Os três pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo com mandato no Congresso Nacional têm enfrentando um desafio em comum: conciliar os compromissos em Brasília com as agendas de pré-campanha na capital paulista, fundamentais para arregimentar apoios e se tornarem mais conhecidos do eleitorado. Cada um dos congressistas optou por um caminho distinto para encarar a maratona até agosto, quando a campanha eleitoral começará oficialmente.
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) reduziu drasticamente sua participação em reuniões de comissões da Câmara dos Deputados nos primeiros meses de 2024. Tabata Amaral (PSB) manteve o mesmo nível de atividade do ano passado, enquanto Kim Kataguiri (União) teve mais faltas em sessões no plenário em Brasília, mas deu continuidade aos trabalhos nas comissões da Casa.
A Câmara permite que os deputados votem de maneira retoma tanto temas em discussão no plenário, quanto nas comissões, mas os parlamentares precisam ir ao Congresso registrar a presença por biometria ou correm o risco de terem o salário descontado no caso das faltas sem justificativa nas sessões plenárias.
Boulos é quem mais tem feito agendas de pré-campanha, ao mesmo tempo que reduziu sua presença no Congresso Nacional. A redução reflete uma ação tomada pelo PSOL, que indicou o deputado para um número menor de comissões neste ano. Boulos participou de 34 reuniões entre 1º de fevereiro e 15 de maio de 2023 e não teve nenhuma falta. No mesmo período deste ano, o parlamentar foi a apenas três reuniões e faltou em outras duas. Justificou só uma: estava em um evento do governo federal sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A queda no número de sessões ocorre porque, no ano passado, o parlamentar era titular da Comissão de Desenvolvimento Urbano (CDU) e suplente das comissões de Constituição e Justiça (CCJ), de Finanças e Tributação (CFT), de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) e no Conselho de Ética, além de ter comparecido, mesmo sem ser membro, em reuniões das comissões de Educação, de Segurança Pública, de Administração e Serviço Público e no grupo de trabalho da reforma tributária.
Inicialmente, Boulos tinha duas faltas e uma presença em comissões em 2024, mas, após questionamento do Estadão na terça-feira, 14, ele foi nas reuniões do dia seguinte na CDU e no Conselho de Ética, os únicos colegiados em que ele continua como titular e suplente.
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Por outro lado, o deputado participou de 27 reuniões de plenário até o momento e teve apenas uma ausência. A Câmara não faz distinção em seus registros entre quem estava presencialmente na Casa ou participou de forma remota. Em pelo menos uma ocasião, no último dia 9, Boulos cumpriu compromissos de pré-campanha, enquanto o Congresso se reuniu para analisar vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele participou e votou pela internet.
“A participação do deputado Boulos em comissões envolve uma articulação com os demais parlamentares da bancada para que todos participem de forma equilibrada das comissões”, disse, em nota, a assessoria do pré-candidato do PSOL.
“O deputado teve problemas com o voo e não chegou a tempo da sessão da CMO em 20 de fevereiro. Já no dia 8 de maio, o deputado participou da sessão solene do PAC Seleções, com justificativa de ausência já feita no sistema da Câmara”, acrescenta o texto.
Tabata Amaral esteve no plenário 26 vezes e teve uma ausência justificada. Ao contrário de Boulos, contudo, ela manteve o ritmo nas comissões: trocou a Comissão de Educação, da qual saiu de titular para suplente, pela titularidade na CDU, e continuou como suplente na CCJ e na Comissão de Meio Ambiente. No total, foram 29 presenças, mesmo número do ano passado, 3 faltas e uma ausência justificada.
A assessoria de imprensa de Tabata não explicou o motivo das faltas e ausências — o sistema da Câmara apenas informa se há ou não uma justificativa sem detalha-la — e disse apenas que ela mantém todos os compromissos do mandato em respeito a seus eleitores.
“Para conciliar com as agendas da pré-campanha à prefeitura de São Paulo, a deputada intensificou a agenda com articulações políticas, compromissos com a sociedade civil, setor privado e terceiro setor, se dividindo entre Brasília e São Paulo”, diz a nota.
Quem mais se ausentou no plenário foi Kim Kataguiri. Ele saiu de uma falta no ano passado para quatro neste ano. O parlamentar tem enfrentado dificuldades para se viabilizar no União Brasil e tem feito menos eventos que os adversários. O vereador Milton Leite (União), que controla o partido em São Paulo, defende apoiar a reeleição de Ricardo Nunes.
Ao Estadão o deputado disse que três das quatro faltas no plenário ocorreram devido a problemas de saúde de familiares. “Não há relação com a pré-campanha. Até porque não seriam 4 faltas que mudariam o destino de uma eleição”, afirmou ele. O parlamentar foi a 21 reuniões e passou três dias em uma missão oficial aos EUA para conhecer a indústria de óleo e gás do país pois era relator de um projeto sobre licenciamento ambiental.
Ao mesmo tempo, Kataguiri melhorou a frequência nas comissões: ele saiu de 27 presenças e 7 faltas em 2023 para 29 presenças e três faltas neste ano. Ele afirma ter preferido participar de um encontro com a bancada do partido para definir posicionamento sobre projetos que seriam votados em plenário a ir a uma reunião que elegeu vice-presidentes da CCFC em março.
“Já a reunião do dia 7 de maio era uma audiência pública sobre a concessão de estradas da Bahia, em que preferi atender a algumas reuniões com líderes partidários para articular a votação de projetos em prol do Rio Grande do Sul”, explicou. A terceira falta foi na última quarta-feira, 15. Segundo a assessoria, o parlamentar foi aos EUA em missão oficial participar de um debate sobre o cenário econômico brasileiro, mas o sistema ainda indica falta.
A Câmara dos Deputados tem 30 comissões permanentes, que discutem e sugerem modificações aos projetos de lei antes deles serem votados no plenário, além de realizar audiências públicas com o objetivo de ouvir a sociedade sobre determinado tema. Os colegiados também são responsáveis por fiscalizar o governo federal e tem o poder de convocar ministros para prestar esclarecimentos.