A menos de cinco meses das eleições municipais de 2024, a disputa pela Prefeitura de Curitiba (PR) segue indefinida e mobiliza atores conhecidos do eleitor paranaense, incluindo ex-prefeitos da capital e ex-governadores do Estado. Segundo especialistas e lideranças partidárias ouvidas pelo Estadão, o cenário deve começar a se definir a partir da desistência do ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo) de concorrer ao cargo, anunciada no último dia 3. Pesquisas de intenção de voto realizadas até então mostravam cinco pré-candidatos embolados na corrida eleitoral.
Encerrando o segundo mandato, o prefeito Rafael Greca, do PSD, encampa a candidatura do correligionário, Eduardo Pimentel, vice-prefeito da capital desde 2017. Também do mesmo partido, o governador do Estado, Ratinho Júnior, tenta transferir o capital político ao pré-candidato. Pesquisa Genial/Quaest, divulgada no início de abril, mostrou que o chefe do Executivo estadual tem 79% de aprovação.
Pimentel aproveita a aprovação dos padrinhos políticos e, segundo um levantamento divulgado pelo instituto Paraná Pesquisas nesta terça-feira, 14, lidera nas intenções de voto com 22,9%. Em segundo lugar está o deputado federal Luciano Ducci (PSB), ex-prefeito de Curitiba, com 13,1%, seguido de perto pelo deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil). Os ex-governadores Roberto Requião (Mobiliza) e Beto Richa (PSDB) vêm na sequência, com 12,8% e 11%, respectivamente. Assim como Ducci, tanto Requião quanto Richa já ocuparam a Prefeitura da capital paranaense.
A disputa segue abaixo da faixa dos 10% com Paulo Martins, do PL, com 6,5%. Goura, deputado estadual do PDT, tem 5,4%, Cristina Graeml (PMB) tem 2,3%, Luizão Goulart (SD), 1,4%, Zeca Dirceu, deputado federal do PT, 0,8%, Samuel de Mattos (PSTU), 0,4%, e Andrea Caldas (PSOL), 0,1%. Dez por cento dos entrevistados dizem que vão votar branco ou nulo e 5,4% não sabem em quem votar.
Para Bruno Bolognesi, cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o cenário em Curitiba deve clarear, de fato, somente após as convenções partidárias, que serão realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto, já que há pré-candidatos que disputam o mesmo perfil de eleitor. “O problema é que os senões são muitos”, afirmou.
A desistência de Deltan Dallagnol modifica o tabuleiro de forças para a eleição municipal e elimina o “compasso de espera” que a dúvida sobre a participação dele colocava na disputa. Mas outros “senões” entram em cena. Os votos do ex-procurador da Lava Jato devem ser herdadas por candidatos do centro e da direita, como Eduardo Pimentel e Beto Richa. Entre os dois, segundo o professor, o ex-governador detém vantagem ante o vice da capital, por ser um nome mais conhecido do eleitor da cidade.
Ainda segundo Bolognesi, em cada caso, entretanto, há um contrapeso. Pimentel é o candidato do grupo político de Greca e Ratinho, gestores bem avaliados, o que rende potencial de votos; e, se Richa é o pré-candidato mais conhecido pelo eleitor curitibano, também tem, por enquanto, o maior índice de rejeição, segundo o Paraná Pesquisas, com 56,3%.
Já o principal entrave da pré-campanha de Ney Leprevost, segundo o professor, é ser “mais um (pré-candidato) que divide a direita e a centro-direita”, enquanto Luciano Ducci está diante de um teto estreito de um candidato apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já Paulo Martins, que também poderia angariar o espólio de Deltan, esbarra no próprio desinteresse do partido em lançá-lo como candidato.
Eduardo Pimentel (PSD)
Eduardo Pimentel é vice-prefeito de Curitiba desde 2017 e acumula o cargo de secretário estadual de Cidades. É o pré-candidato do grupo político do prefeito Greca e também tem o apoio do governador Ratinho Júnior.
O levantamento do Paraná Pesquisas de março mostrou que o apoio político pode estimular a votação em Pimentel. Segundo a pesquisa, 31,1% dos entrevistados “com certeza” votariam em um nome indicado pelo governador, enquanto 47,3% “poderiam votar” num candidato apoiado pelo prefeito Greca.
Pimentel disputará um cargo majoritário pela primeira vez. Além das campanhas a vice-prefeito em 2016 e 2020, foi candidato a deputado estadual em 2010, mas não se elegeu. De uma família tradicional da política paranaense, é neto de Paulo Pimentel, ex-governador do Estado entre 1966 e 1971. De 2003 a 2005, o avô presidiu a Companhia Paranaense de Energia (Copel), conduzida hoje por Daniel Pimentel, irmão do vice-prefeito.
Ao Estadão, Pimentel afirmou que deseja um companheiro de chapa “leal e atuante”, mas o nome segue indefinido. O vice-prefeito confirmou que está buscando o apoio do PL, sigla cotada nos bastidores para angariar a indicação.
Outra possibilidade é a deputada estadual Maria Victoria Barros (PP), filha do deputado federal Ricardo Barros (PP), desistir da pré-candidatura à prefeitura e compor a chapa de Pimentel. Segundo a parlamentar, “seria uma honra” receber um eventual convite.
Maria Victoria (PP)
Em paralelo às chances de ser a vice de Pimentel, Maria Victoria mantém a pré-campanha e promete ter o nome nas urnas. “Caso não aconteça por uma composição partidária necessária, a gente vai disputar, até para se posicionar”, afirmou.
Maria Victoria está no terceiro mandato de deputada estadual. Caso registre a candidatura, ela estará na disputa pelo Executivo de Curitiba pela segunda vez, repetindo a campanha a prefeita em 2016, quando obteve a quarta colocação no primeiro turno, com 52.576 votos.
Luciano Ducci (PSB)
Ducci está em seu terceiro mandato de deputado federal e pleiteia retornar ao comando da capital paranaense, posto que ocupou entre 2010 e 2013. Ele foi vice-prefeito da gestão Beto Richa (2005 a 2010) e assumiu o cargo após o titular renunciar à prefeitura para concorrer ao comando do Executivo estadual. Em 2012, tentou a recondução, mas foi vencido pelo ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT).
Ducci e Richa, que integraram a mesma gestão durante seis anos, podem se enfrentar nas urnas por campos políticos opostos: Richa, à direita, se aproximou de Jair Bolsonaro e até cogitou disputar a eleição deste ano pelo PL, sigla do ex-presidente; já Ducci pode ser o candidato com o aval de Lula.
Segundo o último levantamento do Paraná Pesquisas, 61,3% dos entrevistados “jamais votaria” em um nome apoiado pelo presidente. “Em campanha, você nunca rejeita nenhum tipo de apoio. Ter apoio do governo federal é a melhor coisa que pode haver para um candidato a prefeito”, disse o deputado federal ao Estadão.
Ducci, porém, não quer ser visto como o “candidato do Lula” e crê que esse tipo de rótulo tornaria o debate na cidade raso. “Quem quer fazer essa discussão de Lula versus Bolsonaro, direita contra esquerda, é porque quer fazer uma discussão rasa”, disse. “Ou não tem proposta, ou está com medo de disputar a eleição em uma cidade como Curitiba. As questões nacionais não podem ser repercutidas a nível local”, afirmou.
Candidatura do PT
Mesmo com alas no PT que resistem ao apoio a Ducci, sobretudo pelo histórico do ex-prefeito com a gestão Richa, o partido está próximo de selar um acordo com o pré-candidato do PSB. Como adiantou a Coluna do Estadão, a executiva nacional petista dialogou com Lula e o presidente encampará o acordo.
A ala do PT mais interessada em um acordo com Ducci é liderada pela deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional da sigla. Ela espera que, abrindo mão da cabeça de chapa em Curitiba, o PSB a apoie em uma eventual eleição suplementar ao Senado, caso o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) seja cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Esses desdobramentos limitam as possibilidades dos nomes que se colocaram à disposição do PT para se lançarem como pré-candidatos pela sigla, como o advogado Felipe Magal e os deputados federais Tadeu Veneri, Zeca Dirceu e Carol Dartora. “Sou super a favor das alianças para prefeito, mas (só) onde temos um aliado de verdade e, principalmente, com viabilidade eleitoral”, afirmou ao Estadão Zeca Dirceu.
Ney Leprevost (União Brasil)
Ney Leprevost está em seu quarto mandato como deputado estadual do Paraná. Ele exerceu três mandatos consecutivos no Legislativo estadual, de 2007 a 2018, e representou o Estado na Câmara dos Deputados, de 2019 a 2023. Se confirmar a candidatura, será a segunda vez que tentará o Executivo de Curitiba: em 2016, foi candidato pelo PSD e, em primeiro turno, obteve 219.727 votos. No segundo turno, angariou 401.315 votos, mas foi vencido por Rafael Greca, eleito com 461.736 votos, o que representou 53,23% dos votos válidos.
O União Brasil integra a base do governador Ratinho Júnior, mas pretende seguir um caminho à parte em Curitiba. É o que afirma Leprevost, que justifica a pré-candidatura não só por discordâncias quanto à gestão da capital, mas também pelos anseios nacionais da sigla. “O União acredita que Curitiba é uma vitrine importantíssima para o partido”, disse.
Se confirmada, uma candidatura do União iria na contramão do que deseja Eduardo Pimentel, que tenta trazer todos os partidos da base estadual para a coligação na capital. “Há interesse e vou buscar essa composição”, disse Pimentel ao Estadão. A sigla de Leprevost, por outro lado, está disposta a seguir com uma chapa “puro sangue”.
Roberto Requião (Mobiliza)
Governador do Paraná por três mandatos, Roberto Requião (Mobiliza) anunciou sua pré-candidatura à prefeitura de Curitiba em 15 de abril.
Membro histórico do MDB, partido em que esteve por mais de 40 anos, Requião estava no PT desde 2022. Naquele ano, em outubro, foi candidato a governador pela legenda, mas foi derrotado, já no primeiro turno, por Ratinho Júnior. Ele se desligou da sigla em março deste ano, insatisfeito com os acordos locais da sigla. “O que vejo é um esvaziamento programático, só negociações”, afirmou.
Requião se filiou ao Mobilização Nacional, antigo PMN, uma sigla que, desde 2022, em razão da cláusula de barreira, não dispõe de recursos públicos para o financiamento de campanhas nem tempo de televisão. Ele disse que o propósito da pré-candidatura, num primeiro momento, é congregar forças para a eleição.
“Coloquei meu nome à disposição. É evidente que, no Mobiliza, eu não tenho nem dinheiro nem tempo. Mas vamos ver se isso não estimula as forças progressistas a fazerem uma coligação”, disse o ex-governador ao Estadão. “Só se viabiliza com uma coligação. Tenho que ver se isso será possível.” Nesse caminho, Requião pode tentar um retorno ao Executivo de Curitiba, que comandou de 1986 a 1989. Ele também foi senador pelo Estado, de 1995 a 2003 e de 2011 a 2019.
Beto Richa (PSDB)
Beto Richa, do PSDB, está em seu primeiro mandato como deputado federal, mas acumula uma extensa carreira política no Paraná, onde foi deputado estadual, prefeito e vice-prefeito da capital, além de governador do Estado.
Ele pleiteia um retorno ao Executivo de Curitiba e chegou a conversar com o PL para migrar de sigla e disputar a eleição pela legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro. As negociações foram interrompidas quando o deputado estadual Ricardo Arruda, que queria ser pré-candidato do PL, divulgou o teor de reuniões entre Richa e Valdemar Costa Neto, presidente nacional da legenda. Com o vazamento, houve pressão para que a filiação não fosse adiante.
Ao Estadão, Richa confirmou que houve um convite formal do PL e que o interesse era mútuo. O ex-governador disse que a estrutura da sigla de Bolsonaro era atrativa mas, ainda assim, não sairia de imediato do PSDB, partido do qual é membro histórico.
“Eu não ia migrar para o PL. Eu ia conversar com o PSDB, ver o que era possível fazer. (O PL) É um partido que tem muito mais estrutura que o PSDB, muito mais tempo de televisão. Eu preciso de mais tempo de TV, mais estrutura, ainda mais enfrentando duas máquinas, a municipal e a estadual. Conversei com vários partidos e o que mais me interessou foi o PL”, disse Beto Richa.
O ex-governador afirmou estar “empolgado” com os planos no PSDB e que busca agremiações menores para compor sua chapa ao Executivo.
Segundo o último levantamento do Paraná Pesquisas, Beto Richa é a opção mais rejeitada pelo eleitor, com 56,3% de menções negativas. Richa reconhece o índice, o qual atribui a uma “grande injustiça” do Ministério Público Federal. “Não podia ser diferente, foi notícia nacional o que aconteceu comigo”, diz o ex-governador, alvo da Polícia Federal (PF) em um desdobramento da Lava Jato. O deputado acredita que reduzirá a rejeição no decorrer da campanha eleitoral.
Candidatura do PL
Após divulgar as conversas do partido com Richa, Ricardo Arruda se tornou alvo de uma ação no Conselho de Ética do PL e saiu do páreo de pré-candidaturas da sigla. Paulo Martins, candidato ao Senado em 2022, demonstrou interesse na disputa, colocou seu nome à disposição e já aparece nas pesquisas, logo atrás do ex-governador. “O partido que faça a sua escolha”, publicou Martins no X (antigo Twitter).
Candidato ao Senado em 2022, ele foi derrotado por uma margem estreita, quando recebeu 1.697.962 votos, o que equivaleu a 29,12% dos votos válidos. O vencedor do pleito para o cargo, Sérgio Moro, angariou 1.953.188 eleitores, 33,50% dos votos válidos.
Mesmo com o interesse de Martins, o PL, por ora, não trabalha por uma candidatura própria à prefeitura da capital paranaense. “A princípio, não”, afirmou Valdemar Costa Neto ao Estadão.
A sigla de Jair Bolsonaro é autora de uma das ações que pedem a perda do mandato de Moro no TSE e, enquanto aguarda o desfecho do caso, está avaliando candidatos para a eventual eleição suplementar. Martins está entre os nomes cotados na legenda.
Goura (PDT)
Em paralelo ao possível acordo de Ducci com o PT, o deputado estadual Goura, pré-candidato do PDT, pode ser o vice do candidato do PSB. Tanto Ducci quanto Goura admitem as tratativas. “Temos conversado desde o ano passado na construção de uma frente progressista em todo o Estado. Mas o Goura é pré-candidato e respeitamos a condição dele”, disse Luciano Ducci.
Goura pode disputar o comando do Executivo da capital pela segunda vez. Em 2020, o deputado estadual foi o candidato de oposição a Greca com a melhor colocação, terminando a eleição em segundo lugar, com 13,26% dos votos válidos.
O parlamentar afirmou que está buscando legendas à esquerda para compor uma chapa e avalia que, em um cenário como o indicado pelas mais recentes pesquisas de intenção de voto, o eleitorado do centro à direita está fragmentado, o que abre novas possibilidades a um candidato progressista. “Está aí uma brecha que temos. Ir para o segundo turno significa uma nova eleição, uma nova disputa, uma nova busca por apoios. A gente tem essa chance.”
Veja quem são os pré-candidatos a prefeito de Curitiba
- Eduardo Pimentel (PSD)
- Luciano Ducci (PSB)
- Beto Richa (PSDB)
- Ney Leprevost (União Brasil)
- Goura (PDT)
- Maria Victoria (PP)
- Roberto Requião (Mobiliza)