BRASÍLIA - O balanço final do segundo turno da disputa municipal deste ano revela um verdadeiro revés eleitoral para vários parlamentares tradicionais, que viram os seus candidatos derrotados em grandes centros urbanos. No grupo de caciques ignorados por parte dos eleitores constam ex-presidente da República, governadores, lideranças no Congresso e até ministros.
Considerada como estratégica para as pretensões presidenciais dos tucanos de Minas Gerais, Belo Horizonte foi palco da derrota do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, que apesar do empenho na reta final, não conseguiu assegurar a vitória de João Leite (PSDB). A partir do início do próximo ano, a capital mineira será comandada por Alexandre Kalil (PHS). "Esse resultado em Belo Horizonte realmente nos desaponta, mas nós tivemos, mesmo em Belo Horizonte, uma vitória muito expressiva sobre nossos tradicionais adversários", considerou Aécio.
O resultado em Minas Gerais deve embaralhar ainda mais a disputa interna na cúpula do PSDB pela escolha do próximo candidato presidencial de 2018. O malogro de Aécio Neves ocorreu na mesma disputa municipal em que o governador, Geraldo Alckmin, conseguiu varrer o principal adversário, o PT, do Estado de São Paulo, onde se concentra o maior colégio eleitoral do País. Tanto Aécio quanto Alckmin despontam como potenciais candidatos à presidência em 2018.
Derrocada. O mapa dessa eleição revela que o fracasso não atingiu, contudo, apenas o ninho tucano em Minas Gerais. Nas regiões Norte e Nordeste, desponta a derrocada da família Sarney. Eles foram abatidos tanto na capital do Maranhão quanto na do Amapá, consideradas redutos eleitorais do clã, que também é integrado pelo ex-ministro e senador Edison Lobão (PMDB). No domingo, 30, Gilvan Borges (PMDB) não conseguiu impedir a reeleição Clécio Luís (Rede), em Macapá. Após a derrota, Borges anunciou a criação de um "governo paralelo" para fazer oposição ao prefeito eleito. Já em São Luís, a família Sarney sofreu novo viés, agora no âmbito municipal, para o atual governador Flávio Dino (PCdoB), que apoiou a candidatura de Edivaldo Holanda Júnior (PDT), reeleito com 53,94% dos votos.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e o governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), também passaram pelo mesmo contratempo. Na capital alagoana, o prefeito Rui Palmeira (PSDB) se reelegeu após derrotar Cicero Almeida (PMDB), ligado à família Calheiros. A derrota levou o senador a publicar na segunda-feira, 31, uma nota pública em que acusa o tucano de "compra de votos" e o chama de "arrogante, presunçoso, deslumbrado e invejoso".
Outros dois nomes de peso na política nacional que viram seu apadrinhado abatido nas urnas são os senadores Eunício Oliveira (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB). Ambos defenderam a candidatura de Capitão Wagner (PR), derrotado por Roberto Claudio (PDT) em Fortaleza. O pedetista teve ao seu lado a família Gomes, comandada pelos irmãos Cid e Ciro. Em Aracajú, o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), apesar de todo o trânsito com a cúpula do Palácio do Planalto, também não conseguiu evitar a derrota de Valadares Filho (PSB). O socialista perdeu para Edvaldo Nogueira (PCdoB), reeleito.
Constrangimento. Ao se olhar para a região Centro-Oeste, o constrangimento eleitoral atingiu todos os três chefes do executivo estadual (MT, MS, GO). O governador de Mato Grosso, Reinaldo Azambuja (PSDB), apoiou para o comando da capital, Cuiabá, Rosiane Modesto de Oliveira, atual vice-governadora e secretária licenciada de Desenvolvimento Social do governo. Os eleitores preferiram Marquinhos Trad (PSD), eleito com 58,77% dos votos. No Estado vizinho, Mato Grosso do Sul, o governador Pedro Taques (PSDB) pediu votos para o candidato tucano Wilson Santos na disputa pela capital. Apesar da campanha de Taques, o deputado estadual Emanuel Pinheiro, do PMDB, foi eleito. Já a capital goiana, será comandada por Iris Resende (PMDB), que chegou na frente de Vanderlan Cardoso (PSB), que contou com o suporte do governador Marconi Perillo (PSDB).
As derrotas eleitorais na disputa deste ano também se estendem à Esplanada dos Ministérios. O candidato Silvio Barros (PP), irmão do ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), foi derrotado neste segundo turno em Maringá (PR), após virada de Ulisses Maia (PDT). A derrota pode atrapalhar os planos da família Barros, que contava com a manutenção do domínio na cidade para poder projetar a candidatura de Cida Borghetti (PROS), atual vice-governadora, para comandar o Estado em 2018. Borghetti é casada com Ricardo Barros.