Eleições no Nordeste: PT aposta na região para recuperar derrota em 2020 e PL vê chance em Fortaleza


Maior cidade nordestina, capital do Ceará terá eleição parelha e possível polarização entre Lula e Bolsonaro; veja o cenário em outros municípios da região

Por Levy Teles

BRASÍLIA — Em 2022, a Região Nordeste teve importância fundamental para o PT. Ela foi a única em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve mais votos que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). É neste lugar que repousa, nas eleições deste ano, a esperança da sigla em reverter o cenário de 2020, quando não conseguiu vencer a disputa pela prefeitura de nenhuma capital.

Petistas têm hoje candidaturas competitivas em Teresina, Natal e Fortaleza, com maiores chances de vitória, apontam pesquisas mais recentes. O PL, por sua vez, tem mais possibilidades de triunfar em Maceió e em Fortaleza. A capital cearense, a maior da região, terá uma das disputas mais parelhas, com muitas variáveis em jogo.

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O resultado pode afetar o grupo político de Ciro Gomes, reforçar a força do ministro da Educação, Camilo Santana, ou até consolidar o bolsonarismo como uma força emergente na região.

A situação por lá é oposta a de capitais como Recife, Salvador e Maceió, por exemplo, em que as pesquisas mais recentes apontam vitória no primeiro turno dos atuais incumbentes — João Campos (PSB), Bruno Reis (União) e João Henrique Caldas (PL), respectivamente.

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Paralelamente, o União Brasil podem se dar bem na região. As siglas têm candidaturas competitivas em São Luís, Natal, Salvador e Aracaju.

Veja qual a situação em cada uma das nove capitais do Nordeste e em suas principais cidades.

Reviravolta nas pesquisas pode levar à disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro em Fortaleza

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No Ceará, o atual cenário é de reviravolta em comparação a meses anteriores. Inicialmente, o ex-deputado federal Capitão Wagner (União) aparecia à frente, ao lado do candidato à reeleição José Sarto (PDT), com o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (ALECE), Evandro Leitão (PT), e o deputado federal André Fernandes (PL) correndo por fora. Agora, pesquisas mais recentes mostram Leitão e Fernandes à frente.

Eleição para a preifetura de Fortaleza tem, como principais candidatos, Evandro Leitão, André Fernandes, José Sarto e Capitão Wagner Foto: Reprodução/Alece, Pablo Valadares/Câmara dos Deputados, Reprodução/Facebook e Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Duas divergências entre os partidos levaram ao crescimento dos candidatos apoiados por Lula e Bolsonaro. No final de 2023, Ciro Gomes brigou com o irmão, o senador Cid Gomes (PSB-CE), causando uma profunda divisão no PDT. Como resultado, pedetistas migraram para o PT, de Camilo, e o PSB, de Cid. Leitão é um desses petistas neófitos.

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Também no final daquele ano, o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto agiu e trocou Acilon Gonçalves pelo deputado estadual bolsonarista Carmelo Neto no comando da sigla no Estado. Essa ação bolsonarizou de vez o partido — Acilon era tido como uma figura do centrão, e até apoiou Sarto em 2020.

Com isso, o grande prejudicado foi Capitão Wagner. Longo conhecido do eleitorado fortalezense, Wagner esteve na disputa pela prefeitura de Fortaleza em 2016 e em 2020, e concorreu ao governo do Estado em 2022. Ele acabou derrotado em todos esses pleitos no segundo turno.

Agora, aponta Monalisa Soares Lopes, professora e pesquisadora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), ele precisa lidar com uma divisão no campo da direita.

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“Essa cisão do campo da direita com a candidatura de André Fernandes, esse campo conservador esteve aglutinado em torno do Wagner. Ele perdeu esse apoio”, analisa.

Para ela, um cenário de derrota no primeiro turno poderá fazer Wagner repensar a carreira política. “O caso do Wagner é mais complexo porque ele chegou a dizer que era a eleição da sua vida, e de fato é. Se ele sair derrotado, a sua imagem de ‘azarão’ vai ficando consolidada, e ele vai ter que batalhar para voltar a ter assento no Parlamento e talvez investir numa trajetória parlamentar”, afirma.

Do outro lado do jogo, Evandro precisou vencer a desconfiança sobretudo dos petistas mais longevos. Para isso, contou, sobretudo, com o apoio de Camilo Santana. A sigla decidiu o seu candidato à prefeitura de Fortaleza nos últimos momentos, desejada por quatro outros nomes.

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O nome mais forte, a ex-prefeitura da cidade Luizianne Lins (PT), chegou a sinalizar um racha na sigla, mas a candidatura de Evandro foi sustentada por Camilo e pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE). Nessa reta final, inclusive, o ministro tirou férias para reforçar a campanha pelo Estado.

“Para o PT, ter um prefeito eleito em Fortaleza vai significar uma grande vitória, e talvez a mais significativa do ponto de vista do poder e da força do ministro Camilo Santana. Ele tensionou essa candidatura, trouxe um candidato para dentro o partido, e caso a vitória se consolide, será um grande fortalecimento do ministro a nível geral e interno do PT”, diz Monalisa.

Por fim, o PDT, que controla Fortaleza desde 2016, pode ver o império ruir. A divisão do partido começou em 2022, quando rompeu a união com o PT e viu o seu candidato ao governo do Estado perder para Elmano de Freitas (PT), e seguiu com a saída de inúmeros outros quadros ao longo de 2023.

Sarto é a principal aposta da sigla para manter vitalidade. O PDT enviou R$ 15 milhões em recursos para o atual prefeito, na esperança de manter o controle da cidade. “A situação do Sarto e do PDT é dilemática. Com uma derrota do Sarto, sem a vitrine da capital, vai complicando as chances desse grupo para fazer uma disputa ao governo do Estado em 2026″, pondera Monalisa.

Cenário favorável para João Campos em Recife pode indicar olhos para disputa ao governo de Pernambuco em 2026

As pesquisas eleitorais em Recife indicam menores dores de cabeça para o atual prefeito, João Campos. No geral, o cenário é de vitória já no primeiro turno, sem maiores dificuldades. Até por isso, a eleição municipal deve servir como um norte do que pode acontecer em 2026 em Pernambuco.

Trata-se de um virtual duelo com a atual governadora, Raquel Lyra (PSDB), que deve tentar a reeleição. O próprio João Campos evade-se ao falar se ficará na prefeitura até o final do mandato, em 2028.

João Campos, Gilson Machado e Daniel Coelho têm as candidaturas mais competitivas em Recife. Foto: Edson Holanda/PCR, Isac Nóbrega/PR e Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Campos tem como principais adversários Gilson Machado, ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro, e o ex-secretário do Turismo de Raquel Lyra, Daniel Coelho (PSD). Pesquisas das últimas semanas apontam que, por enquanto, nenhum dos dois têm força para sequer disputar o segundo turno.

Em uma sabatina feita para o G1, em setembro, ele disse a política é uma “arte muito dinâmica” e evitou falar de futuro. “Eu não vou falar sobre a eleição de 26, de 28, de 2030. Vou falar sobre a eleição de 24″, disse.

Sabendo da virtual ameaça da disputa contra Campos em 2026, o PSDB testa forças em Pernambuco nesta eleição. Em 2020, a sigla indicou 14 candidatos a prefeito no Estado — neste ano, o número subiu para 55. “Isso tem a ver com a força do governo do Estado”, afirma Ernani Carvalho, analista de risco político e professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Caruaru é um dos principais pontos de atenção. Foi lá que Lyra construiu carreira política e é no agreste do Estado em que ela tem mais força. Em Caruaru, Rodrigo Pinheiro (PSDB) é o nome apoiado por Lyra, enquanto Campos testa a força de Zé Queiroz (PDT), a quem apoia.

Até considerando que a disputa centra-se entre PSB e PSDB, Carvalho vê que a polarização nacional foi jogada para escanteio em Recife. “Gilson não consegue passar dos 10%, enquanto a propaganda dele consiste em basicamente dizer que Bolsonaro apoia ele. O efeito da polarização pelo menos em Recife está sendo muito residual”, diz.

Disputa em Salvador mostra União Brasil forte e PT mais focado no interior

Há oito anos o eleitor de Salvador não sabe o que é votar para prefeito no segundo turno. Naquele ano, ACM Neto (União) venceria a disputa pelo cargo com sobras, e o seu sucessor, Bruno Reis, também não teve muita dificuldade para assumir o cargo. Na busca da reeleição, as pesquisas indicam que, novamente, ele deve vencer sem precisar de uma nova rodada de votos.

Neste ano, o PT optou por não lançar um nome e apoiar a candidatura do vice-governador do Estado Geraldo Júnior (MDB) ao cargo. O problema é que, ao longo da candidatura, Geraldo não conseguiu crescer nas pesquisas.

Bruno Reis e Geraldo Júnior são os principais nomes na disputa pela prefeitura de Salvador. Foto: @brunoreisba via Instagram e Feijão Almeida/GovBA

Internamente, a campanha crê que isso ocorreu pela ausência de Rui Costa, que não participou dos atos na capital baiana e preferiu gastar esforços em cidades do interior do Estado, e também pela ausência de Lula, cabo eleitoral de grande força em toda a Bahia.

Além disso, Geraldo teve que lidar com dissidências internas no PT, com militantes que chegaram a realizar um ato em apoio a Kléber Rosa (PSOL). Pesa contra Geraldo o fato de que, no passado, ele manifestou apoio a Jair Bolsonaro.

Bolsonaro, aliás, é um nome vetado. Assim como ocorreu na candidatura ao governo do Estado em 2022, o União Brasil rejeita vincular-se à imagem do ex-presidente, ainda que, como acontece em 2024, o PL apoie Reis.

“Está mais do que evidente que no caso de Salvador, há um vazio de oposição ao prefeito”, diz Paulo Fábio Dantas Neto, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Na verdade existem mais dúvidas em quem ficará em segundo lugar do que o resultado da eleição em si.”

Algumas pesquisas mais recentes apontam um cenário de empate técnico entre Geraldo e Rosa, que poderia levar o emedebista a nem mesmo ficar com a segunda posição, enfraquecendo-o para empreitadas futuras, em 2026.

O professor da UFBA pondera que o foco para o PT nunca foi Salvador. O partido contra o governo da Bahia desde 2007 e nunca venceu a prefeitura da capital. “Salvador nunca foi o foco da política municipal do PT, porque Salvador sempre funcionou muito mais como espaço para troca da negociação política”, diz.

Feira de Santana, segunda mais populosa do Estado, é uma das principais apostas do PT no interior. Lá, a sigla aposta as fichas no deputado federal Zé Neto contra o ex-prefeito da cidade José Ronaldo, apoiado por ACM Neto. O marqueteiro de Lula em 2022, Sidônio Palmeira foi escalado para fazer a campanha do petista na cidade.

Maceió terá mais uma vez Arthur Lira contra Renan Calheiros em disputa

Ao longo de 2023, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) travaram disputas por poder político. O cenário se repete ao longo deste ano e terá novo desdobramento em outubro, quando João Henrique Caldas, o JHC, que é apoiado por Lira, enfrenta Rafael Brito (MDB), apoiado pelos Calheiros.

O prefeito JHC enfrenta Rafael Brito, apoiado pelos Calheiros, pelo comando de Maceió. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados e Mário Agra/Câmara dos Deputados

Em jogo, além do cargo, a administração de multas bilionárias que a Braskem paga. Trechos de cinco bairros de Maceió sofreram com o afundamento do solo causado pela extração de sal-gema, usado na indústria química. A atividade foi interrompida pela empresa no ano seguinte. Algumas regiões precisaram ser totalmente desocupadas.

Em 2023, a empresa firmou um acordo no valor de R$ 1,7 bilhão em razão do afundamento do solo. O governador de Alagoas, Rafael Dantas (MDB), chegou a mover ação em junho deste ano pedindo a anulação de acordos, entre eles os firmados com a prefeitura. O recurso foi rejeitado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

E, neste momento, JHC tem a vantagem para seguir no cargo. Pesquisas das últimas semanas mostram ele bem à frente de Brito, com possibilidade de vitória no primeiro turno, com ampla margem. A força foi tão grande que Bolsonaro, que é do mesmo partido de JHC, não precisou ser um ativo para consolidar votos durante a campanha.

Para Luciana Santana, professora de Ciência Política na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Brito acabou lidando com o problema do desconhecimento em Maceió e pelo conservadorismo do eleitorado da cidade. “Estamos falando de uma capital conservadora. Mesmo além da questão da Braskem, a cidade teve retrocessos importantes. Mas a oposição conseguiu convencer o eleitor de que ele pudesse confiar num candidato diferente para fazer a mudança”, diz.

Para ela, ainda assim Lira não sai em vantagem contra os Calheiros. O presidente da Câmara tentou emplacar um vice e o PP até cogitou lançar candidatura própria. JHC optou por indicar o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) como seu vice. Caso vença, aliás, a mãe de JHC, Eudócia Caldas, assume o cargo no Senado Federal como suplente de Cunha.

“A força política do calheirismo nunca foi em Maceió. Pelo contrário, aliás”, afirma. Para reforçar a campanha do MDB pelo Estado, o ministro dos Transportes, Renan Filho, que é filho de Renan Calheiros, tirou férias do cargo para focar em Alagoas.

Disputa em João Pessoa teve prisão recente da primeira-dama, com cenário indicando reeleição do prefeito e polarização PT-PL correndo por fora

Pesquisas mais recentes de intenção de voto apontam um cenário confortável em João Pessoa para o atual prefeito, Cícero Lucena (PP), garantir a reeleição. Um fato recente, porém, pode abalar a situação. A primeira-dama da cidade, Maria Lauremília Lucena, foi presa no último sábado, 28, pela Polícia Federal.

Ela é investigada por ter suposta ligação com um esquema de coação violenta de eleitores em troca de apoio político. Esse esquema teria a participação da facção Nova Okaida. Lauremília foi solta nesta segunda-feira, 1º.

Correm por fora na disputa eleitoral o deputado estadual Luciano Cartaxo (PT), o ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro Marcelo Queiroga, e o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos).

Aracaju é a única capital nordestina em que pesquisas apontam bolsonarista com liderança confortável

Pesquisas eleitorais divulgadas nas últimas semanas apontam que Emília Corrêa (PL), apoiada por Bolsonaro, lidera com certa folga em relação aos demais candidatos, mas ainda sem margem para vitória no primeiro turno.

O cenário não é favorável para a petista Candisse Carvalho (PT), que ainda aparece numericamente atrás de candidatos ligados ao Centrão, como a deputada federal Yandra Moura (União), o ex-secretário estadual de Desenvolvimento Urbano Luiz Roberto (PDB) e a ex-secretária estadual da Mulher Delegada Danielle (MDB).

Natal tem eleição parelha, com possibilidade de segundo turno para o PT

Natal é outra capital nordestina que pode ter vitória petista. Pesquisas mais recentes apontam a deputada federal Natália Bonavides (PT) em empate técnico com o empresário Paulinho Freire (União) e o ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD).

Atrás dos três estão o ex-deputado federal Rafael Motta (Avante), Nando Poeta e Hero (PRTB), todos com menos de três pontos percentuais.

O PT tem o trunfo de contar com o apoio do governo do Estado, chefiado pela petista Fátima Bezerra.

Teresina é outra cidade em que o PT deposita esperanças de vitória

O PT também deposita esperanças em Teresina. Pesquisas mais recentes mostram o deputado estadual Fábio Novo (PT) em uma disputa acirrada contra o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes (União), que aparece numericamente acima, com a possibilidade de vencer no segundo turno. Assim como em Natal, Novo conta com o apoio do governo do Estado, chefiado pelo petista Rafael Fonteles.

Candidato à reeleição, Dr. Pessoa (PRD) corre por fora, ao lado de Professor Tonny (Novo).

Curiosamente, desde a redemocratização, metade das eleições municipais na capital piauiense foi decidida no primeiro turno.

Em São Luís, candidato que é apoiado pelo PT e pelo PL pode acabar nem indo para o segundo turno

O deputado federal Duarte Júnior (PSB), candidato à prefeitura de São Luís construiu uma coligação tão ampla de modo que conseguiu reunir o PT e o PL para o apoiar.

Mesmo com esse fator e sendo da sigla do governador do Maranhão, Carlos Brandão, e aliado do ministro do STF Flávio Dino, as pesquisas indicam que a candidatura dele não decolou.

O atual cenário, de acordo com esses levantamentos, é que o candidato à reeleição Eduardo Braide lidera com boa margem, e pode vencer ainda no primeiro turno. Mais atrás nas pesquisas estão Dr. Yglésio (PRTB) e Wellington do Curso (Novo).

BRASÍLIA — Em 2022, a Região Nordeste teve importância fundamental para o PT. Ela foi a única em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve mais votos que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). É neste lugar que repousa, nas eleições deste ano, a esperança da sigla em reverter o cenário de 2020, quando não conseguiu vencer a disputa pela prefeitura de nenhuma capital.

Petistas têm hoje candidaturas competitivas em Teresina, Natal e Fortaleza, com maiores chances de vitória, apontam pesquisas mais recentes. O PL, por sua vez, tem mais possibilidades de triunfar em Maceió e em Fortaleza. A capital cearense, a maior da região, terá uma das disputas mais parelhas, com muitas variáveis em jogo.

O resultado pode afetar o grupo político de Ciro Gomes, reforçar a força do ministro da Educação, Camilo Santana, ou até consolidar o bolsonarismo como uma força emergente na região.

A situação por lá é oposta a de capitais como Recife, Salvador e Maceió, por exemplo, em que as pesquisas mais recentes apontam vitória no primeiro turno dos atuais incumbentes — João Campos (PSB), Bruno Reis (União) e João Henrique Caldas (PL), respectivamente.

Paralelamente, o União Brasil podem se dar bem na região. As siglas têm candidaturas competitivas em São Luís, Natal, Salvador e Aracaju.

Veja qual a situação em cada uma das nove capitais do Nordeste e em suas principais cidades.

Reviravolta nas pesquisas pode levar à disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro em Fortaleza

No Ceará, o atual cenário é de reviravolta em comparação a meses anteriores. Inicialmente, o ex-deputado federal Capitão Wagner (União) aparecia à frente, ao lado do candidato à reeleição José Sarto (PDT), com o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (ALECE), Evandro Leitão (PT), e o deputado federal André Fernandes (PL) correndo por fora. Agora, pesquisas mais recentes mostram Leitão e Fernandes à frente.

Eleição para a preifetura de Fortaleza tem, como principais candidatos, Evandro Leitão, André Fernandes, José Sarto e Capitão Wagner Foto: Reprodução/Alece, Pablo Valadares/Câmara dos Deputados, Reprodução/Facebook e Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Duas divergências entre os partidos levaram ao crescimento dos candidatos apoiados por Lula e Bolsonaro. No final de 2023, Ciro Gomes brigou com o irmão, o senador Cid Gomes (PSB-CE), causando uma profunda divisão no PDT. Como resultado, pedetistas migraram para o PT, de Camilo, e o PSB, de Cid. Leitão é um desses petistas neófitos.

Também no final daquele ano, o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto agiu e trocou Acilon Gonçalves pelo deputado estadual bolsonarista Carmelo Neto no comando da sigla no Estado. Essa ação bolsonarizou de vez o partido — Acilon era tido como uma figura do centrão, e até apoiou Sarto em 2020.

Com isso, o grande prejudicado foi Capitão Wagner. Longo conhecido do eleitorado fortalezense, Wagner esteve na disputa pela prefeitura de Fortaleza em 2016 e em 2020, e concorreu ao governo do Estado em 2022. Ele acabou derrotado em todos esses pleitos no segundo turno.

Agora, aponta Monalisa Soares Lopes, professora e pesquisadora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), ele precisa lidar com uma divisão no campo da direita.

“Essa cisão do campo da direita com a candidatura de André Fernandes, esse campo conservador esteve aglutinado em torno do Wagner. Ele perdeu esse apoio”, analisa.

Para ela, um cenário de derrota no primeiro turno poderá fazer Wagner repensar a carreira política. “O caso do Wagner é mais complexo porque ele chegou a dizer que era a eleição da sua vida, e de fato é. Se ele sair derrotado, a sua imagem de ‘azarão’ vai ficando consolidada, e ele vai ter que batalhar para voltar a ter assento no Parlamento e talvez investir numa trajetória parlamentar”, afirma.

Do outro lado do jogo, Evandro precisou vencer a desconfiança sobretudo dos petistas mais longevos. Para isso, contou, sobretudo, com o apoio de Camilo Santana. A sigla decidiu o seu candidato à prefeitura de Fortaleza nos últimos momentos, desejada por quatro outros nomes.

O nome mais forte, a ex-prefeitura da cidade Luizianne Lins (PT), chegou a sinalizar um racha na sigla, mas a candidatura de Evandro foi sustentada por Camilo e pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE). Nessa reta final, inclusive, o ministro tirou férias para reforçar a campanha pelo Estado.

“Para o PT, ter um prefeito eleito em Fortaleza vai significar uma grande vitória, e talvez a mais significativa do ponto de vista do poder e da força do ministro Camilo Santana. Ele tensionou essa candidatura, trouxe um candidato para dentro o partido, e caso a vitória se consolide, será um grande fortalecimento do ministro a nível geral e interno do PT”, diz Monalisa.

Por fim, o PDT, que controla Fortaleza desde 2016, pode ver o império ruir. A divisão do partido começou em 2022, quando rompeu a união com o PT e viu o seu candidato ao governo do Estado perder para Elmano de Freitas (PT), e seguiu com a saída de inúmeros outros quadros ao longo de 2023.

Sarto é a principal aposta da sigla para manter vitalidade. O PDT enviou R$ 15 milhões em recursos para o atual prefeito, na esperança de manter o controle da cidade. “A situação do Sarto e do PDT é dilemática. Com uma derrota do Sarto, sem a vitrine da capital, vai complicando as chances desse grupo para fazer uma disputa ao governo do Estado em 2026″, pondera Monalisa.

Cenário favorável para João Campos em Recife pode indicar olhos para disputa ao governo de Pernambuco em 2026

As pesquisas eleitorais em Recife indicam menores dores de cabeça para o atual prefeito, João Campos. No geral, o cenário é de vitória já no primeiro turno, sem maiores dificuldades. Até por isso, a eleição municipal deve servir como um norte do que pode acontecer em 2026 em Pernambuco.

Trata-se de um virtual duelo com a atual governadora, Raquel Lyra (PSDB), que deve tentar a reeleição. O próprio João Campos evade-se ao falar se ficará na prefeitura até o final do mandato, em 2028.

João Campos, Gilson Machado e Daniel Coelho têm as candidaturas mais competitivas em Recife. Foto: Edson Holanda/PCR, Isac Nóbrega/PR e Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Campos tem como principais adversários Gilson Machado, ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro, e o ex-secretário do Turismo de Raquel Lyra, Daniel Coelho (PSD). Pesquisas das últimas semanas apontam que, por enquanto, nenhum dos dois têm força para sequer disputar o segundo turno.

Em uma sabatina feita para o G1, em setembro, ele disse a política é uma “arte muito dinâmica” e evitou falar de futuro. “Eu não vou falar sobre a eleição de 26, de 28, de 2030. Vou falar sobre a eleição de 24″, disse.

Sabendo da virtual ameaça da disputa contra Campos em 2026, o PSDB testa forças em Pernambuco nesta eleição. Em 2020, a sigla indicou 14 candidatos a prefeito no Estado — neste ano, o número subiu para 55. “Isso tem a ver com a força do governo do Estado”, afirma Ernani Carvalho, analista de risco político e professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Caruaru é um dos principais pontos de atenção. Foi lá que Lyra construiu carreira política e é no agreste do Estado em que ela tem mais força. Em Caruaru, Rodrigo Pinheiro (PSDB) é o nome apoiado por Lyra, enquanto Campos testa a força de Zé Queiroz (PDT), a quem apoia.

Até considerando que a disputa centra-se entre PSB e PSDB, Carvalho vê que a polarização nacional foi jogada para escanteio em Recife. “Gilson não consegue passar dos 10%, enquanto a propaganda dele consiste em basicamente dizer que Bolsonaro apoia ele. O efeito da polarização pelo menos em Recife está sendo muito residual”, diz.

Disputa em Salvador mostra União Brasil forte e PT mais focado no interior

Há oito anos o eleitor de Salvador não sabe o que é votar para prefeito no segundo turno. Naquele ano, ACM Neto (União) venceria a disputa pelo cargo com sobras, e o seu sucessor, Bruno Reis, também não teve muita dificuldade para assumir o cargo. Na busca da reeleição, as pesquisas indicam que, novamente, ele deve vencer sem precisar de uma nova rodada de votos.

Neste ano, o PT optou por não lançar um nome e apoiar a candidatura do vice-governador do Estado Geraldo Júnior (MDB) ao cargo. O problema é que, ao longo da candidatura, Geraldo não conseguiu crescer nas pesquisas.

Bruno Reis e Geraldo Júnior são os principais nomes na disputa pela prefeitura de Salvador. Foto: @brunoreisba via Instagram e Feijão Almeida/GovBA

Internamente, a campanha crê que isso ocorreu pela ausência de Rui Costa, que não participou dos atos na capital baiana e preferiu gastar esforços em cidades do interior do Estado, e também pela ausência de Lula, cabo eleitoral de grande força em toda a Bahia.

Além disso, Geraldo teve que lidar com dissidências internas no PT, com militantes que chegaram a realizar um ato em apoio a Kléber Rosa (PSOL). Pesa contra Geraldo o fato de que, no passado, ele manifestou apoio a Jair Bolsonaro.

Bolsonaro, aliás, é um nome vetado. Assim como ocorreu na candidatura ao governo do Estado em 2022, o União Brasil rejeita vincular-se à imagem do ex-presidente, ainda que, como acontece em 2024, o PL apoie Reis.

“Está mais do que evidente que no caso de Salvador, há um vazio de oposição ao prefeito”, diz Paulo Fábio Dantas Neto, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Na verdade existem mais dúvidas em quem ficará em segundo lugar do que o resultado da eleição em si.”

Algumas pesquisas mais recentes apontam um cenário de empate técnico entre Geraldo e Rosa, que poderia levar o emedebista a nem mesmo ficar com a segunda posição, enfraquecendo-o para empreitadas futuras, em 2026.

O professor da UFBA pondera que o foco para o PT nunca foi Salvador. O partido contra o governo da Bahia desde 2007 e nunca venceu a prefeitura da capital. “Salvador nunca foi o foco da política municipal do PT, porque Salvador sempre funcionou muito mais como espaço para troca da negociação política”, diz.

Feira de Santana, segunda mais populosa do Estado, é uma das principais apostas do PT no interior. Lá, a sigla aposta as fichas no deputado federal Zé Neto contra o ex-prefeito da cidade José Ronaldo, apoiado por ACM Neto. O marqueteiro de Lula em 2022, Sidônio Palmeira foi escalado para fazer a campanha do petista na cidade.

Maceió terá mais uma vez Arthur Lira contra Renan Calheiros em disputa

Ao longo de 2023, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) travaram disputas por poder político. O cenário se repete ao longo deste ano e terá novo desdobramento em outubro, quando João Henrique Caldas, o JHC, que é apoiado por Lira, enfrenta Rafael Brito (MDB), apoiado pelos Calheiros.

O prefeito JHC enfrenta Rafael Brito, apoiado pelos Calheiros, pelo comando de Maceió. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados e Mário Agra/Câmara dos Deputados

Em jogo, além do cargo, a administração de multas bilionárias que a Braskem paga. Trechos de cinco bairros de Maceió sofreram com o afundamento do solo causado pela extração de sal-gema, usado na indústria química. A atividade foi interrompida pela empresa no ano seguinte. Algumas regiões precisaram ser totalmente desocupadas.

Em 2023, a empresa firmou um acordo no valor de R$ 1,7 bilhão em razão do afundamento do solo. O governador de Alagoas, Rafael Dantas (MDB), chegou a mover ação em junho deste ano pedindo a anulação de acordos, entre eles os firmados com a prefeitura. O recurso foi rejeitado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

E, neste momento, JHC tem a vantagem para seguir no cargo. Pesquisas das últimas semanas mostram ele bem à frente de Brito, com possibilidade de vitória no primeiro turno, com ampla margem. A força foi tão grande que Bolsonaro, que é do mesmo partido de JHC, não precisou ser um ativo para consolidar votos durante a campanha.

Para Luciana Santana, professora de Ciência Política na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Brito acabou lidando com o problema do desconhecimento em Maceió e pelo conservadorismo do eleitorado da cidade. “Estamos falando de uma capital conservadora. Mesmo além da questão da Braskem, a cidade teve retrocessos importantes. Mas a oposição conseguiu convencer o eleitor de que ele pudesse confiar num candidato diferente para fazer a mudança”, diz.

Para ela, ainda assim Lira não sai em vantagem contra os Calheiros. O presidente da Câmara tentou emplacar um vice e o PP até cogitou lançar candidatura própria. JHC optou por indicar o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) como seu vice. Caso vença, aliás, a mãe de JHC, Eudócia Caldas, assume o cargo no Senado Federal como suplente de Cunha.

“A força política do calheirismo nunca foi em Maceió. Pelo contrário, aliás”, afirma. Para reforçar a campanha do MDB pelo Estado, o ministro dos Transportes, Renan Filho, que é filho de Renan Calheiros, tirou férias do cargo para focar em Alagoas.

Disputa em João Pessoa teve prisão recente da primeira-dama, com cenário indicando reeleição do prefeito e polarização PT-PL correndo por fora

Pesquisas mais recentes de intenção de voto apontam um cenário confortável em João Pessoa para o atual prefeito, Cícero Lucena (PP), garantir a reeleição. Um fato recente, porém, pode abalar a situação. A primeira-dama da cidade, Maria Lauremília Lucena, foi presa no último sábado, 28, pela Polícia Federal.

Ela é investigada por ter suposta ligação com um esquema de coação violenta de eleitores em troca de apoio político. Esse esquema teria a participação da facção Nova Okaida. Lauremília foi solta nesta segunda-feira, 1º.

Correm por fora na disputa eleitoral o deputado estadual Luciano Cartaxo (PT), o ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro Marcelo Queiroga, e o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos).

Aracaju é a única capital nordestina em que pesquisas apontam bolsonarista com liderança confortável

Pesquisas eleitorais divulgadas nas últimas semanas apontam que Emília Corrêa (PL), apoiada por Bolsonaro, lidera com certa folga em relação aos demais candidatos, mas ainda sem margem para vitória no primeiro turno.

O cenário não é favorável para a petista Candisse Carvalho (PT), que ainda aparece numericamente atrás de candidatos ligados ao Centrão, como a deputada federal Yandra Moura (União), o ex-secretário estadual de Desenvolvimento Urbano Luiz Roberto (PDB) e a ex-secretária estadual da Mulher Delegada Danielle (MDB).

Natal tem eleição parelha, com possibilidade de segundo turno para o PT

Natal é outra capital nordestina que pode ter vitória petista. Pesquisas mais recentes apontam a deputada federal Natália Bonavides (PT) em empate técnico com o empresário Paulinho Freire (União) e o ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD).

Atrás dos três estão o ex-deputado federal Rafael Motta (Avante), Nando Poeta e Hero (PRTB), todos com menos de três pontos percentuais.

O PT tem o trunfo de contar com o apoio do governo do Estado, chefiado pela petista Fátima Bezerra.

Teresina é outra cidade em que o PT deposita esperanças de vitória

O PT também deposita esperanças em Teresina. Pesquisas mais recentes mostram o deputado estadual Fábio Novo (PT) em uma disputa acirrada contra o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes (União), que aparece numericamente acima, com a possibilidade de vencer no segundo turno. Assim como em Natal, Novo conta com o apoio do governo do Estado, chefiado pelo petista Rafael Fonteles.

Candidato à reeleição, Dr. Pessoa (PRD) corre por fora, ao lado de Professor Tonny (Novo).

Curiosamente, desde a redemocratização, metade das eleições municipais na capital piauiense foi decidida no primeiro turno.

Em São Luís, candidato que é apoiado pelo PT e pelo PL pode acabar nem indo para o segundo turno

O deputado federal Duarte Júnior (PSB), candidato à prefeitura de São Luís construiu uma coligação tão ampla de modo que conseguiu reunir o PT e o PL para o apoiar.

Mesmo com esse fator e sendo da sigla do governador do Maranhão, Carlos Brandão, e aliado do ministro do STF Flávio Dino, as pesquisas indicam que a candidatura dele não decolou.

O atual cenário, de acordo com esses levantamentos, é que o candidato à reeleição Eduardo Braide lidera com boa margem, e pode vencer ainda no primeiro turno. Mais atrás nas pesquisas estão Dr. Yglésio (PRTB) e Wellington do Curso (Novo).

BRASÍLIA — Em 2022, a Região Nordeste teve importância fundamental para o PT. Ela foi a única em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve mais votos que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). É neste lugar que repousa, nas eleições deste ano, a esperança da sigla em reverter o cenário de 2020, quando não conseguiu vencer a disputa pela prefeitura de nenhuma capital.

Petistas têm hoje candidaturas competitivas em Teresina, Natal e Fortaleza, com maiores chances de vitória, apontam pesquisas mais recentes. O PL, por sua vez, tem mais possibilidades de triunfar em Maceió e em Fortaleza. A capital cearense, a maior da região, terá uma das disputas mais parelhas, com muitas variáveis em jogo.

O resultado pode afetar o grupo político de Ciro Gomes, reforçar a força do ministro da Educação, Camilo Santana, ou até consolidar o bolsonarismo como uma força emergente na região.

A situação por lá é oposta a de capitais como Recife, Salvador e Maceió, por exemplo, em que as pesquisas mais recentes apontam vitória no primeiro turno dos atuais incumbentes — João Campos (PSB), Bruno Reis (União) e João Henrique Caldas (PL), respectivamente.

Paralelamente, o União Brasil podem se dar bem na região. As siglas têm candidaturas competitivas em São Luís, Natal, Salvador e Aracaju.

Veja qual a situação em cada uma das nove capitais do Nordeste e em suas principais cidades.

Reviravolta nas pesquisas pode levar à disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro em Fortaleza

No Ceará, o atual cenário é de reviravolta em comparação a meses anteriores. Inicialmente, o ex-deputado federal Capitão Wagner (União) aparecia à frente, ao lado do candidato à reeleição José Sarto (PDT), com o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (ALECE), Evandro Leitão (PT), e o deputado federal André Fernandes (PL) correndo por fora. Agora, pesquisas mais recentes mostram Leitão e Fernandes à frente.

Eleição para a preifetura de Fortaleza tem, como principais candidatos, Evandro Leitão, André Fernandes, José Sarto e Capitão Wagner Foto: Reprodução/Alece, Pablo Valadares/Câmara dos Deputados, Reprodução/Facebook e Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Duas divergências entre os partidos levaram ao crescimento dos candidatos apoiados por Lula e Bolsonaro. No final de 2023, Ciro Gomes brigou com o irmão, o senador Cid Gomes (PSB-CE), causando uma profunda divisão no PDT. Como resultado, pedetistas migraram para o PT, de Camilo, e o PSB, de Cid. Leitão é um desses petistas neófitos.

Também no final daquele ano, o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto agiu e trocou Acilon Gonçalves pelo deputado estadual bolsonarista Carmelo Neto no comando da sigla no Estado. Essa ação bolsonarizou de vez o partido — Acilon era tido como uma figura do centrão, e até apoiou Sarto em 2020.

Com isso, o grande prejudicado foi Capitão Wagner. Longo conhecido do eleitorado fortalezense, Wagner esteve na disputa pela prefeitura de Fortaleza em 2016 e em 2020, e concorreu ao governo do Estado em 2022. Ele acabou derrotado em todos esses pleitos no segundo turno.

Agora, aponta Monalisa Soares Lopes, professora e pesquisadora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), ele precisa lidar com uma divisão no campo da direita.

“Essa cisão do campo da direita com a candidatura de André Fernandes, esse campo conservador esteve aglutinado em torno do Wagner. Ele perdeu esse apoio”, analisa.

Para ela, um cenário de derrota no primeiro turno poderá fazer Wagner repensar a carreira política. “O caso do Wagner é mais complexo porque ele chegou a dizer que era a eleição da sua vida, e de fato é. Se ele sair derrotado, a sua imagem de ‘azarão’ vai ficando consolidada, e ele vai ter que batalhar para voltar a ter assento no Parlamento e talvez investir numa trajetória parlamentar”, afirma.

Do outro lado do jogo, Evandro precisou vencer a desconfiança sobretudo dos petistas mais longevos. Para isso, contou, sobretudo, com o apoio de Camilo Santana. A sigla decidiu o seu candidato à prefeitura de Fortaleza nos últimos momentos, desejada por quatro outros nomes.

O nome mais forte, a ex-prefeitura da cidade Luizianne Lins (PT), chegou a sinalizar um racha na sigla, mas a candidatura de Evandro foi sustentada por Camilo e pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE). Nessa reta final, inclusive, o ministro tirou férias para reforçar a campanha pelo Estado.

“Para o PT, ter um prefeito eleito em Fortaleza vai significar uma grande vitória, e talvez a mais significativa do ponto de vista do poder e da força do ministro Camilo Santana. Ele tensionou essa candidatura, trouxe um candidato para dentro o partido, e caso a vitória se consolide, será um grande fortalecimento do ministro a nível geral e interno do PT”, diz Monalisa.

Por fim, o PDT, que controla Fortaleza desde 2016, pode ver o império ruir. A divisão do partido começou em 2022, quando rompeu a união com o PT e viu o seu candidato ao governo do Estado perder para Elmano de Freitas (PT), e seguiu com a saída de inúmeros outros quadros ao longo de 2023.

Sarto é a principal aposta da sigla para manter vitalidade. O PDT enviou R$ 15 milhões em recursos para o atual prefeito, na esperança de manter o controle da cidade. “A situação do Sarto e do PDT é dilemática. Com uma derrota do Sarto, sem a vitrine da capital, vai complicando as chances desse grupo para fazer uma disputa ao governo do Estado em 2026″, pondera Monalisa.

Cenário favorável para João Campos em Recife pode indicar olhos para disputa ao governo de Pernambuco em 2026

As pesquisas eleitorais em Recife indicam menores dores de cabeça para o atual prefeito, João Campos. No geral, o cenário é de vitória já no primeiro turno, sem maiores dificuldades. Até por isso, a eleição municipal deve servir como um norte do que pode acontecer em 2026 em Pernambuco.

Trata-se de um virtual duelo com a atual governadora, Raquel Lyra (PSDB), que deve tentar a reeleição. O próprio João Campos evade-se ao falar se ficará na prefeitura até o final do mandato, em 2028.

João Campos, Gilson Machado e Daniel Coelho têm as candidaturas mais competitivas em Recife. Foto: Edson Holanda/PCR, Isac Nóbrega/PR e Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Campos tem como principais adversários Gilson Machado, ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro, e o ex-secretário do Turismo de Raquel Lyra, Daniel Coelho (PSD). Pesquisas das últimas semanas apontam que, por enquanto, nenhum dos dois têm força para sequer disputar o segundo turno.

Em uma sabatina feita para o G1, em setembro, ele disse a política é uma “arte muito dinâmica” e evitou falar de futuro. “Eu não vou falar sobre a eleição de 26, de 28, de 2030. Vou falar sobre a eleição de 24″, disse.

Sabendo da virtual ameaça da disputa contra Campos em 2026, o PSDB testa forças em Pernambuco nesta eleição. Em 2020, a sigla indicou 14 candidatos a prefeito no Estado — neste ano, o número subiu para 55. “Isso tem a ver com a força do governo do Estado”, afirma Ernani Carvalho, analista de risco político e professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Caruaru é um dos principais pontos de atenção. Foi lá que Lyra construiu carreira política e é no agreste do Estado em que ela tem mais força. Em Caruaru, Rodrigo Pinheiro (PSDB) é o nome apoiado por Lyra, enquanto Campos testa a força de Zé Queiroz (PDT), a quem apoia.

Até considerando que a disputa centra-se entre PSB e PSDB, Carvalho vê que a polarização nacional foi jogada para escanteio em Recife. “Gilson não consegue passar dos 10%, enquanto a propaganda dele consiste em basicamente dizer que Bolsonaro apoia ele. O efeito da polarização pelo menos em Recife está sendo muito residual”, diz.

Disputa em Salvador mostra União Brasil forte e PT mais focado no interior

Há oito anos o eleitor de Salvador não sabe o que é votar para prefeito no segundo turno. Naquele ano, ACM Neto (União) venceria a disputa pelo cargo com sobras, e o seu sucessor, Bruno Reis, também não teve muita dificuldade para assumir o cargo. Na busca da reeleição, as pesquisas indicam que, novamente, ele deve vencer sem precisar de uma nova rodada de votos.

Neste ano, o PT optou por não lançar um nome e apoiar a candidatura do vice-governador do Estado Geraldo Júnior (MDB) ao cargo. O problema é que, ao longo da candidatura, Geraldo não conseguiu crescer nas pesquisas.

Bruno Reis e Geraldo Júnior são os principais nomes na disputa pela prefeitura de Salvador. Foto: @brunoreisba via Instagram e Feijão Almeida/GovBA

Internamente, a campanha crê que isso ocorreu pela ausência de Rui Costa, que não participou dos atos na capital baiana e preferiu gastar esforços em cidades do interior do Estado, e também pela ausência de Lula, cabo eleitoral de grande força em toda a Bahia.

Além disso, Geraldo teve que lidar com dissidências internas no PT, com militantes que chegaram a realizar um ato em apoio a Kléber Rosa (PSOL). Pesa contra Geraldo o fato de que, no passado, ele manifestou apoio a Jair Bolsonaro.

Bolsonaro, aliás, é um nome vetado. Assim como ocorreu na candidatura ao governo do Estado em 2022, o União Brasil rejeita vincular-se à imagem do ex-presidente, ainda que, como acontece em 2024, o PL apoie Reis.

“Está mais do que evidente que no caso de Salvador, há um vazio de oposição ao prefeito”, diz Paulo Fábio Dantas Neto, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Na verdade existem mais dúvidas em quem ficará em segundo lugar do que o resultado da eleição em si.”

Algumas pesquisas mais recentes apontam um cenário de empate técnico entre Geraldo e Rosa, que poderia levar o emedebista a nem mesmo ficar com a segunda posição, enfraquecendo-o para empreitadas futuras, em 2026.

O professor da UFBA pondera que o foco para o PT nunca foi Salvador. O partido contra o governo da Bahia desde 2007 e nunca venceu a prefeitura da capital. “Salvador nunca foi o foco da política municipal do PT, porque Salvador sempre funcionou muito mais como espaço para troca da negociação política”, diz.

Feira de Santana, segunda mais populosa do Estado, é uma das principais apostas do PT no interior. Lá, a sigla aposta as fichas no deputado federal Zé Neto contra o ex-prefeito da cidade José Ronaldo, apoiado por ACM Neto. O marqueteiro de Lula em 2022, Sidônio Palmeira foi escalado para fazer a campanha do petista na cidade.

Maceió terá mais uma vez Arthur Lira contra Renan Calheiros em disputa

Ao longo de 2023, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) travaram disputas por poder político. O cenário se repete ao longo deste ano e terá novo desdobramento em outubro, quando João Henrique Caldas, o JHC, que é apoiado por Lira, enfrenta Rafael Brito (MDB), apoiado pelos Calheiros.

O prefeito JHC enfrenta Rafael Brito, apoiado pelos Calheiros, pelo comando de Maceió. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados e Mário Agra/Câmara dos Deputados

Em jogo, além do cargo, a administração de multas bilionárias que a Braskem paga. Trechos de cinco bairros de Maceió sofreram com o afundamento do solo causado pela extração de sal-gema, usado na indústria química. A atividade foi interrompida pela empresa no ano seguinte. Algumas regiões precisaram ser totalmente desocupadas.

Em 2023, a empresa firmou um acordo no valor de R$ 1,7 bilhão em razão do afundamento do solo. O governador de Alagoas, Rafael Dantas (MDB), chegou a mover ação em junho deste ano pedindo a anulação de acordos, entre eles os firmados com a prefeitura. O recurso foi rejeitado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

E, neste momento, JHC tem a vantagem para seguir no cargo. Pesquisas das últimas semanas mostram ele bem à frente de Brito, com possibilidade de vitória no primeiro turno, com ampla margem. A força foi tão grande que Bolsonaro, que é do mesmo partido de JHC, não precisou ser um ativo para consolidar votos durante a campanha.

Para Luciana Santana, professora de Ciência Política na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Brito acabou lidando com o problema do desconhecimento em Maceió e pelo conservadorismo do eleitorado da cidade. “Estamos falando de uma capital conservadora. Mesmo além da questão da Braskem, a cidade teve retrocessos importantes. Mas a oposição conseguiu convencer o eleitor de que ele pudesse confiar num candidato diferente para fazer a mudança”, diz.

Para ela, ainda assim Lira não sai em vantagem contra os Calheiros. O presidente da Câmara tentou emplacar um vice e o PP até cogitou lançar candidatura própria. JHC optou por indicar o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) como seu vice. Caso vença, aliás, a mãe de JHC, Eudócia Caldas, assume o cargo no Senado Federal como suplente de Cunha.

“A força política do calheirismo nunca foi em Maceió. Pelo contrário, aliás”, afirma. Para reforçar a campanha do MDB pelo Estado, o ministro dos Transportes, Renan Filho, que é filho de Renan Calheiros, tirou férias do cargo para focar em Alagoas.

Disputa em João Pessoa teve prisão recente da primeira-dama, com cenário indicando reeleição do prefeito e polarização PT-PL correndo por fora

Pesquisas mais recentes de intenção de voto apontam um cenário confortável em João Pessoa para o atual prefeito, Cícero Lucena (PP), garantir a reeleição. Um fato recente, porém, pode abalar a situação. A primeira-dama da cidade, Maria Lauremília Lucena, foi presa no último sábado, 28, pela Polícia Federal.

Ela é investigada por ter suposta ligação com um esquema de coação violenta de eleitores em troca de apoio político. Esse esquema teria a participação da facção Nova Okaida. Lauremília foi solta nesta segunda-feira, 1º.

Correm por fora na disputa eleitoral o deputado estadual Luciano Cartaxo (PT), o ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro Marcelo Queiroga, e o deputado federal Ruy Carneiro (Podemos).

Aracaju é a única capital nordestina em que pesquisas apontam bolsonarista com liderança confortável

Pesquisas eleitorais divulgadas nas últimas semanas apontam que Emília Corrêa (PL), apoiada por Bolsonaro, lidera com certa folga em relação aos demais candidatos, mas ainda sem margem para vitória no primeiro turno.

O cenário não é favorável para a petista Candisse Carvalho (PT), que ainda aparece numericamente atrás de candidatos ligados ao Centrão, como a deputada federal Yandra Moura (União), o ex-secretário estadual de Desenvolvimento Urbano Luiz Roberto (PDB) e a ex-secretária estadual da Mulher Delegada Danielle (MDB).

Natal tem eleição parelha, com possibilidade de segundo turno para o PT

Natal é outra capital nordestina que pode ter vitória petista. Pesquisas mais recentes apontam a deputada federal Natália Bonavides (PT) em empate técnico com o empresário Paulinho Freire (União) e o ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD).

Atrás dos três estão o ex-deputado federal Rafael Motta (Avante), Nando Poeta e Hero (PRTB), todos com menos de três pontos percentuais.

O PT tem o trunfo de contar com o apoio do governo do Estado, chefiado pela petista Fátima Bezerra.

Teresina é outra cidade em que o PT deposita esperanças de vitória

O PT também deposita esperanças em Teresina. Pesquisas mais recentes mostram o deputado estadual Fábio Novo (PT) em uma disputa acirrada contra o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes (União), que aparece numericamente acima, com a possibilidade de vencer no segundo turno. Assim como em Natal, Novo conta com o apoio do governo do Estado, chefiado pelo petista Rafael Fonteles.

Candidato à reeleição, Dr. Pessoa (PRD) corre por fora, ao lado de Professor Tonny (Novo).

Curiosamente, desde a redemocratização, metade das eleições municipais na capital piauiense foi decidida no primeiro turno.

Em São Luís, candidato que é apoiado pelo PT e pelo PL pode acabar nem indo para o segundo turno

O deputado federal Duarte Júnior (PSB), candidato à prefeitura de São Luís construiu uma coligação tão ampla de modo que conseguiu reunir o PT e o PL para o apoiar.

Mesmo com esse fator e sendo da sigla do governador do Maranhão, Carlos Brandão, e aliado do ministro do STF Flávio Dino, as pesquisas indicam que a candidatura dele não decolou.

O atual cenário, de acordo com esses levantamentos, é que o candidato à reeleição Eduardo Braide lidera com boa margem, e pode vencer ainda no primeiro turno. Mais atrás nas pesquisas estão Dr. Yglésio (PRTB) e Wellington do Curso (Novo).

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