O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) venceu a disputa para prefeitura do Rio de Janeiro, depois de ter liderado com folga todo o primeiro turno e administrado vantagem confortável na rodada final, quando enfrentou Marcelo Crivella (Republicanos), atual chefe do Poder Executivo. Aliás, adversário da preferência de Paes, em razão da elevada rejeição do oponente, e pela possibilidade de tornar a eleição uma comparação entre duas gestões municipais.
No plano nacional, o candidato vitorioso contribui para colocar seu partido no jogo político da eleição presidencial de 2022. Naturalmente sem perder de vista a reconfiguração do campo político estadual, em aberto com a possibilidade de impeachment do governador Wilson Witzel.
São grandes os desafios de Eduardo Paes como prefeito. No próximo ano, não vai encontrar os robustos investimentos federais na cidade, que aconteceram por ocasião da Olimpíada de 2016. Ao contrário, terá de enfrentar uma crise econômica derivada da pandemia de covid-19, que afetou o turismo, a economia da cultura, o comércio e outros serviços urbanos. Irá administrar uma crise sanitária ainda marcada por incertezas e com suas consequências no ensino infantil e fundamental.
No plano político, será um recomeço. Desafio será deixar para trás os problemas dos tempos do MDB, sobretudo aqueles que o ligavam ao grupo do ex-governador Sérgio Cabral.
Marcelo Crivella, mesmo derrotado, representa segmentos sociais na capital e no Estado. Será um ator político relevante nas próximas eleições nacionais, desta vez, ao que tudo indica, integrando o projeto de reeleição do presidente da República.
A onda bolsonarista de 2018 não se repetiu na eleição para prefeito e para Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Como atenuante, se poderia dizer que a natureza do pleito municipal é diferente, que predominou a avaliação do governo Crivella.
Mesmo assim, as notícias não são boas para Jair Bolsonaro. A vitória do DEM fortalece o projeto de Rodrigo Maia, ainda incerto, mas diferente daquele do presidente. Além disso, se o eleitor carioca voltou a valorizar o centro político, ele também prestigiou as forças políticas de centro-esquerda, como mostra a votação de Martha Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT) no primeiro turno. Tudo isso parece indicar maiores dificuldades para Bolsonaro, no seu domicílio eleitoral, com vistas ao próximo ciclo eleitoral.
* Cientista político e professor da PUC-Rio