Atualizada às 22h A campanha de Dilma Rousseff (PT) vinculou nesta terça-feira, no horário eleitoral na TV, a candidatura de Marina Silva (PSB) aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, que não concluíram seus mandatos. O palanque eletrônico da petista fez um duro ataque à ex-ministra do Meio Ambiente, questionando sua "força política" para negociar apoio no Congresso e sugerindo que, se eleita, Marina teria o mesmo destino de Jânio e Collor. "Duas vezes na nossa história, o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes do partido do 'eu sozinho'. A gente sabe como isso acabou. Sonhar é bom, mas eleição é hora de botar o pé no chão e voltar à realidade", diz um dos apresentadores do programa, que exibiu imagens com notícias de jornal após a renúncia de Jânio (1961) e ao processo de impeachment de Collor, em 1992, que o levou também à renúncia. Ambos foram eleitos com votação expressiva, mas perderam apoio popular no decorrer dos mandatos em razão de denúncias e do descontentamento com a condução política. A alusão aos ex-presidentes foi feita pelos locutores da propaganda. O programa reproduziu falas de Dilma sobre a adversária durante o debate entre os candidatos à Presidência, segunda-feira, quando a petista também questionou a "força política" de Marina. A propaganda petista afirma ainda que a base de apoio da candidata do PSB atualmente no Congresso é composta por 33 deputados, mas seriam necessários pelo menos 129 para aprovar um projeto de lei. "Como é que você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? Será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar?", questiona o locutor. A ex-ministra, que assumiu a candidatura presidencial após a morte do ex-governador Eduardo Campos, em um acidente aéreo no dia 13 do mês passado, tem afirmado que pretende governar com uma base de apoio no Congresso formada por maiorias ocasionais, abdicando do modelo de presidencialismo de coalizão - no qual a aliança governista se dá formalmente com os partidos. Na mais recente pesquisa Datafolha de intenção de voto, Dilma e Marina aparecem empatadas no 1.º turno, com 34% cada. Na simulação de 2.º turno, a ex-ministra vence com uma vantagem de 10 pontos porcentuais. A rápida ascensão de Marina deu início à investida petista. Na noite de anteontem, coordenadores da campanha da presidente e ministros se reuniram no comitê, em Brasília, para avaliar a mudança de rumo. "Essa mudança é necessária porque o Brasil precisa saber quem é a boa moça", disse o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães, numa referência à candidata do PSB. "O País não pode votar no escuro. Quando votou no escuro, deu errado. Pode ter havido algum ou outro exagero no programa (de TV), mas o fato é que chegou a hora de a onça beber água e precisamos mostrar as contradições de Marina." Na terça-feira, em um ato público pelas ruas de São Bernardo do Campo (SP), a própria Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificaram as críticas à ex-ministra. "Fiquei muito preocupada com o programa da candidata Marina porque ela reduz a pó a política industrial", disse a presidente antes de percorrer as ruas da cidade em carro aberto. Segundo Dilma, o programa de Marina "tira o poder dos bancos públicos de participar do financiamento da indústria e da agricultura". Já Lula afirmou, referindo-se indiretamente a Marina, que "no dia 5 de outubro prevalecerá a razão, o coração e o reconhecimento do povo brasileiro". Aliados do Planalto também entraram na ofensiva contra a candidata do PSB. Em entrevista ao jornal Diário do Nordeste, o governador do Ceará, Cid Gomes (PROS), disse que Marina não vai concluir o mandato se for eleita. "Eu não dou dois anos de governo para Marina. Ela será deposta, pode escrever." Principal aliado do PT, o PMDB, porém, não acredita que a estratégia do confronto vá surtir efeito. 'Terrorismo'. Em resposta ao programa eleitoral petista, Marina disse ao participar da série Entrevistas Estadão, que, por não ter sido eleita nem vereadora, Dilma é que poderia ser comparada a Collor. O vice na chapa do PSB, Beto Albuquerque, foi mais enfático e disse que Dilma e Lula estão promovendo um "prenúncio do terrorismo". Ele comparou o programa do PT a uma "conduta lacerdista" - em referência ao jornalista porta-voz da oposição no segundo governo Getúlio Vargas, na década de 1950.