Enquanto o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não se pronuncia de forma enfática sobre as suspeitas de fraude na eleição presidencial da Venezuela, deputados federais, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Executiva Nacional do partido de Lula reconheceram o resultado do pleito no país vizinho.
Segundo o órgão eleitoral da Venezuela, controlado pelo governo ditatorial de Nicolás Maduro, o chavista venceu o pleito por 51% a 44% de Edmundo González, o principal candidato de oposição ao regime. Para a maior parte dos observadores internacionais, os números não são confiáveis. No entanto, no Brasil, organizações e autoridades ligadas ao governo Lula já tratam Maduro como “reeleito”, sem contestar a lisura do processo eleitoral.
As declarações de apoio ocorrem enquanto o governo brasileiro, de forma oficial, mantém uma postura contida. O assessor de Lula para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, cobrou acesso das atas da eleição aos observadores internacionais, mas ainda não se posicionou de forma contundente as suspeitas de fraude. Já o Itamary, em nota, diz que reafirma “o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”.
A reação contida do Brasil foi na contramão de países vizinhos, mesmo os governados por autoridades de esquerda, como o Chile, de Gabriel Boric, e a Colômbia, de Gustavo Petro.
Executiva do PT e Gleisi Hoffmann
A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), compartilhou no X (antigo Twitter) nesta segunda-feira, 29, a nota da Executiva Nacional da legenda que tratou Nicolás Maduro como “presidente reeleito”, sem contestar a lisura do processo eleitoral.
No texto, o PT saudou os eleitores venezuelanos e chamou o pleito venezuelano de “jornada pacífica, democrática e soberana”. O partido do presidente Lula culpou os embargos internacionais como os responsáveis pelos “graves problemas da Venezuela” – sem citar, no entanto, que as sanções foram impostas ao país em razão das violações aos direitos humanos perpetradas pelo regime de Maduro.
Jandira Feghali
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também tratou Maduro como “reeleito” e sugeriu que o processo eleitoral no país vizinho foi confiável. “Cabe ao povo venezuelano decidir internamente os caminhos que deseja tomar. E mais uma vez o fez, soberanamente”, escreveu Jandira em publicação no X.
Rogério Correia
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG), pré-candidato a prefeito de Belo Horizonte, criticou o oposicionista Edmundo González Urrutia, principal adversário de Maduro nas urnas. A oposição contestou resultado e declarou a vitória dele por 70% dos votos.
Para o parlamentar petista, a postura de González Urrutia de questionar o resultado eleitoral, alegando a falta de acesso às atas eleitorais, se assemelha a de Juan Guaidó, ex-presidente interino da Venezuela, que se opunha a Maduro. “A extrema direita só pensa em golpe”, disse o parlamentar no X.
Glauber Braga
O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) republicou no X uma publicação do cartunista Carlos Latuff. O texto relativiza o regime político da Venezuela e diz que o país vizinho “paga um preço alto pela sua soberania” por não se sujeitar a ser um “quintal” dos Estados Unidos. “Desde a ascensão de Hugo Chávez, a Venezuela não teve um único minuto de sossego”, afirma o texto republicado pelo deputado federal.
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MST
O MST comemorou a vitória de Maduro e alegou que a maioria no pleito foi obtida contra a “campanha fascista promovida pela extrema direita venezuelana e internacional”. A mensagem foi publicada nas redes sociais e no site oficial da organização durante a madrugada de segunda-feira.
O MST diz que a “transparência e o rigor marcaram a jornada eleitoral” do país vizinho, pois, segundo o grupo, houve auditorias de observadores internacionais no pleito. “Nós, membros de dezenas de organizações sociais, partidos e movimentos populares brasileiros, somos prova da idoneidade e lisura do processo, e viemos a público parabenizar Maduro e o povo venezuelano por sua reeleição”, diz a nota.
Assessora do BNDES
Como mostrou a Coluna do Estadão, a economista Juliane Furno, assessora do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, comemorou no X os resultados divulgados pelo regime Maduro.
O banco público, em nota, reforçou que a servidora está em férias e que externou uma posição “pessoal”. “As manifestações feitas por ela em suas redes sociais representam uma posição pessoal da economista, sem qualquer relação com o BNDES ou com o governo brasileiro”, disse a instituição.