas em todo o País. Consultado pelo Estadão, o diretório estadual da sigla informou que, até o momento, articula 11 pré-campanhas a prefeito na Grande São Paulo. O foco da legenda na região será reeleger Ricardo Nunes na capital paulista, mantendo-se no comando da maior cidade do País por mais quatro anos.

A despeito da representatividade no território nacional, no Estado de São Paulo e na própria região metropolitana da capital, o partido nunca chegou ao comando do Executivo paulistano por meio do voto direto.

Ricardo Nunes e Bruno Covas na campanha de 2020 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Último prefeito da sigla antes de Nunes, Mário Covas assumiu a Prefeitura em 1983, durante a ditadura militar, quando ainda vigorava a norma de os mandatários das capitais serem indicados pelos respectivos governadores. Covas foi indicado por Franco Montoro, governador paulista pelo MDB. Já Nunes, então vice-prefeito, assumiu a prefeitura em 2021, após o falecimento de Bruno Covas (PSDB), eleito no ano anterior.

Crescimento do PSD

O PSD surgiu em 2011 e se consolidou ao longo da última década como uma das principais legendas do País. Pesou a favor a direção de Gilberto Kassab, secretário de Relações Institucionais do governo de São Paulo. “O PSD hoje já se tornou o maior partido em número de prefeitos do Brasil”, disse o cientista político Antonio Lavareda.

Kassab não só é um articulador de destaque como é egresso da política paulista, uma das razões pelas quais o partido cresceu em todo o País – quase cinco vezes, segundo Lavareda –, e de forma ainda mais vertiginosa no Estado paulista. “O partido que tem mais prefeitos hoje, já sentados na cadeira, boa parte deles pré-candidatos à reeleição, dificilmente não terá um grande número de prefeitos reeleitos”, afirmou.

Segundo o diretório estadual do partido, pelo menos 16 pré-candidatos vão concorrer ao pleito de outubro para os cargos de prefeitos na Grande São Paulo.

Estreia do União Brasil

Quanto ao União Brasil, partido originado com a fusão entre o Democratas (DEM) e o Partido Social Liberal (PSL), em outubro de 2021, espera-se um “teste de fogo” nesta que será a primeira eleição com a nova configuração da sigla. A legenda historicamente se notabiliza pela capacidade de angariar lideranças locais, mantendo-se capilarizada nos rincões do País.

Para Antonio Lavareda, o grupo se expandiu para além da soma de forças entre DEM e PSL. “O partido cresceu com a adesão de prefeitos desde 2021″, disse. Para ele, a sigla pode se consolidar ainda mais nas eleições deste ano. Além de MDB, PSD e União, outras legendas correm por fora na região, como o PP e o Republicanos, que também se estruturou ao longo da última década e, hoje, abriga o governador do Estado, Tarcísio de Freitas.

PL de Valdemar

Se a hegemonia tucana na Grande São Paulo se deve ao PSDB ter sido, durante muito tempo, o principal polo da oposição aos governos petistas, espera-se que, neste ano, esse potencial de votos venha a ser explorado pelo PL. Em 2024, o bolsonarismo pode ter seu primeiro teste nas urnas em uma eleição municipal: desta vez, ao contrário do que ocorreu em 2020, em condições plenas e sem “asteriscos”.

Naquela eleição, Bolsonaro era presidente, mas já estava rompido com o PSL, sigla pela qual havia sido eleito em 2018, o que afetou as possibilidades do então mandatário influenciar nas escolas municipais pelo País. Mesmo se não estivesse de saída do partido, o PSL era gerido por Luciano Bivar, que não possuía o mesmo controle sob a própria legenda que Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.

“O PL é comandado por um expert em política, profundo conhecedor e com muito controle da legenda”, explicou Lavareda. “É o típico animal político”, afirmou o analista. Segundo ele, o tato do cacique fará diferença na forma como o partido se valerá do capital político de seu principal quadro.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Jair Bolsonaro, ex-presidente da República Foto: Divulgação/PL

“Bolsonaro já estava às turras com o Luciano Bivar na campanha de 2020. Agora, não. O Valdemar, com muito tato, muito jeito, conseguiu controlar, digamos, os arroubos do ex-presidente e explorar o que de melhor ele tem a oferecer para o fortalecimento do partido.”

Desde fevereiro deste ano, a dupla Valdemar e Bolsonaro não pode se encontrar por conta de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois são investigados por suposta tentativa de golpe de Estado e foram alvos da Operação Tempus Veritatis.

Segundo a professora Mayra Goulart, o que está em jogo para o PL é “o desafio de se institucionalizar”, transformando a presença de Bolsonaro em uma capilaridade nas prefeituras e câmaras municipais do País. O que pode atrapalhar esse objetivo é, ironicamente, o próprio bolsonarismo. “O partido fica entre mobilizar um discurso que é atraente, que pode ganhar voto no plano dos cidadãos, mas que pode dificultar o trânsito entre as elites políticas”, analisou a pesquisadora, que avalia Bolsonaro como “um jogador solitário” e que não tem compromisso com a construção de um partido, o oposto de Valdemar.

Forças à esquerda

Historicamente como força hegemônica na região, o PT tenta recuperar o protagonismo que teve antes da queda de Dilma. Neste ano, o partido que ficou atrás do PSDB, PL, PSD e Podemos, empatando com Republicanos nas eleições de 2020 em quantidade de prefeituras, concorre em quase metade dos municípios da Grande São Paulo, lançando pré-candidaturas em 17 cidades.

Guilherme Boulos e Marta Suplicy em evento da pré-campanha em março Foto: Felipe Rau/Estadão

Uma dobradinha entre PT e PSOL garantiu o retorno de Marta Suplicy ao partido de Lula e a formação de uma chapa encabeçada pelo deputado federal Guilherme Boulos. Essa é a primeira vez que a sigla petista não lança candidatura própria na capital. A tendência, analisa Lavareda, é que a repercussão da campanha de Boulos na maior cidade do Brasil ajude a puxar para cima a votação de outros candidatos do PSOL.

A polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terá impacto nas eleições de 2024 na Grande São Paulo e influenciará uma mudança no mapa político da região, para além dos limites da capital paulista. Enquanto o PT quer retomar o espaço no comando das cidades e o PL pretende aproveitar o capital político do seu principal nome, partidos como MDB, PSD e União Brasil buscam ocupar o vácuo deixado pelo PSDB, que viu o perfil do seu eleitor mudar desde a chegada do bolsonarismo no jogo político.

O comando dos 39 municípios da região da Grande São Paulo costumava ser protagonizado por tucanos e petistas. Essa dinâmica mudou para o PT após 2014, com a crise na imagem da sigla decorrente das manifestações de rua e seguinte impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em 2012, o partido elegeu prefeitos em dez cidades da região, enquanto no pleito seguinte só conseguiu manter uma prefeitura, a de Franco da Rocha. Nas últimas eleições municipais, em 2020, somente duas prefeituras, Mauá e Diadema, foram conquistadas pelos petistas.

O PSDB manteve a hegemonia, como partido com maior número de prefeituras na região. Contudo, a legenda sofre uma debandada de filiados, atraídos por siglas maiores e mais atrativas neste momento. Especialistas ouvidos pelo Estadão pontuam que a eleição de outubro será a primeira em que a força do apoio de Bolsonaro poderá se refletir nas urnas no âmbito municipal, e deve disputar o voto da direita, historicamente endereçado a partidos mais tradicionais no Estado.

Eleição municipal, política nacional

Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom), Mayra Goulart, as eleições municipais devem ser compreendidas como vias de mão dupla no que diz respeito aos interesses das siglas e dos candidatos. Enquanto os dirigentes de partidos nacionais agem para consolidar cabos eleitorais, lideranças locais pleiteiam grupos políticos capazes de fortalecer a votação e atender financeiramente as demandas da região.

“Os atores nacionais têm muito interesse e jogam muito pesado na atração dessas lideranças locais”, disse Mayra. A escolha de prefeitos e vereadores, segundo a pesquisadora, prepara o terreno para a eleição de deputados federais, na medida que mantém o vínculo de quem está lá em Brasília com suas bases. E é a eleição dos congressistas, segundo a legislação eleitoral, que determina o acesso a recursos dos Fundos Partidário e Eleitoral, o que faz com que a dinâmica nacional seja dependente do processo local.

A lógica se retroalimenta na medida em que os líderes regionais também buscam se coligar a grupos políticos robustos, o que pode tornar um candidato mais competitivo durante o período eleitoral. Além disso, uma vez à frente do Executivo municipal, estar filiado a um partido estruturado facilita o trânsito político do gestor. Isso pode ser útil na atração de investimentos e recursos para a cidade.

“Tem sim uma ‘caça’ dos caciques partidários nacionais para ter bons nomes, boas lideranças locais nos seus partidos. Mas há, sobretudo, a caça dos políticos locais por partidos que tenham e que estejam bem posicionados no acesso ao financiamento público de campanha”, afirmou Mayra.

Um levantamento exclusivo do Estadão com a série histórica de dados eleitorais na Grande São Paulo mostra que, desde 2000, as eleições municipais foram marcadas pelo predomínio das forças políticas do centro à direita. A legenda com a maior representatividade na região foi o PSDB.

Apesar de hegemônica, a sigla vem perdendo bases locais. Após a janela partidária deste ano, por exemplo, houve uma debandada de todos os integrantes da bancada do partido na Câmara Municipal de São Paulo. No cenário nacional, o esvaziamento se repete. O partido, que ocupou por mais de 20 anos a terceira posição no ranking de bancadas do Senado, hoje está em último lugar, com apenas uma cadeira na Casa.

“O PSDB é um partido que perdeu a capacidade de engajamento de suas bases porque o perfil do eleitor à direita mudou”, disse Mayra. Se antes a sigla era a principal força política da oposição aos governos federais do PT, o que tornava a legenda atrativa aos líderes locais que pleiteavam o eleitor antipetista, o perfil desse eleitor mudou a partir das eleições gerais de 2014 e com a ascensão da figura de Jair Bolsonaro.

Mayra pontua que os tucanos, que tinham diretrizes historicamente associadas ao centro e à esquerda, durante a década de 2010 também guinaram à direita. Mesmo assim, a sigla não conseguiu mais contemplar as reivindicações de um eleitorado que se reconfigurou. “A direita mais extrema, mais enfática nos termos de suas preferências políticas, começa a tomar o lugar da direita tradicional, ocupado pelo PSDB”, disse a cientista política.

Em termos de representatividade de governadores e congressistas eleitos no País, a crise no PSDB é sem precedentes. O principal entrave da legenda, entretanto, é de ordem identitária: se o partido guinar de vez à direita, se associará com o bolsonarismo, que é estranho aos seus valores históricos; por outro lado, se os tucanos adotarem posições mais enfáticas no campo progressista, podem não conseguir marcar posição contra o PT.

Manter-se ao centro, por sua vez, pode não ser o caminho para o PSDB. O impasse de identidade, agravado na última década, fez com que o vácuo de representatividade da sigla na Grande São Paulo fosse ocupado por novas legendas. PSD, MDB e União Brasil são as siglas que tendem a incorporar a maior parte do “espólio” de prefeituras originado com o declínio dos tucanos.

“São partidos que têm o perfil de favorecer essa dinâmica de autonomia relativa das lideranças locais. Eles não têm uma grande identificação no plano nacional, um discurso programático muito definido em termos ideológicos. Isso permite que eles transitem bem nessa dimensão local”, disse Mayra Goulart.

MDB na disputa da maior cidade do Brasil

O MDB é uma força política tradicional e com bases consolidadas em todo o País. Consultado pelo Estadão, o diretório estadual da sigla informou que, até o momento, articula 11 pré-campanhas a prefeito na Grande São Paulo. O foco da legenda na região será reeleger Ricardo Nunes na capital paulista, mantendo-se no comando da maior cidade do País por mais quatro anos.

A despeito da representatividade no território nacional, no Estado de São Paulo e na própria região metropolitana da capital, o partido nunca chegou ao comando do Executivo paulistano por meio do voto direto.

Ricardo Nunes e Bruno Covas na campanha de 2020 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Último prefeito da sigla antes de Nunes, Mário Covas assumiu a Prefeitura em 1983, durante a ditadura militar, quando ainda vigorava a norma de os mandatários das capitais serem indicados pelos respectivos governadores. Covas foi indicado por Franco Montoro, governador paulista pelo MDB. Já Nunes, então vice-prefeito, assumiu a prefeitura em 2021, após o falecimento de Bruno Covas (PSDB), eleito no ano anterior.

Crescimento do PSD

O PSD surgiu em 2011 e se consolidou ao longo da última década como uma das principais legendas do País. Pesou a favor a direção de Gilberto Kassab, secretário de Relações Institucionais do governo de São Paulo. “O PSD hoje já se tornou o maior partido em número de prefeitos do Brasil”, disse o cientista político Antonio Lavareda.

Kassab não só é um articulador de destaque como é egresso da política paulista, uma das razões pelas quais o partido cresceu em todo o País – quase cinco vezes, segundo Lavareda –, e de forma ainda mais vertiginosa no Estado paulista. “O partido que tem mais prefeitos hoje, já sentados na cadeira, boa parte deles pré-candidatos à reeleição, dificilmente não terá um grande número de prefeitos reeleitos”, afirmou.

Segundo o diretório estadual do partido, pelo menos 16 pré-candidatos vão concorrer ao pleito de outubro para os cargos de prefeitos na Grande São Paulo.

Estreia do União Brasil

Quanto ao União Brasil, partido originado com a fusão entre o Democratas (DEM) e o Partido Social Liberal (PSL), em outubro de 2021, espera-se um “teste de fogo” nesta que será a primeira eleição com a nova configuração da sigla. A legenda historicamente se notabiliza pela capacidade de angariar lideranças locais, mantendo-se capilarizada nos rincões do País.

Para Antonio Lavareda, o grupo se expandiu para além da soma de forças entre DEM e PSL. “O partido cresceu com a adesão de prefeitos desde 2021″, disse. Para ele, a sigla pode se consolidar ainda mais nas eleições deste ano. Além de MDB, PSD e União, outras legendas correm por fora na região, como o PP e o Republicanos, que também se estruturou ao longo da última década e, hoje, abriga o governador do Estado, Tarcísio de Freitas.

PL de Valdemar

Se a hegemonia tucana na Grande São Paulo se deve ao PSDB ter sido, durante muito tempo, o principal polo da oposição aos governos petistas, espera-se que, neste ano, esse potencial de votos venha a ser explorado pelo PL. Em 2024, o bolsonarismo pode ter seu primeiro teste nas urnas em uma eleição municipal: desta vez, ao contrário do que ocorreu em 2020, em condições plenas e sem “asteriscos”.

Naquela eleição, Bolsonaro era presidente, mas já estava rompido com o PSL, sigla pela qual havia sido eleito em 2018, o que afetou as possibilidades do então mandatário influenciar nas escolas municipais pelo País. Mesmo se não estivesse de saída do partido, o PSL era gerido por Luciano Bivar, que não possuía o mesmo controle sob a própria legenda que Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.

“O PL é comandado por um expert em política, profundo conhecedor e com muito controle da legenda”, explicou Lavareda. “É o típico animal político”, afirmou o analista. Segundo ele, o tato do cacique fará diferença na forma como o partido se valerá do capital político de seu principal quadro.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Jair Bolsonaro, ex-presidente da República Foto: Divulgação/PL

“Bolsonaro já estava às turras com o Luciano Bivar na campanha de 2020. Agora, não. O Valdemar, com muito tato, muito jeito, conseguiu controlar, digamos, os arroubos do ex-presidente e explorar o que de melhor ele tem a oferecer para o fortalecimento do partido.”

Desde fevereiro deste ano, a dupla Valdemar e Bolsonaro não pode se encontrar por conta de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois são investigados por suposta tentativa de golpe de Estado e foram alvos da Operação Tempus Veritatis.

Segundo a professora Mayra Goulart, o que está em jogo para o PL é “o desafio de se institucionalizar”, transformando a presença de Bolsonaro em uma capilaridade nas prefeituras e câmaras municipais do País. O que pode atrapalhar esse objetivo é, ironicamente, o próprio bolsonarismo. “O partido fica entre mobilizar um discurso que é atraente, que pode ganhar voto no plano dos cidadãos, mas que pode dificultar o trânsito entre as elites políticas”, analisou a pesquisadora, que avalia Bolsonaro como “um jogador solitário” e que não tem compromisso com a construção de um partido, o oposto de Valdemar.

Forças à esquerda

Historicamente como força hegemônica na região, o PT tenta recuperar o protagonismo que teve antes da queda de Dilma. Neste ano, o partido que ficou atrás do PSDB, PL, PSD e Podemos, empatando com Republicanos nas eleições de 2020 em quantidade de prefeituras, concorre em quase metade dos municípios da Grande São Paulo, lançando pré-candidaturas em 17 cidades.

Guilherme Boulos e Marta Suplicy em evento da pré-campanha em março Foto: Felipe Rau/Estadão

Uma dobradinha entre PT e PSOL garantiu o retorno de Marta Suplicy ao partido de Lula e a formação de uma chapa encabeçada pelo deputado federal Guilherme Boulos. Essa é a primeira vez que a sigla petista não lança candidatura própria na capital. A tendência, analisa Lavareda, é que a repercussão da campanha de Boulos na maior cidade do Brasil ajude a puxar para cima a votação de outros candidatos do PSOL.

A polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) terá impacto nas eleições de 2024 na Grande São Paulo e influenciará uma mudança no mapa político da região, para além dos limites da capital paulista. Enquanto o PT quer retomar o espaço no comando das cidades e o PL pretende aproveitar o capital político do seu principal nome, partidos como MDB, PSD e União Brasil buscam ocupar o vácuo deixado pelo PSDB, que viu o perfil do seu eleitor mudar desde a chegada do bolsonarismo no jogo político.

O comando dos 39 municípios da região da Grande São Paulo costumava ser protagonizado por tucanos e petistas. Essa dinâmica mudou para o PT após 2014, com a crise na imagem da sigla decorrente das manifestações de rua e seguinte impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Em 2012, o partido elegeu prefeitos em dez cidades da região, enquanto no pleito seguinte só conseguiu manter uma prefeitura, a de Franco da Rocha. Nas últimas eleições municipais, em 2020, somente duas prefeituras, Mauá e Diadema, foram conquistadas pelos petistas.

O PSDB manteve a hegemonia, como partido com maior número de prefeituras na região. Contudo, a legenda sofre uma debandada de filiados, atraídos por siglas maiores e mais atrativas neste momento. Especialistas ouvidos pelo Estadão pontuam que a eleição de outubro será a primeira em que a força do apoio de Bolsonaro poderá se refletir nas urnas no âmbito municipal, e deve disputar o voto da direita, historicamente endereçado a partidos mais tradicionais no Estado.

Eleição municipal, política nacional

Para a professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom), Mayra Goulart, as eleições municipais devem ser compreendidas como vias de mão dupla no que diz respeito aos interesses das siglas e dos candidatos. Enquanto os dirigentes de partidos nacionais agem para consolidar cabos eleitorais, lideranças locais pleiteiam grupos políticos capazes de fortalecer a votação e atender financeiramente as demandas da região.

“Os atores nacionais têm muito interesse e jogam muito pesado na atração dessas lideranças locais”, disse Mayra. A escolha de prefeitos e vereadores, segundo a pesquisadora, prepara o terreno para a eleição de deputados federais, na medida que mantém o vínculo de quem está lá em Brasília com suas bases. E é a eleição dos congressistas, segundo a legislação eleitoral, que determina o acesso a recursos dos Fundos Partidário e Eleitoral, o que faz com que a dinâmica nacional seja dependente do processo local.

A lógica se retroalimenta na medida em que os líderes regionais também buscam se coligar a grupos políticos robustos, o que pode tornar um candidato mais competitivo durante o período eleitoral. Além disso, uma vez à frente do Executivo municipal, estar filiado a um partido estruturado facilita o trânsito político do gestor. Isso pode ser útil na atração de investimentos e recursos para a cidade.

“Tem sim uma ‘caça’ dos caciques partidários nacionais para ter bons nomes, boas lideranças locais nos seus partidos. Mas há, sobretudo, a caça dos políticos locais por partidos que tenham e que estejam bem posicionados no acesso ao financiamento público de campanha”, afirmou Mayra.

Um levantamento exclusivo do Estadão com a série histórica de dados eleitorais na Grande São Paulo mostra que, desde 2000, as eleições municipais foram marcadas pelo predomínio das forças políticas do centro à direita. A legenda com a maior representatividade na região foi o PSDB.

Apesar de hegemônica, a sigla vem perdendo bases locais. Após a janela partidária deste ano, por exemplo, houve uma debandada de todos os integrantes da bancada do partido na Câmara Municipal de São Paulo. No cenário nacional, o esvaziamento se repete. O partido, que ocupou por mais de 20 anos a terceira posição no ranking de bancadas do Senado, hoje está em último lugar, com apenas uma cadeira na Casa.

“O PSDB é um partido que perdeu a capacidade de engajamento de suas bases porque o perfil do eleitor à direita mudou”, disse Mayra. Se antes a sigla era a principal força política da oposição aos governos federais do PT, o que tornava a legenda atrativa aos líderes locais que pleiteavam o eleitor antipetista, o perfil desse eleitor mudou a partir das eleições gerais de 2014 e com a ascensão da figura de Jair Bolsonaro.

Mayra pontua que os tucanos, que tinham diretrizes historicamente associadas ao centro e à esquerda, durante a década de 2010 também guinaram à direita. Mesmo assim, a sigla não conseguiu mais contemplar as reivindicações de um eleitorado que se reconfigurou. “A direita mais extrema, mais enfática nos termos de suas preferências políticas, começa a tomar o lugar da direita tradicional, ocupado pelo PSDB”, disse a cientista política.

Em termos de representatividade de governadores e congressistas eleitos no País, a crise no PSDB é sem precedentes. O principal entrave da legenda, entretanto, é de ordem identitária: se o partido guinar de vez à direita, se associará com o bolsonarismo, que é estranho aos seus valores históricos; por outro lado, se os tucanos adotarem posições mais enfáticas no campo progressista, podem não conseguir marcar posição contra o PT.

Manter-se ao centro, por sua vez, pode não ser o caminho para o PSDB. O impasse de identidade, agravado na última década, fez com que o vácuo de representatividade da sigla na Grande São Paulo fosse ocupado por novas legendas. PSD, MDB e União Brasil são as siglas que tendem a incorporar a maior parte do “espólio” de prefeituras originado com o declínio dos tucanos.

“São partidos que têm o perfil de favorecer essa dinâmica de autonomia relativa das lideranças locais. Eles não têm uma grande identificação no plano nacional, um discurso programático muito definido em termos ideológicos. Isso permite que eles transitem bem nessa dimensão local”, disse Mayra Goulart.

MDB na disputa da maior cidade do Brasil

O MDB é uma força política tradicional e com bases consolidadas em todo o País. Consultado pelo Estadão, o diretório estadual da sigla informou que, até o momento, articula 11 pré-campanhas a prefeito na Grande São Paulo. O foco da legenda na região será reeleger Ricardo Nunes na capital paulista, mantendo-se no comando da maior cidade do País por mais quatro anos.

A despeito da representatividade no território nacional, no Estado de São Paulo e na própria região metropolitana da capital, o partido nunca chegou ao comando do Executivo paulistano por meio do voto direto.

Ricardo Nunes e Bruno Covas na campanha de 2020 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Último prefeito da sigla antes de Nunes, Mário Covas assumiu a Prefeitura em 1983, durante a ditadura militar, quando ainda vigorava a norma de os mandatários das capitais serem indicados pelos respectivos governadores. Covas foi indicado por Franco Montoro, governador paulista pelo MDB. Já Nunes, então vice-prefeito, assumiu a prefeitura em 2021, após o falecimento de Bruno Covas (PSDB), eleito no ano anterior.

Crescimento do PSD

O PSD surgiu em 2011 e se consolidou ao longo da última década como uma das principais legendas do País. Pesou a favor a direção de Gilberto Kassab, secretário de Relações Institucionais do governo de São Paulo. “O PSD hoje já se tornou o maior partido em número de prefeitos do Brasil”, disse o cientista político Antonio Lavareda.

Kassab não só é um articulador de destaque como é egresso da política paulista, uma das razões pelas quais o partido cresceu em todo o País – quase cinco vezes, segundo Lavareda –, e de forma ainda mais vertiginosa no Estado paulista. “O partido que tem mais prefeitos hoje, já sentados na cadeira, boa parte deles pré-candidatos à reeleição, dificilmente não terá um grande número de prefeitos reeleitos”, afirmou.

Segundo o diretório estadual do partido, pelo menos 16 pré-candidatos vão concorrer ao pleito de outubro para os cargos de prefeitos na Grande São Paulo.

Estreia do União Brasil

Quanto ao União Brasil, partido originado com a fusão entre o Democratas (DEM) e o Partido Social Liberal (PSL), em outubro de 2021, espera-se um “teste de fogo” nesta que será a primeira eleição com a nova configuração da sigla. A legenda historicamente se notabiliza pela capacidade de angariar lideranças locais, mantendo-se capilarizada nos rincões do País.

Para Antonio Lavareda, o grupo se expandiu para além da soma de forças entre DEM e PSL. “O partido cresceu com a adesão de prefeitos desde 2021″, disse. Para ele, a sigla pode se consolidar ainda mais nas eleições deste ano. Além de MDB, PSD e União, outras legendas correm por fora na região, como o PP e o Republicanos, que também se estruturou ao longo da última década e, hoje, abriga o governador do Estado, Tarcísio de Freitas.

PL de Valdemar

Se a hegemonia tucana na Grande São Paulo se deve ao PSDB ter sido, durante muito tempo, o principal polo da oposição aos governos petistas, espera-se que, neste ano, esse potencial de votos venha a ser explorado pelo PL. Em 2024, o bolsonarismo pode ter seu primeiro teste nas urnas em uma eleição municipal: desta vez, ao contrário do que ocorreu em 2020, em condições plenas e sem “asteriscos”.

Naquela eleição, Bolsonaro era presidente, mas já estava rompido com o PSL, sigla pela qual havia sido eleito em 2018, o que afetou as possibilidades do então mandatário influenciar nas escolas municipais pelo País. Mesmo se não estivesse de saída do partido, o PSL era gerido por Luciano Bivar, que não possuía o mesmo controle sob a própria legenda que Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.

“O PL é comandado por um expert em política, profundo conhecedor e com muito controle da legenda”, explicou Lavareda. “É o típico animal político”, afirmou o analista. Segundo ele, o tato do cacique fará diferença na forma como o partido se valerá do capital político de seu principal quadro.

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Jair Bolsonaro, ex-presidente da República Foto: Divulgação/PL

“Bolsonaro já estava às turras com o Luciano Bivar na campanha de 2020. Agora, não. O Valdemar, com muito tato, muito jeito, conseguiu controlar, digamos, os arroubos do ex-presidente e explorar o que de melhor ele tem a oferecer para o fortalecimento do partido.”

Desde fevereiro deste ano, a dupla Valdemar e Bolsonaro não pode se encontrar por conta de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois são investigados por suposta tentativa de golpe de Estado e foram alvos da Operação Tempus Veritatis.

Segundo a professora Mayra Goulart, o que está em jogo para o PL é “o desafio de se institucionalizar”, transformando a presença de Bolsonaro em uma capilaridade nas prefeituras e câmaras municipais do País. O que pode atrapalhar esse objetivo é, ironicamente, o próprio bolsonarismo. “O partido fica entre mobilizar um discurso que é atraente, que pode ganhar voto no plano dos cidadãos, mas que pode dificultar o trânsito entre as elites políticas”, analisou a pesquisadora, que avalia Bolsonaro como “um jogador solitário” e que não tem compromisso com a construção de um partido, o oposto de Valdemar.

Forças à esquerda

Historicamente como força hegemônica na região, o PT tenta recuperar o protagonismo que teve antes da queda de Dilma. Neste ano, o partido que ficou atrás do PSDB, PL, PSD e Podemos, empatando com Republicanos nas eleições de 2020 em quantidade de prefeituras, concorre em quase metade dos municípios da Grande São Paulo, lançando pré-candidaturas em 17 cidades.

Guilherme Boulos e Marta Suplicy em evento da pré-campanha em março Foto: Felipe Rau/Estadão

Uma dobradinha entre PT e PSOL garantiu o retorno de Marta Suplicy ao partido de Lula e a formação de uma chapa encabeçada pelo deputado federal Guilherme Boulos. Essa é a primeira vez que a sigla petista não lança candidatura própria na capital. A tendência, analisa Lavareda, é que a repercussão da campanha de Boulos na maior cidade do Brasil ajude a puxar para cima a votação de outros candidatos do PSOL.

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