Se Bruno Covas queria colar em Guilherme Boulos a marca de inexperiente não poderia esperar, pelas reações de economistas, um presente melhor do que a declaração do candidato do PSOL na sabatina do Estadão. Um dia após o economista e colunista do jornal Pedro Fernando Nery escrever que a Previdência Municipal deve receber a atenção dos eleitores por ser uma ameaça invisível à cidade, Boulos disse que fazer concurso é uma forma de arrecadar mais para a previdência e equilibrar a conta com inativos.
A declaração desencadeou uma tempestade. Nery escreveu no Twitter: "Reduz o déficit financeiro, mas aumenta muito a despesa da cidade (o servidor contribui com até 14%, mas isso é um sétimo do que a Prefeitura gasta com o seu salário)." E completou: "Aumenta o déficit atuarial, salvo se houver reforma (déficit atuarial aumenta porque, sem reforma, o novo servidor vai receber benefícios no futuro)."
Já Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (2003-2006), no primeiro governo Lula, fez um comentário cáustico. "Como é que ninguém pensou nisso antes?! Gênio, gênio! Se dobrarmos o número de funcionários eliminaremos o déficit; imaginem se decuplicarmos...".
Outra manifestação foi da economista Elena Landau, que retuitou o artigo de Nery no Estadão. Mais cedo, ironizou: "Vamos gastar muito porque quem sabe o gasto pode gerar mais imposto. Gostei. Não sou paulista, mas eu até votaria em Boulos só para ver a mágica sendo feita."
As críticas levaram a economista Laura Carvalho, que participou do programa econômico de Boulos em 2018 para Presidência, a escrever: "Do ponto de vista estritamente contábil e de curto prazo, é verdade que o déficit do sistema previdenciário cai quando mais gente contribui pro sistema. Mas é claro que isso também acarretaria um custo maior com salários de servidores e aposentadorias futuras". E concluiu: "Sou a favor de ajustar essas coisas no próximo debate, pois é enganoso, mas achei que o Guilherme avançou muito em outras respostas de economia".
Boulos disse que sua declaração foi retirada do contexto: "Argumento que usar o déficit como justificativa para não fazer concurso não faz sentido do ponto de vista contábil, já que os servidores contratados passariam a contribuir também para o fundo de previdência (...) Não defendo que equilibrar seja através de novas contratações. A maneira como me expressei pode ter levado a crer nisso, o que não é minha posição."
Por fim, o professor Thomas Conti, do Insper, disse: "Cobrir previdência dos servidores contratando mais servidores é claramente uma bomba relógio." Boulos tem agora o desafio de convencer o eleitor de que a proposta foi "tirada do contexto" e não uma "bomba relógio".
Veja a fala de Guilherme Boulos (PSOL) sobre a Previdência municipal na íntegra. O candidato comentou sobre o tema ao ser questionado pela jornalista Vera Magalhães, aos 36 minutos e 46 segundos de vídeo.