Em pré-campanha pela Prefeitura de SP, Nunes tem 10 agendas de rua para cada 4 de Boulos; veja mapa


Levantamento do ‘Estadão’ considerou agendas externas dos dois pré-candidatos entre 7 de março e 6 de julho; áreas centrais foram priorizadas. Boulos diz que não concentrou eventos na região central e que cumpriu agenda parlamentar no período; Nunes afirma que eventos visam ao interesse público da população da cidade

Por Karina Ferreira
Atualização:

A cada quatro agendas que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) cumpriu para se aproximar do eleitorado de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) promoveu dez. Em quatro meses, Nunes, que concorre em outubro a mais um mandato na Prefeitura, realizou 229 agendadas externas pela cidade, enquanto seu principal oponente, Boulos, esteve nas ruas da capital 86 vezes em eventos de pré-campanha.

Levantamento do Estadão mostra que as equipes optaram pelas regiões mais centrais da cidade nesse primeiro momento de pré-campanha – considerando Sé e República. A reportagem analisou todas as agendas públicas dos líderes nas pesquisas eleitorais entre os dias 7 de março e 6 de julho.

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Além desses locais, Nunes esteve mais vezes no bairro Parelheiros, zona sul, onde o emedebista concentra seu reduto eleitoral, totalizando 11 visitas no período. Já Boulos realizou mais eventos em Pinheiros, bairro onde nasceu, somando sete.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos concorrem à Prefeitura de São Paulo Foto: Taba Benedicto e Felipe Rau/Estadão

Procurado pelo Estadão, Boulos disse que é “equivocada a ideia de que sua agenda tenha se concentrado na região central” e ressaltou que cumpriu compromissos parlamentares em Brasília, semanalmente, de terça à quinta-feira. À reportagem, Nunes afirmou que esteve mais vezes em outros distritos – territórios formados por mais de um bairro – do que em Parelheiros e disse que cumpriu compromissos oficiais em “benefício da população”.

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Embora as campanhas estejam cada vez mais centradas nas redes sociais, o corpo a corpo com os eleitores continua sendo um ponto importante para aproximar os candidatos da população. A concentração dos compromissos de rua em áreas centrais e de maior circulação é vista por especialistas como uma estratégia para alcançar maior parcela do eleitorado, uma vez que são locais onde as pessoas trabalham ou estudam e com mais destaque na imprensa.

Os caminhos percorridos pelos dois pré-candidatos no período destacam ainda as diferenças de planejamento das equipes de PSOL e MDB. Enquanto Nunes usa a posição de prefeito para tornar sua imagem mais popular na cidade, Boulos tenta aprofundar e expandir alianças partidárias, avaliam os especialistas ouvidos pelo Estadão.

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As agendas do deputado e do prefeito foram categorizadas como: inauguração ou anúncio de obra, partidário, política pública, social ou visita à obra. No caso de Nunes, foram desconsiderados todos os compromissos cumpridos dentro da Prefeitura e aqueles em que o prefeito esteve representado, enquanto autoridade, o Poder Executivo municipal, que contaram com integrantes dos outros Poderes – como sessões solenes de entrega de homenagens. Do lado de Boulos, foram consideradas somente agendas cumpridas na capital paulista.

O foco do prefeito foram vistorias e entregas de obras em bairros, principalmente em eventos do programa “Prefeitura Presente”. Às quintas-feiras, Nunes escolhia uma região para percorrer e participar de encontros – o que é vedado a partir de agora pela legislação eleitoral. Nos últimos quatro meses, foram 107 inaugurações de obras e 28 visitas a construções e restauros, além de dez anúncios de novos projetos de infraestrutura.

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Conforme o calendário eleitoral estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de outubro, a partir de 6 de julho, os pré-candidatos ficaram proibidos por lei de promoverem ou participarem de inauguração de obras pagas com dinheiro público. O período oficial da campanha começa em 16 de agosto, data que marca o início oficial da propaganda eleitoral, estabelecido pela Justiça Eleitoral.

Já a agenda de Boulos, que passa parte da semana em Brasília onde cumpre mandato na Câmara dos Deputados, foi voltada para eventos sociais, como visitas a associações de moradores e encontros com estudantes e categorias de trabalhadores, além daqueles de caráter partidário, como filiações, lançamentos de pré-candidaturas de vereadores do partido e eventos em que dividiu o palanque com o padrinho político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde março, foram três agendas públicas em São Paulo com a presença do presidente.

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O número absoluto de agendas de Nunes, 2,6 vezes maior que as de Boulos, está ligado às categorias que remetem à função Executiva que ele ocupa. Quando excluídos eventos de políticas públicas e de inaugurações, anúncios e visitas a obras, o prefeito fica com 55 agendas em sua lista. Na categoria “social”, por exemplo, Boulos esteve presente em 60 compromissos desse tipo, cinco a mais que o prefeito.

Áreas centrais x outros bairros

A estratégia observada na escolha dos locais, mesmo com a considerável diferença numérica entre a quantidade de eventos dos dois pré-candidatos, mostra uma tendência de aglomeração de agendas em áreas centrais. Somando os compromissos do deputado e do prefeito, eles estiveram em 40 encontros ou solenidades nos principais bairros do Centro Histórico: Sé e República.

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“Eles concentram os eventos em regiões com potencial de disseminação de informação. As pessoas formam suas preferências sobre voto onde circulam, no trabalho, onde estudam, e não necessariamente onde votam”, explicou a professora de ciência política e coordenadora do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (Lappcom), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart.

“Às vezes, é mais eficaz fazer uma atuação onde você concentra pessoas que se deslocam, que passam por aqueles espaços, ou mesmo que tem mais repercussão na mídia caso sejam feitos lá, do que fazer um evento de campanha num bairro mais isolado”, disse.

Ricardo Nunes em visita a obras no córrego Guaratiba, no Parque Central, em 3 de maio Foto: Divulgação/Secom/Prefeitura de São Paulo

Apesar de as áreas com maior densidade populacional serem estratégicas, outras regiões da cidade são consideradas essenciais para aumentar a capilaridade das campanhas. As lideranças locais “emprestam” popularidade e prestígio aos pré-candidatos, aumentando o acesso deles a determinados territórios. “Embora, em São Paulo, por ser uma megalópole, seja grande a influência dos players nacionais, Lula e Bolsonaro, a gente ainda tem uma ênfase nessas elites políticas territoriais de bairro”, avaliou Mayra.

Desempenho nas últimas eleições e intenções de voto

O Estadão analisou a votação dos dois pré-candidatos no último pleito em que concorreram. Boulos disputou uma vaga na Câmara dos Deputados em 2022, sendo eleito com 1 milhão de votos, 490 mil deles na cidade de São Paulo. No caso de Nunes, os dados são referentes ao pleito de 2018, quando também tentou uma vaga no Legislativo federal e não foi eleito, alcançando 47 mil votos em todo o Estado – 40 mil deles na capital. Em 2020, Nunes foi vice na chapa de Bruno Covas (PSDB), que faleceu em maio de 2021, aos 41 anos, em decorrência de câncer. Como os votos não foram nominais a Nunes, mas à chapa, essa votação não foi considerada.

Para Vinícius Alves, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e diretor da Ipespe Analítica, é natural que o atual prefeito tenha usado o período para se aproximar do eleitorado por meio de atividades tipicamente do Executivo, como inauguração de obras e anúncio de políticas públicas, principalmente porque, em 2018, concorrendo à Câmara, Nunes teve menos votos do que quando se elegeu vereador na eleição municipal anterior.

“Nunes tem a missão de se fazer mais conhecido pelo eleitorado paulistano e ele diverge do caso padrão. A vantagem do incumbente, muitas vezes, é ser conhecido da cidade inteira. Mas, na situação específica do Nunes, não é o caso. Ele não foi um campeão de voto”, analisou, considerando a priorização em locais para inauguração de obras da Prefeitura.

No caso de Boulos, que nas eleições de 2022 ganhou projeção nacional, a estratégia é fortalecer sua base nos lugares em que já teve uma boa votação e ampliar as alianças políticas, além de aglutinar novas lideranças partidárias para fortalecer a competitividade da campanha dele, explica Alves. Os eventos classificados como “social”, cerca de 70% da agenda, dão indicativos de que Boulos caminha para consolidar esses apoios que renderam a ele uma votação expressiva como deputado federal.

Deputado Federal Guilherme Boulos ao discursar durante cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Campus Zona Leste da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na presença do presidente Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin Foto: Ricardo Stuckert/PR

Sobre votos que cada um recebeu na cidade de São Paulo, Mayra Goulart diz que os pré-candidatos têm perfis de atuação política distintos. Enquanto Boulos apresenta votação mais dispersa, Nunes concentra votos na zona sul.

Para a professora, o perfil de Boulos indica maior conexão com minorias e se relaciona com dinâmicas de formação da opinião. “Um candidato com voto mais disperso, ou ‘de opinião’, é aquele que consegue atrair um determinado perfil de eleitor em localidades distintas. Isso demanda disseminação de informação para conseguir achar esse tipo de eleitor com esse perfil e se conectar com ele”, explicou.

No caso de Nunes, a concentração em uma área específica aponta, segundo Mayra, o perfil de político “territorial”. Nesses casos, o engajamento vem de forma mais direta de uma localidade específica do que por meio de bandeiras e causas. “Nessas zonas com um perfil mais popular, a atuação com perfil territorial ganha destaque, tendo em vista a menor conexão desse perfil de eleitor com veículos de disseminação de informação, como jornal ou redes sociais. É um eleitor que é mais atingido por campanhas e atos de campanha.”

Em 2018, o prefeito teve 7,05% dos votos da zona eleitoral de Parelheiros, que compreende o bairro que ele mais visitou durante o período analisado. Na localidade, o emedebista obteve a votação mais expressiva na cidade naquela eleição.

O mapa da eleição municipal deste ano, entretanto, tende a mudar essa concentração, e ter a variável “disseminação de informação” como ponto central na distribuição dos votos. “No caso do Nunes, porque ele ocupa um cargo majoritário agora, o nome dele está sempre na mídia, essa informação está ventilando e isso vai certamente favorecer uma dispersão muito maior nesta eleição do que na anterior”, afirmou a professora.

Segundo o levantamento mais recente do Datafolha, Boulos e Nunes seguem empatados tecnicamente, em um cenário que sofreu pouca alteração desde março deste ano. Na primeira pesquisa do instituto sobre a corrida eleitoral paulistana, em agosto de 2023, Boulos tinha 32% das intenções de voto, enquanto Nunes, 24%. Em julho, o emedebista segue com os mesmos 24%, frente a 23% de psolista.

Alves avalia ser complexo medir uma possível correlação entre os eventos de pré-campanha dos políticos com o eventual desempenho deles nas pesquisas. No entanto, a frequência dos eventos de Nunes, quando levada em consideração o histórico das intenções de voto quase perene e a chegada de novos pré-candidatos que disputam o mesmo espectro político, pode indicar que ele dificultou o avanço desses novos postulantes, avalia o pesquisador.

“Se esses novos candidatos não estivessem presentes, talvez Nunes poderia ter crescido um pouco mais. Mas ele está ali garantindo o lugar dele, quando ele intensifica a campanha, ele fica muito presente e dificulta a vida de quem está querendo disputar esse eleitorado”, disse.

Nota de Guilherme Boulos na íntegra

Durante o período de março a julho, Guilherme Boulos e sua vice Marta Suplicy percorreram todas as regiões da cidade de São Paulo, encontraram-se com lideranças locais e ouviram moradores e lideranças comunitárias sobre os principais desafios que enfrentam no cotidiano da cidade.

Além disso, desde o fim do ano passado, a pré-campanha realizou as Plenárias Salve São Paulo, com foco nas periferias. O programa de governo também foi construído com participação popular, em plenárias abertas ao público a partir de março. Considerando as plenárias nas periferias e do programa de governo, mais de 15 mil pessoas contribuíram com diagnóstico e propostas. Assim, é equivocada a ideia de que a agenda de Boulos tenha se concentrado na região central ou que haja baixo diálogo e presença nas periferias.

Cabe ressaltar que, durante esse período, Boulos cumpriu a agenda parlamentar em Brasília, semanalmente de terça a quinta-feira.

Agora, a agenda de Guilherme Boulos segue a legislação eleitoral, diferentemente do atual prefeito, que usa a máquina pública em inaugurações de obras eleitoreiras para se autopromover e fazer campanha.

Nota de Ricardo Nunes na íntegra

A Prefeitura de São Paulo informa que atua em todas as regiões da cidade para atender as mais diferentes necessidades da população. Assim como houve 11 agendas oficiais em Parelheiros no período abordado pela reportagem, também foram cumpridos 23 compromissos no distrito do Butantã, 17 em Pinheiros, 12 na Casa Verde, 11 na Mooca e 10 em São Miguel Paulista, entre outros. Além disso, diversas outras agendas foram realizadas em toda a capital, contemplando ações, obras e programas da gestão. Portanto, é subjetiva e descabida qualquer análise que aponte outra motivação para os compromissos oficiais que não seja o interesse público em benefício da população.

A cada quatro agendas que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) cumpriu para se aproximar do eleitorado de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) promoveu dez. Em quatro meses, Nunes, que concorre em outubro a mais um mandato na Prefeitura, realizou 229 agendadas externas pela cidade, enquanto seu principal oponente, Boulos, esteve nas ruas da capital 86 vezes em eventos de pré-campanha.

Levantamento do Estadão mostra que as equipes optaram pelas regiões mais centrais da cidade nesse primeiro momento de pré-campanha – considerando Sé e República. A reportagem analisou todas as agendas públicas dos líderes nas pesquisas eleitorais entre os dias 7 de março e 6 de julho.

Além desses locais, Nunes esteve mais vezes no bairro Parelheiros, zona sul, onde o emedebista concentra seu reduto eleitoral, totalizando 11 visitas no período. Já Boulos realizou mais eventos em Pinheiros, bairro onde nasceu, somando sete.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos concorrem à Prefeitura de São Paulo Foto: Taba Benedicto e Felipe Rau/Estadão

Procurado pelo Estadão, Boulos disse que é “equivocada a ideia de que sua agenda tenha se concentrado na região central” e ressaltou que cumpriu compromissos parlamentares em Brasília, semanalmente, de terça à quinta-feira. À reportagem, Nunes afirmou que esteve mais vezes em outros distritos – territórios formados por mais de um bairro – do que em Parelheiros e disse que cumpriu compromissos oficiais em “benefício da população”.

Embora as campanhas estejam cada vez mais centradas nas redes sociais, o corpo a corpo com os eleitores continua sendo um ponto importante para aproximar os candidatos da população. A concentração dos compromissos de rua em áreas centrais e de maior circulação é vista por especialistas como uma estratégia para alcançar maior parcela do eleitorado, uma vez que são locais onde as pessoas trabalham ou estudam e com mais destaque na imprensa.

Os caminhos percorridos pelos dois pré-candidatos no período destacam ainda as diferenças de planejamento das equipes de PSOL e MDB. Enquanto Nunes usa a posição de prefeito para tornar sua imagem mais popular na cidade, Boulos tenta aprofundar e expandir alianças partidárias, avaliam os especialistas ouvidos pelo Estadão.

As agendas do deputado e do prefeito foram categorizadas como: inauguração ou anúncio de obra, partidário, política pública, social ou visita à obra. No caso de Nunes, foram desconsiderados todos os compromissos cumpridos dentro da Prefeitura e aqueles em que o prefeito esteve representado, enquanto autoridade, o Poder Executivo municipal, que contaram com integrantes dos outros Poderes – como sessões solenes de entrega de homenagens. Do lado de Boulos, foram consideradas somente agendas cumpridas na capital paulista.

O foco do prefeito foram vistorias e entregas de obras em bairros, principalmente em eventos do programa “Prefeitura Presente”. Às quintas-feiras, Nunes escolhia uma região para percorrer e participar de encontros – o que é vedado a partir de agora pela legislação eleitoral. Nos últimos quatro meses, foram 107 inaugurações de obras e 28 visitas a construções e restauros, além de dez anúncios de novos projetos de infraestrutura.

Conforme o calendário eleitoral estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de outubro, a partir de 6 de julho, os pré-candidatos ficaram proibidos por lei de promoverem ou participarem de inauguração de obras pagas com dinheiro público. O período oficial da campanha começa em 16 de agosto, data que marca o início oficial da propaganda eleitoral, estabelecido pela Justiça Eleitoral.

Já a agenda de Boulos, que passa parte da semana em Brasília onde cumpre mandato na Câmara dos Deputados, foi voltada para eventos sociais, como visitas a associações de moradores e encontros com estudantes e categorias de trabalhadores, além daqueles de caráter partidário, como filiações, lançamentos de pré-candidaturas de vereadores do partido e eventos em que dividiu o palanque com o padrinho político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde março, foram três agendas públicas em São Paulo com a presença do presidente.

O número absoluto de agendas de Nunes, 2,6 vezes maior que as de Boulos, está ligado às categorias que remetem à função Executiva que ele ocupa. Quando excluídos eventos de políticas públicas e de inaugurações, anúncios e visitas a obras, o prefeito fica com 55 agendas em sua lista. Na categoria “social”, por exemplo, Boulos esteve presente em 60 compromissos desse tipo, cinco a mais que o prefeito.

Áreas centrais x outros bairros

A estratégia observada na escolha dos locais, mesmo com a considerável diferença numérica entre a quantidade de eventos dos dois pré-candidatos, mostra uma tendência de aglomeração de agendas em áreas centrais. Somando os compromissos do deputado e do prefeito, eles estiveram em 40 encontros ou solenidades nos principais bairros do Centro Histórico: Sé e República.

“Eles concentram os eventos em regiões com potencial de disseminação de informação. As pessoas formam suas preferências sobre voto onde circulam, no trabalho, onde estudam, e não necessariamente onde votam”, explicou a professora de ciência política e coordenadora do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (Lappcom), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart.

“Às vezes, é mais eficaz fazer uma atuação onde você concentra pessoas que se deslocam, que passam por aqueles espaços, ou mesmo que tem mais repercussão na mídia caso sejam feitos lá, do que fazer um evento de campanha num bairro mais isolado”, disse.

Ricardo Nunes em visita a obras no córrego Guaratiba, no Parque Central, em 3 de maio Foto: Divulgação/Secom/Prefeitura de São Paulo

Apesar de as áreas com maior densidade populacional serem estratégicas, outras regiões da cidade são consideradas essenciais para aumentar a capilaridade das campanhas. As lideranças locais “emprestam” popularidade e prestígio aos pré-candidatos, aumentando o acesso deles a determinados territórios. “Embora, em São Paulo, por ser uma megalópole, seja grande a influência dos players nacionais, Lula e Bolsonaro, a gente ainda tem uma ênfase nessas elites políticas territoriais de bairro”, avaliou Mayra.

Desempenho nas últimas eleições e intenções de voto

O Estadão analisou a votação dos dois pré-candidatos no último pleito em que concorreram. Boulos disputou uma vaga na Câmara dos Deputados em 2022, sendo eleito com 1 milhão de votos, 490 mil deles na cidade de São Paulo. No caso de Nunes, os dados são referentes ao pleito de 2018, quando também tentou uma vaga no Legislativo federal e não foi eleito, alcançando 47 mil votos em todo o Estado – 40 mil deles na capital. Em 2020, Nunes foi vice na chapa de Bruno Covas (PSDB), que faleceu em maio de 2021, aos 41 anos, em decorrência de câncer. Como os votos não foram nominais a Nunes, mas à chapa, essa votação não foi considerada.

Para Vinícius Alves, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e diretor da Ipespe Analítica, é natural que o atual prefeito tenha usado o período para se aproximar do eleitorado por meio de atividades tipicamente do Executivo, como inauguração de obras e anúncio de políticas públicas, principalmente porque, em 2018, concorrendo à Câmara, Nunes teve menos votos do que quando se elegeu vereador na eleição municipal anterior.

“Nunes tem a missão de se fazer mais conhecido pelo eleitorado paulistano e ele diverge do caso padrão. A vantagem do incumbente, muitas vezes, é ser conhecido da cidade inteira. Mas, na situação específica do Nunes, não é o caso. Ele não foi um campeão de voto”, analisou, considerando a priorização em locais para inauguração de obras da Prefeitura.

No caso de Boulos, que nas eleições de 2022 ganhou projeção nacional, a estratégia é fortalecer sua base nos lugares em que já teve uma boa votação e ampliar as alianças políticas, além de aglutinar novas lideranças partidárias para fortalecer a competitividade da campanha dele, explica Alves. Os eventos classificados como “social”, cerca de 70% da agenda, dão indicativos de que Boulos caminha para consolidar esses apoios que renderam a ele uma votação expressiva como deputado federal.

Deputado Federal Guilherme Boulos ao discursar durante cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Campus Zona Leste da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na presença do presidente Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin Foto: Ricardo Stuckert/PR

Sobre votos que cada um recebeu na cidade de São Paulo, Mayra Goulart diz que os pré-candidatos têm perfis de atuação política distintos. Enquanto Boulos apresenta votação mais dispersa, Nunes concentra votos na zona sul.

Para a professora, o perfil de Boulos indica maior conexão com minorias e se relaciona com dinâmicas de formação da opinião. “Um candidato com voto mais disperso, ou ‘de opinião’, é aquele que consegue atrair um determinado perfil de eleitor em localidades distintas. Isso demanda disseminação de informação para conseguir achar esse tipo de eleitor com esse perfil e se conectar com ele”, explicou.

No caso de Nunes, a concentração em uma área específica aponta, segundo Mayra, o perfil de político “territorial”. Nesses casos, o engajamento vem de forma mais direta de uma localidade específica do que por meio de bandeiras e causas. “Nessas zonas com um perfil mais popular, a atuação com perfil territorial ganha destaque, tendo em vista a menor conexão desse perfil de eleitor com veículos de disseminação de informação, como jornal ou redes sociais. É um eleitor que é mais atingido por campanhas e atos de campanha.”

Em 2018, o prefeito teve 7,05% dos votos da zona eleitoral de Parelheiros, que compreende o bairro que ele mais visitou durante o período analisado. Na localidade, o emedebista obteve a votação mais expressiva na cidade naquela eleição.

O mapa da eleição municipal deste ano, entretanto, tende a mudar essa concentração, e ter a variável “disseminação de informação” como ponto central na distribuição dos votos. “No caso do Nunes, porque ele ocupa um cargo majoritário agora, o nome dele está sempre na mídia, essa informação está ventilando e isso vai certamente favorecer uma dispersão muito maior nesta eleição do que na anterior”, afirmou a professora.

Segundo o levantamento mais recente do Datafolha, Boulos e Nunes seguem empatados tecnicamente, em um cenário que sofreu pouca alteração desde março deste ano. Na primeira pesquisa do instituto sobre a corrida eleitoral paulistana, em agosto de 2023, Boulos tinha 32% das intenções de voto, enquanto Nunes, 24%. Em julho, o emedebista segue com os mesmos 24%, frente a 23% de psolista.

Alves avalia ser complexo medir uma possível correlação entre os eventos de pré-campanha dos políticos com o eventual desempenho deles nas pesquisas. No entanto, a frequência dos eventos de Nunes, quando levada em consideração o histórico das intenções de voto quase perene e a chegada de novos pré-candidatos que disputam o mesmo espectro político, pode indicar que ele dificultou o avanço desses novos postulantes, avalia o pesquisador.

“Se esses novos candidatos não estivessem presentes, talvez Nunes poderia ter crescido um pouco mais. Mas ele está ali garantindo o lugar dele, quando ele intensifica a campanha, ele fica muito presente e dificulta a vida de quem está querendo disputar esse eleitorado”, disse.

Nota de Guilherme Boulos na íntegra

Durante o período de março a julho, Guilherme Boulos e sua vice Marta Suplicy percorreram todas as regiões da cidade de São Paulo, encontraram-se com lideranças locais e ouviram moradores e lideranças comunitárias sobre os principais desafios que enfrentam no cotidiano da cidade.

Além disso, desde o fim do ano passado, a pré-campanha realizou as Plenárias Salve São Paulo, com foco nas periferias. O programa de governo também foi construído com participação popular, em plenárias abertas ao público a partir de março. Considerando as plenárias nas periferias e do programa de governo, mais de 15 mil pessoas contribuíram com diagnóstico e propostas. Assim, é equivocada a ideia de que a agenda de Boulos tenha se concentrado na região central ou que haja baixo diálogo e presença nas periferias.

Cabe ressaltar que, durante esse período, Boulos cumpriu a agenda parlamentar em Brasília, semanalmente de terça a quinta-feira.

Agora, a agenda de Guilherme Boulos segue a legislação eleitoral, diferentemente do atual prefeito, que usa a máquina pública em inaugurações de obras eleitoreiras para se autopromover e fazer campanha.

Nota de Ricardo Nunes na íntegra

A Prefeitura de São Paulo informa que atua em todas as regiões da cidade para atender as mais diferentes necessidades da população. Assim como houve 11 agendas oficiais em Parelheiros no período abordado pela reportagem, também foram cumpridos 23 compromissos no distrito do Butantã, 17 em Pinheiros, 12 na Casa Verde, 11 na Mooca e 10 em São Miguel Paulista, entre outros. Além disso, diversas outras agendas foram realizadas em toda a capital, contemplando ações, obras e programas da gestão. Portanto, é subjetiva e descabida qualquer análise que aponte outra motivação para os compromissos oficiais que não seja o interesse público em benefício da população.

A cada quatro agendas que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) cumpriu para se aproximar do eleitorado de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) promoveu dez. Em quatro meses, Nunes, que concorre em outubro a mais um mandato na Prefeitura, realizou 229 agendadas externas pela cidade, enquanto seu principal oponente, Boulos, esteve nas ruas da capital 86 vezes em eventos de pré-campanha.

Levantamento do Estadão mostra que as equipes optaram pelas regiões mais centrais da cidade nesse primeiro momento de pré-campanha – considerando Sé e República. A reportagem analisou todas as agendas públicas dos líderes nas pesquisas eleitorais entre os dias 7 de março e 6 de julho.

Além desses locais, Nunes esteve mais vezes no bairro Parelheiros, zona sul, onde o emedebista concentra seu reduto eleitoral, totalizando 11 visitas no período. Já Boulos realizou mais eventos em Pinheiros, bairro onde nasceu, somando sete.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos concorrem à Prefeitura de São Paulo Foto: Taba Benedicto e Felipe Rau/Estadão

Procurado pelo Estadão, Boulos disse que é “equivocada a ideia de que sua agenda tenha se concentrado na região central” e ressaltou que cumpriu compromissos parlamentares em Brasília, semanalmente, de terça à quinta-feira. À reportagem, Nunes afirmou que esteve mais vezes em outros distritos – territórios formados por mais de um bairro – do que em Parelheiros e disse que cumpriu compromissos oficiais em “benefício da população”.

Embora as campanhas estejam cada vez mais centradas nas redes sociais, o corpo a corpo com os eleitores continua sendo um ponto importante para aproximar os candidatos da população. A concentração dos compromissos de rua em áreas centrais e de maior circulação é vista por especialistas como uma estratégia para alcançar maior parcela do eleitorado, uma vez que são locais onde as pessoas trabalham ou estudam e com mais destaque na imprensa.

Os caminhos percorridos pelos dois pré-candidatos no período destacam ainda as diferenças de planejamento das equipes de PSOL e MDB. Enquanto Nunes usa a posição de prefeito para tornar sua imagem mais popular na cidade, Boulos tenta aprofundar e expandir alianças partidárias, avaliam os especialistas ouvidos pelo Estadão.

As agendas do deputado e do prefeito foram categorizadas como: inauguração ou anúncio de obra, partidário, política pública, social ou visita à obra. No caso de Nunes, foram desconsiderados todos os compromissos cumpridos dentro da Prefeitura e aqueles em que o prefeito esteve representado, enquanto autoridade, o Poder Executivo municipal, que contaram com integrantes dos outros Poderes – como sessões solenes de entrega de homenagens. Do lado de Boulos, foram consideradas somente agendas cumpridas na capital paulista.

O foco do prefeito foram vistorias e entregas de obras em bairros, principalmente em eventos do programa “Prefeitura Presente”. Às quintas-feiras, Nunes escolhia uma região para percorrer e participar de encontros – o que é vedado a partir de agora pela legislação eleitoral. Nos últimos quatro meses, foram 107 inaugurações de obras e 28 visitas a construções e restauros, além de dez anúncios de novos projetos de infraestrutura.

Conforme o calendário eleitoral estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de outubro, a partir de 6 de julho, os pré-candidatos ficaram proibidos por lei de promoverem ou participarem de inauguração de obras pagas com dinheiro público. O período oficial da campanha começa em 16 de agosto, data que marca o início oficial da propaganda eleitoral, estabelecido pela Justiça Eleitoral.

Já a agenda de Boulos, que passa parte da semana em Brasília onde cumpre mandato na Câmara dos Deputados, foi voltada para eventos sociais, como visitas a associações de moradores e encontros com estudantes e categorias de trabalhadores, além daqueles de caráter partidário, como filiações, lançamentos de pré-candidaturas de vereadores do partido e eventos em que dividiu o palanque com o padrinho político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde março, foram três agendas públicas em São Paulo com a presença do presidente.

O número absoluto de agendas de Nunes, 2,6 vezes maior que as de Boulos, está ligado às categorias que remetem à função Executiva que ele ocupa. Quando excluídos eventos de políticas públicas e de inaugurações, anúncios e visitas a obras, o prefeito fica com 55 agendas em sua lista. Na categoria “social”, por exemplo, Boulos esteve presente em 60 compromissos desse tipo, cinco a mais que o prefeito.

Áreas centrais x outros bairros

A estratégia observada na escolha dos locais, mesmo com a considerável diferença numérica entre a quantidade de eventos dos dois pré-candidatos, mostra uma tendência de aglomeração de agendas em áreas centrais. Somando os compromissos do deputado e do prefeito, eles estiveram em 40 encontros ou solenidades nos principais bairros do Centro Histórico: Sé e República.

“Eles concentram os eventos em regiões com potencial de disseminação de informação. As pessoas formam suas preferências sobre voto onde circulam, no trabalho, onde estudam, e não necessariamente onde votam”, explicou a professora de ciência política e coordenadora do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (Lappcom), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart.

“Às vezes, é mais eficaz fazer uma atuação onde você concentra pessoas que se deslocam, que passam por aqueles espaços, ou mesmo que tem mais repercussão na mídia caso sejam feitos lá, do que fazer um evento de campanha num bairro mais isolado”, disse.

Ricardo Nunes em visita a obras no córrego Guaratiba, no Parque Central, em 3 de maio Foto: Divulgação/Secom/Prefeitura de São Paulo

Apesar de as áreas com maior densidade populacional serem estratégicas, outras regiões da cidade são consideradas essenciais para aumentar a capilaridade das campanhas. As lideranças locais “emprestam” popularidade e prestígio aos pré-candidatos, aumentando o acesso deles a determinados territórios. “Embora, em São Paulo, por ser uma megalópole, seja grande a influência dos players nacionais, Lula e Bolsonaro, a gente ainda tem uma ênfase nessas elites políticas territoriais de bairro”, avaliou Mayra.

Desempenho nas últimas eleições e intenções de voto

O Estadão analisou a votação dos dois pré-candidatos no último pleito em que concorreram. Boulos disputou uma vaga na Câmara dos Deputados em 2022, sendo eleito com 1 milhão de votos, 490 mil deles na cidade de São Paulo. No caso de Nunes, os dados são referentes ao pleito de 2018, quando também tentou uma vaga no Legislativo federal e não foi eleito, alcançando 47 mil votos em todo o Estado – 40 mil deles na capital. Em 2020, Nunes foi vice na chapa de Bruno Covas (PSDB), que faleceu em maio de 2021, aos 41 anos, em decorrência de câncer. Como os votos não foram nominais a Nunes, mas à chapa, essa votação não foi considerada.

Para Vinícius Alves, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e diretor da Ipespe Analítica, é natural que o atual prefeito tenha usado o período para se aproximar do eleitorado por meio de atividades tipicamente do Executivo, como inauguração de obras e anúncio de políticas públicas, principalmente porque, em 2018, concorrendo à Câmara, Nunes teve menos votos do que quando se elegeu vereador na eleição municipal anterior.

“Nunes tem a missão de se fazer mais conhecido pelo eleitorado paulistano e ele diverge do caso padrão. A vantagem do incumbente, muitas vezes, é ser conhecido da cidade inteira. Mas, na situação específica do Nunes, não é o caso. Ele não foi um campeão de voto”, analisou, considerando a priorização em locais para inauguração de obras da Prefeitura.

No caso de Boulos, que nas eleições de 2022 ganhou projeção nacional, a estratégia é fortalecer sua base nos lugares em que já teve uma boa votação e ampliar as alianças políticas, além de aglutinar novas lideranças partidárias para fortalecer a competitividade da campanha dele, explica Alves. Os eventos classificados como “social”, cerca de 70% da agenda, dão indicativos de que Boulos caminha para consolidar esses apoios que renderam a ele uma votação expressiva como deputado federal.

Deputado Federal Guilherme Boulos ao discursar durante cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Campus Zona Leste da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na presença do presidente Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin Foto: Ricardo Stuckert/PR

Sobre votos que cada um recebeu na cidade de São Paulo, Mayra Goulart diz que os pré-candidatos têm perfis de atuação política distintos. Enquanto Boulos apresenta votação mais dispersa, Nunes concentra votos na zona sul.

Para a professora, o perfil de Boulos indica maior conexão com minorias e se relaciona com dinâmicas de formação da opinião. “Um candidato com voto mais disperso, ou ‘de opinião’, é aquele que consegue atrair um determinado perfil de eleitor em localidades distintas. Isso demanda disseminação de informação para conseguir achar esse tipo de eleitor com esse perfil e se conectar com ele”, explicou.

No caso de Nunes, a concentração em uma área específica aponta, segundo Mayra, o perfil de político “territorial”. Nesses casos, o engajamento vem de forma mais direta de uma localidade específica do que por meio de bandeiras e causas. “Nessas zonas com um perfil mais popular, a atuação com perfil territorial ganha destaque, tendo em vista a menor conexão desse perfil de eleitor com veículos de disseminação de informação, como jornal ou redes sociais. É um eleitor que é mais atingido por campanhas e atos de campanha.”

Em 2018, o prefeito teve 7,05% dos votos da zona eleitoral de Parelheiros, que compreende o bairro que ele mais visitou durante o período analisado. Na localidade, o emedebista obteve a votação mais expressiva na cidade naquela eleição.

O mapa da eleição municipal deste ano, entretanto, tende a mudar essa concentração, e ter a variável “disseminação de informação” como ponto central na distribuição dos votos. “No caso do Nunes, porque ele ocupa um cargo majoritário agora, o nome dele está sempre na mídia, essa informação está ventilando e isso vai certamente favorecer uma dispersão muito maior nesta eleição do que na anterior”, afirmou a professora.

Segundo o levantamento mais recente do Datafolha, Boulos e Nunes seguem empatados tecnicamente, em um cenário que sofreu pouca alteração desde março deste ano. Na primeira pesquisa do instituto sobre a corrida eleitoral paulistana, em agosto de 2023, Boulos tinha 32% das intenções de voto, enquanto Nunes, 24%. Em julho, o emedebista segue com os mesmos 24%, frente a 23% de psolista.

Alves avalia ser complexo medir uma possível correlação entre os eventos de pré-campanha dos políticos com o eventual desempenho deles nas pesquisas. No entanto, a frequência dos eventos de Nunes, quando levada em consideração o histórico das intenções de voto quase perene e a chegada de novos pré-candidatos que disputam o mesmo espectro político, pode indicar que ele dificultou o avanço desses novos postulantes, avalia o pesquisador.

“Se esses novos candidatos não estivessem presentes, talvez Nunes poderia ter crescido um pouco mais. Mas ele está ali garantindo o lugar dele, quando ele intensifica a campanha, ele fica muito presente e dificulta a vida de quem está querendo disputar esse eleitorado”, disse.

Nota de Guilherme Boulos na íntegra

Durante o período de março a julho, Guilherme Boulos e sua vice Marta Suplicy percorreram todas as regiões da cidade de São Paulo, encontraram-se com lideranças locais e ouviram moradores e lideranças comunitárias sobre os principais desafios que enfrentam no cotidiano da cidade.

Além disso, desde o fim do ano passado, a pré-campanha realizou as Plenárias Salve São Paulo, com foco nas periferias. O programa de governo também foi construído com participação popular, em plenárias abertas ao público a partir de março. Considerando as plenárias nas periferias e do programa de governo, mais de 15 mil pessoas contribuíram com diagnóstico e propostas. Assim, é equivocada a ideia de que a agenda de Boulos tenha se concentrado na região central ou que haja baixo diálogo e presença nas periferias.

Cabe ressaltar que, durante esse período, Boulos cumpriu a agenda parlamentar em Brasília, semanalmente de terça a quinta-feira.

Agora, a agenda de Guilherme Boulos segue a legislação eleitoral, diferentemente do atual prefeito, que usa a máquina pública em inaugurações de obras eleitoreiras para se autopromover e fazer campanha.

Nota de Ricardo Nunes na íntegra

A Prefeitura de São Paulo informa que atua em todas as regiões da cidade para atender as mais diferentes necessidades da população. Assim como houve 11 agendas oficiais em Parelheiros no período abordado pela reportagem, também foram cumpridos 23 compromissos no distrito do Butantã, 17 em Pinheiros, 12 na Casa Verde, 11 na Mooca e 10 em São Miguel Paulista, entre outros. Além disso, diversas outras agendas foram realizadas em toda a capital, contemplando ações, obras e programas da gestão. Portanto, é subjetiva e descabida qualquer análise que aponte outra motivação para os compromissos oficiais que não seja o interesse público em benefício da população.

A cada quatro agendas que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) cumpriu para se aproximar do eleitorado de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) promoveu dez. Em quatro meses, Nunes, que concorre em outubro a mais um mandato na Prefeitura, realizou 229 agendadas externas pela cidade, enquanto seu principal oponente, Boulos, esteve nas ruas da capital 86 vezes em eventos de pré-campanha.

Levantamento do Estadão mostra que as equipes optaram pelas regiões mais centrais da cidade nesse primeiro momento de pré-campanha – considerando Sé e República. A reportagem analisou todas as agendas públicas dos líderes nas pesquisas eleitorais entre os dias 7 de março e 6 de julho.

Além desses locais, Nunes esteve mais vezes no bairro Parelheiros, zona sul, onde o emedebista concentra seu reduto eleitoral, totalizando 11 visitas no período. Já Boulos realizou mais eventos em Pinheiros, bairro onde nasceu, somando sete.

Ricardo Nunes e Guilherme Boulos concorrem à Prefeitura de São Paulo Foto: Taba Benedicto e Felipe Rau/Estadão

Procurado pelo Estadão, Boulos disse que é “equivocada a ideia de que sua agenda tenha se concentrado na região central” e ressaltou que cumpriu compromissos parlamentares em Brasília, semanalmente, de terça à quinta-feira. À reportagem, Nunes afirmou que esteve mais vezes em outros distritos – territórios formados por mais de um bairro – do que em Parelheiros e disse que cumpriu compromissos oficiais em “benefício da população”.

Embora as campanhas estejam cada vez mais centradas nas redes sociais, o corpo a corpo com os eleitores continua sendo um ponto importante para aproximar os candidatos da população. A concentração dos compromissos de rua em áreas centrais e de maior circulação é vista por especialistas como uma estratégia para alcançar maior parcela do eleitorado, uma vez que são locais onde as pessoas trabalham ou estudam e com mais destaque na imprensa.

Os caminhos percorridos pelos dois pré-candidatos no período destacam ainda as diferenças de planejamento das equipes de PSOL e MDB. Enquanto Nunes usa a posição de prefeito para tornar sua imagem mais popular na cidade, Boulos tenta aprofundar e expandir alianças partidárias, avaliam os especialistas ouvidos pelo Estadão.

As agendas do deputado e do prefeito foram categorizadas como: inauguração ou anúncio de obra, partidário, política pública, social ou visita à obra. No caso de Nunes, foram desconsiderados todos os compromissos cumpridos dentro da Prefeitura e aqueles em que o prefeito esteve representado, enquanto autoridade, o Poder Executivo municipal, que contaram com integrantes dos outros Poderes – como sessões solenes de entrega de homenagens. Do lado de Boulos, foram consideradas somente agendas cumpridas na capital paulista.

O foco do prefeito foram vistorias e entregas de obras em bairros, principalmente em eventos do programa “Prefeitura Presente”. Às quintas-feiras, Nunes escolhia uma região para percorrer e participar de encontros – o que é vedado a partir de agora pela legislação eleitoral. Nos últimos quatro meses, foram 107 inaugurações de obras e 28 visitas a construções e restauros, além de dez anúncios de novos projetos de infraestrutura.

Conforme o calendário eleitoral estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de outubro, a partir de 6 de julho, os pré-candidatos ficaram proibidos por lei de promoverem ou participarem de inauguração de obras pagas com dinheiro público. O período oficial da campanha começa em 16 de agosto, data que marca o início oficial da propaganda eleitoral, estabelecido pela Justiça Eleitoral.

Já a agenda de Boulos, que passa parte da semana em Brasília onde cumpre mandato na Câmara dos Deputados, foi voltada para eventos sociais, como visitas a associações de moradores e encontros com estudantes e categorias de trabalhadores, além daqueles de caráter partidário, como filiações, lançamentos de pré-candidaturas de vereadores do partido e eventos em que dividiu o palanque com o padrinho político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde março, foram três agendas públicas em São Paulo com a presença do presidente.

O número absoluto de agendas de Nunes, 2,6 vezes maior que as de Boulos, está ligado às categorias que remetem à função Executiva que ele ocupa. Quando excluídos eventos de políticas públicas e de inaugurações, anúncios e visitas a obras, o prefeito fica com 55 agendas em sua lista. Na categoria “social”, por exemplo, Boulos esteve presente em 60 compromissos desse tipo, cinco a mais que o prefeito.

Áreas centrais x outros bairros

A estratégia observada na escolha dos locais, mesmo com a considerável diferença numérica entre a quantidade de eventos dos dois pré-candidatos, mostra uma tendência de aglomeração de agendas em áreas centrais. Somando os compromissos do deputado e do prefeito, eles estiveram em 40 encontros ou solenidades nos principais bairros do Centro Histórico: Sé e República.

“Eles concentram os eventos em regiões com potencial de disseminação de informação. As pessoas formam suas preferências sobre voto onde circulam, no trabalho, onde estudam, e não necessariamente onde votam”, explicou a professora de ciência política e coordenadora do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (Lappcom), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart.

“Às vezes, é mais eficaz fazer uma atuação onde você concentra pessoas que se deslocam, que passam por aqueles espaços, ou mesmo que tem mais repercussão na mídia caso sejam feitos lá, do que fazer um evento de campanha num bairro mais isolado”, disse.

Ricardo Nunes em visita a obras no córrego Guaratiba, no Parque Central, em 3 de maio Foto: Divulgação/Secom/Prefeitura de São Paulo

Apesar de as áreas com maior densidade populacional serem estratégicas, outras regiões da cidade são consideradas essenciais para aumentar a capilaridade das campanhas. As lideranças locais “emprestam” popularidade e prestígio aos pré-candidatos, aumentando o acesso deles a determinados territórios. “Embora, em São Paulo, por ser uma megalópole, seja grande a influência dos players nacionais, Lula e Bolsonaro, a gente ainda tem uma ênfase nessas elites políticas territoriais de bairro”, avaliou Mayra.

Desempenho nas últimas eleições e intenções de voto

O Estadão analisou a votação dos dois pré-candidatos no último pleito em que concorreram. Boulos disputou uma vaga na Câmara dos Deputados em 2022, sendo eleito com 1 milhão de votos, 490 mil deles na cidade de São Paulo. No caso de Nunes, os dados são referentes ao pleito de 2018, quando também tentou uma vaga no Legislativo federal e não foi eleito, alcançando 47 mil votos em todo o Estado – 40 mil deles na capital. Em 2020, Nunes foi vice na chapa de Bruno Covas (PSDB), que faleceu em maio de 2021, aos 41 anos, em decorrência de câncer. Como os votos não foram nominais a Nunes, mas à chapa, essa votação não foi considerada.

Para Vinícius Alves, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e diretor da Ipespe Analítica, é natural que o atual prefeito tenha usado o período para se aproximar do eleitorado por meio de atividades tipicamente do Executivo, como inauguração de obras e anúncio de políticas públicas, principalmente porque, em 2018, concorrendo à Câmara, Nunes teve menos votos do que quando se elegeu vereador na eleição municipal anterior.

“Nunes tem a missão de se fazer mais conhecido pelo eleitorado paulistano e ele diverge do caso padrão. A vantagem do incumbente, muitas vezes, é ser conhecido da cidade inteira. Mas, na situação específica do Nunes, não é o caso. Ele não foi um campeão de voto”, analisou, considerando a priorização em locais para inauguração de obras da Prefeitura.

No caso de Boulos, que nas eleições de 2022 ganhou projeção nacional, a estratégia é fortalecer sua base nos lugares em que já teve uma boa votação e ampliar as alianças políticas, além de aglutinar novas lideranças partidárias para fortalecer a competitividade da campanha dele, explica Alves. Os eventos classificados como “social”, cerca de 70% da agenda, dão indicativos de que Boulos caminha para consolidar esses apoios que renderam a ele uma votação expressiva como deputado federal.

Deputado Federal Guilherme Boulos ao discursar durante cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Campus Zona Leste da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na presença do presidente Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin Foto: Ricardo Stuckert/PR

Sobre votos que cada um recebeu na cidade de São Paulo, Mayra Goulart diz que os pré-candidatos têm perfis de atuação política distintos. Enquanto Boulos apresenta votação mais dispersa, Nunes concentra votos na zona sul.

Para a professora, o perfil de Boulos indica maior conexão com minorias e se relaciona com dinâmicas de formação da opinião. “Um candidato com voto mais disperso, ou ‘de opinião’, é aquele que consegue atrair um determinado perfil de eleitor em localidades distintas. Isso demanda disseminação de informação para conseguir achar esse tipo de eleitor com esse perfil e se conectar com ele”, explicou.

No caso de Nunes, a concentração em uma área específica aponta, segundo Mayra, o perfil de político “territorial”. Nesses casos, o engajamento vem de forma mais direta de uma localidade específica do que por meio de bandeiras e causas. “Nessas zonas com um perfil mais popular, a atuação com perfil territorial ganha destaque, tendo em vista a menor conexão desse perfil de eleitor com veículos de disseminação de informação, como jornal ou redes sociais. É um eleitor que é mais atingido por campanhas e atos de campanha.”

Em 2018, o prefeito teve 7,05% dos votos da zona eleitoral de Parelheiros, que compreende o bairro que ele mais visitou durante o período analisado. Na localidade, o emedebista obteve a votação mais expressiva na cidade naquela eleição.

O mapa da eleição municipal deste ano, entretanto, tende a mudar essa concentração, e ter a variável “disseminação de informação” como ponto central na distribuição dos votos. “No caso do Nunes, porque ele ocupa um cargo majoritário agora, o nome dele está sempre na mídia, essa informação está ventilando e isso vai certamente favorecer uma dispersão muito maior nesta eleição do que na anterior”, afirmou a professora.

Segundo o levantamento mais recente do Datafolha, Boulos e Nunes seguem empatados tecnicamente, em um cenário que sofreu pouca alteração desde março deste ano. Na primeira pesquisa do instituto sobre a corrida eleitoral paulistana, em agosto de 2023, Boulos tinha 32% das intenções de voto, enquanto Nunes, 24%. Em julho, o emedebista segue com os mesmos 24%, frente a 23% de psolista.

Alves avalia ser complexo medir uma possível correlação entre os eventos de pré-campanha dos políticos com o eventual desempenho deles nas pesquisas. No entanto, a frequência dos eventos de Nunes, quando levada em consideração o histórico das intenções de voto quase perene e a chegada de novos pré-candidatos que disputam o mesmo espectro político, pode indicar que ele dificultou o avanço desses novos postulantes, avalia o pesquisador.

“Se esses novos candidatos não estivessem presentes, talvez Nunes poderia ter crescido um pouco mais. Mas ele está ali garantindo o lugar dele, quando ele intensifica a campanha, ele fica muito presente e dificulta a vida de quem está querendo disputar esse eleitorado”, disse.

Nota de Guilherme Boulos na íntegra

Durante o período de março a julho, Guilherme Boulos e sua vice Marta Suplicy percorreram todas as regiões da cidade de São Paulo, encontraram-se com lideranças locais e ouviram moradores e lideranças comunitárias sobre os principais desafios que enfrentam no cotidiano da cidade.

Além disso, desde o fim do ano passado, a pré-campanha realizou as Plenárias Salve São Paulo, com foco nas periferias. O programa de governo também foi construído com participação popular, em plenárias abertas ao público a partir de março. Considerando as plenárias nas periferias e do programa de governo, mais de 15 mil pessoas contribuíram com diagnóstico e propostas. Assim, é equivocada a ideia de que a agenda de Boulos tenha se concentrado na região central ou que haja baixo diálogo e presença nas periferias.

Cabe ressaltar que, durante esse período, Boulos cumpriu a agenda parlamentar em Brasília, semanalmente de terça a quinta-feira.

Agora, a agenda de Guilherme Boulos segue a legislação eleitoral, diferentemente do atual prefeito, que usa a máquina pública em inaugurações de obras eleitoreiras para se autopromover e fazer campanha.

Nota de Ricardo Nunes na íntegra

A Prefeitura de São Paulo informa que atua em todas as regiões da cidade para atender as mais diferentes necessidades da população. Assim como houve 11 agendas oficiais em Parelheiros no período abordado pela reportagem, também foram cumpridos 23 compromissos no distrito do Butantã, 17 em Pinheiros, 12 na Casa Verde, 11 na Mooca e 10 em São Miguel Paulista, entre outros. Além disso, diversas outras agendas foram realizadas em toda a capital, contemplando ações, obras e programas da gestão. Portanto, é subjetiva e descabida qualquer análise que aponte outra motivação para os compromissos oficiais que não seja o interesse público em benefício da população.

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